Capítulo 07 | Veneza
[...]
Quando amanheceu, Harry quem acordou primeiro. Abriu os olhos devagar e observou o corpo do garoto aconchegado ao seu.
Sentiu um desconforto na cabeça e se lembrou do quanto havia bebido no bar, mas o restante tinha ficado um tanto desconexo. Suspirou cheirando os cabelos de Louis e com muita delicadeza, se levantou e seguiu ao banheiro.
Não se lembrava de como aquilo aconteceu, "àquilo" que me refiro era Louis estar em sua cama, e tão aconchegado entre os seus lençóis. Acabou se encarando no espelho de seu banheiro e antes de iniciar seu ritual de retirada de roupas para entrar no chuveiro, acabou cheirando com vontade sua própria camisa.
O cheiro de Louis era quase que inebriante, o cacheado não sabia que cheiro se assemelhava, mas o adorava.
Louis acordou logo depois com o barulho do chuveiro. Aproveitou aquele momento para enfim ir pra seu quarto, ainda estava meio confuso com a noite anterior, mas tinha dormido tão bem que estava sorrindo sem perceber.
Passou na frente de uma imensa janela que existia naquele andar e então pôde ver a tenda toda enfeitada, hoje seria o dia do seu casamento.
Ficou parado ali por algum tempo, sentia seu coração acelerado quando começou a se lembrar das palavras de Harry. E sentiu acelerar ainda mais quando se lembrou das palavras que leu naquelas cartas.
— Oh, querida... Ai está você, venha! O cabeleireiro e o maquiador chegaram!– Anne murmurou já segurando a mão do garoto e o arrastando para o andar debaixo. Quando chegaram lá, Louis suspirou um pouco surpreso, a grande sala de jantar havia se transformado num imenso e luxuoso espaço de camarim.
Ficou um pouco envergonhado de estar de cuecas e com a camisa longa de Harry, quando Anne o apresentou a irmã mais velha de Harry, a avó, tias e algumas primas que estavam finalizando o cabelo e unhas com os profissionais que estavam ali.
Na mesma hora a costureira se aproximou do garoto e começou a ajudá-lo.
— Ah, minha querida... Você me parece tão feliz.
Anne sussurrou quando viu Louis em seu vestido, havia ficado perfeito e Louis acabou sorrindo fraco encantado sem perceber.
— Eu estou, Anne... Eu e Harry nos aproximamos muito nesses últimos dias, ele tem visitado o meu quarto e me feito companhia.– murmurou baixo, sentindo genuinamente que suas palavras saíam sinceras.— Estou ansioso para a noite. Eu o desejo muito.
Admitiu um pouco envergonhado e olhou para a mulher, que parecia definitivamente encantada, esquecendo fielmente do que os irmãos de Harry murmuram uma tarde, algo como se Louis estivesse sendo obrigado a casar. Ouvindo aquelas palavras da boca do garoto, Anne tinha certeza de que eram mentiras. Irônico.
— Desejo toda a felicidade do mundo, querida... E que seja bem-vinda a nossa família.– falou Anne calmamente e sorriu de lado ao que o garoto se abaixou e deixou um beijinho em seu rosto, que prontamente recebeu outro em troca.
Louis não estava mesmo com nenhuma expectativa para a cerimônia, ainda tinha apenas 17 anos e estava se casando com um homem que de fato mal conhecia.
Mas pensando bem em tudo o que havia acontecido até aquele momento, se sentiu confiante para enfrentar qualquer situação. Sabia que deveria fazer de tudo pela família e pela vida do pai, aquilo valeria a pena, a segurança do seu pai valeria a pena.
Era engraçado que mesmo em cômodos diferentes, ambos os noivos possuíam o mesmo sentimento.
Harry estava vestido em seu terno, enquanto encarava o pai, também já pronto. Ambos os homens estavam ali em uma última conversa, antes da cerimônia.
Harry se sentia feliz ao ver o brilho orgulhoso nos olhos do pai. Aquilo tudo valeria a pena, seu pai sempre sonhou em ver aquilo acontecer, e Harry realizaria isso para ele.
— Quero que fique com isso. Proteja sua mulher e honre a sua família como honrei por todos esses anos. O amo e sinto orgulho do homem que você se tornou.– Desmond murmurou ao entregar a sua arma para seu filho mais velho, que naquele instante se encontrava emocionado. Tudo o que Harry sempre quis quando garoto, era ser motivo de orgulho para o pai.
[...]
Sentados diante do altar montado no jardim, a família de Harry estava em peso, aquele casamento era super importante para todos. Não só pelo mais velho ser um herdeiro, mas porque aquilo determinaria os negócios futuramente, Harry se tornaria oficialmente o chefe.
Ele estava feliz, estava tudo no mais perfeito detalhe, exatamente como um casamento tradicional italiano deveria estar. Harry já se encontrava ao lado do acerbisbo, seu pai e irmãos também estavam perto ao seu lado direito.
Ao lado esquerdo estava de pé, Mark.
Como tradição, Harry ainda não tinha visto Louis. Acompanhou com os olhos seus familiares observando o cronograma da cerimônia por seus libretos por algum tempo, e então quando ouviu os musicistas começarem a tocar a marcha nupcial, ergueu seus olhos para aquela trilha de rosas brancas e sentiu um suspiro longo escapar pelos seus lábios.
Harry não se sentia nervoso, tão pouco lembrou-se de sorrir. Quando viu louis aparecer pelo corredor de rosas entre sua família, se sentiu paralisado. Sua noiva estava... Tão bonita.
Sentiu seu pai acariciar seu ombro esquerdo, mas ao menos conseguiu tirar seus olhos dela. Seu peito acelerou e se sentiu sortudo, muito sortudo.
Enquanto Louis andava pela trilha de rosas, se sentiu envergonhado. Nunca gostou muito de chamar atenção, e todos os olhares estavam em si. O garoto não se lembrava do imenso tamanho daquele casamento nas conversas que teve com Anne.
Mesmo com bastante timidez, Louis manteve seu queixo erguido e tentou caminhar de forma plena na direção de seu futuro marido. Céus, como ele estava bonito...
A primeira coisa que veio a sua cabeça o observando com aquele terno, foi ele caindo peça por peça ao chão. Louis estava ansioso para suas núpcias, depois de todos aqueles momentos que passou com Harry nas últimas noites. Parecia que isso era o que dava coragem em continuar aquilo tudo.
"Eu te amo." ainda era completamente estranho relembrar daquelas palavras ditas, talvez Harry estivesse bêbado a ponto de delirar.
Perdido em seus próprios pensamentos, enfim se aproximou de Harry, no meio do enfeitado altar. Acabou chegando mais perto e então encarou o rosto do mais alto e suspirou alto, Harry realmente estava bonito, quase uma miragem ou um retrato bem feito como os quadros bem pintados que estavam pendurados no salão de jantar do casarão.
Como um marginal completamente perigoso podia ser tão bonito? Louis não conseguia entender.
— Você está linda.– murmurou ele quando enfim seus olhos se cruzaram. Em seguida Harry deixou um leve beijo na testa do menor, pegou uma de suas mãos e envolveu uma das mãos de Louis em seguida virou-se para o arcebispo, para que pudessem iniciar aquela missa.
Harry sabia que por mais que a única vez que desejou se casar, se imaginava subindo ao altar com outra pessoa, aquele momento não parecia uma alternativa tão ruim. Amor se construía em sua família, Louis ainda ia amá-lo. Teriam filhos juntos, Anne havia garantido aquela possibilidade.
E para acrescentar, Desmond estava feliz. Era isso que realmente o importava naquele momento.
Já Louis ainda se sentia dividido. Olhou para seu pai ali próximo a ele e percebeu seu olhar triste e amargurado. Obviamente ele sabia que o próprio filho precisou se vender para salvá-lo daquela situação toda, e por isso se sentia extremamente culpado. Mas Louis o acalmou, quando respirou fundo e sorriu leve, como se o dissesse que tudo ficaria bem.
Mark suavizou sua expressão lentamente e então Louis voltou sua atenção para sua cerimônia e em tudo o que o arcebispo dizia.
Nos votos, Louis teve uma surpresa. Observou seu agora, homem, desdobrar um pequeno papel que havia guardado no bolso do paletó. O observou suspirar e apertou os dedos com mais força no buquê que carregava.
— Hoje te recebo como minha esposa, mas desejo que saiba que além disso, recebo hoje também uma rainha, uma amiga, e metade de meu coração. Desejo amá-la com fervor e devoção, por você estarei disposto a matar e morrer até meus últimos dias de vida. Desejo que veja em mim seu porto seguro para todos os medos que a assolarem... Sou seu e você é minha, Vita Mia.
Harry murmurou sem nem mesmo gaguejar ou tremer, como um monólogo claro, genuíno e sincero.
Louis se encontrava com os lábios abertos e os olhos cheios de lágrimas, ainda apertando o seu buquê entre os dedos sem conseguir reagir.
Vita mia.
Se lembrou perfeitamente daquelas palavras escritas na carta. Não sabia bem o porquê havia reagido daquela forma, mas algo dentro de Louis o tocou. De repente, se sentiu magoado.
[...]
Ao passarem pela chuva de arroz, uma tradição italiana para prosperidade, Harry se juntou aos homens de sua família. Ia cantar uma serenata para sua querida esposa.
Louis sorriu durante toda a música ficando mexido com a letra e a voz de seu marido. Não sabia que ele cantava tão bem, se sentia encantado. Ainda mais quando ele uniu suas testas e começou a rodopiar o garoto pela pista de dança.
Harry estava feliz, Louis não tinha dúvidas. Dividiram a pista por mais duas canções com mariachi e então depois ambos os noivos se aproximaram da mesa de doces, saborosos e finos, uma boa bomboniere italiana.
Juntos, acompanharam a montagem do bolo de casamento ali na hora com um chefe renomado e amigo da familia.
Louis sentiu Harry se agarrar a sua cintura e pousar o queixo em seu ombro durante todo aquele momento e também achou adorável o sorriso que o mesmo abriu, quando ele o melou a ponta do nariz com aquele creme aveludado que cobria o bolo.
Depois de uma boa degustação, sentiu Harry segurar sua mão e discretamente entrarem de volta juntos ao casarão. Harry o levou até o escritório e quando fechou a porta atrás de si, nem mesmo disse alguma coisa, apenas tomou os lábios do menor em um beijo sôfrego e gostoso.
Aquele beijo tomou forma e ficou quente, quente ao ponto de Harry sentar Louis em cima de sua mesa, derrubando todos os seus objetos e envolver uma das mãos entre os cabelos do menor.
Quando o ar faltou, Louis riu. Sentia suas bochechas vermelhas.
— Onde quer passar as nossas núpcias?– Harry sussurrou ainda inebriado com aquele beijo. Agarrado a cintura de Louis de forma possessiva.
Louis ponderou. Qualquer lugar em que Harry pudesse desvirtua-lo, seria de bom tamanho. Mas bem, Louis nunca havia saído de Eastbourne, sabia que qualquer lugar que dissesse, Harry o levaria e havia um único lugar que sonhava quando pequeno.
— Veneza.– murmurou com o maior de seus sorrisos.
Mas Harry não sorriu, apenas ficou paralisado como se lembrasse exatamente de uma antiga memória.
Estava chovendo forte, os cavalos estavam agitados, especialmente o Hércules, cavalo preto de raça pura que Harry havia ganhado do pai, enquanto o rapaz colocava a cela em sua cabeça se passava a voz da sua amada se reproduzindo diversas e diversas vezes na última noite que se encontraram.
"Querido, te esperarei atrás dos portões antes de clarear... Seremos eu, você e nosso pequeno bambino... Recomeçaremos em Veneza, a cidade do amor."
Era nessas palavras que ele pensava quando foi surpreendido por alguém, ou melhor, algo, batendo com força em sua cabeça. Sempre pensou que se tivesse jamais acordado daquele dia, sua vida teria sido melhor.
A dor de perder a única mulher que já pôde amar, era pior que a morte. E reviver cada dia com o fantasma de uma vida que foi tirada de si, chegava a doer mais do que sua pele sendo rasgada em milhares de pedaços.
Harry nem mesmo pôde enterrar o corpo ou sofrer suas dores e saudades diante do túmulo de sua amada. O corpo de Cora nunca foi encontrado, mas o som dos disparos foi a última coisa que Harry se lembrou de ouvir aquela noite.
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