Capítulo 05 | Cora
[...]
— O que o atormenta, irmão?
Liam calmamente perguntou, enquanto observava Harry distraído tragando o seu cigarro pela quinta vez. Ambos estavam dentro do carro.
Harry sempre foi um homem de poucas palavras quando se tratava dos seus próprios pensamentos. Mas quando o assunto começou a girar em torno de Louis, era como se não pudesse segurar-se.
Encarou os olhos de Payne e vagamente suspirou.
— Mamãe me confirmou o resultado dos exames dela... Ela é fértil.– sibilou devagar.
Na noite passada, depois de chupar o pobre garoto até o caroço, o deixou descansar e seguiu até o seu escritório no andar debaixo.
Ouviu um belo carão de Anne por ter ido ao quarto do garoto tão tarde da noite, mas ele estava tão distraído que mal escutou algo, a pulsação e o gosto do garoto em seus lábios parecia tomar toda a sua atenção.
Só voltou a atenção para a mulher quando a mesma murmurou que mais cedo aquela manhã, havia enfim chamado o médico da família para examinar Louis e verificar a possibilidade do garoto gerar filhos.
Aquilo era extremamente importante, pois, se o garoto não pudesse gerar, não poderiam se casar, e assim terem os herdeiros que o pai de Harry desejava.
Anne olhou para o filho e sorriu, o que fez Harry se aliviar. Era como se existisse um peso em seus ombros minutos antes.
— Boa notícia... Mas porquê parece não estar tão contente assim?
Liam apenas acompanhou seu irmão mais velho suspirar, apagar o cigarro no cinzeiro ao lado do banco na parte de trás da limousine em que estavam. E então logo em seguida, voltar a encarar seu rosto.
— Venho tendo sonhos quentes com Louis por todas essas malditas noites... Nunca desejei tanto que esse exame desse um resultado positivo.– Harry murmurou amargurado, e foi o bastante para que Liam entendesse.
Seu irmão mais velho estava amando. E pior, o mais novo sabia que aquilo não era bom, conseguia se lembrar da primeira e única namorada que seu irmão teve quando mais jovem.
Aos 17 anos, Harry foi o típico adolescente problemático. Algo normal da idade. Sempre carregou o peso da primogenitura, e na época Liam tinha seus 12 e Zayn havia acabo de nascer. Isso significava que o pai o pressionava para que fosse o filho perfeito.
E Harry era. Conforme o pai e o avô, sabia andar muito bem a cavalo, era bom nas aulas de tiro, nas aulas de línguas, entendia de economia, e sempre deixava seus professores particulares satisfeitos. Mas isso não foi o suficiente para Desmond, quando Harry em um jantar, apareceu com uma moça.
Cora era uma mulher linda, muito bem vestida, seu olhar era oblíquo e o busto, era realmente um colírio para os olhos. Era realmente um ótimo conjunto de tributos para uma prostituta.
Harry a tinha conhecido em um bordel, quando se tornou adolescente, foi difícil para Anne segurá-lo em casa. Mas ele se apaixonou perdidamente por Cora, a visitava todas as noites por semanas, até que em uma noite a prometeu que a daria um futuro longe daquele lugar.
Liam mesmo criança se lembrava perfeitamente da primeira vez que havia visto o irmão se voltar contra o pai. Lembrou-se do barulho alto do tapa que Harry recebeu, e jamais pôde esquecer de todas as noites que ouviu o choro dele por entre as paredes quando papai "resolveu" aquele problema.
Desde aquele tempo seu irmão havia mudado completamente. E mudou novamente na noite em que Desmond chegou perto de falecer.
De repente, dentro da limousine reinou um silêncio, Liam chegou a se incomodar. Viu de relance pelo reflexo do vidro da janela fechada os olhos de Harry molhados e não soube o que dizer.
Harry nunca havia superado Cora, mesmo depois de anos. Harry não havia amado mais ninguém desde os 17 anos.
— Não foi culpa sua.
Liam quebrou enfim o silêncio incômodo, enquanto brincava com as próprias mãos sem ter coragem de tocar os ombros tensos do irmão.
Quando viu os mesmos ombros tremerem, o puxou devagar em um abraço apertado, sentindo as lágrimas de Harry molharem lentamente o seu terno.
[...]
Faltando um dia para a cerimônia, Harry parecia ter desaparecido. Pelo menos era o que Louis imaginava pois não o viu mais desde aquela noite. Aquela maravilhosa noite.
Passou o dia seguinte daquela noite sonhando acordado com o cacheado. Mal ouvia a voz de Anne em seus ouvidos, e agora parecia desejar aquele casamento mais do que qualquer outra coisa. E deveria ser por isso que sentia falta da presença do homem por perto e supôs que ele havia sumido.
Louis o procurou. No escritório, pela cozinha, no grande jardim e até mesmo foi ao estábulo onde ficava os cavalos, achou à Zayn, mas deu meia-volta ao recusar o passeio ao lado do moreno.
Louis estava inquieto. Ao entrar no casarão mais uma vez, ouviu a voz de Anne e se escondeu atrás da cortina do corredor. Cortinas eram realmente ótimos esconderijos.
E por se lembrar disso, se lembrou também que não havia ido até o quarto de Harry. Nem mesmo sabia qual era. Subiu mais um lance de escada, e achou outro corredor, idêntico a todos os outros.
Com calma foi abrindo porta à porta. Até chegar ao fim do corredor e abrir a última porta. Encarou o quarto por um instante, era igual a todos os outros, exceto por uma única coisa.
Havia uma pequena vela acesa. Louis ponderou por algum tempo, mas entrou e fechou a porta atrás de si devagar. Tudo estava perfeitamente arrumado, os móveis eram de carvalho escuro exatamente como os móveis de seu quarto. A janela estava aberta e aquilo tudo parecia estupidamente interessante para Louis.
O garoto se sentia em um filme de investigação, desvendando os segredos do homem a quem iria casar em menos de 24 horas.
Abriu o armário de roupas, e correu os dedos pelos ternos perfeitamente alinhados por cor e tecido. Aproximou-se um pouco mais e aspirou o perfume das roupas, o perfume de Harry era inconfundível.
Abriu as gavetas de meias, e logo depois as de cuecas e riu internamente quando levou uma delas as suas narinas. Agora estavam quites.
Fechou o armário novamente e foi até a cômoda, achou papéis, uma caixa com mais velas novas e uma arma. Aquilo o lembrou de quem o homem que dominava seus pensamentos, era de verdade. Louis estremeceu, guardou tudo no mesmo lugar e deu passos até à porta para sair, mas parou antes.
Ainda havia a escrivaninha. Olhou para o pequeno móvel e curioso, caminhou até ela. Aproximou as mãos, mas o sorriso em seus lábios murchou na mesma hora. Estava trancada.
— Que inferno.
Resmungou baixo e então suspirou, se levantou para sair, mas quando ouviu o barulho da madeira do corredor ranger, sentiu sua alma sair do corpo.
Pensar rápido era realmente um ótimo superpoder. O garoto conseguiu ver perfeitamente os sapatos de couro de Harry adentrarem o quarto.
Observou ele ir até a cômoda, abrir a gaveta e com o barulho, deduziu que o homem havia trocado a vela quase no fim por uma nova. Logo em seguida observou Harry caminhar até o espelho do quarto.
Do ângulo que Louis assistia debaixo da cama, conseguia ver perfeitamente o cacheado se encarar no reflexo do vidro.
Observou Harry passar a mão no rosto, ele parecia cansado. A barba por fazer era algo novo para Louis, Harry sempre aparecia com as bochechas lisas.
Mas bem, observa-lo desafivelar o cinto das próprias calças, foi o bastante para que Louis voltasse sua atenção exclusivamente a Harry.
Primeiro foi o cinto, depois as calças. Em seguida Harry se livrou do blazer, e subiu as mãos até os primeiros botões da sua camisa social. Botão por botão, até seu peito nu ficar amostra. Louis suspirou, ainda não havia o visto assim.
Mas sua admiração pelo corpo do homem foi quase inteiramente para o ralo quando Louis observou aquele cordão no pescoço dele. Uma corrente com uma chave. Bem, não foi difícil pensar em mil coisas e no fato de que, o único lugar que Louis não tinha conseguido bisbilhotar era a escrivaninha, que precisava de uma chave.
Será que ele estava sendo bobo demais ao pensar assim?
Harry se livrou da camisa, e em seguida da cueca. Louis precisou mais uma vez segurar um suspiro forte, nunca havia visto outro homem nu antes, e Harry era extremamente bonito. O observou caminhar pelo quarto até o banheiro da suíte e ouviu quando a chave foi depositada na cômoda.
Quando a porta do banheiro se fechou e o barulho do chuveiro começou, Louis saiu debaixo da cama rapidamente. Tentou ir até a porta para sair dali, mas era curioso demais.
Precisou ser rápido e cuidadoso, quando virou a chave na gaveta da escrivaninha e percebeu que ela abriu, seu coração parecia que ia explodir dentro do peito.
Abriu devagar a gaveta e então observou uma caixinha e alguns outros objetos. Haviam diversas cartas, cartas abertas e organizadas por data, das mais antigas até as mais recentes.
Pegou uma nas mãos e observou a letra, ele sabia que era a letra de Harry pois já tinha a visto algumas vezes em cheques que Anne usou para pagar as coisas da cerimônia.
Respirou fundo e abriu uma delas um pouco melhor, para ler.
Carta de Harry
15 anos antes
Querida Cora,
Ultimamente venho pensando em você por todas as noites. Você atormenta os meus sonhos. Te escrevo porque me dói o coração de não poder vê-la essa noite. Sabe que tenho algumas provas para fazer e papai anda me cobrando bastante ultimamente.
Mas o contei que a trarei para um jantar como conversamos. Sei que verão o quanto estou apaixonado por você.
Vita Mia,
Harry.
Louis mal conseguia respirar ao terminar a primeira carta. Passou os dedos pela gaveta e percebeu que havia milhares delas, pegou mais uma e dessa vez notou a diferença na caligrafia.
Carta de Cora
15 anos antes
Querido Harry,
Não consigo suportar o fato de seus pais não serem a favor do nosso amor. Pelo o amor que diz ter por mim e pelo nosso filho em meu ventre, diga que podemos cruzar a fronteira juntos.
O amo muito e aguardo sua resposta.
Com amor,
Cora.
A expressão no rosto do garoto de olhos azuis era de choque, sentiu seu peito apertar. Porque Harry guardava aquelas cartas e quem era aquela mulher?
O banho de Harry foi longo o suficiente para que Louis achasse o anel de diamantes na gaveta dentro da delicada caixa de veludo, e uma foto. Uma mulher tão absurdamente bonita que não parecia real. Vestia um vestido vermelho bordô que deixava sua cintura finíssima, e o par de seios avantajados de uma maneira convidativa.
Os olhos azuis mais intensos do que os seus. O garoto ficou tão encantado que acabou fechando a gaveta, pousando a chave onde Harry havia a deixado anteriormente e saiu porta a fora com a frágil foto nas mãos.
Ainda não conseguia processar todas as coisas que havia descoberto, e possuía tantas questões em sua cabeça que nem mesmo sabia por onde começar e o que faria com todas aquelas informações.
Harry era realmente um homem muito distante, perigoso obviamente, mas agora com tudo aquilo, parecia apenas um homem humano, que também amava e foi amado.
Quando Louis deitou a cabeça em seu travesseiro e voltou a olhar aquela foto, começou a deixar que seus pensamentos guiassem sua imaginação.
Quem era Cora? O que havia realmente acontecido? Porque Harry guardava todas aquelas coisas? Será que ele ainda a amava? Um filho... A mulher estava grávida de Harry. Onde este filho estava? Porque será que Harry não fugiu com ela como ela o pediu?
Tantas questões...
Mas enfim, como Louis descobriria as respostas? Harry parecia fechado e obviamente não iria falar sobre aquilo. Ficou absurdamente claro para Louis, quando literalmente a chave da escrivaninha, Harry levava consigo para todo lugar, ali grudada ao peito como a coisa mais valiosa que possuía.
Ele amava Cora.
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