Capítulo 28
O dia de comemoração estava pronto, e com isso, Kara também. Diante do espelho decorado em ricos detalhes dourados, ela olhou para a extensão do seu corpo novo - antigo - a roupa que se assentava na pele, delineando suas curvas suaves e magras, mostrando uma parte delicada de sua alma. As cores, neutras e levadas ao esplendor diurno, com os dias, Kara teve que desistir das escuras cores da noite, e com isso, aceitar aquilo que estava evidente em seu rosto. Já não mais estava na Corte dos Sonhos, e sim na Corte Diurna, onde o sol brilhava como ouro, ela deveria aprender o seu novo lugar.
Foi enfeitada com joias reluzentes, pequenos acessórios e cremes com um brilho característico do sol, os cabelos avermelhados foram presos em um coque solto no alto da cabeça, enquanto seu rosto foi marcado por pó brilhoso. Estava linda, elegante e parecendo realmente, um membro da corte de Helion.
— Helion — ela chamou, sem precisar olhar para trás. — Não ache que eu não o sinto entrando no quarto.
— Eu sei que você sente — disse o alto rapaz, parando detrás daquele pequeno corpo feminino. — Está linda, Kara. Uma coisinha deslumbrante e brilhosa.
Olhando para trás, Kara deu um sorriso pequeno e satisfeito, que não chegou aos olhos, olhando as roupas em branco e dourado, e também, a coroa que despontava sete vezes no topo da cabeça do Grão-Senhor. Helion, um nobre lindo e forte, com altos jeitos de seduzir uma mulher com apenas um sorriso ou sua voz profunda.
— Você também. Parece digno de um Grão-Senhor, todos os dias...
Helion assentiu em concordância, um sorriso malicioso no rosto - ele sabia de sua beleza - com algo descrito como elegância e destreza, o Grão-Senhor a ofereceu o braço, indicando com o outro a direção da porta. Kara o aceita, deslizando seu próprio braço e entrelaçando ao dele, enquanto é conduzida para o salão de baixo, o silêncio, que apesar de muito confortável, era destruído pela sensação destruidora que a tomava naquele dia. Antes de chegar ao fim da escada, Kai subiu os poucos degraus, estava vestido em ricos trajes em cor branca e dourado, parecido a Helion, de não fosse pelo aspecto rico e despojado de um terno, a semelhança ainda era gritante entre os irmãos.
A festa estava no auge do esplendor, crianças correndo e nobres conversando, divertindo-se nas trocas de ideias, devorando os doces que os criados passavam oferecendo, tanto quanto vinho ou bebidas mais fortes.
— Eles virão? — Questinou Kai, olhando para o rosto de sobrancelhas franzidas.
Ao mesmo tempo Helion olhou para ela, criando uma bolha de confiabilidade entre o trio, ambos os homens viraram de costas para a entrada, enquanto Kara olhava para eles, levantando a cabeça.
— Mandei o convite, mas não houve resposta — respondeu, virando o rosto com um brilho triste no olhar.
Ela respirou fundo, a mente fugindo para os dias anteriores onde escreveu uma extensa carta a Azriel, esperava que o Encantador de Sombras atendesse seu pedido, que ao menos eles viessem... Mesmo que Rhysand se recusasse. Kara levantou a cabeça, tentando oferecer um sorriso suave.
No mesmo instante, Kai tocou sua mão e Helion seu queixo, ambos abrindo a boca para falar. Mas, uma sensação atravessou aquele salão inteiro, como um chamado, um anunciamento de chegada, naquele mesmo momento, ela olhou sobre os ombros dos homens que a protegiam, e, debaixo do arco dourado da entrada, estava o Círculo Íntimo da Corte Noturna, entre eles, e guiando o caminho, estava Rhysand, seu Grão-Senhor.
××××
A escuridão era uma obscura prisão, predominante em sua vida. Rhysand nunca havia sentido algo tão pesado e monstruoso, como se seu coração fosse devorado por generosas mordidas da morte, falta de prazer em viver... Sonhar. Amor, existiam vários meios de amar, e como um todo, Rhysand sentiu quase todos esses meios; família, amigos, irmãos. Mas, e aquele profundo amor, de alma gêmeas, reencontros, uma sensação de assentamento no peito, como um encaixe perfeito do quebra cabeça, onde faltava uma crucial peça para sua finalização esplendorosa. Antigamente, na juventude saborosa, quando sua irmã soltava os sonhos bobos da parceira futura, aquele jovem sonhador pensava nisso, e quando achou, encontrou-se tão confuso naquele turbilhão enorme de sentimentos, que não soube lidar.
Foi consumido por culpa e rancor de si mesmo, não por outros, não pela informação escondida, mas por se sentir fraco para aguentar. Aguentou tudo, muito, coisas cruéis e perversas, como poderia não aguentar uma mera mentira boba? Os dias passaram, e aquela sensação aumentou, até aquele dia, o crucial dia.
— Pergunte para Mor — foi o que ele disse.
O suspiro do outro lado da porta fez com que ele se sentisse mais vazio, a recusa em sua resposta.
— Perguntar para Morrigan? — Amren grunhiu, batendo o punho mais forte na porta. — Você sequer saí desse quarto, não olha na nossa cara há dias, Rhysand! Como você pensa em encarar Kara?
O silêncio, aquele ensurdecedor silêncio, que o devorava. Amren grunhiu pela segunda vez.
— Kara nunca ficaria com um covarde.
Rhysand se levantou.
××××
Seu rosto permaneceu estático ao ver diante de seus olhos o contraste magnífico que a Corte Noturna apresentava entre o brilho da Corte Diurna. Em toda a decoração dourada e clara como o sol brilhoso, ficaria a escuridão iminente, vestida de azul e prata, a noite reencarnada. Dentre eles, Rhysand seguia um ponto certo e único, caminhando para a garota de cabelos avermelhados no fim da escada, Kai ao seu lado deu um passo a frente, ao mesmo tempo em que Helion o puxou alguns passos longe, indo de encontro ao Grão-Senhor noturno, Kara teve a chance de ver um sorriso ser desenhado naquele belo rosto, ao mesmo tempo em que ouviu um murmúrio de Helion; um aviso.
— O que... O que faz aqui? — Perguntou, a voz tremula ao ver Rhysand curvar o corpo em uma reverência, estendendo a mão.
Olhando para cima, os olhos violetas tinham um toque fantástico das estrelas, com um único fio de cabelo solto do perdeu penteado, caindo sobre a testa.
— Vim dançar com você. — Piscou. — Dança comigo, Kara?
××××
Morrigan e Amren travaram no meio do caminho, parando nos degraus da Casa do Vento, ambas olharam para trás como se um fantasma estivesse surgindo, aterrorizando ambas com histórias horríveis, mas, era só Rhysand, vivendo.
— Cass! Az! — Morrigan gritou terminando de descer as escadas, ao mesmo tempo em que Amren se sentada em sua costumeira poltrona.
Um antigo sorriso de satisfação surgiu no rosto da anciã, que preencheu uma taça com vinho, levantando em cumprimento no instante em que Rhysand surgiu, tirando um sorriso de alívio de todos. Morrigan sorriu abertamente, lágrimas verdadeiras de orgulho em seus olhos.
— Ela está na Corte Diurna — falou.
— Certo — respondeu, olhando para o chão como se pensasse. — Certo...
Azriel levantou a mão, revelando um papel perfeitamente dobrado, esticando para Rhysand, as palavras lindamente escritas com uma caligrafia invejável; um chamado.
— Certo... — Ele sorriu. — Certo.
××××
Kara levou uma mão ao peito, estava arredio e pulsante, seu coração tremia, acelerado, a respiração ainda presa dentro do peito, mas, como um instinto interno, sua mão livre foi para o pedido de Rhysand, e algo se acalmou. Os dedos dele se fecharam contra os dela, esquentando com sua calmaria, juntando suas pulsações intensas. Ele começou a andar, e como se o vento a empurrasse para esse caminho, Kara foi sem questionar.
A calma melodia se iniciou, balançando seus corpos em harmonia, sincronia perfeita e não ensaiada. Como uma música jamais vista, e uma dança jamais treinada, algo se conectava, algo se ligava entre eles. Rhysand tocou a cintura dela com a mão grande e quente, guiando os passos perfeitos, segurando a mão dela com o outro braço, aproximando o rosto da testa dela, os olhos suavizados. Ele piscou lentamente, apreciando aquela exímia visão, repentinamente Rhysand a girou, virando a garota de costas para ele, a abraçando no meio da dança, respirando em sua sensível orelha.
Kara fechou os olhos, tudo sumindo ao redor, fazendo com que aquilo crescesse, os sons, as sensações. Ao virar de volta para Rhysand, estavam mais juntos que antes, mais próximos, sem ainda dizer nada, aquele silêncio foi quebrado com o fim da música.
— Volte para casa e faça seus bolinhos comigo. Volte para casa e grite comigo. Volte e parta meu coração se quiser, eu mereço isso. Apenas volte para casa, Kara, minha lady.
Notas da Autora:
Sim, eu estou viva. Rhysand e Kara também, espero que gostem do capítulo.
Não revisado!
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