Capítulo 37

Oieeeee!!!!!

23:37 e eu vindo aqui publicar pra vocês 🥺

Me perdoem o atraso. Trabalho e o estudo tomaram meu tempo, mas as coisas já estão se acertando.

Prometo 😔

Boa leitura 💕

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Capítulo 37

Azriel.

Uma esfera vermelha no céu e todos se calam. Com a agonia já localizada no peito eu franzo o cenho para o céu.

— Não… – sussurro para as sombras tensas que me cercam.

— Azriel. – Rhysand se aproxima e os olhos violetas acompanham Cassian  aterrissar com Lyra desacordada nos braços. 

Feyre é a primeira a descer as escadas e correr até eles.

— O que aconteceu? 

Chego logo em seguida. Ambos estavam feridos. Cassian tinha sangue seco marcando os cortes no rosto. E Lyra estava pálida e com manchas roxas abaixo dos olhos. Ele não hesita em se aproximar e sem dizer nada passar o corpo de Lyra para meus braços. Ela estava fria e enfraquecida. Seus cabelos estavam sujos de sangue.

— Consegui cauterizar a ferida, mas não tive tempo de ver se… – Cassian cerra os dentes – Não tive tempo de verificar se existem outros. 

— Cassian, o que aconteceu? – Feyre aproxima e toca o rosto ensanguentado de Cassian.

— Fomos atacados no acampamento. 

É a única coisa que consigo ouvir antes de bater as portas atrás de mim. Atravesso com Lyra até o seu quarto com Nuala e Cerridwen entrando logo em seguida. Eu a coloco com cuidado em sua cama.

— Ela tem um ferimento na cabeça. – Explico sem conseguir tirar os meus olhos dela. – Por favor, certifiquem-se de que ela não tem mais nenhum ferimento e chame uma curandeira de for necessário. 

— O que houve? – Nuala pergunta aterrorizada enquanto assiste sua irmã a despir o couro pesado de Lyra. 

— Vou saber agora! – Vejo Nuala pegar ataduras. – Me avisem assim que acabarem aqui. 

Quando saio do quarto ouço as vozes abafadas atravessando as paredes do escritório. Sem perder tempo. Atravesso até o escritório de Rhysand. Feyre estava sentada em um dos sofás ao lado de Cassian, que esfregava uma toalha úmida no rosto. Rhysand estava em pé, com tensão nos ombros e olhar distante.

— Como ela está? – Feyre interroga preocupada.

— Fraca. – Respondo o que sei. – Nuala e Cerridwen estão verificando se tem mais algum ferimento e…

— Acho que vou ajudá-las. – Minha amiga se levanta. – Lyra vai precisar de alguém quando acordar. – Concordo. – Eu peço para chamarem por você quando isso acontecer. 

Feyre não espera minha resposta e cruza a porta. Restante somente nós três no escritório, Cass desembucha: 

— Lyra treinava sozinha enquanto fui buscar algumas armas, no meio do caminho...– Ele interrompe e xinga quando esfrega uma ferida no rosto. – Quando eu estava indo, um grupo me interceptou. Sete, ao todo, disseram que era um acerto de contas…

Rhysand xingou, acompanhado as vozes agitadas na minha cabeça.

— Quantos morreram? – a dúvida na voz indicou que Rhysand, talvez, não gostaria da resposta.

— Quatro! Os outros três fugiram antes que pudesse… – Cassian fechou a mão em punhos. No segundo seguinte sua mão acertava a mesa de centro. – Rhysand, você sabe quem em outra situação eu não…

— Eu sei! Foi uma emboscada, você tinha que reagir.

— Agora só precisamos nos cuidar e nos preparar para retaliação que vamos sofrer. – Aviso com pesar.

— Inferno! – Casa esbraveja. – Vamos ter paz algum dia?

A pergunta faz meu coração doer.

Pois essa era a pergunta que fazia a mim mesmo todos os dias...desde que era um menino.

Quando eu teria paz?

Como é estar em paz? 

Será que isso está ao meu alcance?

Tento abafar a frustração em meu peito.

— Vamos! Não vamos desistir. Já passamos por tempestades piores e não desistimos. – Rhysand fala firme. – Nós não somos de desistir.

Cassian e eu concordamos e as duas horas que vieram a seguir foram massantes. Exaustivas. Tivemos uma longa conversa. Conhecíamos os apoiadores de Devlon o suficiente para saber que não teríamos paz tão cedo. A morte de um guerreiro illyriano pelas mãos de Lyra era o que eles precisavam para se rebelar contra nós. Por fim decidimos intensificar as buscas por grupos que poderiam se rebelar contra a corte. Reforçaria minha equipe de espiões. As ordens eram bem específicas. Os olhos ficariam atentos a cada passo de Devlon. Qualquer suspeita de ataque, seríamos informados imediatamente. Não havia espaço para brechas. Não havia espaço para o medo. E a última delas: Lyra não treinaria novamente no acampamento.

Me perguntava como deixamos que ela corresse esse risco até agora. Fomos irresponsáveis demais.

— Eu não consegui sentir nada! - Falo frustrado, pela primeira vez. – Não senti que ela estava em perigo, não senti que ela precisava de ajuda, nada. A ligação não mostrou nada. 

Não era assim que gostaria de contar aos meus irmãos sobre minha parceira. Mesmo que eu saiba que isso não é nenhuma novidade para eles. Eu gostaria que soubessem por mim de outra forma, talvez eu finalmente me decidisse em viver tudo isso e contar orgulhoso sobre meu laço. Mas as coisas nunca parecem ser da forma como eu gostaria.

Talvez fosse um aviso dos Deuses para que eu não crie expectativas, ou que eu não crie esperanças. 

Eu não devia me preocupar com a reação dos dois. Ambos já estavam desconfiados. Cassian sempre que via uma oportunidade falava sobre Lyra e me encarava como um cão encara a comida, só esperar para ver a minha reação quando eu ouvia, e falava sobre ela. De propósito tentava ser o meu indecifrável possível, mas para Cassian me conhecia demais.  O que tornava a pessoa com riscos mais altos de me infernizar por causa do laço. 

Já Rhysand...é tão observador quanto eu. Com certeza já sabia, mas não seria ele quem abordaria o assunto primeiro. Rhysand esperaria por mim. 

Os dois ficaram em silêncio. E me encarando como se precisassem negar a sua desconfiança. 

— Tudo bem, vocês não precisam fingir que não sabem de nada. – Aviso. – Vocês dois são péssimos nisso.

Rhysando se permite dar uma risada curta. Cassian joga a cabeça para trás e solta um suspiro de alívio muito exagerado.

— Graças à mãe! Não aguentava mais não poder falar nada. – Cassian reclama. – Quando descobriu? 

— Há um tempo. – Explico. – Estava com ela quando senti a ligação. – Me sento em uma das poltronas.

— Tem certeza que é realmente o laço de parceria? – o tom que Cass usou comprova que sua pergunta foi mais como um incentivo para que eu desabafasse.

— Sim. – Confirmo. Lyra é minha parceira e eu podia sentir em cada parte do corpo. – No começo pensei que estivesse errado. Ou confuso. Cheguei a pensar que desejava tanto isso que fantasiei um laço com ela...– pela primeira vez tive coragem de dizer isso em voz alta. – Cogitei ser os seus poderes me manipulando, de forma inconsciente, é claro. –  Eu encaro os dois. – Mas não é nada disso. Eu pude sentir a energia do laço novamente recentemente. Não é tão intensa, mas ela está ali. Então sim, é ela. 

— Levantei a possibilidade quando a salvamos. – Rhys revela. – Você estava ocupado demais para perceber suas próprias emoções quando a encontramos.

Eu assenti. Ele não está errado, quando a encontro só queria tirá-la dali. Cuidar dos machucados e limpar a pele. Dar dignidade a aquele feérica fragilizada que estava em meus braços.

— Depois teve aquele pequeno atrito com Lucien. – Rhysand relembra o dia em que Lyra e Lucien se conheceram. Lembro de como fiquei, de como não queria que ele chegasse perto dela com medo do que aquilo poderia causar a ela. – Você ficou um pouco…

— Irritadiço. – Cass dispara e eu o encaro. – O que foi? Estou sendo honesto. Você ficou nervoso porque ela iria conhecer um dos filhos do filho da puta que quase acaba com a vida dela. Se isso te tranquiliza, eu perderia a cabeça também. Eu notei porque só um retardado não notaria a coisa toda que rola entre vocês dois.

— Não exagere...– peço.

— É a realidade… Você fala mais com ela em um dia do que com qualquer um de nós em um ano. E você ri! Você já notou que você se diverte quando está com ela, Azriel? Porque eu notei.

— Desde quando você ficou sentimental? – Rhys debocha.

Cassian passa os dedos nos cabelos.

— Machos gostosos também têm coração, sabia?

Rhysand gargalha e eu o acompanho.

— Como eu posso pensar que seguir um conselho de vocês dois pode ser certo? – pergunto.

— Apenas faça. – Cassian rebate.

Respiro fundo e tento relaxar os ombros.

 — Minha mãe diz que foi o laço que me fez encontrá-la na floresta. Eu concordo com ela. De alguma forma eu consigo senti-la do outro lado da ligação. Eu sentiria o perigo, sentiria sua dor… mas dessa vez eu não senti nada! 

— O laço de vocês está enfraquecido. – Rhysand comenta. – Enquanto não houver a união definitiva, ele continuará fraco. 

— Os poderes dela também influenciam. – Cassian murmura, parece estar exausto. – Lyra pode bloquear suas emoções e não notar que o fez. – Ele levanta a cabeça e me olha. – Acredito que a melhor opção agora é que ela treine os poderes. Eu vi o que aconteceu, Azriel… O poder dela penetrou no corpo e o matou de dentro para fora. Eu vi o barulho dos ossos quebrando e depois o fogo queimou todo o corpo. Ela é empata, controla as sombras e manipula o fogo… Se Lyra não souber controlar suas emoções e seus poderes, ela vira uma arma. 

Esfrego as têmporas enquanto penso.

Cassian está certo. 

Como empata, Lyra precisa controlar suas emoções, só ainda conseguirá controlar seus poderes. É muito fácil ela conseguir manipular as emoções de quem está ao seu lado se ela não tiver controle.

— Beron a queria para isso. – Rhysand acrescenta. – Queria usá-la como vantagem.

— Usá-la na guerra contra Hybern era risco demais. Para que usar uma das melhores armas quando se tem outros oito aliados? – Minha garganta secou. – Ele queria que ela servisse somente a ele. – Me calo assim que finalizo meu pensamento.

— Fale com ela. – Cassian aconselha. – Ela confia em você para isso.

Eu concordo em silêncio.

O general que agora estava deitado no sofá, com metade do corpo para fora das almofadas, ergue o dedo e dispara:

— Agora que já resolvemos…

— Aparentemente! – Rhysand interrompe. 

O que faz Cassian erguer a cabeça e lançar um olhar irritado, informando que não viria coisa boa a seguir.

— Tudo bem! – Ele volta a dizer. – Já que aparentemente – solta uma provocação ao Rhys – resolvemos a parte problemática. – Cass decide sentar novamente e me encara. Com um olhar malicioso e um sorriso ainda pior de orelha a orelha. – Vamos falar de algo realmente importante…

Era o fim da minha paz.

Rhysand relaxa o corpo na poltrona e sorri quando Cassian o encara. 

— Rhysand… nossa criança achou a parceira. 

O comentário me fez soltar um suspiro alto.

— Eu sei…- Rhysand concorda. - Eles crescem tão rápido. 

Os tons de orgulho e deboche arrancam um gemido frustrado de minha garganta.

— Não comecem com isso… 

Cassian parece ignorar o meu pedido e seu sorriso triplica.

— Ora, vai ficar rebelde agora que encontrou a parceira? 

Reviro os olhos.

— Você é insuportável. - Disparo.

— Obrigado. – Ele agradece mostrando os dentes em um sorriso convencido. – Eu agradeço, mas isso não muda os fatos. Você achou sua parceira! E eu só tenho uma coisa a dizer: Eu espero que seus filhos puxem a ela. 

Meu olhar percorre a sala lentamente até encontrar Rhysand. Eu o encaro em uma tentativa de conseguir ajuda para sair do que seria uma das conversas mais constrangedoras que já precisei enfrentar. Mas não. Rhysand não estava do meu lado. Não quando eles tinham argumentos e conteúdos carregados de comentários sarcásticos para jogar na minha. E minhas suspeitas são confirmadas quando Rhys me responde com um dar de ombros. Eu respiro fundo e volto a olhar para Cassian.

— Eu mal descubro o laço e você já está planejando meus filhos?

— Mas é claro! Eu tenho toda a vida de vocês programada aqui dentro. – Ele aponta para a cabeça. – Rhysand vai ser o primeiro. O coitado vem tentando a um tempo. – Ele encara Rhysand que apenas ergue uma das sobrancelhas.– Você é persistente, parabéns. 

Controlo o riso enquanto Rhys cruza uma das pernas.

— Sempre! – Foi a sua resposta.

— Já você...– seu sorriso aumenta e ele aponta em minha direção. – Você vai um pouco mais além. Você terá dois filhos…

— Dois? – Finjo surpresa e me seguro para não rir. 

— Exatamente, dois! Ah, e serão gêmeos! E parecidos com a mãe. E quando isso acontecer me lembre de agradecer aos Deuses.

Duas gargalhadas roucas preenchem a sala e eu o observo com atenção.

— Tudo bem, eu entendi. – Digo. – Mas me responda. Primeiro, porque dois filhos? E segundo, porque essa obsessão por eles parecerem com ela? 

Eu realmente estava curioso para saber a resposta.

— Simples, – Rhysand fala primeiro. – Lyra é bem mais agradável aos olhos que você. 

Uma gargalhada me escapa.

— Ah, claro, como não imaginei que esse fosse o motivo.

— Nada de ciúmes, morceguinho. Só estamos esclarecendo as coisas. – Cassian prossegue. – E quanto aos bebês… Quando vocês dois perceberem que estão enrolando demais e pararem com essa frescura toda... – Um arrependimento por ter perguntado me invade. – Vocês terão que recuperar o tempo perdido e então…

Eu não podia ouvir mais um minuto dessa conversa esquisita.

— Já entendi. Já entendi.

O silêncio não durou mais de um minuto.

— E outra coisa… – Cass retoma – Você precisa parar de dar aqueles livros eróticos a ela. 

Não seguro a gargalhada.

— Você deu um livro erótico a Lyra? – Rhysand finge indignação.

— Não, claro que não… 

— Deu sim! – Cass acusa. – Eu a encontrei lendo um deles a algumas semanas, estava toda tensa e com o rosto tão vermelho que pensei que ela pudesse explodir. 

— Você está sendo responsável por acabar com a inocência dela! – Rhysand acrescenta.

E os dois continuam com a sessão de tortura por um tempo. Mas eu agradecia aos deuses por isso estar acontecendo. Eu estava tão exausto de pensar. De pensar em tudo. Um momento com meus irmãos era o meu refúgio. A verdade é que eu precisava das piadas horríveis de Cassian e dos comentários sarcásticos de Rhysand. Precisava disso para me lembrar que não estava sozinho. 

Alguns minutos depois eu senti algo na outra ponta da ligação. Lyra estava acordado, ou pelo menos estava retomando a consciência.

Eu respiro fundo com a sensação.

— Anda! – Rhysand fala. – Vá até lá e veja como ela está.

Eu me levanto e ando até a porta.

— Sei que vocês já devem imaginar...– Falo com a mão na fechadura. – Mas eu não contei a ela e não pretendo contar agora.

Os dois confirmam e não deixei de notar a frustração de Cassian.

— Az...– Ele me chama antes que saísse da fala. – Se ela não tivesse feito, eu teria feito por ela. – Cassian avisa. – Eles sabiam disso. Diga a ela que ela não é culpada… E que eu estou orgulhoso.

Abri um sorriso sincero. Eu sabia que ela adoraria ouvir isso. Enquanto andei até o seu quarto eu voltei a agradecer pela conversa de minutos atrás.

Sentia que agora era uma companhia agradável para ela. Mas ainda tinha uma parte agitada dentro do peito. Uma parte que eu esperava que adormecesse assim que entrasse naquele quarto. 

Quando entrei, Lyra estava com as costas encostadas na cabeceira da cama. Suas pernas estavam cruzadas e os braços apoiados sobre as coxas. As palmas das mãos viradas para cima e ambas trêmulas. Sombras saiam de seus dedos. Eu poderia dizer que elas se assemelhavam às minhas, mas não. Elas eram agressivas e intensas. Era o seu poder. Ele ficou enclausurado por anos. Anos preso sem encontrar um escape, um alívio. Eu a vi encarando as mãos trêmulas e as sombras. Ouvia seus soluços baixos e de longe conseguia ver os olhos brilhando com as lágrimas.

— Não...– Eu falo baixo e isso chama sua atenção. Decidi ir até ela. – Eu prefiro que você me recepcione sorrindo. 

Eu esperava que no fundo do coração, que essa frase clichê tivesse algum efeito. Porque vê-la daquele jeito era de partir o coração. E doía mais do que eu esperava. 

O alívio inundou o meu corpo e fez todos meus músculos se relaxarem quando Lyra levantou a cabeça e deu um meio sorriso. Não era lindo e não fazia o quarto todo brilhar como todas as outras vezes que ela sorriu, mas pelo menos existia alguma coisa ali…

— Me perdoe...– sua voz era um sussurro. – Feyre estava aqui e eu não queria chorar na frente dela e eu...– Lyra deixa escapar um soluço antes de desabar. – Eu precisava, Az. Eu… eu matei alguém. 

Eu corri até ela. Sem pedir licença, sentei ao seu lado e a puxei para meu braços. Eu a abracei o mais forte que pude. Encostei sua cabeça em meu peito e acariciei toda a extensão da sua coluna.

— Lyra…

— Eu fiz aquilo… de novo – Ela me interrompe. – Foi como na caverna, Az. Só que muito pior. Eu não conseguia me controlar. Eu juro… Eu juro que tentei ter o controle, mas eu não consegui e eu fiquei mais nervosa. Com mais medo. – Ela mal respirava. – Então vieram as chamas e… E eu queimei o corpo todo dele enquanto ouvia seus gritos e…

— Lyra! – Eu seguro só seu rosto e faço com que ela olhe para mim. Eu estava apreensivo por vê-la assim, mas precisei me abster de tudo para tranquilizá-la. Com meus polegares acaricio a pele rosada e olho em seus olhos. Vi toda dor e angústia que ela sentia através de seus olhos. A culpa que carregava era de partir o coração. Meu peito doía ao saber que aquilo era real. Sua dor era real. Ela realmente acreditava que deixaria de ser uma pessoa boa por ter feito o que fez. Algo me dizia que se eu não fizesse algo ela se culparia pelo resto de sua vida. – Querida, escute bem o que eu irei dizer. O que aconteceu hoje… O que você fez, foi a decisão certa a ser feita. Você pode não entender isso agora, mas você salvou sua vida hoje. Assim como você fez na caverna. Você foi corajosa e valente e inteligente. Não se culpe por ter tomado a decisão que salvou a sua vida. Não se culpe por seu poder ter salvo a sua vida. 

Lyra se ajeita na cama. Sentando sobre os calcanhares e ficando mais próxima a mim. Suas mãos seguram cuidadosamente meus punhos e consigo sentir o ar gelado de suas sombras envolvendo a minha pele. As minhas, por sinal, mesmo diante ao risco, estavam quietas. Eu sentia, que assim como eu, elas queriam ver Lyra em paz novamente. 

— Se foi a decisão certa...– Sua voz é interrompida por um soluço. – Por que eu me sinto tão mal? 

Não sei se era o hora certa. O momento mais adequado, mas a sua pergunta me fez sorrir. 

E assim o fiz.

Sorri para ele enquanto limpava mais uma lágrima que insistia em manchar sua pele.

— Porque existe muita coisa que você que vale a pena ser salva. Porque você é o exemplo de pessoa que precisamos ter para acabar com toda a maldade que nos sufoca. Porque você é assim, Lyra… Você é doce, pura e tem a verdadeira bondade no coração. E isso é tão raro, minha linda...– Vejo um leve sorriso começar a nascer em seus lábios e pelo canto dos olhos consigo sentir sua pele quente. As sombras haviam partido. Agora era só a sua pele tocando a minha. – Mas às vezes as pessoas mais bondosas precisam tomar decisões difíceis…

— Assim como você. – Ela fala calmamente. – Assim como todos vocês…

Sorrio novamente.

— Exatamente. Eu quero que entenda que naquele momento era você ou ele. E graças a mãe foi você. Você que foi salva. Lyra, se você não tivesse feito o que fez, Cassian teria feito. Eu teria feito se pudesse. – Vejo aquele lindo par de olhos castanhos um pouco surpresos, mas continuo. – Se ele não estivesse morto, eu voltaria até lá e terminaria o que você começou. Não se culpe por isso. Algumas decisões são difíceis e nos causarão muita dor, mas depois descobrimos que tudo isso foi necessário para conquistarmos um bem maior. 

A paz invadiu meu peito quando o sorriso dela aumentou. E percebi como precisava daquilo. Como eu precisava vê-la sorrir. E esse não quer um sentimento momentâneo. Eu venho precisando desse sorriso há um tempo. 

— Você é incrível. 

Ela dispara e causa sensações agradáveis no meu estômago.

— É uma palavra interessante para me definir, obrigado. 

— É a sua palavra! Eu acabo de declarar ela única e exclusivamente sua. 

Havia alívio em sua voz o que me fez relaxar mais um pouco. Passo meu  braço por suas costas e nos sentamos lado a lado novamente. Lyra se aconchega em meu corpo e segura a minha mão livre. 

— Obrigada por não me deixar esquecer o que eu realmente sou. 

Viro meu rosto e beijo de beijo sua têmpora. 

— Pessoas como você, merecem o mundo. Mas acho que você merece tudo que vai além dele.

Nossos olhares se encontram, ao mesmo tempo que sinto seus dedos entrelaçando os meus.

— Você falou como Nymeria agora.

— Sua melhor amiga! 

Ela sorri, feliz por saber que eu me lembrava. 

— Sim… Sempre que eu estava triste, ela segurava minhas mãos e dizia: Lyra, você nasceu para tocar o céu. 

Gostaria de encontrá-la um dia e dizer como concordo com ela. 

— Suponho que essa situação se encaixaria nesse momento de vocês duas. 

Por algum motivo sinto medo da resposta ou notar a pausa e depois o suspiro longo que ela soltou.

— Sim… Nymeria tinha o dom de saber o que eu sentia apenas de olhar para mim. E apesar do jeito doido que conta a vocês. Ela sempre, sempre, sabia o que dizer. Eu sou grata por o meus traumas não terem apagado Nymeria da minha memória. Porque eu sinceramente não sei o que faria sem minha mãe e sem ela também. As duas eram tudo o que eu tinha. E eu era tudo o que Nymeria tinha, nós éramos a família uma da outra e hoje eu não sei nada sobre ela. Eu não sei se ela estava viva. Não sei se está bem. Eu não sei se a reconheceria se ela me reconheceria ou se ficaria feliz em me ver de novo. Eu não sei mais de nada, Az… – Sua voz fica trêmula novamente e pé peguei torcendo para que ela não chorasse novamente. – Eu sou tão grata por tudo o que tenho hoje, mas às vezes sinto falta dessa parte minha. Sinto falta dela. Ela era minha irmã, minha melhor amiga, minha ouvinte...tento não ficar forte e não me sentir só sem ela... 

— Mas é difícil...– concluo.

— Sim!

Tento afastar a angústia viva em meu peito. E de algum jeito me concentro tanto nisso que fico em silêncio. 

Lyra coça a garganta. 

— Está na hora né? – Voltamos a nos olhar. – Está na hora de eu encarar minha história. De encarar quem eu sou e descobrir tudo aquilo que eu ainda desconheço. E principalmente de treinar meus poderes...– Ela parece dizer isso mais a ela do que a mim. – Era isso que ia me dizer quando chegou aqui, não era? 

— Minha prioridade era você. Saber se estava bem, mas...sim. Também conversaria sobre isso com você.

— Você pode me ajudar com isso? 

— Claro! Com o que você quiser.

— Sabe onde encontrá-la? – Havia hesitação em sua voz. – Sabe onde encontrar a bruxa que me procurou?

— Sim, posso buscá-la quando você quiser.  

Ela assente. 

— Quero descobrir minha história, Az. 

— E você vai, querida. Eu vou ajudá-la. Prometo. 

Ela sorri para mim… 

— Eu sei que vai… porque você é incrível.

Não consigo contar o sorriso.

— Você também é incrível, meu bem.

Lyra parece gostar do elogio, mas sua parte teimosa e implicante não me deixaria vencer.

— Não! Você não pode usar essa palavra. Você precisa escolher outra…

— Outra? – Ergo uma das sobrancelhas.

— Sim! Você não pode roubar minhas palavras, encantador de sombras. Onde fica sua criatividade?

Ela mordeu os lábios e tira mais um sorriso de mim. 

Cassian está certo. Nunca sorri tanto como sorrio com ela.

— Tudo bem, tudo bem… – Finjo pensar enquanto olho para seu rosto e seus olhos brilhando, dessa vez de felicidade. E como eles eram perfeitos. – Perfeita! – Exclamo. – Essa parece boa para você? – Provoco.

Lyra abre um sorriso torto.

— Hm...acho que eu posso aceitar essa. 

— Tudo bem! Mas agora você precisa descansar.

— Ah não...– Ela faz um biquinho e pisca os olhinhos. – Sério? 

Eu me levanto rápido. Antes que eu desistisse de ir embora. Mas eu precisava…

— Sério… você precisa descansar. – Seguro seu rosto e beijo sua testa. – Você promete que vai se cuidar?

— Prometo, eu vou ficar bem. 

Eu sorri e segui até a porta, antes que eu saísse, Lyra me chama.

— Az...– Um sorriso nervoso aparece em seus lábios. – Existem tantas coisas que ainda eu não consigo dizer.

Eu também.

— Eu sei! – Respondo. – Eu me sinto da mesma forma, mas espero estar pronto logo. 

Posso sentir o seu alívio.  

— É… eu também. – Ela deita e arruma o travesseiro. – Boa noite, encantador de sombras.

— Boa noite, estrelinha.

Essa foi a minha deixa. Saí o mais rápido que pude e voltei ao escritório. Quando cheguei, encontrei Feyre e Lucien conversando.

— Me desculpe por interromper. – Peço.– Mas preciso que cuide de Lyra por alguns dias. 

Lucien levanta surpreso com o meu pedido.

— O que aconteceu? – Feyre pergunta antes que o feérico responda.

— Nada! Não se preocupe. – Olho para minha Grã-Senhora.– Vou até á Outonal. Vou descobrir o que liga Beron a Lyra. E encontrar sua melhor amiga e trazê-la até aqui. 

Lucien me encara com atenção. 

— Eu vou com você. – Ele avisa.

— Não é necessário.

— Eu posso ajudar com as buscas, conheço muito bem aquele lugar. 

— Por isso, se você entrar naquele corte seu pai iria descobrir sobre nós antes mesmo que pudéssemos pensar. Além disso...– eu o encaro com sinceridade.  – Ela vai precisar de você aqui. 

Lucien me analisa por um tempo. E o vejo relaxando os músculos. Uma expressão de alívio cresce em seu rosto. 

— Certo! Prometo que ela ficará bem.

Vi nele a mesma sinceridade que vi em meu pedido. Eu assenti em silêncio e dei as costas. Partiria agora mesmo. 

— Az…– Feyre me chama. – Por que buscá-la agora? 

Olhar de Feyre sobre mim me fez entender que a resposta seria exclusivamente para mim. 

— Nymeria é para Lyra o que vocês são para mim. Entendo como ela se sente e por isso não suporto vê-la assim.

Feyre sorri orgulhosa e olha para Lucien. Ele acena e então os dois voltam a conversar. Eu, no entanto, partiria imediatamente. 






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Escrito por Julia 💕

Espero que gostem 💕

Fiquem bem, estrelinhas. Até a próxima 💕

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