Capítulo 29

Oiieeee, tudo bem com vocês???

Mais um capítulo pra vocês...

Obrigada pelas mensagens que recebi na semana passada. Também senti saudade de vocês.

Não vou enrolar muito hoje... Então

Boa leitura estrelinhas ✨

****

Lyra

— Sabe… - falo a Nuala enquanto ela coloca os grampos em meu cabelo - eu estou começando a me acostumar com esse couro illyriano. Ele até que é confortável e muito bonito - passo o dedo pelo couro colado na minha coxa.

Nuala riu baixinho e tocou meus ombros.

— O velho traje illyriano e sua mania de deixar as pessoas mais charmosas - ela ri e confere se o cabelo está bem firme -. Acabei, senhorita.

Eu a agradeci e então sai do quarto. Depois do café da manhã reforçado que Cassian me obrigou a tomar, ele fez questão de garantir que eu estaria pronta em menos de vinte minutos para mais um dia de treino. Toda vez que Cassian dava aqueles sorrisos assustadoramente bonitos eu sabia de uma coisa: ele não me daria paz no treino. 

Era sempre assim: Sorriso galanteador; seguido de um treino extremamente exaustivo; uma pequena troca de farpas com Devlon - confesso que essa era minha parte favorita; uma aula de alguns xingamentos que eu jamais pensei que existiam e por fim… lar doce lar. Mas em geral, treinar com Cassian era bem divertido. 

Quando desço até a sala, encontro Rhys e Feyre. Estavam sozinhos e conversando algo que provavelmente não era pra ninguém ouvir. Deduzi isso ao perceber que a conversa era através de sussurros. 

Eu dou algumas batidinhas na porta pra avisar que cheguei e os dois voltam sua atenção para mim. Ambos sorriem e eu retribuo o gesto.

— Já estou pronta - meus olhos procuram por Cassian na sala -. Onde Cass está? 

Feyre que também vestia couro illyriano vem em minha direção:

— Resolvemos que todos vamos treinar hoje e Cass quis ir mais cedo. Ele é ansioso demais para esperar por nós duas  - ela fala usando um tom leve e divertido.

Eu reviro os olhos e balanço a cabeça.

— Ele me fez jurar que ficaria pronta em dez minutos e vai embora? 

— E quanto tempo você demorou? - Rhysand perguntou.

— Hum… uns trinta minutos?! 

Feyre solta um risinho que ela esconde com as mãos. 

— Isso vai irrata-lo, não vai? - pergunto a Rhysand que percebe no mesmo momento a satisfação brilhando em meus olhos. 

— Ah, com certeza vai! - ele fala colocando as mãos nos bolsos e andando até nós - Vai tirar ele do sério. 

— Ótimo! 

O meu tom de voz foi o bastante para arrancar uma risada rouca do Grão-Senhor.

— Então… vamos?! - pergunto mais uma vez. 

Não sabia o porquê, mas eu ansiava pelo treino hoje. 

Feyre segura a minha mão e Rhysand toca o seu ombro. No segundo seguinte já estamos no acampamento.

— Vou me encontrar com Devlon antes. Logo encontro vocês! - Rhys avisa e em seguida beija a têmpora da parceira e se afasta.  

Feyre e eu seguimos até um dos campos de treinamento.

— Eles devem estar treinando em algum dos campos -- Feyre sugeriu.

— Eles? - perguntei.

Feyre me encarou e deu um meio sorriso.

— Ele voltou! Chegou logo depois que você subiu para se arrumar.

Meu coração gelou. Azriel estava ali. Eu lutei contra uma dor no estômago ao ouvir o nome dele durante todos esses dias. Eu não conseguia entender o motivo dele ter sumido, mas só sei que ele simplesmente saiu de Velaris e não apareceu por cinco dias. Eu sentia uma angústia muito forte. Eu não sabia onde estava ou se estava bem. Era doloroso demais, porque sentia sua falta. Sentia falta da companhia e de escutar sua voz. Parecia besteira mas eu evitei a biblioteca por esses dias. Fugi de qualquer lembrança. Um dia Morrigan notou minha preocupação e disse que isso era comum acontecer.

Como assim comum? 

Ele saia por aí ficava dias fora e deixava as pessoas que ama desesperadas por notícias? 

Pelo menos os treinos com Cassian tomavam um pouco do meu tempo, o que facilitava para eu ocupar minha mente. Feyre esperava minha resposta, mas eu só respondi:

— Ah, entendi.

— Ele tentou subir e falar com você, mas Cass o agarrou antes e o arrastou até aqui. 

Não sei se fico aliviada ou se tento descontar isso no treino.

— Ele está bem, Lyra… 

Eu a encaro.

— Como tem tanta certeza? - isso me escapa antes mesmo que pudesse pensar.

Feyre ri baixinho e toca meu ombro.

— Devia contar a ele que…

Paro de ouvir o que Feyre estava falando assim que nos aproximamos de um dos campos. Eu conseguia ouvir somente o barulho das lâminas pesadas chocando-se uma nas outras e alguns murmúrios de batalha. A risada alta e rouca de Cassian reverberou pelo acampamento, seguida de uma outra que me causou arrepios assim que a reconheci.  E talvez, não, talvez não, com toda a certeza podia escutar o meu coração disparando como louco dentro do peito. 

Pisquei algumas vezes e agradeci aos céus por Feyre estar segurando meu braço, porque eu cambaleei alguns passos. 

— Pela mãe…- deixei escapar baixinho e em seguida soltei um suspiro vergonhoso que fez minhas bochechas corarem.

Feyre deu um risinho abafado e umas batidinhas no meu ombro.

Azriel e Cassian treinavam sem camisa. Ambos suados.

Desde quando passei a achar machos suados atraentes? Tudo bem! – respondo a mim mesma. São guerreiros. E illyrianos… E extramamente atraentes, talvez não esteja tão louca assim. 

 Eles não estavam nada cansados, o que deixava tudo estranhamente melhor. As tatuagens illyrianas reluziam, os músculos se destacavam com os movimentos que realizavam. Cassian estava com os cabelos molhados e praticamente soltos. Azriel...as sombras pareciam dançar acompanhando os movimentos. 

Encarei os dois de longe. Observando com atenção.

— Pelos Deuses - exclamei novamente. Acho que minha voz saiu estridente demais.

Só percebi que minhas palavras saíram mais altas que gostaria quando Feyre gargalhou ao meu lado. Meu rosto esquentou.

— Eu sei ! Eu pensei o mesmo quando conheci Rhysand e esses dois...- Feyre falou enquanto me observava a olhar para o illyriano - Eles foram abençoados com uma beleza sobrenatural. 

Eu apenas concordei, com meus olhos vidrados na luta, ou melhor, com os olhos vidrados nele. 

Deduzi que jamais tinha conhecido alguém tão bonito quanto Azriel em apenas alguns segundos, mas agora vendo ele desse jeito…

Sinto como se meu corpo estivesse entrando em combustão. Uma energia que passava por toda minha coluna. E talvez minha boca estivesse com saliva demais. Eu chacoalho a cabeça tentando me obrigar a recuperar a consciência.

— Pela mãe…- falo baixinho e faço Feyre gargalhar mais uma vez - Eu não sou assim Feyre, eu juro...

— Enfim chegaram! - Cassian gritou assim que nos viu paradas feito pedras. 

Por favor, só fique aí…

Pensei, mas já era tarde demais. Os guerreiros já estavam caminhando em nossa direção. 

É impressão minha ou parece que os músculos da barriga definida de Azriel parecem ter vida própria?!

Pela mãe Lyra!!!! Controle-se. 

Meu coração apertou com a aproximação. E então eu me lembrei que ainda estava chateada pelo sumiço. 

Você ainda está chateada! Não deixe o charme do encantador de sombras pegar você.

Azriel me cumprimentou com um aceno e um sorriso.

Sem nenhuma palavra. 

Só um sorriso.

Graças a mãe!

Eu sorri rápido e tentei desviar meu olhar da pele com tatuagens e músculos em minha frente. E implorando pra mãe não deixar que o rubor em minhas bochechas me entregasse. 

— Estão atrasadas! - Pelo tom que Cass usou ele provavelmente me fará pagar pelo atraso antes que eu possa implorar por um pouco de paz.

— Você achou outra coisa para fazer enquanto esperava. - Rebateu Feyre.

Cassian revirou os olhos em resposta. 

Eu ainda permanecia quieta e concentrada e com os olhos fixos em Feyre. 

— Está pronta? - Cass perguntou a mim enquanto erguia as sobrancelhas e como uma expressão que dizia: "Mas é claro que está. E se não estiver, trate de ficar, Docinho".

O olhar de Az estava sobre mim, só que era impossível decifrá-lo. 

Eu respondi hesitante:

— Estou?!

Az ainda me observava, mas eu não conseguia olhar para seu rosto. Mais uma vez lembrei do aviso de Morrigan. Que aquilo era comum de acontecer. Para Azriel é muito mais fácil lidar com suas questões sozinho, mas será que é tão difícil entender que tem alguém aqui pra ficar ao seu lado até mesmo se quiser ficar em silêncio?! Ninguém precisa viver sozinho. Ninguém. Principalmente ele.

E não.

Ficar sem a companhia dele não foi fácil. Outros podem estar acostumados, mas eu não. A mais de dois meses eu vivo com a companhia dele todos os dias, então, não, não foi fácil. Pelo menos não pra mim.

Cass franze a testa com a minha quase dúvida.

— Acho que estou… não sei, ainda estou um pouco dolorida de ontem, então talvez…

Cassian levanta a mão enorme e faz um gesto com o dedo que me silencia na hora. Vejo Azriel e Feyre morderem as bochechas para conter o riso.

— Nada disso - Cassian enfatiza -. Sem desculpas esfarrapadas. Hoje vamos treinar e…

— Cassian já está perturbando a pobre Lyra de novo? - A voz de Rhys soa divertida quando ele retorna para nós. Ele enrolava faixas brancas em uma  das mãos e também estava sem camisa.

Os olhos de sua parceira acenderam no mesmo momento.

O que será que colocam na água desse lugar?

— O que vocês três têm contra treinarem vestidos? - Feyre da batidinhas com a bota na neve enquanto encara os três machos.

E toda a força e concentração que eu estava fazendo para não olhar para a montanha de músculos ao meu lado foi embora. Eu a perdi mais rápido do que o comando que meu cérebro enviou aos meus olhos. E em seguida uma olhadela, nada, mais nada discreta mesmo, para o corpo do Azriel. O brilho da pele bronzeada me causava arrepios.

Quando finalmente voltei a realidade já era tarde demais. Ele já havia notado, mas Azriel é educado demais para fazer algum tipo de comentário. Porém, eu consegui notar o movimento dos músculos ao perceber que eu também o flagrei me observando muito atentamente.

E foi assim, com um simples olhar que ele fez o meu rosto pegar fogo. Sentia as maçãs do meu rosto tão vermelhas e quentes… 

Mas como eu disse, Azriel é educado demais para fazer algum comentário inconveniente.

Já Cassian… 

— Por que reclamam dos treinos sem camisa sendo que vocês gostam tanto? - Os olhos maldosos do illyriano me encararam - Não é Lyra? 

Desgraçado.

Eu arrumei minha postura e assumi uma feição de indiferença.

— Não faço ideia do que você está falando. 

Cassian e Rhysand falam em uníssono:

— Ah, não faz? 

— Não! Não faço! - falo enquanto cruzo os braços e bato o pé como uma criança birrenta. - Escuta, você me trouxe aqui porque quer treinar. Então o que você está esperando Cassian?  

Cass ergue as sobrancelhas e solta uma risadinha. 

— Vamos! - ele faz o gesto com a cabeça e começa a marchar na frente – Limpe sua baba e vamos acabar logo com isso. 

Eu bufo de irritação, mas me pergunto brevemente se realmente estava babando. 

— Até mais…- falo para os três que ficaram e começo a andar na mesma direção e Cassian seguiu.

Mas algo me fez parar, então voltei para Azriel e pela primeira vez encarei os seus olhos.

— Fico feliz que tenha voltado e que está bem, Az… - abri um sorriso sincero - Senti sua falta. 

Eu não esperei ele responder e não fiquei pra ver sua expressão. Apenas virei as costas e corri atrás de Cassian.

****

Cassian me fez treinar por horas. Na verdade, quando voltamos para casa o fim da tarde já se aproximava. E quando eu disse pra ele que já estava cansada e que se eu tentasse socar mais alguma coisa o meu braço iria cair do meu corpo. O macho simplesmente sorriu. Eu mordi minhas bochechas e então acertei o meu último golpe do dia. Mas dessa vez em Cassian – não vou negar que a sensação foi maravilhosa. Depois de cambalear alguns passos para atrás e segurar o próprio queixo com os dedos fortes, Cass abriu um sorriso lento e depois soltou um de suas gargalhadas, e no fim exclamou: "Essa é a minha garota!!!".

O orgulho em sua voz aqueceu o meu peito e confesso que parte da minha exaustão se dissipou ali mesmo.

Quando finalmente cheguei em casa, Nuala já estava esperando com uma banheira cheia de espuma e o cheiro doce das essências me fez arrancar os trajes antes mesmo de chegar ao banheiro.

— Deuses… - gemi baixinho quando finalmente sentei na banheira e senti a água morna envolver a minha pela. 

— Vou deixar a senhorita à vontade, qualquer coisa pode me chamar -- Nuala falou baixinho e saiu do quarto.

Tive tempo de responder com um sorriso e então afundei o meu corpo na água. Aproveitei e molhei os fios de cabelo e então pude encostar minha cabeça na borda delicada da banheira.  Um suspiro baixo saiu de mim quando senti algumas bolinhas de espuma estourarem na minha pele e provocando uma sensação de alívio por todo meu corpo. Os nós e toda a tensão e a dor que eu sentia foi sumindo aos poucos. Consegui finalmente fechar os olhos e relaxar. 

Não sei por quanto tempo fiquei na banheira de olhos fechados. Mas acredito que foi tempo suficiente para tirar um cochilo porque tive a sensação de despertar de um sono quando algumas batidinhas soaram da porta do quarto. 

Eu me levanto rápido e pego um roupão branco que estava pendurado na parede ao lado. O visto e sigo em direção a porta amarrando a peça em minha cintura quando escuto mais um batida.

— Só um minuto… - peço baixinho e no segundo seguinte já estou com a mão da maçaneta prateada. 

Abro a porta sem prestar muita atenção pois ainda arrumava o roupão em meu corpo. Quando terminei de me certificar que a peça estava bem presa em meu corpo, me dei o trabalho de olhar para o corredor e lá estava Azriel. 

Azriel

— Ah…- Lyra exclamou ao me ver do outro lado da porta - Oi…

Ela passa os dedos habilidosamente pelo algodão do roupão. Só quando notei as maçãs do rosto rosadas e os olhos assustados que notei onde estava e como ela estava. 

— Desculpe, não sabia que estava no banho.

Uma parte minha agradeceu por não conseguir começar essa conversa agora. Meu corpo estava tenso e toda aquela sensação de culpa me incomodava demais. Passei as longas horas do dia assim e quanto mais as horas passavam mais a angústia aumentava dentro do peito. Não falei com Lyra durante o dia, por mais que estivéssemos próximos. Notei por sua expressão que estava magoada comigo, e então achei que não fosse adequado me aproximar. Pelo manos não por enquanto. Mas depois de algumas horas tentando me convencer do contrário, Feyre me fez prometer que falaria com Lyra naquele mesmo dia.  E foi isso que fiz tempos depois de voltarmos para Velaris. 

Lyra correu para o quarto assim que atravessamos. Eu não queria procurá-la naquele momento. Via que estava exausta do treino, então dei algum tempo a ela, e a mim, principalmente. Eu tinha planejado o que iria falar, estava com o discurso pronto e não conseguia entender o porquê estava tão nervoso. Eu nunca precisei pedir desculpas aos meus amigos por meus sumiços. Eu retornava e era como se nunca tivesse saído.

— Volto outra hora…- falo engasgado e viro o corpo para o corredor. 

— Não…

Sinto os dedos delicados de Lyra segurarem minha mão. A pele fina e lisa acariciando a pele áspera da cicatriz.

— Não tem problema - continua -. Você quer entrar? - e então ela faz um sinal com a cabeça indicando o quarto.

Eu sorri e concordei em silêncio. Lyra segura a minha mão com mais firmeza e então me leva para dentro do quarto. Assim que entro sinto o cheiro adocicado de rosas e algum outro aroma que não consegui decifrar. Ela fecha a porta.

— Você está bem?

Eu podia ver incerteza através dos olhos castanhos brilhantes. Podia sentir sua dúvida em saber se queria ou não a resposta.

— Queria me desculpar com você - um suspiro de arrependimento escapa da minha garganta. E de repente me pego me questionando o porque sai e a deixei aqui. - Feyre me contou que você ficou preocupada, não queria causar nenhum desconforto à você.

Lyra respira tão lentamente… Mas consigo ver os movimentos dos ombros bem desenhados. O tempo em Velaris a deixava cada dia mais bonita. 

— Sim. Eu fiquei. 

Essas palavras curtas e secas me fizeram perder todos os pensamentos por um segundo. E agora estava me questionando o porque não continuei onde estava e longe daqui. E logo a confusão se instala em meu peito. E de novo. E de novo. E de novo. Eu me perguntava quando eu teria um pouco de paz. Que os pensamentos bons surgissem e permanecem por mais que míseros segundos. 

Eu engulo seco e fico em silêncio. Sinto o olhar observador de Lyra sobre mim e em seguida uma respiração profunda. 

Só diga alguma coisa e acabe com toda essa angústia aqui dentro. Por favor. 

Meu peito gritava por isso. Sentia ar frio envolver o meu corpo e vi as sombras agitadas.

Por favor! 

Meu peito pedia uma coisa, mas eu sentia os músculos do meu rosto e sabia muito bem como eu estava. Sem sentimento algum. Provavelmente era isso que Lyra estava vendo agora. Um monte de músculos indecifráveis.

— Fiquei com medo de algo ruim ter acontecido com você.

O cuidado e o carinho em sua voz chamam a minha atenção. Eu me surpreendo quando volto a encará-la e a encontro, agora, em minha frente e com uma das mãos em meu rosto. O toque suave e a pele morna. 

— Fiquei com medo do que eu pudesse ver quando retornasse. Mas estou aliviada em ver que você está bem - ela sorri, doce, um sorriso doce, como os de sempre.

Sentia a dor diminuir. Algo naquele toque era apaziguador. 

— Novamente…- volto a dizer - Eu sinto muito. Não quis causar problemas a você. Costumo fazer isso algumas vezes e todos aqui já estão  acostumados e então…

— Eu entendo - ela me interrompe.- Eles estão, mas eu não, Az… - não tinha raiva em seu olhar, era outra coisa - Olha…- sua outra mão livre segurou meu rosto. Agora as duas me tocam e prendem a minha atenção - Eu vou me preocupar sempre. Mesmo me acostumando com isso, eu sempre vou me preocupar. Porque é você! E você é meu amigo. Um amigo muito querido e que eu gosto e me importo muito. Então, independente se eu souber ou não o que aconteceu, eu vou me preocupar. Porque esse é o meu jeito de cuidar de você.

Uma pontada e depois senti um ardor dentro de mim. 

Minhas sombras acalmaram-se em algum momento que não pude notar. O zumbido na cabeça havia desaparecido. Junto com o peso do corpo. Senti os músculos relaxando e agradeci a mãe por sentir aquilo que parecia um sorriso abrir em meu rosto. 

O sorriso de Lyra era ainda maior. 

— Amigos fazem isso. Você cuida de mim sempre e eu de você. O meu jeito pode ser um pouco diferente, mas logo você acostuma. 

A diversão em sua voz me tranquilizou ainda mais.

— Eu gostei disso…

Foi o que consegui dizer. 

E ela riu baixinho e soltou o meu rosto. Ainda podia ter a sensação da pele macia de suas mãos segurando meu queixo.

— Obrigada…- um rubor rosa claro surgiu nas maçãs de seu rosto - Feyre tentou me tranquilizar várias e várias vezes. 

— E deu certo? - pergunto descontraído quando senti o tom leve que usava. Estava liberado a ter uma conversa agradável e leve. Nada de tensão. Não hoje e não com ela.

Lyra balançou a cabeça.

— Não muito, mas eu fingi que ajudou e muito.

Ela fez uma expressão de quem precisava esconder algum segredo. E os olhos castanhos brilhavam. E senti mais um ardor no peito. 

Talvez algo realmente exista ali.

Não consegui evitar o riso e quando Lyra finalmente notou que estava sorrindo. Ela também se permitiu a rir. 

Ficaria ali por mais tempo. Se pudesse. 

— Quase me esqueci…- começo a dizer enquanto enfio a mão no bolso da calça. Meus dedos alcançam a caixa delicada e os olhos de Lyra permanecem concentrados em meu rosto - Lhe trouxe algo. Um presente. 

Ela desce o olhar e encontra a caixa em minhas mãos. Ela imediatamente levanta seu olhar para mim.

— Um presente? 

O tom de surpresa me  causou uma pontada de dor. 

— Sim, um presente, meu bem. 

Ela sorri e me olha.

— Pensei que seria uma boa forma de começar as minhas desculpas e…

— Você queria comprar o meu perdão, encantador de sombras?! - ela fala erguendo as sobrancelhas e cruzando os braços. 

Rio baixo diante da  acusação sugerida a mim e depois sorrio por ter notado que aquilo tinha sentido.

— Talvez… - respondo dando de ombros.

Ela franziu a testa e olhou para a caixinha mais uma vez.

— Então acho bom que dentro dessa caixinha tenha um chocolate bem gostoso porque só assim para…

A voz de Lyra some quando abro a caixa e seus olhos encontram o pequeno bracelete de ouro branco e cravejados com pedras azuis.

— Azriel…

Ela exclama.

Eu não pude conter o sorriso de satisfação.

— Você gostou?

Eu sabia da resposta, os olhos dela já entregavam, mas queria ouvir isso dela.

— Az…- um suspiro - é, é lindo. Eu…- outro suspiro - eu não sei…

Sua voz falhou quando ela me observou tirar o bracelete da caixa e erguer um pouco seu punho. Silêncio. Só conseguia ouvir sua respiração…

— Passei por uma loja e quando coloquei meus olhos nesse bracelete, lembrei de você. – Expliquei enquanto colocava a jóia em seu braço. Era tão delicada quanto a sua pele. - E depois pensei que o bracelete de sua mãe faria um belo par com este. Então descrevi como ele era para a atendente e ela concordou com a minha escolha.

Assim que viro o punho de Lyra e finalmente prendo o bracelete em seu braço. Permito que meu dedo acaricie sua pele. E pude sentir o tremor.

Viro o punho dela mais uma vez e então olho para o bracelete em seu braço. 

— Perfeito! - falei satisfeito. - Acho que fiz a escolha certa em…

Não consegui terminar a frase antes que Lyra se jogasse em meu braços e me desse um abraço para esmagar os ossos.  

Eu envolvi meus braços em sua cintura e a trouxe para perto. Quando deixei minha coluna reta. Tirei Lyra do chão. Então a abracei mais forte. Seus abraços agora envolviam o meu pescoço.

Estamos tão próximos que eu senti o seu coração bater intensamente. Ou era o meu. Ou os dois. A terceira opção com certeza era a mais provável. Eu respirei fundo e inspirei todo o seu cheiro. Lyra ainda cheirava banho…

Meus músculos se contraem quando percebo e sinto cada curva do corpo de Lyra colada em meu corpo. Pude sentir os seios avantajados e macios em meu peito e as curvas da cintura curvilínea e o quadril bem desenhado presos por meus braços. 

Meus batimentos estavam desconexos a essa altura. E minha respiração agora estava arrastada. E eu só conseguia me perguntar: 

Que merda é essa?! 

Com certeza existia algo ali dentro de mim.

Me culpei em silêncio quando senti uma faísca de desejo manifestando-se e dentro de mim quando Lyra se movimenta. Um movimento despretensioso, mas que me causa arrepio quando sinto o seio rígido contra o meu peito. E tudo que afastava a pele de mim era um tecido fino de algodão branco. 

Um suspiro fraco e falho me escapa e eu reúno forças para sair de toda aquela situação. A última coisa que precisava naquele momento era deixar Lyra desconfortável por uma reação indominável de meu corpo. 

Resolvo, por fim, ir soltando o seu corpo e vou me curvando para colocá-la no chão. Assim que a solto, a vejo dar alguns passos para trás. As bochechas que antes estavam somente rosadas, agora estavam vermelhas. Os lábios estavam úmidos e  uma análise um pouco mais profunda, me provaria que ela estava tão afetada por aquilo quanto eu.

— Bem…- a voz rouca - Eu não sei como agradecer. Ele é lindo e… - Lyra sorri - eu só não sei como agradecer. 

O que vejo nos seus olhos já é o bastante, não se preocupe.

Sorrio para ela e reprimi a mim mesmo quando penso em trocá-la de novo.

— Já me agradeceu o suficiente, Estrelinha, não se preocupe. 

— Você vai ficar e jantar com todos nós hoje? 

Ele deu mais alguns passos para trás e me olhava nos olhos. 

— Claro. 

Ela assente.

— Feyre ameaçou "arrancar os meus dentes" se eu não ficasse - aviso descontraído. 

E era verdade. Desobedecer a Grã-Senhora nunca foi uma opção. Lyra ri e com um movimento rápido ajusta o roupão. 

— Ótimo então – respondeu ainda arrastando o riso. - Quer vir até aqui e conversar um pouco depois do jantar? Ou então ver as estrelas junto comigo? 

— Claro - respondo sem vacilar.- Subo aqui logo depois do jantar. 

Ela assente e pela primeira vez houve um silêncio entre nós, mas não um silêncio constrangedor. Ficamos nos olhando e muito provavelmente nos perguntando quem de nós ia falar primeiro. Depois me peguei pensando qual foi a última vez que vivi uma coisa dessas. Que alguém tivesse me tirado a capacidade de falar e pensar com clareza. 

— Bom, eu vou indo, preciso deixar que termine de se aprontar.

Aviso andando direto até a porta. Precisava de ar. 

— Ah, claro. 

As bochechas coram mais uma vez. Como se só agora ela tivesse notado que estava trajando somente o roupão. O rubor descia pela pele fina no pescoço e descia até a pele exposta do peito. 

Eu pisco algumas vezes e afasto mais uma vez a imagem e as sensações do meu corpo apertando o seu.

— Até mais tarde…

Abro a porta, mas antes de sair no corredor, escuto sua voz me chamando.

— Az…

— Sim?! 

Ela sorri e senta na ponta da cama.

— Sabe que eu te perdoaria apenas com o seu pedido de desculpas. Não sabe? 

Sorri ao ouvir a pergunta. É claro que sabia. Porque ela é assim. Ela entende e perdoa. 

— Claro que sim, a verdade é que quando vi a jóia tive certeza que ficaria linda em você.

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Escrito por Julia ✨

Fiiiiiim!!! Espero que gostem desse capítulo. Obrigada pela atenção e fiquem bem ♥️✨

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