Capítulo 14

Azriel

Pela manhã aterrissei na casa da cidade. Graças aos Deuses aquele seria um dia tranquilo. Sem trabalho e se a mãe permitisse sem imprevistos. Quando cheguei, Feyre estava na sala de jantar acompanhada pela irmã e Lyra. As três conversavam e sorriam.

— Oi Az – Feyre cumprimentou- Sente-se, começamos a comer agora. 

Feyre ocupava o lugar ao lado de Lyra, as duas conversam enquanto Elain apenas as encarava. Eu então ocupei o lugar ao lado de Elain. 

— Como vocês estão?

—Muito bem e você? - Feyre respondeu.

— Estou bem, obrigada.

— Cassian está melhor ? - Lyra perguntou envergonhada.

Na noite anterior, como era de costume, Cass e Mor acabaram com algumas garrafas de vinho de Rhysand. Lyra olhou assustada e preocupada quando viu Morrigan agarrada ao pescoço de Feyre enquanto chorava e, dizia o quanto amava a amiga.

"(Na noite anterior)
–Está tudo bem com ela? - Lyra perguntou a mim baixinho.

Eu dei uma risada abafada.

–Está sim, fique tranquila. Isso acontece com frequência por aqui. - respondi- Agradeça por não ser Cassian! 

–Pela mãe ! - ela disse suspirando- Ele costuma a fazer isso também? 

–Sim! Porém, os escolhidos são sempre eu ou Rhysand.

–Que sorte a tua - Lyra brincou.

Antes que eu pudesse responder, Cass veio ao nosso encontro e passou cada um dos braços envolta de nossos pescoços. 

– Lyra, meu doce, você não quer beber mais um pouco de vinho?

Lyra riu.

– Estou satisfeita, Cass, muito obrigada.

– Vamos… liberte-se…- Cass puxava a mim e a Lyra para mais perto do corpo.

Lyra me encarou e riu.

– Se você beber demais...nós cuidamos de você - Cass sugeriu.

– Você não está com condições de cuidar de ninguém, irmão - interrompi. 

– Então você cuida! 

Lyra arregalou os olhos e as maçãs do rosto ficaram vermelhas.

– Acho que ele vai estar ocupado demais cuidando de você, Cass. Fica pra próxima."

E realmente minha noite terminou comigo carregando Cass até a casa dos ventos. 

— Está ótimo...pronto para outra, eu diria - respondi.

— Pela Mãe - as três disseram em couro.

Depois de alguns minutos dedicando toda atenção aos alimentos. Feyre falou:

— Lyra, tenho que trabalhar em algumas coisas da corte hoje. Por favor, fique a vontade para fazer o que dizer durante a tarde. Você disse que gosta de ler não é? Pode buscar qualquer livro na biblioteca e ler, caso queira. 

— Não se preocupe, Feyre. Cerridwen ficou de me acompanhar até a biblioteca esta tarde. Eu também gostaria de ajudá-las em no que for preciso aqui,, de qualquer modo, muito obrigada, eu ficarei bem.

Feyre assentiu, mas soube que ainda se sentia mal por deixar Lyra sozinha.

— Vamos caminhar um pouco no jardim, gostaria de nos acompanhar? – perguntei.

Iria acompanhar Elain ao jardim, como fazíamos diariamente.

Lyra levou seu olhar ao meu e, ali ficou por uns instantes, depois ele foi de mim para Elain ao meu lado.

— Ah não, tudo bem. – respondeu- Não quero incomodar vocês. 

— Não seria incômodo algum – reforcei.

Lyra olhou para Elain mais uma vez, a irmã de Feyre sorriu em resposta.

— Vamos?! – Elain falou.

— Aceite Lyra! – Feyre pediu – Assim não me sinto mal por deixá-la sozinha.

— Tudo bem então... sendo assim... ficarei muito feliz em acompanhá-los. 

Eu assenti. 

*

Caminhávamos até o jardim, Elain e Lyra caminhavam um pouco mais a frente, as duas trocavam algumas palavras. Consegui alcançá-las assim que chegaram á porta. Lyra olhou maravilhada. O tempo aparentava estar ao nosso favor. Ainda era um dia muito frio, mas nevava pouco, nada comparado as fortes nevascas dos dias anteriores. 

— É muito bonito! – Lyra elogiou- É você quem cuida ? – ela perguntou a Elain enquanto caminhava um pouco mais a frente de nós. 

— Sim, comecei a algum tempo. Faltam muitos detalhes ainda.

Lyra olhou para Elain.

— Mas já está ficando muito bonito. – ela olhou para um canteiro com algumas flores com diversos tamanhos e cores- Posso tocar nelas ?

— Claro!

Lyra se afastou um pouco mais. Eu fiquei a observando enquanto ela tocava e cheirava as flores. Cada dia mais diferente da jovem ferida e maltratada que encontrei. Quando disse no jantar a alguns dias que escolhera viver, era verdade, era possível notar que juntará todas suas forças para se reconstruir. Tinha mais luz em Lyra nos últimos dias. Tinha mais vida. 

Eu dei um leve sorriso, quase imperceptível ao observá-la de longe.

 — Azriel – Elain chamou.

— Sim.

— Bem...- ela hesitou- será, será que eu poderia  lhe fazer algumas perguntas? 

Eu a encarei.

— Acho que você é o único que eu me sinto à vontade para falar sobre isso. 

— E sobre o que seria? 

O  seu rosto corou um pouco. E Elain falou, baixou a voz o bastante para que somente eu a ouvisse.

— Eu queria saber mais sobre a parceria. Nunca pedi para que Feyre me explicasse claramente o que era.

— Não sei se sou o melhor para explicar isso a você, Elain.

— Mas...é que você é o único em quem eu confio para perguntar sobre isso. 

Eu suspirei. 

— Bem parceria é...

— São as flores mais lindas que já vi em toda a minha vida e a neve lembra pequenos cristais nas pétalas... – disse Lyra quando surgiu ao nosso lado. Fiquei aliviado com a interrupção, não me sentia confortável em explicar o que era parceria a ela, por várias motivos, todos muito aparentes. 

Elain encarou Lyra e depois voltou seus olhos a mim. O gesto fez com que Lyra se afastasse, qualquer que tenha sido a ideia que tenha surgido em sua cabeça, não era a realidade.

— Ah, você estão conversando – Lyra afastou mais um pouco-. Não quis atrapalhar...

— Fique tranquila, não atrapalha...– foi o que eu respondi. 

— Eu pedi a ele que me explicasse sobre a parceria e...

Vi que Lyra me olhou pelo canto dos olhos.

— Posso explicar tudo que sei a você, caso queira, é claro.

Elain apenas assentiu.

Tentei não demonstrar o alívio que sentia por não ter sido que o encarregado da explicação.

— Bem, a parceria é um laço muito raro, ele liga você a aquele que é seu semelhante, seu igual por completo. Ele é considerado um laço ainda mais que forte que o casamento. Muitos dizem que você foi abençoado ao encontrar seu parceiro. 

O rosto de Elain ficou sombrio.

— Eu não entendo...eu não era is...- Elain parou e reformulou o que diria a seguir.- Eu era humana, como é possível o laço acontecer comigo? 

— Para ser bem sincera, eu não conheço muitas histórias de feéricos com parceiros mortais. O que sei que é quando esses laços acontecem, eles são menos intensos que os laços entre dois feéricos.

— Quando o caldeirão lhe transformou em Grã-Feérica. – Comecei- Ele deve ter colaborado para  a ligação se intensificar. Assim como aconteceu com sua irmã e Rhysand.

— Mas...,mas e se eu não amar meu parceiro? – Elain perguntou- Serei obrigada a ficar ao lado dele por toda a vida ? 

As últimas palavras soaram um pouco ríspidas, Lyra enrijeceu o corpo e notei que havia feito o mesmo.

—Ahh – Lyra deu um pausa, notei que buscava as palavras mais adequadas - não! Você pode recusar o laço da parceria. Minha mãe sempre dizia que nem sempre o laço garantiria uma história feliz e apaixonada para o casal. – ela pausou mais uma vez- Existem muitas histórias de parcerias que não...bem, que não evoluíram. 

— Mesmo ? 

— Sim! – respondi quando notei que Lyra ainda não havia encontrado a melhor resposta- Muitos feéricos se unem com aqueles que amam, que escolheram para ficarem juntos. 

Elain franziu a testa. 

Lyra me encarou. Rápida e discreta. 

— Azriel está certo. Olhe, minha mãe mesmo, viveu feliz durante muito tempo e com muito amor, com um companheiro que não era seu parceiro.

Elain a encarou.

— E o que aconteceu com eles? 

O olhar de Lyra vagou para qualquer que fosse o lugar longe dali. 

— Ele morreu...morreu pouco tempo antes de minha mãe me acolher em sua casa.

Havia tristeza naqueles olhos ao lembrar da mãe. Mas uma tristeza que indicava saudade...e também havia muita gratidão.

— Você foi abandonada? 

— Sim, um pouco depois depois de nascer.

— Sinto muito mesmo – Elain falou rapidamente. 

— Tudo bem. – Lyra abriu um singelo sorriso- Eu fui criada com mais amor e carinho que pude imaginar. Então não tem porque sentir muito...Eu fui muito feliz com a família que tinha. 

—  Tenho certeza disto! – concordei. – Tenho certeza que ela lhe deu todo o amor que tinha. 

— Obrigada.

Lyra sorriu ao agradecer. E eu seria insincero se dissesse que não notei a beleza daquele sorriso. Mal notei que fiquei um tempo considerável encarando o seu rosto, até que Elain questionou: 

— E você ? 

— Eu? – Lyra perguntou surpresa. 

— Sim! Você já encontrou um parceiro? 

— Ah... não, eu nunca encontrei um parceiro.

— Mas nunca amou ninguém?

— Bem, uma vez só...- eu vi uma tristeza profundo agora em seu olhar, diferente quando falou da mãe, nesse olhar era tristeza e vergonha e raiva- mas essa não é uma história interessante para ser contada. 

— Você faria isso? Você ficaria com um parceiro mesmo não o amando ? 

— Não faria uma coisa dessa. Quero ter ao meu lado alguém que eu possa amá-lo intensamente e que possa me amar da mesma forma. Ficarei com quem meu coração escolher. Independente de ser meu parceiro ou não. Caso aconteça desse companheiro ser meu parceiro, ficarei duplamente grata, estarei com quem amo e abençoada com a parceria. Se não for...serei abençoada de qualquer maneira por poder amar e ser amada também. 

Meu coração apertou. Apertou porque eu sabia. Sabia que lá no fundo ela queria o mesmo e sentia o mesmo. 

E doía saber que essa sensação era inalcançável para mim.

Temi que outra pergunta fosse feita. Ou pior, que fosse direcionada a mim. Mas Feyre chegou logo em seguida e convidou Elain para acompanhá-la até a casa de Nestha.

Elain se despediu. Restou somente Lyra e eu no jardim.

— Desculpe ter me intrometido na conversa de vocês.- Seu rosto corou – Eu escutei quando ela perguntou sobre a parceria e eu senti...bem, notei que você ficou um pouco... tímido. – o tom foi como de uma pergunta- Então pensei que poderia responder por você...

Eu sorri e então ela parou de falar.

— E você estava certa – afirmei.- Não era algo que eu me senti confortável em responder.

— Entendo...Acredito que ela tenha um parceiro, mas ainda não está segura sobre isso!

— Sim, mas acredito que a história é um pouco mais complicada do que aparenta ser.

E de fato era mesmo. 

— Espero que se acertem! 

Então me perguntei qual seria sua reação ao descobrir que era Lucien o parceiro de Elain. Como ela reagiria ao ver um dos filhos de Beron tão próximo a nós. Me preocupei com o que isso causaria nela, quais traumas pudessem ser resgatados com a presença do feérico na casa. Principalmente agora…

— Lyra…- eu pedi sua atenção.

Se fosse para ela descobrir por alguém...que fosse por mim.

— Sim - o olhar dela para mim quase me fez desistir de conta. 

Eu engoli seco. 

Era o certo a fazer. 

Era preciso fazer. 

— Acho importante que saiba que Lucien é o parceiro de Elain - disse por fim. 

E torci para que tivesse sido o mais sutil e gentil que conseguisse ser. 

Lyra me encarou, e seus olhos perderam um pouco do brilho. 

Senti cada músculo do meu corpo ficar tenso. Eu não queria ser o responsável por trazer lembranças ruins a ela. 

— Ele…- sua voz falhou - onde ele está?

— Ele está com a rainha Vassa nas terras humanas. Não costuma vir para cá com muita frequência.

Lyra encarava o nada, com um olhar indecifrável. 

— Ele não é como os irmão, é ?

— Não se preocupe. Prometo que lhe avisarei quando a presença dele for necessária. 

— Tudo bem…- ela respondeu ainda insegura. 

— Só fique tranquila, não precisa ter medo.

Ela suspirou.

— Eu sei. Na verdade, eu sei que ele não tem culpa de nada…- seu olhar encontrou o meu- É que…

— São muitas lembranças - conclui. 

Ela confirmou. 

— Eu entendo e sinto muito, mas dará tudo certo, eu prometo a você. 

Alívio me atingiu quando ela suavizou o olhar e deu um leve sorriso. 

— Tudo bem! Confio em você e...obrigada por me contar. 

Depois de afirmar que não precisava agradecer, eu a acompanhei até a biblioteca e lá nos despedimos. Lyra me garantiu que ficaria bem sozinha. Então voei até a casa dos ventos novamente e lá ocupei meu tempo com mais relatórios pós guerra. Mas com a cabeça cheia de outras coisas, eu não conseguia deixar de pensar que seria responsável pelo bem estar da feérica, então eu a ajudaria como pudesse. 




*

Escrito por Julia ❤️

Espero que gostem!

Obrigada pelos comentários lindos da semana passada ❤️❤️

Fiquem bem.

Beijoooos ❤️❤️














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