Visita de Lily
Queridos pastores
Que saudade de vocês. Estou me adaptando bem graças a Deus. O rancho e lindo. O local precisa de um pouco de cuidados, mas já estou dando meio jeitinho.
O matagal que era a horta já está cheio de vida.
Benjamin é um homem bom, trabalhador. Muito ferido pela vida, orem por ele.
De um beijo nas crianças por mim e diga que aqui tem cavalos, galinhas e muitas vacas.
Hanna, rancho Zerut
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Visita de Lily
Hanna cantarolava enquanto preparava a terra em sua horta para o plantio. Ela já havia regado os canteiros que tinham pequenas mudas. Naquela manhã preparou o café para Benjamin e após ele sair para a lida, tinha se dirigido até ali e desde então se pôs a transformar o cercado abandonado em um lugar produtivo novamente.
Em sua cabeça visualizava cada canteiro e o que plantaria nele. Amava trabalhar com a Terra, poder ver as sementes nascendo e logo crescendo. Saber que com seus legumes ajudaria em casa dava a ela uma sensação de realização. Tirando o chapéu de palha da cabeça, limpa o suor que escorria por sua testa. O Sol brilhava na imensidão azul. Observando sua posição, percebeu que horas haviam se passado. Um sorriso se abre enquanto contempla o resultado de seu esforço. Cinco canteiros estavam preparados e contando com os outros quatro que já brotavam logo ela teria muita coisa. Seu estômago ronca fazendo ela gargalhar.
— Hora de parar, entendi! — Disse com a mão sobre a barriga.
— Belo trabalho! — Se assustando, Hanna se vira rápido demais e tropeça em seus pés, caindo sentada sobre a terra.
— Me perdoe, achei que tinha me ouvido chegar. — Lily fala, contudo, seu arrependimento contradiz com o sorriso em seus olhos.
— Estava distraída e como pode ver sou desastrada. — responde constrangida enquanto se levanta passando a mão na saia do vestido com intenção de limpar a terra grudada ali, o problema ela percebeu era que sua mão também estava suja e ao olhar de suas mãos para a sua visita e ver ela segurando o riso acaba gargalhando e Lily a acompanha. — Como você está e o bebê? Pergunta Hanna saindo do cercado.
— Estamos bem. Responde pondo a mão sobre o ventre…
Um calor gostoso se alastra aquecendo Hanna. Seus lábios se curvam ao perceber o gesto. Toda grávida o faz. Como proteção ou necessidade de afirmação, não saberia dizer. Seus olhos se embaçam se seria assim quando estivesse com seu filho no ventre. A emoção impacta e um suspiro sonhador passa por seus lábios.
— Eu que deveria perguntar como você está. — A jovem mãe replica atenta as emoções dançando no rosto a sua frente.
— Estou bem! — responde olhando em seus olhos. — Vem, vamos entrar e sair desse sol. Cadê seu marido?
— Me deixou aqui e voltou para o povoado. Vira me buscar a tardinha, espero que não se importe. — explica, e lança a ela um olhar ansioso enquanto caminham.
— Se me importo? Estou muito feliz que vá passar o dia comigo. — sua barriga ronca novamente fazendo ambas sorrirem.
— Vamos comer antes que esse mostro de sinal novamente. — dramatiza. Hanna estava radiante. Sua empolgação quase a faz saltitar. E somente quando chega a porta da cozinha se lembra de seu estado.
— Entre e fique a vontade, preciso me lavar e trocar essas roupas. — deixando Lily, vai até a bica, lava suas mãos, seus pés e o rosto. A água fresca de encontro a sua pele acalma o ardor, a renova.
Pegou um vestido no varal ali mesmo, e foi se trocar. Saindo já coloca o que usava de molho e vai ao encontro de sua visita refazendo a trança de seus cabelos. Encontra ela dispersa sentada à mesa.
— Desculpe pela demora, mas como viu meu estado não era dos melhores. — a careta dela ao falar fez lily gargalha.
— Coloquei água no fogo para fazer o café. — Lily anuncia cautelosa. Só depois que colocou se deu conta que agora Hanna era a dona da casa e poderia não gostar.
— Que bom, obrigada! — responde à moça já em movimento e Lily respira aliviada.
Elas trocam amenidades enquanto Hanna passa o café.
— Trouxe um bolo de fubá e acabei esquecendo — bate a mão na testa — acho que Cleiton deixou la na varanda. É o preferido do Ben, mas ouvindo seu estômago e comigo comendo por dois não sei se vai sobrar pra ele. Vou buscar. — Brinca e se levanta, mas para percebendo o olhar de Hanna. — O que foi? Não gosta de bolo de fubá?
— Não sabia qual era seu bolo favorito, só isso. — responde tentando sorrir, porém a outra e mais experiente.
Vai buscar o bolo orando, pedindo sabedoria para ajudar aquele casal. Pede o Espírito Santo para ajudar Hanna.
— Aqui está seu herói — ergue o bolo em suas mãos — Não temas que ele te salvará do mostro. A estranheza se desfaz em meio as risadas. Depois de algumas fatias de bolo com café vão se sentar na varanda.
— Aqui está mais fresco — comenta a dona da casa. — uma brisa suave ameniza o calorão daquele dia.
O silêncio se estende as deixando desconfortável. Apesar de se darem bem, ainda não tinham uma amizade consolidada, nem assunto.
— Hanna tem culto no povoado a cada quinze dias. — Lily puxa assunto e a outra a olha agradecida.
— Estava mesmo me perguntando sobre isso. Ia todos os domingos de manhã e a noite. — a voz embarga pela saudade que aperta.
— Se você quiser ir, no próximo domingo Cleiton pode te buscar.
— Me buscar? — olha confusa.
— É. Ou você vai sozinha? Sabe cavalga ou guiar uma carroça? — Lily, pergunta curiosa.
— Não sei — ri imaginando — mas vou com Benjamin. — afirma e ao ver o pesar nublar o rosto de sua visita fica apreensiva. O que ela perdeu? Fecha os olhos apertados e os abre observando o horizonte sem realmente o ver. Sua vida em poucos meses se transformou em uma montanha-russa. As emoções oscilavam constantemente. Mesmo quando pensava estar em terra firme, logo tudo tremia sobre seus pés novamente. O fungado ao lado chama sua atenção. Lily acaricia sua barriga, os olhos dela estão úmidos, seus lábios tremem levemente.
— Por que ficou assim? — Hanna pergunta preocupada, vai até ela e se agacha ao lado de sua cadeira.
— Esses hormônios estão enlouquecendo meu marido. — sorri entre as lágrimas.
— Está passando mal?
— Não — responde e olha para longe. Hanna toca em seu braço. — Isso não é justo com você. — os soluços sacodem seus ombros. Hanna perdida não sabe o que fazer.
— Calma! Vou buscar uma água pra você. — Hanna corre até a cozinha — aqui — estende o copo. Lily bebe e vai se acalmando, mas seu coração está doendo por, Hanna.
— Está melhor?
— Estou Obrigada! — devolve o copo vazio. — estou mais chorona que uma criança. E mais nervosa também. — balança a cabeça descrente.
— Coitado do delegado. — brinca tentando fazer jovem sorri e funciona.
Hanna volta para sua cadeira e o silêncio volta mais pesado.
— Não sei se devia te contar isso, mas vou assim mesmo — Lily diz, séria fazendo Hanna se aplumar — Benjamin não vai à igreja Hanna. — enquanto fala, não desvia o olhar e Hanna sente o peso daquela afirmação. Seu corpo cai para trás na cadeira.
— Hum? — murmura, as palavras embaralham em meio ao caos de seus pensamentos.
— Desde que perdeu sua família, Ben, também perdeu sua fé. — A voz embarga novamente, mas ela limpa garganta e continua — Cleiton me contou, desde então oramos muito por ele, pedimos por um milagre. E quando vi seu nome naquela primeira carta sabia que era a resposta de nossas orações.
— Eu? Não sei se compreendo.
— Todos aqui pisam em ovos perto dele, menos Cleiton é claro. — revira os olhos e acena com a mão dispensando o comentário — Benjamin se afastou de todos, mas agora você esta aqui com ele. — perde a batalha contra as lágrimas novamente. Estendendo a mão aperta a da jovem — posso ver o brilho do Espírito Santo em você e ELE vai agir aqui. Eu creio. Seja você mesma e deixe o resto nas mãos dEle. Quando as muralhas que Benjamin ergueu ao seu redor começarem a estremecer, algo lindo vai acontecer.
As palavras proféticas reverberaram e arderam;
dentro dela. Sabia que ninguém mudava ninguém. Que para haver mudança o desejo tinha que vir de dentro. O Espírito Santo não é invasor. Naquele momento a brisa parecia sussurrar em seus ouvidos trazendo clareza. A doce presença pôde ser sentida pelas duas. Um sorriso de cumplicidade surgiu. Hanna apertou as mãos unidas.
“ — Estou aqui Jesus!” — um arrepio levantou os pelos de seus braços.
Não ia ser fácil, mas o poderoso estaria ao seu lado.
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Boa noite!!!!
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