Vida

HANNA

O céu escuro começava a desvanecer conforme os raios solares surgiam irradiando sua luz e ofuscando as estrelas, até então, admiradas por Hanna da janela de seu quarto. Não que tal espetáculo também não a deslumbrasse, contudo naquele momento sua vida se assemelhava mais a penumbra.

Necessitava de um milagre.

Seu coração, ansioso se apertava enquanto os olhos úmidos e o mover dos lábios em uma prece silenciosa denunciavam sua angústia, essa que ao raiar do dia ela mascarava com sorrisos vazios.

Hanna tinha se levantado na alvorada todos os dias do último mês para clamar aqueELE que tem o poder de ajuda-la. Seu tempo se esgotava como água por entre seus dedos. Em dois dias faria 18 anos. E não poderia mais permanecer ali.

Pastor Elias e sua esposa tentavam em vão tranquilizá-la, mas ela conhecia as regras, não desejava criar problemas para seus queridos pastores...

Ao ouvir barulhos na cozinha a jovem respira fundo como se ao inspirar o ar também se enchesse de determinação. Lava o rosto com água fria na esperança de amenizar as consequências do choro. Ela se observa no espelho e força um sorriso. Seus cabelos longos e loiros que vão até a cintura estão em uma trança lateral. Seus olhos cinzas parecem mais brilhantes devido a vermelhidão. As maçãs do rosto claro estão rosadas.

Trocando sua camisola simples por um vestido verde claro com babados brancos na gola e no punho feito por ela mesma Hanna, se apressa para sair do quarto.

Nesse momento o silêncio ainda predomina. Os poucos ruídos vêm da cozinha anunciando o preparo do café da manhã.

- Bom dia! - Cumprimenta Hanna a pequenina senhora que se movimenta pela cozinha com uma agilidade adquirida com a constância da atividade. Ela é baixinha e cheinha. Naquela manhã usa um vestido laranja rodado e um lenço florido sobre os alvos cabelos. Quem conhece a pastora Zoe não imagina a força que ela possui. Zoe se torna uma leoa quando se trata de seus pequenos.

- Bom dia minha menina! Coloque o leite para ferver e arrume a mesa por favor . Os pães já estão assando e estou terminando de passar o café. - Responde e instrui ainda se movimentando, todavia ao se virar e olhar a jovem ela arregala os olhos e para no meio do caminho.

Hanna, prevendo o interrogatório sente seus olhos marejarem. Ela pisca rapidamente e vai buscar o leite. Sabe ser inútil fugir, só está adiando o momento. Pastor Elias e Zoe foram quem a criaram desde bebê quando foi abandonada na porta do orfanato. Seus esforços em esconder sua angústia não estavam sendo eficientes com eles.

Eles contaram que naquela noite em questão o céu parecia desabar. Ventos chacoalhavam as janelas e o retumbar das gotas no telhado era ensurdecedor. E como num passe de mágica a tormenta parou e eles ouviram seu choro estridente e incessante. O cesto e a manta que a cobriam estavam encharcados. Por isso deram esse nome a ela, significa graça. Pastora Zoe afirma que a criança ficou muito doente e que se a chuva tivesse continuado não teria sobrevivido.

Quando as duas terminam de preparar tudo, conversas e risos infantis chegam a cozinha. Hanna se perde em pensamentos se lembrando quando ainda criança sem preocupações brincava por aqueles corredores . Sonhava com uma família, contudo foi uma criança magrinha e doente. Ela volta ao presente ao ver o pastor e as crianças chegarem a cozinha.

No momento o orfanato tem 15 crianças com idades variadas entre 5 e 10 anos, e ela... Um coro de bom dia repercuti pela cozinha junto com o barulho de cadeiras sendo arrastadas.

Como toda manhã ela contempla quando o pastor vai até sua esposa e a beija delicadamente na testa e elogia seu esforço em preparar o café. Um suspiro deixa seus lábios, enquanto seu coração anseia por esse tipo de amor. Essa cumplicidade... Não é que Hanna não se sentisse amada, ela sentia o amor dos pastores, das crianças e o mais importante sabia ser amada com um amor incondicional por aquELE que a criou. Um amor ao ponto de sacrifício, mesmo ela sabendo não merecer. Sendo falha como estava naquele momento, onde o medo e a ansiedade de mãos dadas com a circunstância tentavam anular sua fé.

Ainda assim ela continuava sendo alvo desse amor. E saber que ser amada por Deus, não dependia dela era libertador.

Hanna se da conta que se perdeu no emaranhado de seus pensamentos quando a pequena Layla, de 6 anos, sentada ao seu lado a cutuca.

- Nana seu aniversário está chegando? -A pergunta inocente da pequena vai de encontro a Hanna como um tornado. Remexendo, sacudindo, estilhaçando o frágil controle de suas emoções.

O baque da cadeira no chão chama a atenção de todos em sua direção. Olhando para todos ali, sua família do coração a dor se torna quase palpável.

-Desculpa! Murmura e corre dali...

Benjamin

Tirando o chapéu o jovem solitário limpa o suor da testa. " Preciso cortar o cabelo. Mais uma coisa para lista interminável de tarefas a serem feitas." Murmura ao sentir os cachos ruivos caírem sobre os olhos.

O sol já se esconde no horizonte e a dor no estômago lhe lembra que não comeu nada desde a manhã.

Observar o por do sol é algo que Benjamin faz regularmente. A mudança de tons, de temperatura e de sons que vêm junto ao anoitecer lhe é calmamente. Contudo, naquele momento o incômodo lhe instiga a galopar para casa.

Benjamin passou o dia todo concertando cercas e voltando o gado que fugiu para os cercados correspondentes.

Quando chegou perto de casa já estava escuro. Ao contemplar a escuridão da casa a dor da solidão, da perda, da saudade, sua companhia a 8 anos se espalha pelo seu corpo o nocauteando junto ao cansaço do dia longo de trabalho.

Mesmo moído, exausto tanto físico como emocionante ele se força adiante. Raio seu baio negro o leva até o celeiro também envolto pela escuridão, contudo diferente da sua casa ali há sons de vida.

Benjamin acende a luz, tira a cela e escova o pelo de seu fiel companheiro. O leva até sua baia onde logo coloca água e feno. Olhando em volta senti lágrimas embaçarem sua visão. Em cada canto daquele lugar tem o toque de seu pai. As lembranças que sem permissão invadem sua mente quase o colocam de joelhos.
.

- Pai! Pai! Onde o senhor está?

- Aqui na última baia filho. Vem aqui.

- Mamãe falou que o senhor queria me ver assim que chegasse da escola. O pequeno fala chegando até o pai e seus pequeninos olhos se abrem surpresos.- Um potro! Um potro! O pequeno Benjamin grita e salta fazendo as orelhas do filhote negro se erguerem.

- Calma Bem! Você está assustando seu cavalo. O pai responde rindo da animação do filho.

- Meu cavalo?!

- Sim meu filho você já é um homenzinho. Todo homem trabalhador tem que ter um cavalo. Como você vai cuidar do gado comigo sem uma montaria adequada?!

Benjamin se aproxima com reverência e da as mãos para o potro cheirar. Depois acaricia o pescoço e costas do potro que resfolega fazendo Benjamin gargalhar. O pai orgulhoso observa a interação e sorri.

- Obrigado pai! Profere emocionado soltando o potro e abraçando o pai. - Qual o nome dele? Pergunta curioso curvando a cabeça para trás , afim de olhar o rosto do pai.

- Seu cavalo lembra? Então a responsabilidade é toda sua e dar um nome é uma das obrigações do proprietário. Falou sério, contudo passava a mão pelos cachos do filho.

O pequeno anda em volta do potro, põe uma mão na cintura e com a outra coça o queixo fazendo o pai se emocionar ao ver o filho agir como ele, pois sempre que ficava pensativo ficava daquele jeito.

- Já sei! Olha ele tem uma mancha na testa que parece um raio então vai ser Raio.

- Que tal trovão é mais forte. -Testa o pai.

- Não pai, vai ser Raio. O senhor já viu como os raios são rápidos? Se agente pisca eles já sumiram. Meu cavalo vai ser veloz como um raio. - Disse decidido cruzando os braços o que fez o pai gargalhar.

O som da risada do pai, ou melhor a ausência da risada o trouxe de suas lembranças.

Perder sua família aos 18 anos, para uma doença maldita destroçou os sonhos que Benjamin havia cogitado.

Se sentindo a ponto de ser esmagado pelas lembranças Benjamin respira pausadamente e massageia o peito numa tentativa inútil de diminuir o aperto em seu interior.

" - Não posso desmoronar! Agora não..." senti uma lágrima morna rolar pelo rosto. E a limpa com raiva de si mesmo. "Seja forte Benjamin!" com as mãos fechadas caminha até o tanque de água e abastece os bebedouros de todo o celeiro. Depois repõe a comida dos animais.

Mais uma vez Benjamin se entrega ao trabalho tentando esquecer o buraco em seu interior.

Quase duas horas depois realmente exausto ele vai para casa. A dor no estômago agravou com o tempo. Ele vai direto para o banheiro tomar um banho, pois sabe que se sentar para comer antes de tomar banho depois não conseguira tomar. Ao parar, o corpo parece se esgotar totalmente. E é isso que Benjamin faz todos os dias a fim de poder dormir dentro daquela imensa e silenciosa moradia.

Praticamente se arrastando vai a cozinha e sem ânimo para mais nada, frita ovos e bacon e os come com os últimos pães dali.

As vasilhas ficam para serem lavadas de manhã. Benjamin vai até a sala e se deixa cair no sofá. A sala é grande. Duas poltronas bege em frente a lareira, um sofá grande vermelho. Sobre esse uma manta colorida feita por sua mãe. Nesse sofá é onde Benjamin dorme na maioria das noites.

Uma mesinha encostada a parede vazia. E uma estante com um rádio e só. Durante o luto em meio a dor que como um vulcão o levava a explodir em fúria Benjamin, destruiu muitas coisas. Algumas como fotos, enfeites preferidos de sua mãe e irmã e artesanato feitos por eles o deixava com remorso.

Para ele o silêncio gritava... Suas resistências se quebraram e ele chorou até dormir e em meio ao desalento a ideia de Cleiton não lhe pareceu tão ruim.

🌹🌳🌳🌳🐴🐴🐴🌹

MAIS UMA HISTÓRIA !!
ME DIGAM O QUE ACHARAM DE BENJAMIN E HANNA.

O QUE ACHAM QUE É A IDEIA DO AMIGO DE BENJAMIN?
QUAIS SÃO SEUS palpites? Me contem VOU AMAR LER A TEORIA DE VCS😍

FIQUEM COM DEUS.
ESPERO VCS NESSA NOVA AVENTURA.

Deixe uma estrelinha!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top