Viagem e pavor
O bater dos cascos ressoava por todo canto. Sendo interrompido às vezes pelo som de um berrante, outra hora pelo assovio ou comando de um dos homens.
O sol resplandecia na imensidão azul.
Conforme avançavam, a poeira levantava e era levada levemente pela brisa até repousar em algum lugar.
Benjamin tira o chapéu e limpa o rosto na manga da camisa. Os olhos vermelhos não paravam.
Estavam na estrada desde a madrugada, na aurora já se encontravam longe de casa.
- Benjamin, tem um Corgo nas proximidades. - avisa o meieiro emparelhando o cavalo ao seu.
- Vamos passar por lá - responde já mentalizando o que teriam que fazer nesse tempo - enquanto o gado bebe, você faz a fogueira para aquecer a comida, eu e os outros ficaremos manejando o rebanho. - explana e vê o vaqueiro ir galopando até o ponteiro passar a informação.
Enquanto o gado pastava calmamente as margens do rio, os homens se dividiram para almoçar.
- Não sei como ocê é magro com uma muiê que cozinha assim. - Tião diz alisando a barriga- de- lobó .
- Se me amarrar significa ter uma boia dessas, todo dia vou repensar a ideia. - grita João do outro lado do rio fazendo os colegas rirem.
Benjamin comia a galinhada em silêncio encostado em um tronco. Como tudo que Hanna fazia, estava deliciosa.
- ocê teve muita sorte. Deus tem te abençoado, óia que gado saudável, um rancho próspero, muita saúde e uma muiê prendada.
Cada dia algo o fazia ver sua vida de uma forma. Pondo o prato no chão, encolhe uma perna, põe um braço sobre ela se virando na direção do companheiro.
- Tenho lutado para manter o sonho dos meus pais. - a resposta sai ríspida - e uma mulher é muito mais do que o que ela pode ou não fazer. - as palavras saem sem pensar e se arrepende imediatamente ao ver o sorriso matreiro de Tião.
- Calma patrão - pega um ramo e começa a palitar os dentes - vou te dize um negócio, se engana por pensar que tudo que faz é por seus pais. Podia até ser no comecem. Mas vejo nos seus zoios que ama tudo isso. Quem faz algo por dever não tem esse brio no olhar. - se levanta sem dar tempo dele responder. Um pouco mais a frente se voltou - e não quis desrespeita a patroa, como disse, ocê é um homi de sorte, espero que veja isso. Quando achar uma que me olhe como a sua, pode ter certeza que a laço.
Benjamin olha o horizonte, contudo não vê nada, remoía as palavras. Realmente amava cuidar dos animais, amava estar no manejo desde criança. O balanço na sela, a ordenha. Se lembrava de ter uns cinco anos e estar em cima da cerca observando seu pai.
- O que faz aqui a essa hora filho? - Seu pai se aproxima com um balde cheio de leite e um sorriso no rosto.
- Gosto de ver o senhor tirar leite. Quando crescer vou ser o melhor peão que existe.
- Peão, hum! Achei que ia ser o melhor vaqueiro!
- É tudo igual, pai.
- Precisa amar essa vida filho. Ela não é fácil. - despeja o leite no latão - acordar na aurora, trabalhar o dia todo e às vezes até tarde. - enche um copo com leite e o entrega. Benjamin sorri e toma rapidinho - ficou um bigode - ri o pai e o pequeno limpa a boca com a blusa rindo.
- Mas você gosta pai, então também gosto.
O som do berrante o põe de pé, sacode a poeira da roupa, põe o chapéu na cabeça e vai até Raio.
- Bora garoto! - bate com carinho no pescoço dele que relincha.
Com tudo pronto seguem novamente. A noite mais uma vez os homens fazem graça ao verem o cuidado que Hanna teve em prepara tudo para seu marido. Benjamin se mantinha calado. Em certos momentos queria brigar, em outros, sorrir. Como sua vida monótona havia se transformado.
Sob o céu estrelado se pegou sorrindo ao lembrar de Hanna, quando foi sua vez de dormir um pouco o cheiro de sua manta trouxe mais lembranças.
" Será que já está dormindo? E se estiver com medo! Nunca dormiu sozinha. Misericórdia, homem vai dormir!" Seus pensamentos não deixaram nem fechar os olhos.
Quando o dia raiou chegaram ao seu destino.
Entregaram o gado e foram convidados para o café que aceitaram com gosto.
- Melhor imbora agora rapaz! - Tião diz ao seu ouvido um tempo depois. Benjamin percebi os olhos assustados do companheiro e a forma que torce a aba do chapéu com as mãos. Um arrepio sobe por ele.
- Obrigado por tudo, agora temos que voltar. - se coloca de pé seguido por seus homens.
- Agora que é casado, quer correr de volta pra casa, Benjamin - gargalha o capataz. - te entendo vão em paz.
- Os cavalos nem descansaram - resmunga João.
Tião mau sela seu cavalo antes de sair galopando como se sua vida dependesse disso. Os outros três se olham e logo estão todos galopando.
Algumas horas depois Benjamin vê a oportunidade de ter resposta quando Tião fica atrás, então puxa as rédeas e se aproxima.
- O que te ocorre? - contudo se preocupa ainda mais quando o peão não o olha - Tião!
- A febre... - sussurra e os pelos de Benjamin se erriçam, sua garganta se fecha.
- Ham? - é tudo que consegui pronunciar. Torcendo para ter entendido errado.
- Que Deus nos proteja! - Tião, olha para o céu com os olhos úmidos enquanto faz o sinal da cruz.
A visão de Benjamin fica embaçado, sua respiração se torna difícil e o coração parece um cavalo selvagem. Fecha os olhos apertados e sente o cabelo grudar no pescoço.
- Benjamin! - Tião grita e os outros percebem que algo está errado e voltam galopando.
- O que aconteceu? - João questiona pareando seu cavalo do lado oposto a Tião deixando Benjamin no meio.
- Benjamin! Benjamin! - João chama, mas não obtém resposta. Contudo, ao verem ele oscilando o tiram do cavalo e o colocam embaixo de uma árvore.
- Molhe o rosto dele. - ordena seu Zelão que se mantinha sempre em silêncio. Ele entrega seu cantil a Tião que joga a água no rosto de Benjamin que tosse e se senta sacudindo a cabeça.
- Seu tonto não era pra afogar ele. - joão ralha dando um tapa na cabeça do outro que retruca.
- Funcionou, não foi!
- Saiam de cima! Deixe o garoto respirar. - Mais uma vez fala firme seu Zelão e é atendido. Ele se se agacha a frente de Benjamin - está melhor? - Pergunta, contudo Benjamin não consegui responder.
Dentro dele um vulcão parece que vai entrar em erupção. O medo aperta seu peito, o corpo treme.
- O que falou pra ele? - seu Zelão se vira na direção de Tião. - estavam conversando! - afirma e se põe de pé.
- Tem gente doente lá. - responde com a voz trêmula - a febre! - completa em um sussurro.
- Meu Deus! Vamos morrer!
- Calma! Não coloquem a carroça a frente dos bois! - Zelão tenta trazê-Los a razão. Havia entendido, os pais de Benjamin morreram com essa doença.
- Aquele capataz podia ter nos avisado. - retruca João irritado.
- Benjamin é a prova que essa doença não afeta a todos. - raciocina - vamos levar ele pra casa.
Colocaram Benjamin sobre o cavalo e ladearam ele. O jovem parecia em outro mundo. Os olhos estavam opacos. Mau se mantinha sobre o cavalo.
Ao chegarem ao rancho, seu Zelao e Tião amparam ele até a porta.
- Meu Deus! O que aconteceu? - Hanna chega correndo.
- Boa tarde, senhora! É meio difici de explica. - responde Tião. - É um angu-de-caroço.
- Arriegua homi! Tá deixando ela perdida. - repreende seu Zelão - ele tomou um susto e passou mau. Mas logo melhora dona.
- A Benjamin! - seus olhos se enchem de lágrimas ao ver a dor nos olhos dele - entrem! Entrem! - se dá conta que continuam na varanda.
Abre a porta e acompanha os homens que colocam seu marido no sofá. Torce o avental entre os dedos.
- O que realmente aconteceu? - questiona, sua voz sai firme, e olha nos olhos dos três tentando parecer forte, mesmo que por dentro tremesse. Sua vontade era abraçar Ben, e tirar aquele pavor de seu rosto.
Os homens pigarreiam, tiram os olhos dela.
- Temos que ir senhora!
- Isso, inté!
- Não sem antes me contarem o que aconteceu? - passa por eles se encostando na porta com as mãos na cintura.
- Peça ao delegado para vir aqui o mais rápido possível. - ouvem a voz de Benjamin e todos se voltam na sua direção.
- Benjamin! - ela corre até ele e os homens aproveitam e saem quase correndo.
- Fica longe de mim! - Hanna para assustado com o rompante.
- Você está bem? O que aconteceu? - seu coração está acelerado. Seus olhos passam por ele. O cabelo grudado no rosto e pescoço, as mãos trêmulas, os lábios brancos.
- Suba e faça uma mala, você vai com Cleiton para o povoado. - a voz alterada junto, as palavras lhe acertam em cheio. O peito aperta, as lágrimas descem.
" Ele a estava mandando embora?"
Respirando fundo, massageia a garganta. Franze a testa. Benjamin parece atordoado, perdido, como se não houvesse o que esperar ou pior se esperasse algo ruim. Toma uma decisão.
- Não vou embora!
- Não tem nada para você aqui. - deita a cabeça no sofá e a primeira lágrima desce, sendo seguida por muitas outras. A dor dele a faz dar um passo em sua direção.
- Vai pra longe! Te mandei ficar longe! - a raiva parece lhe dar força.
- Não quero ficar longe de você Benjamin!
- Mas vai ficar de qualquer jeito! - uma risada macabra sai de seus lábios, fazendo Hanna arrepiar.
- Não vou embora! Cleiton vai perder a viagem.
- Não te quero aqui! Não entendi? - a voz dele sai falha - não pode ficar aqui.
- Posso sim! Essa desde nosso casamento é minha casa também.
Por dentro orava "senhor me ajuda! O que está acontecendo?" Não compreendia tamanha mudança. A pose de Benjamin a apavorava, parecia entregue, sem esperança...
- Você vai e pronto! Por favor! - sussurra a última palavra, fazendo Hanna engolir em seco.
- Por quê? - sussurra de volta e sua dor, dúvida e anseio transparece.
- Só vá!
- Não posso te deixar!
- Quer morrer! - grita e o que ela vê no rosto dele a faz dar um passo atrás.
Como assim, morrer? Tantas coisas passam por sua cabeça ao mesmo tempo que fica zonza. Algo havia acontecido, mas o quê?
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E esse surto gente!
Mais alguém queria dar um abraço nele🥺
Ótimo final de semana!
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