Chuva
Benjamin estava trocando o gado de pasto naquele dia e apartando os garrotes para engorda e os bezerros para desmame. O sol ardia no imenso céu azul de setembro. O vento levantava a poeira irritando seus olhos. Tirando o chapéu limpa o suor com a camisa. O cabelo grande prega em seu pescoço causando incômodo.
“ — Tá difícil hoje em companheiro?” — Fala passando a mão no pescoço de Raio. Benjamin passa a língua nos lábios secos e decide voltar para o rancho mais cedo. Ao chegar perto do celeiro escuta conversas e curioso se aproxima. Cleiton alimentava seus animais enquanto conversava com Hanna.
— Benjamin vivia correndo atrás de mim quando criança. E logo que a Sol teve idade suficiente também. — Ben, sorriu com as lembranças — eu claro me achava o adulto e aprontava com eles. Um dia minha família veio almoçar aqui em um domingo. Nos fomos pescar, acabei dizendo que Benjamin ainda era um bebê e não sabia nadar, não me lembro por quê. Só que Sol tomou as dores do irmão e o empurrou na represa para ele provar que sabia nadar. — Cleiton gargalha.
— Meu Deus e ele sabia? Benjamin ouve Hanna perguntar.
— Não o suficiente para uma represa, então tive que pular para salvar o Ben e quando sai Solange me empurrou novamente. — A risada de Hanna se junta a de Cleiton. Benjamin fica curioso com o motivo da visita.
— Essa menina era esquentada, queria tê-la conhecido. — ouve Hanna novamente.
— Ela ia amar você assim como seus sogros. A forma que você cuida do Ben e de tudo era com certeza o que eles iriam querer para seu filho. — Diz Cleiton com convicção. E Benjamin concorda com a opinião do amigo.
Solange ia amar Hanna. As duas iam encher a casa de música. E com sua mãe passariam horas cozinhando ou cuidando da horta.
— Não tenho tanta certeza. Às vezes acho que tudo que faço enfurece ele. Mas não desisto aprendi amar esse lugar. — A fala deixa um rastro de remorso em Benjamin.
— Eu vejo, Hanna e de coração tenho orado para que meu amigo cabeça dura abra os olhos para esse amor.
A conversa estava indo para muito perto de suas já não tão fortes muralhas então Benjamin interrompe os dois.
— Cleiton, você não deveria estar na delegacia ou fazendo as vontades de Lily?— Fala implicante.
— E você não deveria estar no pasto, ou com o gado? —Devolve sem pestanejar. E caem na risada.
Hanna sacode a cabeça, mas continua sorrindo. Queria o marido descontraído assim com ela. Com chegada de Benjamin, Hanna corre para dentro da casa para terminar o almoço. Benjamin desmonta e enquanto cuida de seu cavalo analisa seu amigo. O cabelo está um pouco maior que de costume, as olheiras dão um ar abatido ao rosto forte.
— O que está acontecendo? Questiona o amigo.
— Lily! Benjamin tudo que faço a írrita. Ou ela está gritando comigo, ou está chorando. — passa as mãos no rosto e se deixa cair no monte de feno. — hoje de manhã ela queria água da casa da minha mãe e eu disse que água era tudo igual e é igual não é? — olha para Benjamin esperando apoio, mas ele está se segurando para não rir, contudo Cleiton angustiado não percebe e continua — Lily começara chorar e me chamou de insensível. Disse que se eu não queria buscar para ela era só falar. Ela foi para o quarto e disse que não queria mais olhar para mim. — Agitado, Cleiton se levanta. E Benjamin não consegue mais segurar a risada. O delegado olha para o amigo irritado. — Você ri! Quero ver quando for sua vez e Hanna te deixar pisando em ovos.
A risada sumiu como mágica. Se apruma.
— Desculpa, mas é engraçado ver um homem como você correndo de uma grávida. Se me lembro bem no final da gestação, minha mãe também ficou uma fera. Meu pai saia de perto por pouco tempo, depois voltava e ela já estava mais calma.
Eles ficam em silêncio, Benjamin perdido nas lembranças. Desde a conversa com Hanna vinha trazendo as lembranças com mais frequência. E o amigo ponderando se voltava logo para casa.
— Benjamin, você ainda acha que Hanna vai se arrepender. – olha afiado na direção do amigo – Acha mesmo que ela vai fugir? Essa moça se adaptou maravilhosamente. Transformou sua casa. Elena e Lily a amam. Pare de ser cabeça dura e se abra para a felicidade. Pare de viver esperando o pior das situações. Deus te abençoou com uma bela mulher e ainda por cima trabalhadeira, temente a Deus e gentil. O que mais você quer? — pregunta se levantando. Ele já tinha percebido algo e esperava estar certo. — Se ela for embora será por sua causa. — ele diz e espera, mas ao não receber resposta se entristece.
Queria que Benjamin quebrasse a barreira que ergueu a sua volta. Se pudesse ele mesmo derrubava, contudo, continuaria orando.
— Vou voltar para casa. Diga a Hanna que outra hora venho para o almoço.
Benjamin apenas assente e observa o amigo partir.
Desde que perdeu sua família, ele se isolou do mundo exterior e viveu em constante medo de se abrir para as pessoas novamente. Se fechou em sua própria concha, temendo que o mesmo destino terrível pudesse acontecer com ele se permitisse amar novamente. Doeu demais, não achava que conseguiria passar por isso novamente. Então, escolheu viver só. Contudo, mesmo achando que Deus se esqueceu dele, ELE atendeu a oração de seus amigos e trouxe Hanna para dar um pouco de cor ao seu mundo tão escuro.
As palavras de Cleiton como sempre o perfuraram, suas cicatrizes sangravam novamente. Por um breve lapso imaginou Hanna grávida, seu filho correndo pelo rancho.
— Não posso! Você quer brincar comigo Deus? — angustiado, saiu e foi para a represa esfriar a cabeça.
Um meses depois
O dia amanheceu com o céu limpo, em um azul-claro mesclado com escassas nuvens brancas, no entanto, naquele momento o vento aumentou e nuvens escuras se aglomeravam no horizonte. Um estrondo faz Raio pisotear e Benjamin decide voltar para casa.
“ Será que Hanna tem medo de chuva?" se pergunta. Sua mãe se trancava em casa e se tremia toda se trovejasse. Seu pai fazia o possível e corria para casa sempre que uma tempestade se aproximava.
“ — seja o marido que seu pai foi!”
Benjamin puxa as rédeas ao se dar conta que repetia os atos de seu pai. Um raio corta o céu, Raio relincha inquieto. O rapaz solta o perto e cavalga para casa.
“ Ela é uma moça da cidade, só por isso que estou preocupado.”
Benjamin lutava para controlar seus sentimentos crescentes por ela. Seu compromisso e dever era manter o rancho. Não podia se apegar, ele havia prometido que a deixaria partir. Essa decisão de Benjamin de deixar Hanna ir o deixava com uma sensação de perda, vazio e arrependimento. Em alguns momentos observando sua esposa, ele se perguntou se havia tomado a decisão certa e se havia deixado que seus próprios medos e sentimentos atrapalhassem seu julgamento.
Chegando no celeiro coloca Raio na baia e fecha tudo. Segurando o chapéu corre para dentro de casa. Ao ser recebido pelo silêncio e notar o fogo apagado, um medo conhecido começa rastejar por seu corpo, fazendo Benjamin arrepiar. Ele deixa o chapéu na mesa e vai para sala gritando por Hanna. Sobe os degraus a cada dois. Bate na porta do quarto, enquanto espera seu coração parece querer sair do peito. Sem resposta abre a porta e o vazio traz um leve alívio, mas que logo dá lugar a tantos questionamentos.
“ — onde se meteu Mulher?” — diz olhando em volta. O cheiro dela está em todo quarto. Ele respira fundo e sai. Abre a porta e olha em volta em busca de uma pista. O vento rugi, folhas voam sem direção e o cheiro de terra molhada que tanto Benjamin aprecia naquele momento aperta seu peito. Uma conversa passa pela sua cabeça e ele arregala os olhos.
— A represa! — Sem perder tempo corre em direção onde acha que ela pode estar. No caminho, sem perceber, pede para Deus guarda ela e para nada ter acontecido. Possibilidades terríveis vem e vão fazendo ele correr.
— Benjamin! Aqui! Ouve e para de uma vez, atordoado, olha para todos os lados. — Benjamin! Estava com tanto medo. — ele mau pisca ao ver Hanna descendo de uma árvore. Sua confusão está nítido em seu rosto. Um sermão se forma em sua mente,“ — É louca, será que ela não sabe que não pode subir em árvores quando está trovejando?”
Ela desce, corre ao seu encontro e o abraça apertado, deixando ele ainda mais perdido, o sermão esquecido — pensei que ia começar a chover, ia escurecer e essas vacas não iam embora e eu estaria aqui sozinha. — A cabeça dela encostada em seu peito encharcava sua camisa com as lágrimas. Sentir seu pequeno corpo tremendo despertou nele um instinto de proteção. Sem jeito, passa um braço ao redor dela e a outra mão leva até seus cabelos. A maciez dos fios o encanta e ao sentir Hanna relaxar um calor gostoso cresce dentro dele.
— obrigada por vir me procurar! — Hanna diz baixinho o olhando e Ben, ao ver aquele rosto molhado, sente uma pontada.
— Eu sempre irei te procurar. — afirma sem pensar, enquanto com o polegar limpava as lágrimas dela. Hanna, ao se ver ali, tão perto dele e notar aquele toque inocente, sente o rosto arder. As pernas ficam bambas, seu corpo treme. Se sente cativa naqueles olhos que a observa de uma maneira diferente. Ela umedece os lábios que parecem secos. Benjamin segura seu rosto com ambas as mãos, a proximidade faz ela sentir a respiração dele em seu rosto. Hanna segura no braço dele buscando apoio. E o céu se abre sobre eles.
— Vamos voltar para casa ou ficara doente. — Benjamin fala por cima do barulho da chuva e segurando firme em sua mão, começa a correr de volta para casa.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top