Casamento
Cleiton havia convidado o pastor que ia ao povoado uma vez ao mês para ir a tarde naquele dia a sua casa. Não disse o motivo, apenas que era pessoal e importante.
Enquanto as mulheres se arrumavam no quarto do casal, o pastor chegou e não escondeu o espanto ao ser informado do casamento. E não só ele, como também Elena e seu marido Carlos, que também foram convidados por Cleiton.
Benjamin se alegrou com a presença do casal que tanto representou na vida de seus pais e em sua vida. Ele piscou para esconder as lágrimas que apareceram sem permissão ao pensar em seus pais.
- Como assim vai se casar seu garoto ingrato e eu só fico sabendo agora. - Elena batendo em seu braço. Os olhos ágeis no rosto enrugado diante dele demostrava a irritação da pequena senhora. - não trouxe nem um presente para essa moça. E nem cortou essa juba - balançou a cabeça inconformada. - Ia te dar uma surra se eu não tivesse sido convidada. - Apontou um dedo para ele.
- Calma querida! Depois levamos um presente para o casal. E até que esses cachos combinam com o rapaz. Cumprimente ele, abençoe-o querida, o Senhor está respondendo nossas orações. - seu Carlos pontuou emocionado. Ben olha aquele senhor com os cabelos ha muito alvos, o rosto marcado pelo tempo e percebendo o quanto Cleiton o conhecia melhor que ele até.
Ter aquele casal ali era como ter sua família presente. Seus avós do coração.
Ben, começou a compreender o que seus amigos tanto falavam. Ele estava isolado. O abraço da pequena senhora e as bênçãos ditas por ela o emocionou. Ela o soltou e o senhor o abraça.
- Seja feliz meu filho. Viva, não apenas sobreviva como vem fazendo. Seja o marido que seu pai foi para sua mãe. - Falou e se afastou para se sentar com sua esposa. Essas palavras sacudiram todo seu interior. Ele perdeu-se em memórias até ser despertado pela voz do pastor Caio.
- Claro que celebro! Será um prazer, mas porque o pastor aqui presente acompanhado a noiva não realizou? -Questionou curioso.
- Nos não sabíamos que ela viria acompanhada por eles, pastor Caio. - Explicou o delegado. Já vendo a hora de seu amigo perder a paciência com a curiosidade do pastor local. Ele suspirou aliviado ao ver o pastor voltar para seu pedaço de torta e pelo canto do olho vê o pastor Elias balançando a cabeça e sorrindo para ele.
- Benjamin... - Começou novamente o pastor Caio e Cleiton vê o amigo apertar o nariz entre os dedos e respirar fundo. No entanto, antes que o desastre acontecesse, Lily chega batendo palmas e anunciando. - Ai, vêm a noiva! - Hanna entrou na sala e todos ficaram imóveis admirados.
Benjamin engole em seco, esquecendo todo aborrecimento.
Hanna vestia um lindo vestido bege, marcado na cintura. O corpete tinha dois galhos em flor bordados que iam da cintura ao ombro e de cada lado um detalhe rendado. As mangas fofas iam quase até o punho e também tinham o mesmo detalhe em renda perto do punho. A saia longa, rodada com babado, dava um ar delicado ao vestido. Seus cabelos continuavam, metade preso e metade dos cachos caiam por seu rosto, busto e costas. Um chapéu pequeno e delicado com uma fita na cor do vestido e apliques de flores a deixou com um ar de boneca. Nas mãos, apertava um buquê de rosas que, Ben, percebe serem do jardim da casa de seus amigos e imagina ser obra de Lily. Como ele era grato por seus amigos.
- Como você é linda menina! - exclamou a senhora Elena se aproximando dela com um sorriso radiante - seja bem-vinda ao nosso povoado. Me chamo Elena querida. E não sabia desse casamento até poucos minutos atrás - a senhora tirou os olhos de Hanna olhando com furor na direção de Benjamin e Cleiton.
- Elena, meu bem! - interveio suavemente mais firme e passa o braço na cintura da senhora - Seja bem-vinda menina. Meu nome é Carlos, sou dono da mercearia do povoado e pai do Cleiton.
- Então você é Hanna, a noiva misteriosa? - o pastor local se aproximou e o casal de idosos se afastou. - Muito prazer sou o pastor desse povoado. Será um prazer ter você em nossas reuniões. - Hanna apenas assente, não confia em sua voz naquele momento. - Benjamin, não fique aí parado homem de Deus. Venha buscar sua noiva.
Benjamin sabia que devia ir ao encontro da moça, contudo seus pés pareciam ter criado raízes no lugar. Ele não conseguia tirar os olhos da beleza diante dele. Hanna parecia um rosa com pétalas delicadas. Dentro dele um duelo de emoções acontecia. Ao contemplar aquele olhar assustado e inocente, uma parte queria abraçar ela, protegê-la, já outra queria mandá-la para longe, fora do alcance da escuridão que o cercava.
- Vai lá Benjamin! - Lily o empurrou fazendo ele se mexer
Chegando ao lado de Hanna. Percebeu o tremor do buquê. Engolindo seco, pegou uma de suas mãos, pausando em seu braço. E aquele toque suave e quente agiu como um calmante nele.
Hanna sentiu o rosto arder e teve certeza que estava com o rosto vermelho. Envergonhada, olhou para as flores em sua mão. Ela mal respirava desde que Benjamin colocou sua mão em seu braço. O calor da pele dele aqueceu o frio que sentia. Hanna agradeceu o gesto, pois suas pernas pareciam que iam se dobrar a qualquer momento.
Desde que entrou na sala parecia que o ar havia sido arrancado de seus pulmões. O olhar de Benjamin sobre ela desestabilizou seu já escasso controle.
- Vamos começar esse casamento - anúnciou o pastor Caio já abrindo sua bíblia. Todos se sentaram, exceto os noivos e o pastor. - Benjamin é de livre e espontânea vontade que se casa com Hanna?
Benjamin piscou lentamente, voltando-se na direção da linda jovem ao seu lado. Ela foi tão corajosa em ter entrado nessa loucura. Ele inspirou devagar, se voltando novamente para o pastor e responde.
- Sim!
- E você senhorita Hanna é de livre e espontânea vontade que quer se casar com Benjamin? - O pastor tinha um sorriso reconfortante no rosto, como se entendesse o dilema deles ali.
- Sim! - Respondeu ela com convicção. Desde que respondeu ao anúncio e recebeu a confirmação de Deus tinha certeza de sua decisão, temeu por Benjamin. Achou que ele poderia retroceder, contudo, ele respondeu afirmativo e um peso saiu de seus ombros.
- Vou dizer algumas palavras - O Pastor Caio colocou a bíblia sobre a mesa e com segurança começou a falar. - Se Preocupe em ser a pessoa certa ao invés de pensar que encontrou a pessoa certa. Você pode ver muitos defeitos em seu cônjuge, pode achar que ele ou ela reclama demais. - risos soam pela sala - Benjamin, você pode achar que a Hanna fale demais e você Hanna pode achar que o Benjamin é muito calado, contudo ele ou ela pode estar reclamando por um, ou outro dar motivos, observe suas atitudes, veja se elas não estão dando ao outro motivos para reclamar. Se ponha no lugar do seu cônjuge, pense como seria viver com você. Se acha que ela fala demais pode ser por que você é muito calado e ela tem que falar pelos 2 ou o contrário, o Benjamin pode ser muito calado por que você não deixa ele falar Hanna.
Cleiton interrompeu gritando fazendo todos rirem
- com Certeza vai ser o primeiro motivo! - O delegado se encolhe ao ser beliscado na costela por sua esposa.
- Continuando - o pastor retomou o sermão ainda sorrindo - Ser a pessoa certa é pensar no bem-estar de seu companheiro, no que você pode fazer para deixá-lo mais feliz, mais confortável. O pensamento de achar a pessoa certa é puro egoísmo. Como Lemos, o amor é benigno e paciente. Vocês são duas pessoas diferentes dentro da mesma casa. No início será um pouco tumultuado, mas com o tempo e cuidado logo um estará em sintonia com o outro. Costumo dizer que o casamento é como uma Roseira. Ela precisa ser regada e adubada para viver e crescer. Assim vocês dois devem cuidar um do outro, sejam gentis, elogie, passe um tempo de qualidade com o cônjuge, agrade, e acima de tudo respeite o outro. Para ter brotos fortes e florescer é necessário podar a roseira, no casamento é preciso identificar o que pode ser prejudicial à convivência de vocês e eliminar. Seja uma amizade, mania, ciúmes, rancor. O que for arranque. E os espinho pastor, o que fazer com eles? Vocês podem me perguntar.
O pastor faz uma pausa, o silêncio na sala é total, ele sorri e responde
- Aprenda a conviver com eles. Enquanto estivermos neste mundo estamos sujeitos aos problemas, às dores, mas nem tudo está perdido. Ainda tem o mais importante, a rosa!
Na sala repercute com Glória e um Aleluia, dito pelos pastores Zoe e Elias. Glorificam juntos compreendendo a mensagem. O sorriso do pastor Caio Se estende, o brilho em seus olhos é nítido.
- Aleluia! Há muitas bênçãos também. Antes de ser rosa é um botão, vai se transformando, crescendo até desabrochar vistosa. Assim é a vida do casal, vocês têm que amadurecer individualmente, a união deve crescer devagar, a intimidade deve crescer gradualmente. Como a rosa tem várias pétalas assim o casamento tem muitas camadas a serem descobertas a três. Sim, a três! Você, Benjamin, Hanna e Deus - Benjamin revira os olhos e Hanna percebeu a mudança na postura dele, mas logo voltou a prestar atenção as palavras do pastor - A rosa é linda, colorida, porém suas pétalas são frágeis, por isso vocês precisam estar fortalecidos em Deus. Viver o casamento conforme a palavra dele. Não deixe a união de vocês ao vento, mas fiquem debaixo da proteção do Senhor. Amém! - Amém! - Concordar todos. - Agora as alianças. - Disse o pastor olhando para Benjamin que prende o ar e esbugalhou os olhos.
- Você tem as alianças Benjamin? - Questionou ao ver a surpresa no semblante do noivo.
- Aqui! - Cleiton se aproximou com uma caixinha em mãos. - não sei se vai servir Hanna, pois não sabia seu tamanho.
- Vou orar e consagrar elas - Explicou o pastor Caio, enquanto pegava e abria a caixa revelando duas alianças de ouro
- Senhor, aqui está o símbolo da União. Um acordo feito entre marido e esposa, que simboliza o amor, comprometimento, fidelidade e cumplicidade. Que o Senhor os abençoe. Abençoe seu lar, seja a força deles quando se sentirem fracos. Amém! - Pegue - estendeu as alianças em direção aos noivos
- Benjamin, elabore seus votos.
- Eu, Benjamin, te recebo Hanna como minha esposa. Prometo ser fiel, cuidar de você até onde você permitir. - disse colocando a aliança no dedo dela.
- Agora você Hanna.
- Eu, Hanna, te recebo Benjamin como meu esposo. Prometo ser fiel na saúde e na doença. Na pobreza e na riqueza por todos os dias que eu viver. - Hanna percebeu a intenção de Benjamin, mas com sua fala repleta de confiança quis demonstrar que estava ali para ficar. Seu olhar firme e decidido se manteve no rosto dele todo o tempo. Assim viu quando ele trincou o maxilar e imaginou que se chegasse um pouco mais perto poderia ouvir o ranger dos dentes.
- Eu vos declaro marido e mulher! Pode beijar a noiva. - Anunciou o pastor todo sorridente.
Benjamin dessa vez foi quem percebeu o desconforto em Hanna. Ela aumentou o aperto no buquê, e o encarou sem piscar. Seus lábios se levantaram em um pequeno sorriso de lado ao comparar Hanna com uma criança assustada. Ele se aproximou, pegando uma mão dela e a beijou suavemente. O suspiro de Hanna e o rubor que tomou aquele lindo rosto aumentou seu sorriso. No entanto, logo ele se recompõs e se chutando mentalmente por se sentir bem ao apaziguar Hanna.
- Meus parabéns! A Ben, foi tão lindo você beijar a mão dela. - Lily disse o abraçando em lágrimas. Benjamin olhou desesperado na direção de Cleiton que também os observa perdido. - cuide dela ou vai me ver rodar a baiana. - declarou o soltando. Fazendo Benjamin a encarar confuso.
- Nem me pergunte - falou o delegado se aproximando - então agora e um homem casado. Meus parabéns, Ben, continuarei orando por vocês. Não jogue essa chance de ser feliz no lixo. Você merece viver meu amigo. - foi possível ouvir a emoção em sua voz. Eles se abraçam. - Cuide dela! Cleiton pede baixinho antes de se afastar.
- Parabéns meu filho. - pastora Zoe chegou até ele o envolvendo em um abraço apertado. - Espero que saiba valorizar a pedra preciosa que estou te entregando. - mais uma vez Ben, se vê perdido com as lágrimas da pastora. - Você será um bom marido. vi o que fez por Hanna, obrigada. - ela deixou Benjamin sem palavras.
- Vou te desejar boa sorte ao invés de te dar parabéns - disse pastor Elias apertando forte sua mão. - Hanna não é de desistir. Sempre se manteve firme e se percebeu, ela deixou isso claro em seus votos. - Se afastou gargalhando.
Batidas na porta fazem cessar as conversas. Todos olham para Cleiton que dá de ombros abrindo a porta.
- Boa tarde, delegado! - Vozes são ouvidas e antes mesmo dele ter tempo de responder é empurrado para o lado e Margo, Sônia e Mary, praticamente invadem a sala.
- Boa tarde! Paz do Senhor pastor! - Dizem, contudo, seus olhos estão varrendo todos ali.
- Paz do Senhor! Vieram parabenizar os noivos? - Questionou o pastor Caio sorrindo.
- Percebemos a movimentação e ficamos preocupadas com Lily. - Margo, falou docemente olhando para a dona da casa.
- Sei! - afirmou Cleiton debochado e toma um tapa da mãe.
- Noivos? - Questionam as outras duas surpresas.
- Nosso querido Benjamin acabou de se casar com essa bela jovem. - Seu Carlos informou sorrindo.
- O quê?
- Como?
- Não é possível! - exclamam juntas. Mary vacilou sendo amparada pelas amigas.
- Pegue um copo de água para ela Cleiton. - Pediu Lily que tampou a boca se virando para não rir.
Hanna observava confusa toda movimentação. A mais jovem emocionada e as outras a abanando falando baixinho com ela. Cleiton entregou a água, ela bebeu. Benjamin era o único que parecia constrangido. O pastor aparentava preocupação e os outros pareciam se segurar para não rir.
- Nossos sinceros votos de felicidade ao casal. Outra hora nos apresentamos adequadamente, agora levaremos Mary para repousar em sua casa. - Elas se despediram. E mal passam pela porta quando Cleiton, Lily, seu Carlos e dona Elena explodiram em gargalhadas.
- Arrasando corações em amigo! - Cleiton bateu nas costas de Benjamin que parecia querer estar em qualquer outro lugar. E Hanna entendeu o que aconteceu.
- Querida, temos que ir. - pastora Zoe se aproxima dela em lágrimas. Hanna ainda não estava pronta para essa despedida. Ela abraçou a pequena senhora com força. O cheiro de lavanda que lhe era calmante naquele momento não foi. As lágrimas desceram desordenadas. E aumentaram quando o pastor Elias se juntou ao abraço.
- Você vai ficar bem Hanna. Estaremos orando por você e qualquer coisa e só escrever que virei correndo. - as palavras eram para ser calmantes, contudo a voz embargada a fez chorar mais.
- Pare de chorar ou eu também vou começar e não será bonito. - Brincou e conseguiu fazê-las pararem de chorar. - Esta na hora querida. - Ele saiu do abraço e delicadamente puxa Zoe para si beijando sua cabeça. A pastora tirou um embrulho de sua bolsa e entregou a jovem.
- Aqui está nosso presente para você.
- Uma bíblia! Obrigada! - abraçou os dois novamente, depois abraça sua bíblia.
Estava em frangalhos, sua vontade era grudar nas saias da pastora e volta com eles. Porém, põe um sorriso no rosto e se despede daqueles que até aquele momento foram sua base. O baque da realidade que a partir dali estaria longe deles quase a dobrou.
- Nos despedimos aqui. - Ditou o pastor reconhecendo sua dor. - Fique com Deus, Hanna. Que seus anjos estejam ao seu redor te guardando. Que o Espírito Santo te dê sabedoria para enfrentar sua nova vida. - A abençoou emocionado. - Nunca se esqueça de quem você é! Você é Hanna! Forte, corajosa, filha muito amada do Rei dos Reis. Te amo, minha menina. Seja feliz. Me escreva logo ou virei puxar suas orelhas. - Terminou de falar brincando.
- Amo vocês! - Hanna os abraçou mais uma vez.
Quando eles saem, Lily vem ao seu encontro e a aconchega em seus braços.
Mesmo com a visão embaçada, conseguiu ver a desaprovação nos olhos de Benjamin. Respirando fundo arrumou sua postura disposta a enfrentar sua nova vida.
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O que acharam do capítulo?
A Mary passou mal, tadinha 🫢
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