Cara a cara

HANNA

 Contar aos pastores não foi como ela imaginava. Pastor Carlos só ficou a analisando, contudo pastora Zoe falou, ou melhor, gritou pelos dois.

— Eu te proíbo! Me ouviu Hanna?— A pequena senhora com a mão na cintura e a outra apontada em sua direção exigia obediência.

— Zoe! Se acalme. — Fala por fim o Pastor e envolve sua esposa em um abraço. — Deixe nossa menina terminar de contar tudo. Ela não decidiria assim sem mais nem menos.

Ele a puxa e a senta ao seu lado. Hanna, emocionada tanto pela preocupação da pastora como pela confiança do pastor, sente os olhos marejados e um no em sua garganta impede suas palavras.

— Hanna?

Respirando fundo, ela engole seco e conta sobre seu voto com Deus e mostra as cartas.

— Zoe não podemos interferir nos propósitos de Deus. O que podemos fazer é abençoar Hanna e esse Benjamin. — O timbre de voz muda ao pronunciar o último nome. E tanto Hanna como Zoe percebem que aceitar não está sendo tão fácil como ele tenta demonstrar.

— Não gostei do tom dele nas cartas!

— Pastora!

—Zoe!—   Falam Hanna e o pastor juntos.

— Tudo bem! Não concordo, mas quem sou eu para ir contra a vontade de Deus. Iremos te levar para que esse tal Benjamin saiba que não está sozinha. É claro que abençoaremos a sua união.

Hanna se lança nos braços da pastora, se sente mais leve. Até aquele momento não havia assumido para si o medo de ir sozinha. E ao ouvir as palavras da pastora, fardos foram tirados de suas costas.

Naquele mesmo dia outra carta chega. Nela, Benjamin envia uma passagem de trem, para dali um mês. E avisa que já preparou tudo para que ambos se casem assim que ela chegar ao povoado dos Eucaliptos. Hanna sente uma mistura de euforia e medo que a deixa enjoada.

Ali naquele momento, com a passagem em suas mãos, tudo realmente se tornou real.

“ Jesus acalma meu coração, sei que estarás comigo. Realmente vou me mudar, vou me casar, agora é sério!” abraça a carta, fecha os olhos e suspira.

Contar para as crianças foi outro desafio. Hanna e os pastores se reuniram com elas na sala do orfanato. Da empolgação pela notícia ao pranto ao saberem que ela ia se mudar foi questão de segundos. Contudo, o pastor Elias conseguiu contornar a situação e por ordem novamente e com a promessa de visitá-los e de que eles também um dia iriam ao rancho, eles se acalmaram.

Maya ficou eufórica, já Emma nem falou com Hanna por dias. Mas após alguns dias e algumas conversas, ambas se comprometeram a orar pelo casamento da amiga. E surpreendendo Hanna a presentearam com um lindo vestido, chapéu e luvas combinados para o casamento.

— Já que não poderemos ir pessoalmente, ao menos assim faremos parte. —Falou Maya emocionada enquanto Hanna experimentava o vestido.

— Não pense que iram se livrar de mim. Virei visitar e também espero receber vocês algum dia.—  Diz Hanna, contudo, sabe que dependerá de seu marido tais coisas. E as amigas têm esse mesmo conhecimento. As três emocionadas se abraçam.

— A despedida é só daqui a três dias ou me enganei?— Brinca a pastora na porta. E elas se separaram rindo entre lágrimas. — Já que estão aqui, vão me ajudar a dar os retoques finais no enxoval.

Emma e Maya batem palmas empolgadas fazendo Hanna gargalhar. Mesmo com dificuldades, os pastores fizeram questão de providenciar um pequeno enxoval. E alguns vestidos novos para Hanna.

Apesar de Deus os confirmar sua vontade, sabiam que o caminho de sua menina continha pedras e alguns espinhos e por isso continuariam a interceder por ela.

Quando chegou o dia da partida. A despedida foi recheada de lágrimas. Todas as crianças emocionadas abraçaram Hanna e a abençoaram. Era uma tradição sempre que alguém saia do orfanato ia sobre as bênçãos de todos.

“ — Que Deus te leve e te acompanhe em segurança. Que os seus anjos te protejam!”

Na estação de trem, as famílias de Maya, Emma e mais alguns irmãos da igreja foram se despedir. Com o rosto inchado, Hanna embarca junto aos pastores. Ela usa um vestido novo. Feito por ela e a pastora. Levinho, longo e florido. Seu cabelo metade preso  em cachos que enfeitam seu rosto e caem por seus ombros. Um pequeno chapéu de palha com laço completava seu look. Duas malas continham tudo que ela possuía.

Dentro dela as emoções duelavam. Ansiedade, medo, euforia… Saber estar no caminho certo não te isenta de problemas. Hanna sabia então orava. Pedia por sabedoria, por coragem. Conversar com Benjamin por cartas tinha sido relativamente fácil, contudo em pouco tempo estaria em frente a ele.

Pela primeira vez se pôs a imaginar como ele seria. O que Benjamin acharia dela? A insegurança, fruto de anos sem ser adotada sorrateira, se achega e devagar ganha espaço em sua mente.

— Você está tão linda! Esse tal de Benjamin não imagina a sorte que tem. — Declara Zoe ao observar os olhos inquietos de Hanna. Uma vida de convivência a tornou um livro aberto para ela.

— Obrigada! Acha que estou bem assim?

—Está mais do que bem, está perfeita. Acho que nunca a vi tão linda.— declara o pastor e um sorriso aparece no rosto de Hanna. Seus medos são deixados de lado.

Mais uma vez a pastora sente o peito apertar e os olhos arderem, se recriminando se vira para a janela. A paisagem, uma vasta plantação de eucaliptos, não é vista por ela que em espírito clama por forças, por sabedoria e pelo futuro de Hanna.

O resto da viagem foi feito em silêncio. Cada um com seus pensamentos.

Com o som do apito e o anúncio de parada no povoado Dos Eucaliptos, a tensão na cabine se torna palpável.

.—  Me de as mãos — pede o pastor —vamos orar antes de descer. — sua voz falha e ele abaixa os olhos.—   Senhor meu Deus chegamos ao final da viagem. Nossos corações estão ansiosos e inquietos, nos ajude em nossa pequena fé. Acalma, retira o medo, pois o Senhor nos permitiu estarmos aqui. Que o teu Espírito Santo nos de paz. Deus entrego Hanna em tuas mãos. Não estarei aqui, mas o Senhor estará e quem poderá contra Tua poderosa mão. Que teus anjos estejam acampados ao redor dela e de sua nova morada. Prepara pessoas para estar junto a ela. Abre o coração do Benjamin para o amor, que ele possa assim como cristo amou sua noiva, a igreja, amar Hanna. Que Hanna assim como a igreja seja submissa, piedosa, amorosa, perdoadora que o Senhor esteja no centro desse casamento. Eu oro em nome de Jesus. Amém!

Os corações agitados dos pastores encontraram paz naquele momento. Ao findar a oração o pastor tem a voz embargada, Hanna e Zoe o rosto molhado. Os três se abraçam. E naquele abraço eles não são só três, a presença do Consolador é sentida por todos. Em uníssono se entreolham e o sorriso de um reflete no outro.

— Vamos conhecer meu genro. — Fala a pastora saindo do abraço.

—Vamos oficializar esse casamento. —Fala o pastor já em direção a porta carregando as malas. Hanna cruza os braços, um lado da boca se ergue em um pequeno sorriso.

— Então é assim? Mau chegamos e já estão querendo se verem livres de mim.

—Coitado do rapaz, não sabe onde está se metendo. —Brinca o pastor e gargalha ao ouvir o arquejo da jovem. E logo todos estão sorrindo.

Após a oração, uma paz vinda de Deus toma seu coração agitado. Entre brincadeiras e risadas, ela desce do trem e olha em volta pela primeira vez.

Estava em um espaço coberto, sob seus pés, o piso de madeira empoeirado. Pela rua de terra, poucas pessoas, essas os olhando com curiosidade. As casas em torno são de um bom tamanho. Uma fragrância semelhante ao mentol invade suas narinas fazendo o estômago revirar.

Hanna distingue entre as construções um pequeno mercado, uma ferraria. Avistar a pequena igreja trouxe um sorriso ao seu rosto. Em frente uma pequena praça e do outro lado a delegacia.

— E agora? Cadê o tal Benjamin? Ele não deveria estar te esperando? — Pastor Carlos pergunta entre chateado e frustrado. Sua esposa percebendo seu estado passa a mão com carinho pelo braço dele.

—Se ele não aparecer até o trem partir novamente, levamos ela de volta.

O trem chega ao povoado pouco antes do almoço e parte novamente às 15 horas.

—Nem pensar! Vim até aqui e não volto antes de vê-lo, nem que seja para ouvir Benjamin dizer que desistiu.— Hanna passa os olhos pelo lugar. E vê a porta da delegacia se abrir lhe chamando a atenção. Por ela passa uma morena linda de braços dado com um homem alto. “ O delegado”. Deduz. E logo atrás outro homem coloca o chapéu na cabeça. Os olhares dos dois se chocam. Um suspiro passa pelos lábios de Hanna.

“É ele!”

mesmo sem nunca ter visto Benjamin soube no instante que seus olhos pousaram que era ele. Seu andar demonstrava confiança. Era tal qual Lily descreveu, mas ela o achou mais bonito do que imaginou como seria. Conforme ela observa, eles se aproximando, com cada passo seu coração acelerava, seu estômago revolto, a boca dela seca a fazendo passar a língua sobre eles. As mãos suam e Hanna as passa pela saia do vestido.

— Bom dia! — Cumprimenta a morena com um enorme sorriso em seu rosto. —Hanna percebeu que ela é amparada pelo homem.

— Sou Lily. Desculpa pelo atraso, me senti mal e eles não me deixaram sozinha. Você deve ser a Hanna! Esse é meu marido Cleiton e esse ali é Benjamin, seu noivo.

“Ele é lindo! Mas tem um olhar triste.” Ela não consegue desviar os olhos dele. Pequenas rugas em seus olhos, e a barba rala o faz parecer mais velho.

— Você está bem agora, Lily? São os enjoos?— Pastora Zoe entra no modo mãezona. — Sim, eles estão frequentes, mas como vieram já foram. —Afirma, em seu rosto, alívio.

Piscando repetidamente, Hanna sai da paralisia quando a importância da conversa é registrada por seu cérebro. “ Lily passando mal. Ela está grávida. Eles são os amigos de Benjamim.” Com uma leve sacudida, ela estende as mãos em direção à morena. Que devolve o gesto.

— É um prazer finalmente poder te conhecer Lily, sou a Hanna, mas não precisava ter vindo me receber se não está bem. — Diz e dá um leve aperto na mão da outra que lhe sorri.

— E quem impediria essa dai de fazer algo que pôs na cabeça. Prazer sou Cleiton, o delegado e amigo de seu futuro marido. Falei para Lily que você iria entender, porém, ela não quis me ouvir.

— Me parece que vocês duas vão se dar bem. — Brinca o pastor e toda atenção vai para ele.

— Sou pastor Carlos e essa e pastora Zoe, minha esposa. — Hanna percebi um leve franzir nos lábios de Benjamin. — Viemos acompanhar nossa menina — Ele estende a mão e aperta a de Cleiton e em seguida a de Benjamin que até aquele momento não se pronunciou.

“Será que ele se arrependeu?” — pensa Hanna prendendo o fôlego.

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Se encontraram🥳🥳🥳
E agora o que será que passa na cabeça de Ben? Será que vai desistir?

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