Bolo de laranja
Querida Hanna.
Como não cumpriu sua promessa estou te escrevendo, pois estou preocupada. Emma não para de me encher falando que a culpa e minha. Por obséquio, poderia fazer o favor de apaziguar minha consciência nos mandando notícias.
Saudades de você!
Sua amiga preocupada Maya.
Hanna decidi arrumar a casa depois de mais uma manhã sendo ignorada. Estava inquieta, todo aquele silêncio elevou o sentimento de solidão a um ponto quase sufocante. A saudade das risadas pelos corredores, do canto da pastora na cozinha e até do movimento da rua, apertava seu coração com o passar dos dias com mais força.
Evitar que as lágrimas caíssem estava se tornando uma luta constante. Com o plano em mente, pega um lenço e cobre seus cabelos. Coloca um avental colorido e põe as mãos na massa. Enquanto espanava, varria e polia começou a cantarolar um hino da harpa, e logo cantava a plenos pulmões.
Devagar se distraiu com o serviço e os louvores levantaram seu ânimo. Com dedicação arrumou toda casa, mudou a disposição dos móveis da sala. Pegou algumas peças de seu enxoval e forrou os móveis. O cheiro de limpeza fez uma sensação gostosa de bem-estar crescer dentro dela. Contente, aproveitando a animação, resolveu preparar um bolo para o lanche enquanto fazia o almoço.
— Vou fazer bolo de laranja — disse ao entre na cozinha e ver as laranjas que colheu no dia anterior. Porém, ao se lembrar que o pastor Elias amava esse bolo, seu semblante se entristece. Seus ombros se curvam ao perceber o desânimo começar a crescer novamente. — Se aplume mulher! — fala consigo mesmo dando batidinhas em sua bochecha — chega de choramingar! Essa agora é sua vida, olhe para frente. — decidida se põe em movimento. Coloca mais lenha no fogão, acende o fogo e coloca água para aquecer. Na despensa separa tudo que ia precisar para preparar o almoço e o bolo. Afoga o arroz, pica abóbora com jiló para fazer um cozido. Refoga o feijão, pega alguns pedaços de carde de lata para aquecer. Deixa tudo no fogo e vai fazer a massa do bolo. Coloca ovos, açúcar, leite, manteiga e bate. Depois coloca suco das laranja, a farinha, o fermento e por último raspas de laranja. Coloca na forma e leva ao forno. Em pouco tempo o aroma delicioso preenche toda a casa. Forra a mesa e põe a louça. Faz um suco de limão e aguarda seu marido para o almoço. Hanna tirou o bolo do forno e estava desenformando quando Benjamin entra na cozinha. Ela suspira desanimada e se prepara ao ver ele olhar para tudo.
— Não mude mais nada de lugar. Sempre foi do jeito que estava. — fala sem rodeios.
— Sente que já vou servir o almoço. — pede calmamente, mas por dentro estava tremendo. Ela leva a comida para a mesa, pega o prato dele para servir, porém, ele segura seu pulso.
— Me sirvo sozinho! — Diz por entre os dentes fechados, parecendo se conter.
Hanna senta em seu lugar e mais uma vez a refeição e feita em silêncio. No entanto, ela, suas emoções estão gritando.
“ — Espírito Santo me ajude! Preciso de domínio próprio. Que ele goste da comida, acalma esse coração Senhor!” — a jovem ora enquanto se alimentava.
— Esse cheiro é de quê? — ouve Benjamin pergunta e ao levantar o rosto ele a estava encarando com os braços cruzados. A testa franzida denunciava seu desagrado.
— Fiz um bolo de laranja para o lanche. — responde e se surpreende com a intensidade do olhar dele.
— Nunca mais faça esse bolo! — Bate as duas mãos sobre a mesa. Hanna, já farta, fecha os olhos, se levanta, põe as mãos sobre a mesa e se inclina na direção dele.
— Qual o seu problema? Se não quer comer, não coma. Se não gosta, eu gosto e queira você ou não, eu também moro aqui e continuarei aqui. Já perguntei do que gosta e me falou que qualquer coisa. Agora chega aqui dando ordens. Deus tem te dado tanto, mas você só sabe reclamar. Agora se o senhor me der licença vou com meu bolo para meu quarto.
Era raro ela perder a paciência, e a culpa logo apareceu
“ — me perdoe Jesus! Mas estava cansada. Me ajude meu Deus. Preciso ser luz nesse lugar.” — ora enquanto caminhava para o quarto. Na cozinha Benjamin sente a dor rastejar por seu corpo, aquele bolo era o preferido de Solange. No entanto, a culpa também o atormenta. Não precisava ser tão rude. Podia ter explicado que esse bolo trazia lembranças que ele preferia esquecer.
Ao entrar não identificou o cheiro, mas o incômodo não o deixou. E quando descobriu explodiu da pior forma possível. Esse tempo todo tentou viver sem trazer o passado a tona. Contudo, naquela cozinha, sozinho, com o cheiro do bolo pairando, as lembranças vieram sem permissão.
— Ben, Sol, venham lanchar. Sua mãe os chama da varanda. E os dois correm para dentro. No entanto, antes de sentarem à mesa, param ao ouvir sua mãe novamente. — Não esqueceram nada? — pergunta com as mãos na cintura.
— Lavar as mãos! — Falaram juntos e correram para os fundos. Como sempre, voltaram salpicados de água, pois jogavam um no outro.
— Quando vão crescer? — fala divertida já com um pano nas mãos para enxugar os dois.
— Esse cheiro é o que estou pensando mamãe? — Sol, pergunta com os olhinhos arregalados de emoção — por favor, diz que sim! — fala saltitando.
— É, sim, querida. Fiz seu bolo preferido e o de seu irmão também.
— Eba! Te amo mamãe! — diz abraçada as pernas dela.
— Eu também amo vocês. — Passa as mãos na cabeça dos dois — agora já para a mesa. — Bate o pano de brincadeira nos dois que correram rindo para a mesa.
— Eu comeria esse bolo no café, no almoço, no lanche e no jantar. — anuncia a pequena de boca cheia, fazendo Benjamin e a mãe rirem.
Uma lágrima cai em sua mão o despertando. Ele limpa o rosto com raiva e sai de casa sem nem ter almoçado direito.
Um bom tempo depois a jovem desse do quarto. Põe o resto do bolo na cozinha, balança a cabeça ao conferir o prato de Benjamin.
“ — Estou tentando Espírito Santo! Mas é o Senhor que tem todo poder!”
Após arrumar a cozinha, volta para a sala, suspira, passa as mãos sobre o rosto e volta os móveis para o mesmo lugar. Pegando sua bíblia vai para a varanda, se senta e faz seu devocional. O sol estava se pondo quando Benjamin aparece cavalgando. Hanna já havia preparado o jantar e colocado água para aquecer para o banho de seu marido. Ela se banhava mais cedo. Colocou uma calça e uma chemise Não estava habituada a essas roupas, mas a pastora e Maya insistiram já que ia para um rancho e agora agradecia. Ia escrever para elas contando sobre isso. E já imaginava as respostas. No momento estava sentada na cerca observando a beleza das cores no céu. Ele passa direto para o celeiro e pouco depois vai para dentro.
O azul-escuro surge glamoroso e pequenas estrelas começaram a aparecer. Ela amou observar o céu noturno ali, nunca havia visto tantas estrelas.
“ — Há Pai, o Senhor sabe exatamente quantas são. Se importa comigo mesmo em meio milhares. Sendo fraca, falha ainda me amas. Obrigada por me permitir ver a beleza da sua criação.” — a brisa noturna sopra e Hanna se abraça tentando se aquecer. Não quer sair dali. Conforme os minutos passam, mais e mais estrelas brilham e o sorriso no rosto dela cresce.
— Vai ficar aí a noite toda? — Ouve Benjamin dizer atrás dela, Hanna não consegui discernir o tom dele — Venha jantar comigo por favor! — a estranheza do pedido a faz virar em sua direção, porém era impossível ver seu rosto. O cabelo dele estava molhado e o cheiro dele paira no ar ao redor. Ela desce e o acompanha até a cozinha. Seus olhos se expandem ao ver a mesa montada. Se recompõe e se senta. Espera ele se servir e faz seu prato. O crepitar do fogo parece alto em meio ao silêncio. As labaredas fazem sombras dançarem pela parede.
— Bolo de laranja era o preferido da minha irmã. — diz Benjamin, tão baixo que Hanna levanta o rosto em sua direção. As emoções brilhavam nos olhos dele, então ela compreendeu tudo.
Era o pedido de desculpas e a explicação de sua atitude mais cedo. Ela estende a mão e aperta seu braço, um pequeno afago, um conforto, era seu jeito de dizer que entendia já que temia falar e se derramar em lágrimas. Benjamin tira o olhar de seu rosto e olha onde sua mão está e imediatamente Hanna tira a mão envergonhada por sua impulsividade.
Ela nota um pequeno sorriso no rosto dele e fica ainda mais envergonhada. O resto do jantar se passa em silêncio novamente, no entanto, não era mais tão pesado. Ao ceder uma migalha, Benjamin se sentiu mais leve, a culpa que pesou todo o dia se foi e o conforto daquele pequeno gesto o aqueceu.
Já o coração da jovem moça se sentiu esperançoso novamente. Contudo, não seria tão fácil. Anos fortaleceram as muralhas que cercavam o coração de Benjamin. Feridas abertas se inflamam com facilidade. E tudo que se sente ameaçado revida.
Emma
pare de aperriar Maya. Estou bem.
Aqui e lindo, o por do sol então e deslumbrante.
Tenho muito o que fazer, já preparei os canteiros na horta e já esta repleta de vida.
Meu outro projeto e um jardim em frente a casa. Fico imaginando até o cheiro das rosas. Vai ficar lindo.
Saudades!
Com amor e muito bem, Sua amiga Hanna.
PS: diga a Maya que logo cumprirei minha promessa de visitar vocês.
🌲🌲🌲🌹🐴🌹🌲🌲🌲🌲
Feliz Páscoa 😘
Espero que estejam gostando dessa história 🥹
Estão do lado de quem?🤠
Votem, comentem e divulguem 😉
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