Parte VI

Harper Jones Dunlap, um nome bonito para uma garota asquerosa. 

Claro, que eu descobri diversas verdades quando sorrateiramente peguei o celular de Harper e encontrei tantos vídeos que foi difícil escolher apenas alguns para o grande final. Mas não entrarei em detalhes, somente no momento certo que preparei especialmente para ela por ter arruinado a vida pessoal e profissional do meu professor favorito, lembro de ver ela rindo enquanto o casamento de Robert Miller caia em ruínas. 

Se a vida de professor já tinha certas dificuldades imagine para um que foi acusado de assédio sexual realizado com alunos, definitivamente Robert foi jogado em meio a lama e soterrado até sua garganta sem que ninguém pudesse fazer nada para tirá-lo de lá. 

Entrei na sala recebendo a devida atenção, a impaciência irradiava em seus olhos cristalinos.  

Não estava mais com meu rosto coberto e a coroa sobre minha cabeça fazendo com que meus cabelos castanhos agora ficassem visíveis e reconhecível. 

—Vamos jogar Harper? 

Ela me olhou com desdém e riu. 

— Estamos meio velhos para isso, você não acha? 

— Seus amigos gostaram das minhas brincadeiras. 

Escutei ela resmungar e se aproximar, uma coisa interessante era ver o quanto o ego dela poderia ser facilmente ferido. Principalmente quando não recebia atenção exclusiva.

— E o que vocês fizeram? Labirinto número quatro — reclamou se aproximando de mim — eu deveria ser a primeira! 

Seu dedo apontou rente ao meu peito empurrando-o com certa força. Ela amava estar no controle de tudo e todos. 

— Você já segurou uma faca? 

— Que pergunta mais idiota, claro que já Ivar. 

— Não dessa maneira — retirei a lâmina e nos tornei mais próximos tocando o metal em sua bochecha — como se fosse realmente perfurar alguém, me diga se você já quis fazer isso com os seus amigos. 

A risada ressoou e Harper me encarou com diversão. 

 — Você é realmente louco como dizem. 

— Apenas me tornei o que as pessoas falavam que eu era.

A garota puxou o objeto de minhas mãos e ergueu na direção do meu coração sorrindo e isso refletiu nos meus lábios, ela fez exatamente o que eu queria. 

Virei e me sentei na cadeira, acendendo a tela do próximo vídeo. 

— Vamos assistir um filme de terror? Esperava mais das suas ideias para essa noite. 

Apontei para a cadeira ao lado e observei ela se sentar. 

— Me disseram que você quer ser cinegrafista e por isso filma todos os momentos da sua vida. — Ela sorriu. 

— Os melhores filmes são aqueles baseados em nossas vidas medíocres. Napoleoni tem tantas histórias para serem mostradas, eu não perderia essa oportunidade. 

— Eu também não. 

A filmagem iniciou, revelando Nancy amarrada e presa a cadeira conforme aparecia somente minha mão coberta pela luva preta e colocando os comprimidos em sua boca ao comando de uma voz feminina ao fundo – a voz de Harper Jones. 

Reparei na surpresa estampada em sua fisionomia, porém ela nada disse, continuando a assistir. Suas mãos foram aos lábios no momento em que a garganta de Nancy foi cortada e a garota saiu cambaleando pelo corredor.

— Como vocês conseguiram fazer isso parecer tão real?

Eu ri, senti minha barriga doer até perder o fôlego e lágrimas se formarem no canto dos meus olhos. 

— Ah Harper, quanta ingenuidade, nada disso é encenação.

Sua boca se abriu, mas nada foi proferido no instante em que fomos para as cenas de Ryder. 

Vê-lo gritar o nome dela me fez sorrir, a garota ao meu lado tremia ao ver a sua cópia diante das câmeras e sua fisionomia retorceu ao ver o namorado ser brutalmente desmembrado. 

— Como foi descobrir que seu namorado e sua melhor amiga estavam traindo você? — Perguntei me virando para ela que piscava atônita.

— Me diga que isso não é real, Ivar, isso não tem graça.

— Deve ter sido difícil, o ódio dilacerou seu coração? A deixou tão irritada ao ponto de querer se vingar deles.

— Pare de falar! — O berro ecoou e eu somente sorri atento às lágrimas que escorriam pela bochecha da menina atenta à morte trágica de Aiden.

Suas mãos tremiam e os soluços tornaram-se altos, com um movimento rápido tive o vislumbre da lâmina vindo em minha direção, contudo nada aconteceu quando o braço masculino segurou o pulso da menina. 

— Você está perdendo o show, feito especialmente para você, minha doce Harper. — O sorriso se formou na face do homem e seus olhos fixaram nela que nos olhava horrorizada.

— Pro-professor Robert? Você faz parte disso tudo?

Ele se inclinou e tocou a bochecha de Harper aproximando os seus rostos.

— Que diferença isso faz? Eu não tenho mais nada a perder, você já me tirou tudo.

— Você é a grande vencedora, Harper, porque não vai ver o seu grande prêmio? Está logo atrás da porta. — Apontei na direção onde ela deveria ir e hesitante a menina caminhou até lá girando a maçaneta.

O grito tomou todo o ambiente e nos aproximamos dela, encontrando os corpos de seus amigos, ou o que restou deles.

— O que vocês fizeram?

— Nos livramos deles por você, a garota que planejou a morte dos melhores amigos, isso me parece um ótimo título para estampar as manchetes de amanhã, você não acha? — Sorri dando um passo para trás quando ela tentou me atacar sendo segurada por Dick e Robert.

— Vocês são loucos! Doentes!

— Talvez seja só o carma. — A voz feminina exclamou, causando o silêncio entre nós.

Harper virou em direção a pessoa e seus movimentos cessaram ao reconhecê-la. 

— Amélia? O que você faz aqui? Por favor me diz que você não fez parte disso.

— Se eu mentir sorrindo como você faz, você acreditaria em mim, irmãzinha?

Talvez eu tenha me esquecido de dizer que Amélia é irmã gêmea idêntica de Harper, viver nas sombras de alguém nunca me pareceu tão solitário até ver a menina chorando. 

Enquanto Harper era a filha perfeita, querida e amada por todos, Amélia se escondia pelos cantos obedecendo a irmã para que não sofresse com as consequências de atitudes que não eram suas e eu descobri isso no momento que acabei presenciando a Senhora Dunlap batendo na filha após Harper fingir ser quem não era. 

— Por que você fez isso? Por que ajudou eles?

— Eu não gosto do papel de idiota que você me obrigou a fazer. Achou realmente que ficaríamos bem? Ainda tenho cicatrizes nas minhas costas de todas as surras, por cada traição e mentira contada para a nossa mãe. Você deveria saber que todas essas coisas uma hora voltariam.

— Faça as honras professor.

Robert prendeu os pulsos de Harper atrás do corpo e levou a garota para a cadeira, colocando-a ali e prendendo seus braços. 

Os três se retiraram e eu me aproximei dela, que se manteve calada.

— Você deve estar adorando isso, não é? Colocar cada um deles contra nós. Como se todos fossem brinquedos para você usar. Mas, você acha mesmo que vai sair dessa?

— Em que você acha que irão acreditar Harper?

O silêncio foi a minha resposta. 

Arranjar um culpado para todas aquelas atrocidades era a carta final, Harper Jones com a ajuda dos irmãos Joseph e Sebastian Lewis, assassinaram os amigos: Ryder Hancock, Nancy Quinn e Aiden Russell. Tomados pela sede de vingança após passarem anos sofrendo nas mãos de quem um dia confiaram tanto. 

O sal jogado na ferida queimou e as risadas diante de seus rostos atingiram seus limites. O motivo? Desconhecido, talvez a quantidade de drogas encontrada no exame dos Lewis, ou a incrível habilidade de Harper em manipular as pessoas. 

O que se sabe é que existiam algumas desavenças entre o grupo e não tinha como solucioná-las porque se tornou um corte muito profundo e por mais que o tempo pudesse curar algumas, daquela vez não. Afinal, band-aids não curam buracos de balas. 

Eu tinha um álibi, nós quatro criamos um, não fomos para a festa de Halloween ninguém nos viu. O professor responsável por me permitir preparar a barraca de gincanas? Foi demitido por assédio sexual, onde estávamos no momento dos crimes? Mostrando o real motivo por trás da acusação quando acidentalmente eu encontrei o vídeo de Nancy e Harper planejando tentar algo com o professor em uma conversa despretensiosa que a loira gravou, porém, a rejeição veio e o ego frágil de Harper falou mais alto, ela só não imaginaria que alguém veria aquilo e que esse alguém seria eu.  

Já o senhor Svend Murdock foi encontrado morto em casa por mim – o filho mais velho, após voltar da delegacia – completamente em prantos – havia uma carta feita por recortes de jornal, não identificada. Ocorreu um processo longo e cansativo após descobrirem pilhas e mais pilhas de dívidas acumuladas, fazer o que se o velho amava jogar e perder dinheiro a ponto de hipotecar a casa. Talvez alguém tenha se cansado de esperar o pagamento e a polícia nunca descobriria quem de fato foi. 

Meus mais sinceros pêsames a cada um dos jovens que morreram naquela noite, e aos que continuaram vivos, mas apodreceram por dentro quando ninguém acreditou em suas palavras – eu compreendo as suas dores. 

Vou chorar pelas famílias e abrir uma garrafa despejando um pouco em homenagem a cada um dos adolescentes que foram brutalmente assassinados, aparecerei no velório vestido de preto e colocarei uma rosa branca sobre cada caixão. 

Precisei matar cada um deles, foi a única maneira que encontrei para tirá-los de minha cabeça e silenciar todas as palavras ditas. Limpando-os da face da terra. 

Eu tinha talento para o público por ser uma aberração e o erro deles foi deixá-la sair e não ter corrido enquanto puderam. Me tornei o show de horrores de cada um deles, o monstro de seus temores, eles só não imaginariam que ao meu lado teria uma linda coleção de pessoas estranhas e estar com eles que também eram considerados insanos me dava a sensação de estar completamente sã. 

Todos sabiam que eu era um pouco desequilibrado e mesmo assim eles decidiram mexer comigo, o garoto autodestrutivo que vivia a um triz de explodir. 

No fim eles tiveram o que mereciam.

☠☠☠☠☠

Obrigada pela leitura! 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top