Parte II
A vida é um processo constante de morrer, foram palavras sábias de Arthur Schopenhauer, ela não possui sentido e na maioria do tempo é repleta de caos e sofrimento, então por que estamos em constante busca pela felicidade? Não via utilidade nessa perseguição asquerosa, onde nos contentávamos com tão pouco vindo dos outros para então perdermos novamente, ficando preso nesse ciclo inevitável de tortura.
Costumava chorar quando ninguém estava olhando e sorrir ao ter uma plateia digna de um show de horrores. A ironia presente em cada frase, diálogo ou simples olhar que eu dirigia para alguém, acompanhada do meu amigo sarcasmo ou o deboche em palavras suaves.
O que é uma agressão verbal? Nada que seja importante, quando ninguém enxerga a sua dor, ou vê a hemorragia sangrar, dilacerar o seu coração e enegrecer a sua alma, as pessoas não ligam. Principalmente ao vir constantemente de dentro do seu lar onde você deve ser grato acima de tudo mesmo que eles sejam o motivo da sua desistência.
Gostava de rir ao escutar os elogios afiados de meus colegas de classe, Aiden Russell nutria a ilusão de que me chamar de inútil e imprestável influenciaria em algo, mas quando se cresce escutando palavras piores o impacto é ameno e não dói mais.
Eu parecia um louco, gargalhava a plenos pulmões a cada novo soco e sentia o gosto metálico enquanto o sangue cobria meus dentes aumentando o corte em meus lábios, no fundo eu era um masoquista escondido.
Lembro de ter passado a língua pelos beiços e gritado para ele continuar, enquanto seus fantoches me seguravam. Não fechei os olhos ou esbocei qualquer expressão que mostrasse que estava machucando, minha mente permaneceu completamente distante.
A chacota sempre foi algo que eu administrei com perfeição fosse em casa, na escola ou na rua, fazia parte de mim. Eu era como o bobo da corte e foi assim que me apresentei para cada um deles.
Seria triunfal, um espetáculo de tirar o fôlego literalmente.
Rastejei como uma serpente, descobri cada segredo e acima de tudo os seus temores, me aninhei e grudei como um sanguessuga e o parasita estimável que sou. Criei o roteiro de maneira que todos pudessem participar, eu poderia ser excluído, mas jamais deixaria alguém de fora desse palco que foi feito exclusivamente para eles.
Criar a encenação definitivamente acabou sendo a parte mais intrigante, eu não precisei de muito esforço apenas para me voluntariar e cuidar das brincadeiras. Uma festa temática na escola e uma noite onde você pode deixar os seus demônios saírem, o delírio para muitos jovens libertarem-se.
A data marcada pelo momento em que máscaras seriam colocadas e travessuras apresentadas, mas a verdade é que no halloween elas caiam e deixavam as pessoas nuas, sem esconderem os seus verdadeiros rostos e despidas de suas omissões, deixando evidente suas verdadeiras intenções fossem elas boas ou não e a minha certamente não foi, mas estava repleta de significado.
O labirinto foi criado intencionalmente e cada jogador posicionado em seu devido lugar, uma passagem para a pessoa escolhida. Um jogo diferente iniciado conforme suas ações e a saída? Bom, ela poderia estar bem ali esperando ser ultrapassada por eles.
Um momento importante foi o dia que antecedeu ao acontecimento dos meus planos serem concretizados, quando precisei rever cada peça do tabuleiro e como posicioná-los. Caminhei pelo corredor e meu olhar se encontrou com Dick que somente recostou no armário erguendo o cigarro como um cumprimento ridículo e clichê.
Não éramos amigos, mas acho que ele não tinha conhecimento disso.
Passei pela sala de artes e vi Amélia, ela sorria e gargalhava ao lado de Harper enquanto misturavam as tintas para os cartazes das bruxas, doce ironia. Comprimi os lábios e continuei meu caminho.
Ao chegar no meu armário guardei meus materiais e tentei não ficar imaginando cada situação diferente para o maior evento do ano, se existia algo que eu amava fazer certamente era criar diversas conversas e histórias em minha cabeça. E dessa vez havia muito sangue a ser derramado, se eu fechasse os olhos por segundos poderia escutar o choro agudo e em coro, sorri, enfiando os livros na mochila e me virei para ir a próxima aula.
Não custa dizer que me arrependi amargamente de ir ao banheiro antes, o que resultou comigo e a minha cabeça enfiada na privada. Claro que eu ri quando fingi não estar mais respirando e o desespero no olhar daqueles imbecis foi satisfatório e o olho roxo um complemento para a fantasia que eu faria mais tarde.
As aulas de filosofia foram substituídas por física, me restando ter que divagar por meus pensamentos. O que não considero bom, se tem algo que abomino é pensar demais, me perder em sentimentos e sufocar lentamente com cada um deles, o suficiente para me dar mais certeza de minhas próximas ações.
O caderno rabiscado, os desenhos rasurados e os nomes marcados em vermelho, eu tinha uma lista de nomes com todos sublinhados.
Observei uma última vez os escolhidos e sorri mordendo a ponta da caneta e observando minhas mãos sujas pelo tom avermelhado contrastando com a pele pálida.
Ao longo do tempo mostrei somente o que considerei necessário para os outros verem, fui fraco diante deles e então, fiz cada um se curvar e me temer. Eu queria vê-los cair e consegui – um por um – diante de mim com seus corpos ensanguentados, talvez eu não fosse o bobo da corte e quem sabe um rei perverso escondido em pele de cordeiro. Mas uma hora o lobo teria que sair.
O banquete seria dado e em cada bandeja estaria uma cabeça premiada.
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