✻Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 6
— Infelizmente isso está prejudicando as flores e plantações do jardim também, Princesa — o jardineiro Mathias alegou.
— Sinto muito. Nem eu mesma sei o que levou essa rivalidade de tantos anos. Só espero que pelo menos quando eu for a rainha, tudo se resolva, porque assim ninguém mais será prejudicado — afirmei observando a vista estonteante que me rodeava naquela tarde.
— Também espero, Princesa. — Ele voltou o rastelo à mão direita.
Me despedi do gentil jardineiro e retornei ao meu quarto. Ao ver Margaret, me aproximei rapidamente para jogar conversa fora.
— Bom dia, Margaret. — Me sentei ao seu lado, na cama.
— Bom dia, minha menina. Como vai? — Ela levantou a cabeça, contudo continuou dobrando minhas roupas.
— Como sempre. — Sorri. — Eu estava conversando com Mathias, o jardineiro. Acredita que essa rivalidade de reinos está afetando o trabalho dele também? Por conta das exportações.
— A coisa está feia — ela comentou sem interromper seu trabalho. Arqueei uma das sobrancelhas. Margaret sempre foi como eu quando se tratava de tagarelar muito, mas dessa vez ela parecia mais quieta, e consequentemente em seu canto, fechada.
— O que foi? Hoje está uma pessoa de poucas palavras. — Continuei a fitando até que ela tomasse coragem para me responder.
— Não pensei que fosse reparar — disse. — É que minha tia está doente, e como ela está demasiadamente velha, temo não a ver antes de sua morte.
Parei por um tempo no lugar. Eu sabia que Margaret não tinha muitos parentes vivos, e que quem lhe restava era sua tia, a quem apreciava muito. Nunca me passou pela cabeça que Margaret tinha sua própria vida e família, e me doía ver que talvez ela estivesse se sentindo pressionada a cuidar de mim e esquecer de todo o resto.
— Então vá até ela. — Margaret parou o que estava fazendo para me analisar. — Você pode pegar uma carruagem até lá, e se ela mora no Ocidente, basta pegar um avião.
— Eu? Ir até lá? — Apontou para si mesma, e em seguida para a janela. Sua face não apresentava muita animação. — Não posso simplesmente viajar e deixar meu trabalho de lado.
— Besteira, Margaret. Por que não? São só uns dias de viagem. Não deve chegar nem a cinco dias — justifiquei. — Você tem o direito de visitar sua tia e dar uma despedida digna para ela.
— Não sei, não...
— Margaret, não se preocupe. Só precisamos de alguém para fazer seu trabalho enquanto você estiver fora. Podemos oferecer uma renda extra para alguém — sugeri. No mesmo instante Margaret abriu um largo sorriso no rosto.
— É isso! — Eu não compreendi sua expressão. — Vou chamar minha filha para ficar no Palácio nesse tempo. Por ela ser minha filha, é mais provável que confiem no trabalho dela.
— Ótima ideia. E será um prazer conhecer sua filha — eu disse com minha mão afagando a de Margaret.
— Sim. — Ela sorriu ainda mais. — Eu posso dar um dinheiro extra a ela. Vai sair do meu salário.
— Nada disso! — exclamei. — Eu mesma pago sua filha com minha mesada. E ela não será tratada como uma empregada comum, mas como minha dama de companhia. Papai sempre disse que toda princesa precisa de uma, mesmo que só por um dia.
— Está bem, Helena. Mas fico devendo-lhe uma, viu? — Sorri de volta para ela.
— Pode deixar que eu mesma falo com meu pai, ele com certeza vai deixar. Agora deixe essas roupas aí e vai se arrumar. Inclusive, quero que seja arrumada pelas empregadas do SPA Real.
— Não precisa de uma megaprodução, Helena. Eu só vou visitar minha velha tia. — Ela levantou, negando com a cabeça.
— Não importa. Você merece um momento especial só seu. Anos e anos de trabalho e fidelidade precisam ser recompensados. — Me posicionei de pé, na sua frente, pegando novamente suas mãos e sorrindo.
— Você será uma rainha tão incrível quanto sua mãe foi, Helena. — Margaret me olhou nos olhos, emocionada. Sua mão acariciava minha bochecha, junto de seu sorriso singelo, mas também carinhoso.
Meu coração se aqueceu ao saber que a pessoa que mais conhecia minha mãe — depois de meu pai, claro — me fez um elogio tão valioso como esse. Suas dóceis palavras ficaram guardadas em meu coração.
Me despedi de Margaret com um aceno, e me virei para sair do quarto. Ao avistar Lukas observando a cena, minhas bochechas queimaram.
Eu havia esquecido de fechar a porta. Entretanto, o Soldado disfarçou e voltou para sua postura anterior, como se nada tivesse acontecido. Antes de atravessar a porta e sair, eu disse:
— Não precisa agir como se tivesse medo de mim. — Pisquei para ele, que pareceu engolir em seco e continuou sem manter qualquer contato visual.
Prossegui meu caminho pelo corredor, rindo da cena anterior. Não foi muito difícil meu pai aceitar a ideia, já que expliquei a situação e ele compreendeu. Todos, sem exceção, sempre gostaram muito de Margaret, e sabiam que sempre podiam confiar nela e em sua extrema responsabilidade.
Depois de um tempo distraída pelo Palácio, retornei ao meu quarto contente, e meu sorriso aumentou com a vista de Margaret pronta em minha frente.
A pouca maquiagem estava perfeita, e a deixava com um ar mais jovem. Seu cabelo ondulado estava solto, e isso a deixou muito diferente, pois ela sempre usou seu coque habitual, mesmo tendo o cabelo curto.
O sorriso sincero e alegre realçava toda a beleza dela. Todos sempre disseram que seu bom-humor a deixava bela. Isso me fazia acreditar na influência que o interior traz ao exterior.
Suas vestes formais e femininas a deixavam mais moderna, o que a fazia parecer uma Nobre. Junto da roupa, um colar de pérolas que eu mesma a dei de presente em seu aniversário, mas que ela nunca havia tido a ocasião certa para estrear.
— Você está linda, Margaret. Linda como uma rainha — afirmei a admirando. Ela sorriu tímida, olhando para baixo.
— Não exagere, Helena. — Ela colocou a mão à frente da boca e deu leves risadas. — E já pedi que me chame pelo sobrenome.
— Está bem. Dessa vez eu concordo. Você está tão chique que combina mais chamá-la pelo sobrenome Sanchez. — Eu revirei os olhos sorrindo e ela também riu.
— Vamos. — Estendi meu braço para levá-la até o térreo. Margaret riu com meu tom debochado e entrelaçou seu braço no meu.
Enquanto descíamos as escadas, muitos empregados ficaram admirados e até pararam o que estavam fazendo para olhar Margaret. Eu dei um meio sorriso orgulhosa, já Margaret sorriu tímida com toda a atenção que estava recebendo.
— Desse jeito você irá arrumar um pretendente antes mesmo do que eu — sussurrei enquanto caminhava até fora do Palácio. Margaret deu leves batidinhas em meu ombro rindo.
No momento em que chegamos no grande portão da propriedade real, soltei o braço de Margaret para a nossa breve despedida.
— Está na hora de eu ir. A carruagem já chegou — ela informou.
— Vou sentir saudades — confessei.
— Helena, vou me ausentar por menos de três dias. — Ela riu.
— Eu sei, mas ficar neste Palácio sem suas repreensões e seu falatório é muito sem graça. — Ela colocou a mão na testa risonha.
— Pode deixar que eu telefono para lhe importunar. — Soltei altas gargalhadas.
— Está bem. Te vejo em breve, Margaret — declarei quando a crise de risos cessou.
— Comporte-se — pediu irônica. — E enquanto eu não estiver aqui para te lembrar, tente fazer isso em meu lugar, e se lembre que você é muito mais que apenas uma Princesa de StoneLand, minha menina. — Suas palavras foram como um abraço apertado. Sua mão afagava a minha, e eu sorri para ela, me esforçando para não chorar de emoção.
Parecia egoísta de minha parte querer a atenção de Margaret apenas para mim, mas é porque ela praticamente me criou, e quando minha mãe se foi, Margaret estava lá para cuidar de mim como se eu fosse sua vida.
E desde então ela nunca esteve longe de mim, nem por um segundo. Por essa razão era difícil me despedir dela, independentemente do tempo de viagem.
Eu não teria ninguém para me fazer companhia enquanto Margaret estivesse fora, isso porque até minha melhor amiga me abandonou. Entretanto, a filha de Margaret estaria aqui, e pelo sangue que circulava em sua veia, eu conseguiria tentar fazer amizade com ela.
— Tchau, Margaret. — Devolvi o aceno que Margaret me deu enquanto eu estava distraída em meus pensamentos.
— Até logo, minha menina.
Continuei acenando até perder de vista a carruagem em que Margaret estava. Eu sorri com o momento. Quando nos despedimos de alguém, mesmo que por um curto período, é que percebemos quão importante essa pessoa é em nossa vida.
Depois de mais uns minutos observando aquela vista privilegiada do Palácio, com um céu espetacular de tons alaranjados em uma mistura com o lilás que deixava tudo mais encantador, saí de lá e fui rumo ao meu quarto.
⚡👑⚡
Eu estava deitada em minha cama quando escutei algumas batidas na porta. Me levantei enquanto resmungava, e ajeitei minha roupa antes de girar a maçaneta de ouro da porta.
— Senhorita Helena. — o Soldado Lukas estava de pé na minha frente, mas com ele havia mais uma pessoa. — Esta é a filha da Sra. Sanchez. Ela chegou agora há pouco.
— Prazer em conhecê-la, Princesa Helena. — A doce garota fez uma reverência.
A observei. Ela tinha cabelos longos e belos, da cor de chocolate e encaracolados. A cor de sua pele era negra, mas no fundo dava para perceber tons amarelados e avermelhados quentes. A cor dos olhos era semelhante ao cabelo, e o pequeno sorriso brilhava expondo o gloss de seus lábios. O formoso vestido branco de crochê destacava a cintura fina, e os cílios longos realçavam o olhar.
— Prazer em conhecê-la também. — Sorri gentilmente. — Você é a filha de Margaret, então devo chamá-la de Srta. Sanchez, certo?
— Não precisa, Princesa. Pode me chamar pelo meu nome. Me chamo Samara. — Fez outra reverência.
— Não precisa de muitas formalidades comigo também. Se você é filha de Margaret é praticamente da família — afirmei, e ela ergueu as sobrancelhas. — Acho que Margaret já te explicou tudo, então fique à vontade. Pode colocar suas coisas em meu quarto.
— Tudo bem. Obrigada. — Ela deu um curto sorriso e deixou sua única mala em meu quarto.
Em seguida, Samara se retirou, não me dando a oportunidade que eu queria para fazer perguntas e conhecê-la melhor. Isso me frustrou um pouco, mas eu também tinha ciência de que ela tinha trabalho a fazer, antes que Margaret voltasse dois dias depois e tudo voltasse ao normal.
Olhei para o Soldado Lukas, ele era minha única esperança. Eu não tinha mais ninguém para conversar, já que os outros empregados, incluindo Mathias, estavam ocupados naquele horário. Eu queria ao menos tentar uma interação.
— Então... Como você está? — Ele olhou para todos os lados, até perceber que só tínhamos nós dois ali, e logo era com ele quem eu conversava.
Ou tentava conversar.
— Bem, Princesa. — Sua resposta foi curta demais, o que indicava seu desinteresse em dialogar. Todavia eu era persistente, portanto precisava tentar mais uma vez.
— E o dia está bonito hoje, não? — O que está fazendo? Está louca, Helena? Como pode não conseguir puxar assunto direito? Quem em sã consciência pergunta do dia do nada?
— De fato — respondeu.
Eu não entendia por que todo aquele ar misterioso que o Soldado Lukas carregava. Tudo bem que os soldados eram treinados com rigidez, e não tinham uma boa liberdade de falar com autoridades reais, e que a maioria deles eram mesmo mais sérios, mas o Soldado Lukas aparentava ter algo a mais. Algo a mais que o casual.
E de alguma forma, isso me intrigava.
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