✻Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 2

  

  Despertei de meu profundo sono com uma forte luz vindo em minha direção, quase cegando minha visão. Me sentei na cama e esfreguei meus olhos para enxergar melhor. Assim que avistei Margaret abrindo as extensas cortinas do meu quarto, bocejei confusa.

— Está cedo. Por que está me acordando, Margaret? — Ela me olhou como se a resposta fosse óbvia.

— O Rei está te chamando. Se arrume. — Permaneci em silêncio, a olhando confusa. — Ande! Rápido, Helena!

Levantei rapidamente, e mesmo sonolenta, corri para a minha suíte a fim de me preparar logo, e assim descobrir por que meu pai solicitou minha presença daquela forma.

Saindo do banheiro, Margaret me ajudou a fazer um penteado simples e delicado. Apenas juntamos alguns grampos, formando um pequeno coque, com o resto do meu cabelo solto.
 
Passei um pouco de óleo nas pontas para dar brilho e maciez às minhas ondas. A maquiagem muito leve, e o perfume adocicado, do jeito que eu e a mamãe gostávamos.
 
— Estou aqui — eu disse adentrando o salão real.

— Ah, Helena. — Meu pai virou-se. — Precisamos conversar brevemente.

— Pode falar. — Dei de ombros.

— Havia esquecido de comentar, mas hoje você terá mais um daqueles passeios nobres. Dessa vez estará acompanhada do Príncipe William, do Reino de Naim. — Sua expressão contente e tom suave faziam parecer que era algo realmente bom.

— Mais um daqueles encontros entediantes? Papai, todos esses príncipes são chatos e me veem como se eu fosse um prêmio para expandir aquilo que eles chamam de poder. — Pausei para me sentar à sua frente, de pernas cruzadas. — O senhor sabe bem o que aconteceu quando me encontrei com os príncipes da Vila Antony, Margianni e Salamida.

— Não se preocupe, Helena. Ambos vão sair ganhando, e isso vai ajudar a fortalecer nosso reino também. E sobre os encontros passados, aquilo não vai se repetir. Dessa vez você só irá se encontrar com príncipes de reinos aliados ao nosso — afirmou tranquilamente.

— Mas o de Salamida é aliado nosso, e agiu igual os príncipes de reinos neutros, como se não tivesse noção alguma — refutei de braços cruzados. Estava cansada de conhecer pessoas falsas.

— O de Salamida é exceção, todos sabem que ele é bobinho assim mesmo.  — Ele ria, mas permaneci com os braços cruzados e a cara fechada.

— De qualquer forma, no fim todos são assim. Não sei o restante, os que têm acordo com o Reino de Atallus, mas os daqui parecem robôs programados — reclamei. — E com defeito de fábrica.

— Vá logo, minha filha. Você sabe que é necessário. Ao menos dê uma chance, só faltam três príncipes de StoneLand. Faça um esforço, ou só sobrará os nobres do Reino. E você sabe que normalmente os nobres são velhos — ele disse cansado, e retornou a pegar as papeladas que havia deixado de lado.

— Está bem. — Suspirei.

Me levantei e fiz uma breve reverência. E sem falar mais nem uma só palavra, me retirei.

 — Tente ser gentil, minha menina. — Margaret fazia um esforço para alcançar meus passos apressados pelos corredores.

Eu pisquei para ela, e ela respirou fundo. Margaret sabia muito bem como eu detestava aqueles encontros banais.

Com a cabeça ainda erguida, prossegui meu caminho adiante. Tive que controlar minha insatisfação quando vi o Príncipe Filipe.

— Olá — eu disse ajustando meu vestido vermelho ao me sentar.

— Olá, senhorita Helena. — Seu sorriso fingido era perceptível. Ele sorria apenas com os lábios, e não com os olhos, o que aprendi ser um sorriso forçado, com os livros de Linguagem Corporal que li. — Bom, devo me apresentar. Eu sou o príncipe William, do Reino...

— Pule essa parte, por favor. Já sei seu nome, idade e de onde você veio — o interrompi com um sorriso tão forçado quanto o seu. Ele me olhava incrédulo

— Desculpe-me, senhorita. — Emitiu um som corrigindo sua voz. — Me fale sobre você.

— Pode começar, assim eu tomo coragem. — Me encostei na cadeira informalmente, e reparei ele engolir em seco.

— Bom, eu sou um homem de multitalentos.  — Sorriu. — Sei tocar piano, flauta, violão, baixo e mais outros seis instrumentos musicais. Sei cozinhar algumas coisas, e até aprendi ecologia. Falo inglês, francês, português, espanhol, alemão, russo, italiano, japonês e estou aprendendo árabe e hebraico. Também sou um bom apreciador de vinho, me dou bem em exatas e humanas e sou muito cooperativo. Além disso, eu...

— Chega, por favor. Já entendi quão perfeito você é. Está me dando sono — interrompi novamente.

— Perdão, senhorita. Se quiser podemos começar de novo. — Ele parecia nervoso, não parava de mexer em seu cabelo loiro.

— Não, obrigada. — Me levantei.

— Para onde está indo, Princesa? — questionou também se levantando da cadeira.

Continuei a andar sem olhar para trás. Ele era sim como todos os outros: fingido e desinteressante.

Naquele pouco tempo em que estive com ele, não me senti bem, apenas senti como se alguém estivesse tentando me enganar, achando que sou boba e não tenho ciência de que pessoas possuem defeitos. Era como um show de máscaras, onde estávamos negociando o resto de nossas vidas baseado em interesses soberbos.

Trancada em meu quarto, me esparramei sobre minha cama no maior tédio. Antes eu tinha Daiana para tornar tudo mais engraçado, já que ela levava tudo na esportiva. Ela sempre ria da minha falta de paciência com meus deveres reais, e diferente de mim, ela agia com graça e beleza.

Peguei em meu criado-mudo a pequena carruagem de ouro em formato de coração que minha mãe me deu quando eu ainda era um bebê. O delicado lacinho rosa que embelezava o objeto só me trazia boas lembranças, por ter sido tecido a mão, por minha mãe ainda grávida. 

Larguei ele e observei o teto calada.

  — Ah, mamãe. Como eu queria que você estivesse aqui, ao meu lado. Sem você esse Reino está uma loucura.  — Minha voz saiu baixa e embargada. Foi difícil conter meu suspiro.

— Helena. — Ouvi três batidinhas na porta.

— Para você está aberta, Margaret — afirmei sentando em minha cama e endireitando minha postura.

— Minha menina, você não podia deixar o Príncipe falando sozinho daquele jeito — ela tentou me repreender, mas seu tom de voz era calmo, visto que não conseguia ficar brava comigo.

— Eu sei. Mas é que eu não aguentei ele se gabando daquela forma. Você sabe que detesto quando faltam com sinceridade comigo. — Respirei fundo, temendo chateá-la. — E aquele cara era muito chato.

Quando percebi que Margaret estava a gargalhar, fiquei impressionada. Não foi a reação que esperava que ela teria, mas isso de alguma forma me divertiu.

— Eu penso se um dia vou encontrar alguém. Como nos contos de fadas, sabe? Não sei, mas acho difícil me imaginar no futuro com alguém, formando um casal tão bonito quanto minha mãe e meu pai — confessei sem ânimo, quando Margaret já havia saído de sua crise de risos.

 — Não pense assim, minha flor.

— Como? Nem amigos mais eu tenho — Me queixei com o olhar baixo.

— Você tem a mim. — Sorri ao ouvir aquilo. Margaret sempre me apoiou como ninguém.

Depois de bons minutos jogando conversa fora, Margaret voltou ao seu trabalho rotineiro. Quando ouvi uma batida na porta, estranhei, já que ela havia saído fazia um tempo.

O que mais me atiçou a curiosidade foi receber um buquê de flores de um dos empregados. Ele me deixou claro que não fazia ideia de quem era.

As flores eram muito bonitas, uma mistura de tulipas e rosas. Delas retirei um cartão muito detalhado e perfumado. Abri o mesmo, para finalmente saber o conteúdo do misterioso cartão. As poucas palavras me impulsionaram a diversos questionamentos.

Senhorita Helena, devo informá-la que possui um admirador secreto.

Confesso que não só fiquei intrigada com o tal bilhete, mas achei a ideia divertida. Torci para que não fosse nenhum daqueles príncipes, pois assim eu ficaria mais aliviada.

A questão que ficou, foi: quem me mandou essas flores e esse cartão? Independentemente de quem fosse, eu sabia que aquilo de alguma forma poderia me divertir e me distrair do tédio que estava aquele Palácio.

Olhei mais uma vez o pequeno cartão e comprimi meus lábios sorrindo.

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