✻Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 12
Mirei com bastante precisão e em seguida atirei. Mais uma vez acertei quase em cheio. Minha pontaria estava melhorando muito. Arriscaria dizer que estava praticamente perfeita.
Eu estava satisfeita, mas ainda queria melhorar no arco e flecha. Entretanto eu já estava cansada e até mesmo suada. Minha garganta estava seca, então guardei minhas coisas e fui até o Palácio me hidratar um pouco. Um descanso sempre é bom.
Arregalei os olhos quando dei de cara com um empregado. Se eu não estivesse prestando atenção, poderia ter esbarrado nele e caído. Mas o que mais me chamou a atenção foi o buquê que estava em suas mãos.
— Alteza, estas flores chegaram há pouco tempo. — Analisei as rosas brancas com uma sobrancelha arqueada.
— Pode colocar em um vaso — pedi, e ele rapidamente obedeceu. — Não veio com algum bilhete dentro?
— Procurei, mas dessa vez vieram apenas as flores — disse enquanto encaixava as flores em um vaso transparente da sala de repouso.
— Entendi, obrigada. — Sorri e ele saiu após me reverenciar.
O admirador secreto estava ficando cada vez mais interessante e misterioso. Receber flores já estava virando parte da minha rotina, e eu não conseguia adivinhar se aquilo era algo bom ou ruim.
Me direcionei às escadas para subir ao meu quarto com os pensamentos nas nuvens. Eu nunca havia recebido flores antes dele chegar. Era legal receber, mas o fato de não saber e nem imaginar quem podia ser, me deixava inquieta.
Antes de adentrar o quarto, dei um passo para trás e encarei o Soldado Lukas.
— Boa tarde. — Sorri.
— Ah... — Ele parecia meio desconsertado, mas me reverenciou. — Boa tarde, Alteza.
Entrei no quarto me divertindo com a situação. Ele ficava nervoso como se estivesse indo para um coliseu pelejar contra leões, mas na verdade era apenas eu. E isso me fazia rir.
Tirei minhas vestes de treinamento e entrei no banheiro a fim de relaxar um pouco. A banheira já estava com água bem gelada, espuma e aromatizantes com cheiro de morango e lavanda.
Entrei nela e me aconcheguei. Deitada e com o cabelo preso em um coque para não o molhar, fechei os olhos sentindo meu corpo submerso pela água. Eu estava mesmo precisando de um banho desses.
Eu não queria mais sair dali. Ficar deitada naquela banheira relaxante, sem ninguém para me falar das minhas obrigações e sem precisar lembrar de como os que eu amava estavam me deixando aos poucos, era como deitar em uma nuvem macia em um dia refrescante.
Mas estava na hora de sair, então tomei coragem e me desliguei daquela banheira, peguei o meu clássico roupão e fui até o closet escolher uma peça de roupa agradável, já que as roupas do armário do quarto eram as mais básicas.
Quando já estava pronta, soltei meu cabelo e passei um pouco de perfume. Assim que escutei batidas na porta, parei de me olhar no espelho da penteadeira e fui até a porta para atender quem estava chamando.
— Oi — eu disse quando abri a porta.
— Princesa Helena, preciso te dar uma coisa. — Analisei Samara confusa.
— Pode falar.
— Posso entrar no seu quarto para conversar com você melhor? — pediu, e eu abri espaço sem dizer nada, apenas com meu sorriso, mas um sorriso confuso. — Obrigada.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei assim que nos sentamos em minha cama. Ela observou meu quarto inteiro por um instante, mas então olhou nos meus olhos.
— Margaret não deixou apenas saudades quando se foi. — Ela olhou para a janela do quarto. — Deixou uma herança também.
— Como assim uma herança? — Franzi a testa sem entender bem o que Samara dizia.
Ela respirou fundo e prosseguiu:
— Ela deixou o dinheiro e bens materiais dela para mim. Ela não deixou para você porque o que tinha era pouco, e você já é mais do que rica. — Pausou para voltar a me olhar. — Mas ela te deixou algo mais sentimental.
— O quê? — Minha voz saiu baixa. Meu coração em um segundo se amoleceu.
— Aqui. — Me entregou um papel. — Ela te deixou esta carta. Eu não li, porque sei que é pessoal, mas acredito que ela escreveu faz muito tempo.
— Samara... — Olhei para ela com os olhos d’água. — Muito obrigada. — A dei um abraço forte, que ela nem esperava. Ela ficou meio sem jeito, mas se rendeu ao abraço.
— Eu vou indo. Tenho umas coisas para fazer, e quero deixar você à sós para ler isso com mais calma. — Ela levantou da cama com um sorriso amarelo.
— Está bem. Tchau — me despedi também, então ela me reverenciou e partiu.
Eu ia pedir para ela fechar a porta, mas tinha pressa em ler o que Margaret me deixou.
Abri a carta e a encarei por um bom tempo, tentando tomar coragem para ler. Eu sabia que aquilo iria mexer com meu interior, e eu teria lembranças, todavia eu precisava ler a única coisa que ela me deixou.
“ Querida Helena, hoje você completou seus dezesseis anos. Depois dos dezoito, esse é considerado o aniversário mais importante de uma moça de toda a ilha de StoneLand. Fico tão feliz em ver a menininha que tanto cuidei crescendo. Sei que é difícil continuar sem a sua mãe, mas peço que seja forte. Mesmo você sendo teimosa às vezes, sei que ela estaria orgulhosa de você. E é um pouco assustador, e ao mesmo tempo bom saber que em alguns anos você se tornará a rainha deste Reino. Tenho certeza que você será uma rainha incrível, assim como sua mãe foi, e quero estar aqui para ver. Me senti um pouco mal ao ver que em um aniversário tão importante eu não tinha nenhum presente para lhe dar, então decidi escrever esta carta, para te entregarem quando eu partir. Talvez você esteja lendo isto casada, reinando e com filhos. E não se apavore pela minha ida. Não sei como tudo vai acontecer, mas peço que nunca desista e que continue sendo determinada como você é. E saiba que você sempre será a minha menina. Ah, e não sei se você já conheceu Samara, minha filha, mas espero que sejam boas amigas, e diga a ela como eu a amo mais que minha própria vida. Mas é isso, eu não sei bem como terminar uma carta. Mas quero te dizer que[...] ”
Interrompi minha leitura assim que avistei o Soldado Lukas parado na porta do quarto, com um lenço em mãos. Eu estava com a mão no peito, tão assustada que nem reparei as lágrimas que desciam pelo meu rosto.
Ele se aproximou de mim e sentou na beirada da cama. O Soldado esticou o braço e me entregou o lenço, com um sorriso sincero. Eu aceitei e sorri de volta, já que não sabia como agradecer.
Limpei as lágrimas um pouco envergonhada dele ter presenciado a minha choradeira, mas ao mesmo tempo grata pelo seu gesto solidário.
— Você gostava tanto assim da Senhorita Margaret? — Ele olhou para a carta que estava sobre a cama, e eu a guardei em minha gaveta ligeiramente. — Digo, ela era muito simpática, mas é que você é a Princesa e....
— Sim — interrompi. — Ela era como uma segunda mãe para mim.
— Poxa! Sinto muito. Muito mesmo.
— Não se preocupe. Eu estou superando minha dor aos poucos. — Dei um sorriso frágil. Ele parecia preocupado. — Mas obrigada pelo apoio.
— Não há de quê. — Sorriu. — Se precisar de qualquer coisa, estou aqui.
— Ah... sim, sim... Claro — Sorri amarelo.
— E você? Já perdeu alguém que amava muito? — perguntei sem ao menos planejar.
— Bom, eu....
— Soldado Lukas Santoro. — Um Guarda apareceu repentinamente na porta.
— Sim? — O Soldado Lukas se levantou imediatamente e voltou à postura de sempre.
— Venha comigo. Precisamos de você no grupo para receber outros soldados que chegaram. — O Soldado Lukas assentiu, e então me olhou. Ele não precisou falar ou fazer nada, seu olhar já dizia tudo. Eu apenas acenei com a mão, então ele me reverenciou e saiu fechando a porta.
E mais uma vez eu estava sozinha naquele imenso e escuro Palácio.
Eu pensei em continuar lendo a carta de Margaret, já que parecia conter mais alguma informação importante, mas estava cansada e deixei para ler outra hora. A carta mexeu muito comigo.
Me levantei para procurar algo útil para fazer. Eu não conseguiria ficar trancada naquele quarto o dia todo me lamentando pela minha solidão.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top