Prólogo - Parte 1 ⚔

Elric Redthorn

- Você está com uma cara horrível. - diz Mack quando desabo no chão ao seu lado.

Olho para ele, estou ofegante e suado. Mack sorri na minha direção.

- Não me olha assim... - continua ele. - Você sabe que não dá certo sair pro bordel na noite anterior e treinar no dia seguinte... - ele pega a espada da minha mão e se levanta do chão. - Já aprendemos essa lição com o Sir Gehry, que a Mãe o tenha.

- Eu sei. - respondo, me levantando do chão. - Mas tenho que aprender a ter mais resistência que o normal. Afinal, numa guerra você não pede pausa no meio do duelo para beber um pouco de água do cantil.

Mack apenas ri, estendo minha mão em sua direção e ele entrega minha espada, a Ceifadora. Com a espada em minha mão, a observo mais uma vez com sua lâmina de aço-almaniano com rubis na ponta do cabo, carrega consigo uma história mais antiga que eu. Ganhei essa espada de presente no meu aniversário de 13 outonos, era a passagem para eu me tornar um homem de verdade.

- Não dorme, Elric. - diz Mack, agitando a espada na minha frente.

Sorrio, ele é bem ousado... Mesmo que Mack seja o general do exército (conseguiu esse posto após a morte do seu pai), ele não poderia ter tantas brincadeiras para cima de mim, o herdeiro do Reino de Ayllan. Mas crescemos como irmãos, então, Mack faz muita coisa comigo que já teria custado o pescoço dele.

A espada Piedade de Mack corta o ar e ergo Ceifadora a tempo, o barulho de lâminas se chocando ecoa pelo pátio de treinamento. Mack e eu sorrimos. As lâminas se separam e Mack vem na minha direção, giro meu corpo e Mack passa direto por mim, a ponta da minha espada fica contra as suas costas.

- Morto. - digo.

Mack suspira e abaixa a espada.

- É... Você está melhor do que eu imaginava. - diz ele. - Acho que chega por hoje.

- Não aguenta perder ainda, Mack? - pergunto, colocando Ceifadora na minha bainha.

- Não é questão de ganhar ou perder, Elric, estamos apenas em um treinamento. - diz ele embainhando a Piedade.

- Certo. - respondo. - Você quem diz.

- Vem cá... Lyuben já voltou de Julianville? - pergunta ele e vejo seus olhinhos brilharem.

- Mack, minha irmã não está ao seu nível, você sabe disso. - respondo. - Na verdade, Lyuben não está no nível de ninguém de Ayllan. Mas já, ela já voltou de Julianville.

Mack suspira e caminha na minha direção.

- Antes que comecemos a brigar mais uma vez por conta de Lyuben... Vamos voltar para o castelo. - diz ele. - Está na sua hora, príncipe.

- Ainda é cedo. - respondo quando ele começa a se afastar.

- Para você, que acordou depois do almoço, príncipe. - diz Mack enquanto o alcanço com alguns passos apenas. - Ninguém passou a noite festejando.

- Estava festejando mesmo. - respondo. - Não é todo dia que se ganha no jogo do pirata de um pirata.

- Você vai querer repetir essa história quantas vezes? - pergunta Mack.

- Quantas forem necessárias. - respondo.

Paramos perto do arco de pedra do pátio de treinamento e pegamos nossas capas. A capa sempre é mais limpa que os meus gibões, e eu não entendo porque. Abotoo a fechadura de prata e ouro com o R do nome da minha família. Mack faz a mesma coisa com a capa dele e o símbolo do exército de Ayllan, a Lança Dourada.

Enquanto reconto mais uma vez a história do jogo do pirata, chegamos ao pequeno estábulo perto do pátio de treinamento e já encontro Hasiri, meu cavalo, pronto, Mangda, a égua de Mack também está selada. Mack agradece o cocheiro e subimos em nossos cavalos.

O caminho de volta até a Fortaleza Real é repleto de reverências por onde meu cavalo passa e alguns acenos. A Área Comercial permanece lotada como sempre e passar pela Área Nobre sempre me revela alguma dama, condessa, ou seja lá qual posição essas mulheres tenham, jogando gracejos na minha direção. A maioria, como Mack diz, só quer um passe para morar dentro do castelo e usufruir da realeza suprema.

Mack está um pouco certo, qualquer casamento que eu tenha visto ao meu redor foi para a ascensão de alguma pessoa, ou, um tratado comercial que unisse reinos, povos e coroas, como foi o segundo casamento do meu pai com a Ljuban, minha madrasta e mãe de Lyuben.

Quando entramos na área do castelo, olho para a ponte levadiça que está abaixada, o maior castelo de pedra que Ealun já teve, quase do tamanho dos castelos feéricos feitos que quartzo. Passamos pelo arco principal e entramos no pátio frontal da Fortaleza. Nesse pátio avistamos alguns soldados caminhando de um lado para o outro. Deixamos Hasiri e Mangda com Bergamo, o cocheiro do castelo.

Enquanto Mack me conta o que fez depois bordel (ele saiu bem mais cedo do que eu e apenas voltou para o castelo e dormiu, apenas dormiu!), subimos os degraus e passamos pela grande porta dupla de carvalho vermelho e entramos no salão principal da Fortaleza. Toda vez, o tamanho desse lugar me impressiona.

No meio do salão encontramos Lyuben parada conversando com Frieda Prescott, a filha da Lady Catallyna de Julianville. As duas riem enquanto Mack e eu paramos perto delas.

- Altezas. - diz Mack se curvando em frente a Lyuben e Frieda.

- Olá, Mack. - diz Lyuben e me olha. - Papai está no Jardim de Inverno, irmãozinho, ele teve uma crise.

- Vou lá agora mesmo. - respondo.

- Eu vou para à cozinha. - diz Mack sem tirar os olhos de Lyuben.

Minha irmã sorri educada e olha para Frieda.

- Vamos para o Salão de Dança, Lady Frieda? - pergunta minha irmã.

A menina Prescott assente e as duas se afastam de nós, os cabelos em cascata da minha irmã caindo pelas costas do vestido carmesim, que é colado no torso e se abre aos poucos no resto do corpo. Frieda está com um vestido azul com corte parecido com o de Lyuben.

- Ela é muito linda. - diz Mack.

- Você não ia para à cozinha? - pergunto e Mack sorri e se afasta.

Continuo no salão principal e passo em frente ao trono de prata... Um dia eu vou me sentar nele, mas eu espero que esse dia demore o máximo possível. Sinto que não nasci para ser o rei que o meu pai quer. Lyuben já foi treinada, moldada, feita para ser a rainha que ele quer, assim como Ljuban, a minha madrasta, a ensinou.

Depois que passo pelo trono, entro em um corredor e pego a primeira porta que leva às escadarias da Torre Invernal. Do meu lado esquerdo tenho tapeçarias que contam a história de Ayllan desde a Guerra da Independência, do meu direito tenho algumas janelas que dão vista para toda a extensão de Forte Redthorn.

Paro na última porta da torre, vermelha também com uma pequena árvore na cor branca pintada nela. Abro a porta e entro no Jardim de Inverno, um espaço redondo espaçoso, sem o teto vermelho das outras torres, uma pequena árvore de um lado, grama, algumas rosas, em uma das laterais tem outra porta que leva a uma ponte entre essa torre e a Torre da Coroa, que é onde fica o dormitório do meu pai e minha madrasta, do lado oposto ao da porta a sacada ampla que dá em direção ao Mar Norte, e nessa sacada está minha madrasta parada ao lado do meu pai em uma cadeira com rodas.

Ljuban usa um vestido preto sem mangas, o decote não existe o tecido sobe até seu pescoço e os cabelos castanhos que Lyuben herdou caem em cascata pelos ombros dela, a coroa de prata com diamantes adorna o topo de sua cabeça. Meu pai, na cadeira com rodas, usa um gibão de alta costura em cores de um vermelho quase preto. Uma colcha com pele de urso cobre suas pernas e a coroa de ouro maciço está em cima dos seus cabelos já brancos.

Me aproximo devagar e Ljuban me olha.

- Ele chegou, querido. - diz ela na direção do meu pai.

Meu pai vira a cabeça e vejo as olheiras mais profundas ainda em seu rosto. Ele está cada dia pior.

- Filho... - a voz dele sai fraca.

- Oi pai... - digo, me aproximando mais. - Estava praticando com Mack, desculpa não estar aqui em mais uma crise.

Ele sorri e diz:

- Tudo bem... Fico feliz que esteja aqui agora.

Assinto e coloco minha mão no seu ombro.

- Acredita que os feéricos ainda recusam em oferecer um vidrinho da cura para o seu pai? - pergunta Ljuban com a voz indignada ao meu lado. - Eles têm uma fonte de água mágica. Uma fonte! E não dão uma garrafinha para o seu pai poder se curar dessa... Dessa doença.

- Calma meu amor. - diz meu pai. - Eles estão assim por conta de toda a história... Meu reinado é famoso por não ter tratos com os feéricos...

- Aposto que foram eles quem jogou aquele javali de chifres envenenados na sua caçada. - diz Ljuban. - Alguma vingança idiota daqueles dois reis de Bellario.

Ljuban sempre acreditou que o animal mágico de chifres de rubi, que estava no Bosque Redwood é alguma coisa ligada com os feéricos, animais mágicos nunca rondam as terras humanas, é como se fosse uma sina, e ali estava, um javali de chifres de rubi correndo entre os pinheiros do bosque. O javali bateu no cavalo do meu pai, meu pai caiu e o javali foi para cima dele. Meu pai levou uma chifrada na coxa, o javali foi morto, mas o chifre desse javali tem um veneno que entra no osso da pessoa e vai corroendo de dentro para fora. E só os feéricos tem o elixir que cura esse veneno.

- Ljuban... - diz meu pai. - Acalme-se.

- Eu vou atrás de Lyuben. - diz ela, se virando e indo em direção a porta.

Mas a porta se abre antes dela chegar ali.

- Ruvier. - diz Ljuban ao ver o mensageiro real parado na porta.

- Com licença Vossa Majestade. - diz Ruvier, se curvando e entrando no Jardim de Inverno. Ruvier é um cara magricelo e baixinho, sempre com a capa marrom de couro, correndo de cavalo entre os reinos para entregar as mensagens de meu pai, ou as mensagens que são importantes que devem ser entregues ao meu pai.

- Alguma coisa, Ruvier? - pergunta meu pai.

Ruvier assente e tira um rolo de papel de dentro da capa.

- Algum comunicado? - pergunto.

- Não, Vossa Alteza. - responde Ruvier. - Um convite.

- Convite? - pergunta Ljuban.

Ruvier dá uma tossida para falar:

- "A Família Real Larkin de Bellario, convida todas as realezas dos quatros cantos da Ilha Ealun, para a celebração das 18 primaveras do príncipe-herdeiro de Bellario, Jehan Larkin, que acontecerá daqui dois ciclos de lua completo no Palácio de Cristal em Porto Larkin. A Família Real conta com a presença de todos para o início de uma nova fase na vida do Príncipe Jehan. Assinado, os Reis Vlad Larkin e Adarel Larkin."

- Mas isso é uma blasfêmia. - digo.

- Obrigado Ruvier. - diz meu pai, Ruvier faz uma reverência e deixa o Jardim de Inverno. - Não fale assim, Elric.

- Seu filho tem razão, Guiscard. - responde Ljuban. - Isso é uma blasfêmia das grandes para você... Eles te negam o elixir, mas te chamam para uma festinha de celebração? - ela ri. - Algo não está certo.

- Ljuban, relaxa. - diz meu pai.

- Relaxar, Guiscard? - diz Ljuban. - Você está morrendo, meu amor.

- Ljuban tem razão, meu pai. - digo. - Se eu fosse o senhor, não iria nessa festa...

- É o momento de mostrarmos que não somos os mesmos que eles. - responde meu pai.

- Mas não era o senhor que detestava os feéricos? É até famoso por isso. - digo.

- É uma Nova Era, Elric, você não entenderia. - responde ele e olha para a minha madrasta. - Nós vamos para essa festa, todos.

- Eu não vou. - bato meu pé no piso.

Meu pai me olha com aquele olhar que pergunta se eu quero mesmo contrariar sua palavra, se ele me olhasse assim há uns dez anos atrás, eu o temeria, mas agora... Não me importo tanto e continuo com a minha cara.

- Eu. - continuo. - Não vou.

Ele suspira.

- Tudo bem... - diz ele.

- Eu também não vou. - afirma Ljuban. - Eles estão cuspindo para o seu pedido de elixir com esse convite.

- Ljuban, você vai comigo sim, você é minha rainha... Devo te lembrar como que esse casamento começou e o porquê? - pergunta meu pai e vejo Ljuban engolindo em seco.

- Que seja. - responde Ljuban saindo do Jardim de Inverno.

- O senhor perdeu completamente o juízo, meu pai. - digo, indo em direção a porta.

- Elric. - chama ele.

Olho para trás e o vejo me olhar de um jeito diferente... Nunca vi esse olhar.

- Quando você for rei. - começa. - Você vai entender todas as minhas decisões.

- Que os deuses me coloquem um juízo de rei melhor do que o do senhor. - digo e saio do Jardim de Inverno.

A doença do javali deve estar atacando a cabeça do meu pai... Fazendo com que ele não pense direito, e eu consigo sentir que se ele for nessa festa, nossas vidas vão mudar para sempre.

࿇ ══━━━━✥◈✥━━━━══ ࿇


Jehan Larkin

Sou acordado pelo barulho de pássaros em minha janela e isso me faz sorrir, e logo em seguida soltar um bocejo. Abro meus olhos aos poucos e pisco algumas vezes, me acostumando com a luz do sol que entra pelas janelas abertas do quarto. Fico bons segundos olhando para o teto branco e imaculado, até ter coragem o suficiente para me levantar. E antes que eu possa pisar no chão brilhante do meu quarto, vejo uma das criadas saindo do meu banheiro.

- Bom dia, Alteza... Seu banho já está pronto. - Ela me saúda e aceno com um sorriso.

- Obrigado Ivy! - A agradeço e depois de fazer uma breve reverência, ela deixa meu quarto.

Solto um suspiro e me levanto de uma vez, seguindo até meu banheiro. Tiro o robe de seda pura que cobre meu corpo e prendendo bem meus cabelos, entro na banheira em seguida. Meu corpo inteiro relaxa ao sentir a água morna em minha pele e consigo relaxar enquanto tomo meu banho, não pensando no fato de que em algumas semanas eu serei apresentado como o futuro rei de todo o Reino de Bellario. Só de pensar nisso, sinto todo meu corpo se arrepiar, já que é uma realidade que irei levar para o resto da minha vida, que não é nada curta.

Termino meu banho e depois de cuidar da minha pele, saio do banheiro, seguindo até ao cômodo onde estão organizadas todas as minhas vestes e encontro uma troca de roupas já posta em cima do sofá que há ali. Me visto com a maior calma do mundo, querendo adiar ao máximo me encontrar com meus pais e ouvir sobre minhas obrigações. Mas isso não funciona muito, pois minutos depois me encontro pronto e vejo Blazh, meu conselheiro e general do exército feérico, entrar em meu quarto.

- Eu poderia mandar te prender por essa invasão de privacidade. - Aviso, apontando meu dedo para ele, que apenas dá de ombros.

- Seus pais estão a sua espera, Alteza. - Ele diz com um pouco de deboche na última parte.

- Eu quero fugir, Blazh... Não quero ser rei. - Reclamo para meu melhor amigo, enquanto saímos do meu quarto. - Eu nem sei porquê isso, pai Vlad ainda vai viver por muitos anos.

- Sabe que há um certo tempo em que todos nós vamos morrer, mesmo vivendo quase um milênio. Seu pai já está velho, precisa de um descanso. - Blazh responde e ajeita seus longos cabelos, colocando uma mecha atrás de sua orelha pontuda... Uma característica nossa.

- É, eu sei. - Falo em um suspiro.

Por mais que eu não queira me tornar rei, sei muito bem das minhas responsabilidades e não irei deixar meus pais na mão, mesmo que às vezes pai Vlad me cobre um pouco demais.

Sigo em silêncio pelos corredores do castelo, tendo Blazh ao meu lado. Vejo muitos guardas durante nosso caminho, já que aqui a segurança é algo que se preza muito por conta da rivalidade que temos com o Reino humano, Ayllan. Já houve uma grande guerra entre nossos povos há centenas de anos atrás, mas hoje tentamos manter a paz, mesmo que meu pai Vlad odeie com todas as forças o atual rei humano, Guiscard, e sei que o sentimento é recíproco.

Chego à grande sala de jantar do castelo e Blazh se despede de mim com um aceno, pouco antes de um dos guardas abrir as grandes portas de vidro para mim. Coloco um sorriso no rosto e caminho com passos confiantes até à mesa perfeitamente montada. Vejo meus pais sentados à mesa, estando pai Vlad à cabeceira e pai Adarel ao seu lado esquerdo, sendo banhados pela luz matinal que entra pelas grandes janelas de vidro dispostas pelo local. O cheiro de natureza que está ao meu redor, me deixa mais calmo e me sento à mesa, tomando meu lugar ao lado direito do meu pai.

- Bom dia papais! - Cumprimento os dois, recebendo um sorriso carinhoso de pai Adarel para mim.

- Bom dia, pequeno príncipe. - Ele me responde, me fazendo sorrir com sinceridade. Acho que para papai, eu sempre vou ser um bebê.

- Pare com isso, meu amor... Jehan já não é mais um bebê, está prestes a completar suas dezoito primaveras. - Pai Vlad diz sério e eu fico em silêncio. É sempre assim.

Meu pai sempre foi mais rígido comigo, acho que por ser único filho e também herdeiro do trono, mas eu sinto falta de ter um pai mais amoroso, como ele era no passado quando não havia todo o peso de uma coroa em minha cabeça.

- Ele sempre será o meu bebê, o que gerei em meu ventre com muito amor. Ele pode se tornar rei em breve, Vlad, mas continua sendo nosso filho. - Papai responde sério.

- Me desculpem, ok? Só estou estressado... Infelizmente temos que convidar o rei Guiscard e sua família para a festa de apresentação de Jehan. - Ele responde e isso me deixa confuso.

- Por quê? Somos inimigos, não somos? - Pergunto e então recebo a atenção do meu pai.

- Aprenda uma coisa, Jehan... Não importa o quanto queremos matar nossos inimigos, devemos manter uma boa democracia. Nossa rivalidade vem de anos, mas temos negócios em comum e não quero aumentar ainda mais nossa rivalidade, não convidando aqueles vermes para essa festa. - Ele responde e assinto diante suas palavras.

Nosso café da manhã não é muito animado, já que o clima foi totalmente quebrado por meu pai e dei graças a Deus quando meus pais terminaram de comer e finalmente fui dispensado. Bem, em partes, já que agora chegou meu martírio de vez... Organizar minha festa de aniversário e apresentação.

- Filho, eu quero que perdoe seu pai pelas vezes que ele é duro demais com você. Ele não faz por mal, mas foi criado dessa forma também e ele já se sente sobrecarregado pelos anos governando nosso reino. Eu sei que você está com medo, pois é uma responsabilidade imensa ser rei, mas sei que vai conseguir. - Papai diz, assim que estamos sozinhos na sala de chá do castelo, lugar que é um pouquinho meu e dele.

- Será mesmo que consigo? - Pergunto incerto e me levanto do sofá, seguindo até a sacada.

Meus olhos passam por toda a paisagem ao redor do castelo, que é rodeado por uma floresta. Só que meu olhar vai mais além, vendo toda a imensidão que é nosso reino, que em breve estará em minhas mãos.

Santa natureza! Eu não me sinto pronto para isso.

- Claro que consegue, você é inteligente e estudou toda a vida para isso. Nosso povo já te ama, filho e em breve você encontrará alguém para reinar ao seu lado. - Ele responde, e o vejo parar ao meu lado.

Sorrio e abraço meu pai, me sentindo um pouco mais confiante depois dessa conversa com ele.

- Acho que temos uma festa para organizar, não? - Falo e meu pai concorda com um sorriso, assim que se afasta de mim.

- Isso! Gosto do meu príncipe assim. - Ele diz sorrindo e então me puxa novamente para o sofá.

Alguns criados trazem algumas guloseimas para nós dois e dessa forma, nós passamos o resto da manhã e do dia organizando os detalhes da minha festa, tendo a natureza como companhia.

* * *

Dois ciclos de lua depois...

Perco o ar ao que a criada aperta o espartilho em minha cintura, mas respiro fundo em seguida, assentindo para ela. Ivy então amarra as várias fitas, se afastando em seguida. Coloco minha túnica, confeccionada especialmente para o dia de hoje. Ela é em um tom dourado e possui alguns fios de ouro bordado à mão. Passo minhas mãos sobre o tecido, sentindo a maciez dele e isso me faz sorrir.

Ergo meu rosto e encontro meu reflexo no espelho. Coloco uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha, sentindo a ponta pontuda em meus dedos. Solto um suspiro e fixo em meus olhos, que nem de longe contém o mesmo brilho no azul de sempre.

- O senhor está lindo, Alteza. - Ivy diz ao meu lado e sorrio pequeno para ela.

Ivy é uma das criadas mais antigas desse castelo e cuida de mim desde que eu era um bebê, então eu tenho um carinho muito grande por ela, apesar do meu pai ser totalmente contra ter alguma amizade com os nossos criados.

- Obrigado Ivy! Pode me ajudar com meu cabelo? - Pergunto e ela somente assente.

Me sento em frente à penteadeira e então Ivy começa a fazer um penteado em meus cabelos. E poucos minutos depois, tenho uma trança lateral, adornada por pequenas flores brancas, que possui um brilho diferente em cada uma delas.

Escuto uma batida na porta do meu quarto e depois de um "entre", vejo meu pai Vlad entrando em meu quarto. Ivy é rápida em fazer uma referência ao meu pai e sair logo em seguida.
Me levanto e me viro de frente para ele, em sinal de respeito. Meu pai me observa por alguns segundos em silêncio e eu não ouso dizer nada.

- Você está lindo. - Ele me elogia e me sinto até estranho com isso, pois ele não é de tantos elogios.

- Obrigado pai. - Agradeço com sinceridade.

- Quero te pedir desculpas por toda a pressão que venho colocando em você. Eu só quero o melhor para você e com isso, que você seja um bom rei quando precisar assumir. - Ele diz e se aproxima de mim. - Eu te amo, filho e sei que você é capaz de tudo.

Fico surpreso com sua declaração, pois meu pai não é daqueles que demonstram seus sentimentos, apesar de não ser alguém ruim, ele só não sabe.

- Eu também te amo, pai! Obrigado pela confiança. - Sorrio e então de surpresa, ele me abraça apertado.

E por alguma razão, esse abraço é diferente de todos que eu já recebi em minha vida.

- Vamos? Seus futuros súditos estão lhe esperando. - Ele diz quando se afasta e eu concordo.

Saio do meu quarto com meu braço entrelaçado ao do meu pai e dessa maneira, eu me sinto mais confiante com tudo o que está por vir. Ainda me sinto um pouco nervoso, mas respiro fundo e coloco um sorriso no rosto.

Assim que chegamos ao topo da escada do salão principal, que está perfeitamente decorado com muitas flores e tecidos dourados, meu pai sorri para mim e então me deixa sozinho. Ele desce primeiro e após alguns segundos, o porta-voz anuncia a minha chegada.

- Príncipe Jehan I, herdeiro do trono de Bellario. - Sinto meu coração bater acelerado em meu peito, mas ignoro isso e começo a descer os degraus com calma, tendo vários pares de olhos sobre mim.

Ouço as palmas de todos, me recebendo calorosamente, mas sei que muitos aqui não estão felizes com esse momento. Mantenho minha cabeça erguida e caminho em passos confiantes até o altar onde fica disposto os três tronos. Subo os pequenos degraus e me coloco ao lado direito do meu pai. O Rei somente levanta sua mão e qualquer som é interrompido ao nosso redor.

- Estamos aqui essa noite, para celebrar a maioridade do meu filho e único herdeiro. Hoje é o dia em que fica marcado o direito de Jehan Larkin futuramente subir ao trono. A lealdade de vocês agora também se deve a ele, que em breve se tornará o novo rei de toda Bellario. - Assim que meu pai termina de falar, vários gritos são ouvidos pelo salão.

Passo por uma breve cerimônia, em que nosso ancião faz uma antiga oração do nosso povo e então recebo uma nova coroa, toda feita em ouro no formato de galhos e flores, que me marca como o legítimo herdeiro do trono.

* * *

Ouço a voz inconfundível de Hovan Hovyn, uma das melhores cantoras de todo o Reino, e desço do pequeno altar, me embrenhando no meio das pessoas. Mas mal dou alguns passos e sou parado por um homem e uma mulher, que eu não conheço.

- Parabéns pela festa, está linda. - O homem diz, mas apesar do sorriso em seu rosto, não sinto verdade em suas palavras.

O homem parece estar doente, já que sua aparência não está muito saudável e ele se encontra em uma cadeira com rodas. E apesar dele e a mulher usarem coroas mais discretas na cabeça, eu não consigo identificar qual família eles pertencem.

- Obrigado, senhor...

- Pensei que me conhecesse jovem Jehan, mas tudo bem. - Ele sorri e estende sua mão para mim. - Sou Guiscard Redthorn, Rei de Ayllan.

Minha primeira intenção é abrir a boca em choque, por estar conhecendo o maior inimigo do nosso reino, mas guardo isso para mim e sorrio, estendendo minha mão de volta a ele.

- É um prazer o conhecer, Vossa Majestade. - Faço uma breve reverência e olho para a mulher ao seu lado. - Seu vestido está estonteante, Majestade.

- Não mais que o seu, querido. - Ela sorri e quase reviro meus olhos. Isso não é um vestido, é uma túnica! Mas tenho que concordar, é mais bonito que o dela mesmo.

- Se me dão licença, preciso cumprimentar outras pessoas. - Falo e recebo um aceno dos dois.

Respiro de certa forma mais aliviado e então me afasto deles. Vejo meus pais também sendo diplomáticos com outros nobres e faço minha parte, já que devo começar buscar por novas alianças desde agora.

- Meu querido sobrinho, venha tomar um vinho com seu tio e o lorde de Thenar. - Sou novamente parado, mas dessa vez por meu tio Milosh, irmão do meu pai Vlad.

- Não sou muito de beber, tio. - Sorrio para ele e cumprimento o lorde de Thenar com um aperto de mão.

- Mas esse vinho você deve provar, veio direto de Rafanapolis... É o melhor da região. - Ele insiste e isso me faz aceitar, somente para me ver livre dele.

Eu sei que Milosh não gosta de mim, na verdade, ele odeia a ideia de que meu pai me escolheu para o substituir e não ele. Meu tio não passa de um homem invejoso, que seria capaz de tudo para conseguir o que quer.

Aceito a taça de vinho que ele me estende e entre alguns goles, tenho uma conversa produtiva com lorde de Thenar, dono de terras bem produtivas em nosso reino. Em certo momento, me despeço deles, pois me sinto um pouco tonto pela bebida.

Minha visão fica um pouco turva e tudo ao meu redor parece girar. A música entra cada vez mais alta em meus ouvidos e isso me faz dar passos vacilantes para longe. Não sei exatamente para onde meu corpo me leva, mas tenho que parar em um corredor escuro quando meu estômago revira e segundos depois estou jogando tudo para fora.

Sinto o gosto amargo de vômito em minha boca e isso me faz resmungar. Aos poucos eu me sinto voltando ao normal, mas sinto como se estivesse a horas no mesmo lugar. Não escuto mais o barulho da festa e isso me faz estranhar. Limpo minha boca e sigo de volta para o salão principal, mas não há mais ninguém ali a não ser os criados.

- Mas o quê? - Sussurro para mim mesmo e então subo às escadas correndo, querendo achar um dos meus pais.

Mas antes que eu possa ir até o corredor onde ficam localizados os quartos, sinto algo estranho. Mudo meu caminho e sigo até a biblioteca que fica nesse andar, sentindo que algo não está como deveria. E assim que meus pés param na porta aberta do cômodo, sinto como se uma faca fosse cravada em meu peito.

Bem ali no chão, diante os meus olhos, está o corpo sem qualquer resquício de vida do meu pai Vlad.

༺═──────────────═༻

Olá jujubas!! E aqui está o começo da nossa nova história. O que acharam???? Quem será que matou o Rei Vlad???

Ps: Vocês gostam de capítulos grandes?? A minha meta e do Rocco era apenas 2k de palavras, mas escrevemos quase 5k. Então nos digam se estão gostando assim.

Bjus da Juh, até a próxima 😘😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top