Capítulo Três - Parte 1 ⚔
Elric Redthorn
A grande batalha foi marcada para o alvorecer, como o mensageiro feérico disse para Ruvier. Mesmo faltando algumas horas para o raiar do sol, já estamos posicionados onde o exército começará a marchar.
Na nossa frente é possível ver as Montanhas Elteror a se perder de vista no horizonte. O vento frio sopra contra todo mundo, e o céu está estrelado... amanhã, esse seu lamacento estará encharcado com o sangue negro dos feéricos. Essa não vai ser a minha última batalha, será apenas a minha primeira vitória.
Respiro fundo, dou meia volta e entro novamente dentro da minha tenda pessoal. Mack está atirado sobre a cama que foi montada para mim. Ele está sentado amolado o gume de uma de suas adagas que carrega no coldre.
— Nervoso? — pergunta ele.
— Sim. — respondo. — Na verdade, nervoso não, estou mais para ansioso. E você?
— Tenho que pensar que é apenas uma batalha, não no que tudo isso envolve que eu vou com a cabeça mais limpa, além do mais, eu como um dos generais do exército humano, tenho que transmitir confiança para os soldados que me seguem. Se eu demonstrar algum medo ou receio em lutar ao alvorecer, eles também terão e a batalha irá de mal a pior e no final os malditos feéricos marcharão em direção a Forte Redthorn e depois disso só o inferno.
Concordo com ele. Mack tem razão, eu deveria estar me concentrando para não demonstrar esses tipos de sentimentos, afinal, eu sou o futuro rei. Todos sabem que sou forte, que sou um dos melhores no combate corpo a corpo. E agora, eu estou aqui, com todo o exército humano ao meu redor mergulhando contra o exército dos feéricos.
— Alguma novidade dos devotos do Deus Negro e do Deus Velho? — pergunto.
Mack meneia com a cabeça.
— Boas e más notícias. — responde ele.
— Conte-me. — peço.
— Os filhos do Deus Negro chegaram como pedido, já os do Deus Velho, a carroça enguiçou e eles demorarão mais meio-dia para chegar até aqui, na Montanhas Elteror.
Bufo... antes mesmo da batalha já começam as notícias ruins. Não posso depender somente da magia desses magos. Os humanos sempre tiveram um pé atrás com a magia, mas tenho que confessar que ela seria uma ótima ajuda nessa batalha, afinal, os feéricos exalam magia, soltam magia... eles são pura magia.
— Mack... — digo.
— Sim?
Olho para ele que me olha curioso.
— O que foi? — ele pergunta enquanto eu ainda não falo.
As coisas rolam solta na minha cabeça antes deu dizer:
— Acha que consigo invadir a tenda do novo rei feérico? — pergunto.
Ele se espanta com o que eu digo.
— Elric, isso...
— Mack. — interrompo. — Acha que consigo?
— Bem... — ele meneia com a cabeça. — As audições dos feéricos são muito aguçadas, você teria que ser muitas vezes mais silencioso do que é agora. E... ir sozinho é suicida, mas ir com muitos soldados pode chamar atenção. Espero que não esteja pensando em fazer isso...
— Bem... — sorrio.
— Elric...
— Você iria comigo? — pergunto.
— Precisamos ver primeiro com o resto dos lordes e ladies. — responde Mack. — Porque podemos acabar começando a guerra antes do período e olhe para os soldados ao nosso redor, eles estão terminando de se prepararem para a batalha de amanhã.
— Mack, eu sou o rei. — respondo. — Não quero tirania, mas eu não preciso do conselho para fazer isso. É uma tarefa simples, invadir a tenda real feérica, cortar o pescoço do rei feérico e voltar. Ao amanhecer, a guerra terminará sem nenhum soldado humano morto.
— Acontece que a tenda real sempre é a mais vigiada. — responde Mack. — Você precisaria de um soldado muito silencioso, com práticas de espionagem...
— Certo. — digo. — Então, essa missão será eu, você e... aquela sua amiga, da armadura carmesim, ela veio?
— A Hailin? — pergunta Mack. — Espera... — ele sorri. — Você se lembra mesmo das coisas...
Hailin Gughain, uma soldada dos Grandes Campos Nevados, assim como de onde ela vem, seu sangue é frio e é boa em sussurrar segredos sem ser vista.
— Bom... então será nós três. — respondo. — Te encontro daqui um quarto de hora perto do estábulo. Sei que não poderemos ir com os cavalos, mas precisamos de um ponto de encontro longe da minha torre, sei que a Lady Hathalem sempre anda desconfiada com todos os passos que eu estou dando como rei nessa batalha.
— Foda-se Lady Hathalem. — diz Mack ficando de pé. — Te encontro no estábulo daqui a pouco com a Hailin.
Assinto e Mack coloca a mão no meu ombro antes de sair da tenda. Olho para a minha armadura no manequim ao lado da cama... mesmo que eu queria coloca-la para ter maior proteção, ela irá fazer muito barulho enquanto andarei pelas sombras do acampamento feérico. Em vez disso, pego minha capa preta e jogo por cima do gibão que eu uso.
Como combinado, um quarto de hora depois, Hailin e Mack estão no estábulo me esperando. Ambos usam também capas.
— Vossa Alteza. — Hailin faz a reverência e depois sorri na minha direção. — Se eu não tiver uma promoção depois de hoje, eu ficarei muito puta.
Sorrio.
— Tudo será bem recompensado, Hailin. — respondo. — Vamos nessa?
Eles assentem e corremos em direção aos pinheiros que fazem um pequeno bosque ao decorrer das Montanhas Elteror, ele será o nosso atalho para fugir das flechas envenenadas feéricas.
* * *
Já faz uns dez minutos que andamos pelo bosque, acabamos de passar por metade do campo de batalha. Hailin, Mack e eu não abrimos a boca em nenhum momento, conversamos através de sinais e gestos e assim nos entendemos. O único barulho são o dos animais silvestres, pois as folhas úmidas amortecem nossa pisada no meio do bosque.
Mais dez minutos depois e as primeiras tochas do lado feérico começam a aparecer. Ainda no meio dos pinheiros, Hailin, Mack e eu nos posicionamos atrás dos troncos e olhamos em direção ao exército mágico deles.
Vejo algumas tendas brancas e poucos soldados caminhando entre elas. Barulho de cavalos, olho em uma direção e vejo equinos alados, os cavalos de asas dos arqueiros feéricos. Certo... aqui temos as coisas que ouvíamos nas histórias para dormir quando pequeno.
Daqui também é possível ver o topo de uma tenda maior. A tenda real. Tem algumas dúzias de tendas no caminho, mas se a maioria dos soldados também estiver descansando e tiverem poucos no meio do caminho, vai ser moleza conseguir chegar na tenda do rei feérico e cortar a garganta dele.
Faço sinal para Mack e Hailin de prosseguirmos e eles assentem. Assim que saímos do meio dos pinheiros, temos que ter os sentidos mais apurados do que nunca. Olho para frente enquanto Mack e Hailin olham para os lados e para trás.
Passamos por quatro tendas e não encontramos nenhum guerreiro feérico. Seja o que for que tiver acontecendo, que continue dessa maneira. Amém.
Quando dou mais um passo na lama, o barulho de armadura e vejo na minha frente um soldado feérico em uma túnica branca segurando um lampião. Ele se assusta com nós três e a mão abre deixando o lampião cair na poça de água. A luz do fogo de dentro se apaga e ele vai correr, mas a adaga de Mack voa mais rápido e acerta a nuca do feérico que cai no chão.
Enquanto Hailin e eu olhamos ao redor para ver se encontramos mais algum guerreiro perdido, Mack termina o serviço. Quando o meu general se levanta e assente dizendo para continuarmos, ele arrasta o corpo do feérico até um canto que não fique no meio do caminho de outro soldado que passar por aqui e continuamos nossa caminhada até a tenda principal em busca do novo rei feérico.
O silêncio no acampamento é o que me dá aflição e quanto mais nos aproximamos da tenda real, mais silencioso o lugar fica. Olho para Hailin e Mack e assinto, hora de continuar, mas quando damos os últimos passos que nos separam da tenda real, dois soldados feéricos com lanças vêm rindo de uma direção. Olho para Hailin e Mack que entendem que esses dois são deles.
Enquanto meu melhor amigo e minha melhor sorrateira partem para uma batalha silenciosa, corro em direção a entrada da tenda e passo pelas cortinas brancas devagar e... pronto, estou dentro. Olho para dentro e vejo um quarto com cama maior que o meu, com tapeçarias raras e muitas coisas em ouro e prata. Não posso me distrair com a mobília feérica. O que me interessa é o cara parado no meio da tenda, que está penteando os cabelos com uma escova de ouro.
Devagar tiro a adaga afiada do meu coldre e vou dando passos devagar e devagar...
— Eu sei que você está aí. — diz ele parando de mexer no cabelo.
Então, o novo rei de Bellario, o Rei Jehan Larkin se vira na minha direção. E é nesse momento que sinto uma onda, mas a onda é interrompida quando a escova de ouro voa na minha direção. Me abaixo a tempo, quando olho para trás a vejo encravada contra uma das colunas de madeira que deixam a tenda em pé.
— Quem é você? — pergunta ele quando me levanto de novo.
— Príncipe Elric. — respondo e corro em sua direção.
Mas quando meu corpo se aproxima do seu, um cheiro diferente invade meu nariz e a vontade que eu tenho de mata-lo diminui, e é nesse momento de distração que não percebo o que acontece, até quando estou caído em cima dele e nossos olhares estão próximos um do outro.
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Jehan Larkin
Entro na tenda montada para mim e sinto meu coração acelerado em meu peito. Confesso que estar nesse lugar, rodeado por soldados, me causa certo medo. Eu nunca fui treinado para ser um soldado, não faço a mínima ideia de como se luta com alguém... Minha salvação é a magia, com ela eu sou imbatível.
Respiro fundo e olho ao meu redor, vendo o luxo do lugar, o que eu acho desnecessário, mas sou o rei. Aperto minhas mãos e fecho meus olhos por um momento.
Essa guerra vale mesmo a pena?
Meu subconsciente parece sussurrar, mas então a imagem do meu pai morto diante os meus olhos voltam a minha cabeça e tenho minha resposta. Para vingar a morte dele tudo vale a pena.
Escuto passos e ao me virar, vejo Blazh entrando na minha tenda. Ele está completamente trajado em sua armadura e possui uma espada em sua bainha. Apesar de possuir magia, nem todos os feéricos a sabem usar. Por isso todos os soldados do Reino são treinados de forma intensa, tendo como base o combate e força de seus próprios punhos, aprendendo explorar suas habilidades com armas.
- Blackjack já está pronto caso precise. - Meu amigo diz, se referindo ao meu Pégaso.
- Tudo bem, obrigado! - Falo e começo a andar pela tenda, observando cada detalhe. - Blazh? - Chamo por ele.
- Sim? - Ele pergunta e se aproxima de mim.
- Reforce a guarda e deixe todos de prontidão, algo me diz que receberemos uma visita. - Falo e vejo confusão em seu rosto.
- O que quer dizer? - Ele pergunta, me olhando profundamente.
- Elric virá atrás de mim. Quero que o deixem chegar até mim. - Falo e ganho um olhar surpreso e incrédulo.
- Está louco, Jehan? Ele vai te matar! - Ele diz alterado e levanto minha mão, em um pedido para ele se conter.
- Não se eu o matar primeiro. Lembre-se, sou um ótimo dominador dos quatro elementos. - Falo e ele me olha por mais alguns segundos e assente.
- Tudo bem, mas eu estarei ao seu lado... Mesmo escondido. Não deixarei que ele toque em você. - Ele diz sério e isso me faz sorrir.
Me aproximo ainda mais dele e o abraço apertado. Blazh é a única pessoa que poderá me manter são nessa guerra.
* * *
Meus olhos estão fixos nos seus castanhos e sinto como se todo o ar do mundo estivesse sumido. Meu corpo inteiro formiga ao ter ele sobre mim e não consigo entender o que acontece, até que então vem o choque.
Fecho meus olhos e é como se eu pudesse ver nossas vidas conectadas... Porque elas estão.
- Não! - Sussurro ao encontrar minha voz e vejo a mesma surpresa no olhar dele.
É como se um imã gigante me puxasse para ele e então eu entendo.
Eu acabei de encontrar minha alma gêmea, a pessoa com quem minha alma está entrelaçada. Mas há um fato em meio a tudo isso... Nós estamos em guerra e seu pai matou o meu.
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Olá jujubas!! Primeiramente, Rafa e eu pedimos desculpas pela demora.
Mas e aí??? O que acharam??? Será que a guerra continua???
Bjus da Juh, até a próxima 😘😘
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