Capítulo Oito - Parte 1 ⚔
Elric Redthorn
Não vejo nada ao meu redor a não ser a escuridão... existe algum foco de luz em cima de mim que apenas me ilumina. Olho em todas as direções ao meu redor e só tem uma certeza, não existe nada aqui a não ser eu.
— Olá! — grito e minha voz grave ecoa infinitamente até perder volume perto de mim.
Olho para o chão enquanto caminho, procurando uma saída de onde quer que eu esteja e vejo uma fina camada de água no chão... chão esse que parece ser feito do granito mais escuro. Caminho rápido. Não sinto calor, nem frio. O gibão que eu uso é escuro também, mas novo.
— Elric...
A voz não vem daqui, mas eu a reconheço.
— Jehan? — pergunto olhando ao redor.
— Não se desespere. — diz ele e está na minha cabeça.
— Onde eu estou? — pergunto.
— Na sua cabeça. — responde, e quando me viro o vejo em outro foco de luz, há uns dois metros de mim. Ele usa uma de suas túnicas feéricas, essa em tons de cinzas claros até o branco mais branco.
— Como eu saio daqui? — pergunto, indo em sua direção, mas parece que ele se afasta, sem se mexer... que... estranho.
— Eu estou indo te encontrar.
— Como eu saio daqui? — eu retorno a perguntar.
— Eu estou indo te encontrar. — responde ele mais uma vez e o foco de luz em cima de sua cabeça se apaga.
— JEHAN! — grito e o eco é mais alto dessa forma.
Como assim estou na minha cabeça?
— Filho?
Olho por cima do ombro e a escuridão dá lugar ao pátio do castelo. Olho ao redor vendo um dia ensolarado em Forte Redthorn. Pássaros cantando, a música de um alaúde ao longe e risadas de crianças. Olho para a mulher que está de braços abertos perto de algumas roseiras.
— Filho. — ela repete.
— Mãe... — caminho até ela, e dessa vez ninguém se afasta.
A abraço forte, sentindo seu cheiro de rosas. Seus braços quentinhos me envolvem.
— Eu sinto sua falta. — digo.
— Eu estou aqui agora. — diz ela. — Porque eu sinto dúvidas em seu coração, meu querido?
— Eu... — solto um suspiro.
— O que foi, Elric? — pergunta pegando meu rosto com as duas mãos na bochecha e me encarnado.
— Eu não sei se o que eu estou fazendo é certo. — digo.
— O que não é certo?
— Se a senhora está na minha cabeça sabe da predestinação e de Jehan Larkin. — respondo.
Ela assente com um sorriso de canto de lábio.
— Porque você acha que isso não é certo? — pergunta.
— Eu... eu não sei.
— Não seja burro, Elric, você é meu filho e se eu tenho uma certeza é que isso não é errado. — diz ela. — Se esse é o seu destino, viva-o. Não se prenda a padrões ou costumes para satisfazer alguém que tenha medo. Viva o seu destino.
— Mas...
— Eu fui bem clara, Elric, não tem “mas” nessa história. — ela sorri. — Eu te amo, você sabe disso.
— Eu te amo também. — digo.
Ela me dá outro abraço.
— Hora de sonhar querido...
— Eu já não estava...
— Shhh. — ela sorri e me dá um beijo na bochecha, fecho meus olhos e não me lembro de mais nada, até que...
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Jehan Larkin
Tenho tempo apenas de calçar meus sapatos, então saio correndo porta à fora, em direção aos aposentos de Blazh. Corro sem pensar em nada mais que não seja salvar Elric das mãos daquele sádico que ele chama de pai. Eu ainda me sinto desnorteado com tudo o que eu vi e não consigo acreditar que o próprio pai foi capaz de uma barbaridade tão grande com o próprio filho.
Mas mantenho esses pensamentos fora da minha cabeça por enquanto e fico aliviado ao chegar na ala dos soldados do Castelo. Ando apressado até a porta no final do corredor e deixo algumas batidas na mesma quando fico de frente para ela. Me sinto nervoso e ansioso com tudo o que está acontecendo, então cada segundo que se passa aumenta ainda mais a minha angústia.
Tenho certeza de que Blazh já deve estar dormindo, mas continuo quase socando sua porta, até que ela se abre de uma vez e a imagem do meu amigo se faz presente diante os meus olhos. Ele já se encontra em seus trajes de dormir e tem sua expressão configurada em sono e eu até sinto dó, mas o assunto é mais urgente.
- Preciso da sua ajuda! Elric foi preso pelo próprio pai e eu preciso salvá-lo. - Falo apressado e vejo ele tomando consciência aos poucos.
- O quê? Está louco, Jehan? Aquilo é território inimigo, eles estão louco para te matar. - Ele diz sério e noto a preocupação em sua voz.
- Eu sei, Blazh, mas não posso deixar meu predestinado lá sozinho, sendo torturado pelo próprio pai. - Falo e vejo surpresa em seu olhar.
- Porra, sabia que Guiscard era ruim, mas não tanto. - Ele diz e solta um suspiro. - Espero que tenha um bom plano. - Blazh aponta seu dedo indicador para mim e fecha a porta em seguida.
Abro um sorriso mínimo, pois sei que meu amigo está comigo nessa.
Respiro fundo e prendo meus cabelos em um coque, assim como em um estalar de dedos minha túnica longa some e dá lugar a uma calça um pouco apertada e uma bata que bate em minhas coxas.
Dois minutos depois a porta do quarto de Blazh se abre e então nós saímos correndo até à saída do Palácio.
Blackjack já está me esperando na entrada do Palácio, assim como o Pégaso de Blazh. E em poucos segundos nós estamos levantando vôo, seguindo até o reino de Ayllan.
Nosso trajeto demora alguns bons minutos e aproveito esse tempo para dizer meu plano improvisado a Blazh. Pelo que identifiquei na minha visão, há janelas na prisão em que Elric está, então será por essas janelas que vamos entrar.
Assim que avisto Forte Redthorn, uso um feitiço, que aprendi ainda criança, que nos torna invisíveis. E assim que nossos Pégasos tocam o chão, na parte de trás do castelo, eu uso minha conexão com Elric para poder o sentir.
- Esse lugar é enorme. - Blazh sussurra ao meu lado e aceno positivamente para ele.
Fecho meus olhos por alguns segundos e mentalizo Elric em minha cabeça. E em questão de segundos eu posso avistar onde ele está.
- Vamos! - Falo e pego na mão de Blazh, o puxando comigo.
Passamos pelo Palácio imponente da família real e seguimos até as construções mais ao fim do grande terreno. Paro quando vejo a construção de pedras e vários guardas guardando sua entrada. Sei que Elric está no subsolo, então nós damos a volta pelo lugar, tentando achar onde estão as benditas janelas.
E quando encontro as pequenas aberturas, solto um suspiro de alívio. Respiro fundo e me viro em direção a Blazh.
- Preciso que distraia os guardas, você ainda vai estar sobre o meu encantamento, mas saiba que isso só vai durar mais uns quinze minutos. Eu vou entrar e pegar Elric, nos encontramos onde os nossos Pégasos estão. - Explico e vejo ele fazer uma careta.
- Você é o rei, Jehan... Eu não posso te deixar desprotegido. - Ele retruca e reviro meus olhos.
- Eu sei me defender, amigo. - Sorrio para ele e abro a palma da minha mão esquerda, de onde sai uma labareda de fogo.
Blazh me olha por mais alguns segundos, até se dar por satisfeito e ir fazer o que mandei.
Observo as pequenas janelas e suspiro ao ver as grades de ferro nelas. Me abaixo no chão, já que elas estão em um nível mais abaixo e coloco minhas mãos nas barras de ferro, deixando a magia fluir. Aos poucos o ferro vai se tornando mais maleável por causa do calor e com pouco força eu os entorto, deixando um espaço ideal para que eu possa passar.
Passo pela janela e segundos depois meus pés tocam o chão. Olho pelo corredor parcialmente escuro e fico feliz ao não ver nenhum guarda. Ando em passos lentos para dentro, até chegar em uma sala mais ampla, contendo três celas e em uma delas eu consigo avistar meu Elric. Ele ainda está desmaiado e meu coração se aperta ao ver os machucados em seu corpo nu.
Sinto a raiva crescer dentro de mim e então desvio meus olhos para o único guarda no local. O homem de armadura está quase cochilando e isso quase me faz rir pela falta de preparo desses homens.
Escolho um pouco de diversão e com apenas um chacoalhar de mãos, fogo começa a queimar ao seu redor. Ouço o grito de desespero do homem, que não consegue sair do círculo de fogo e isso me faz rir.
Deixo o guarda se divertindo e sigo apressado até à cela onde Elric está. A porta da cela está aberta, o que facilita meu trabalho, então apenas entro e me foco em soltar ele. Passo um dos meus braços ao redor do corpo dele e solto suas mãos, deixando eu todo seu peso fique sobre mim. Consigo o deitar no chão e movendo minhas mãos sobre ele, uma muda de roupa é colocada em seu corpo nu.
- Elric! Por favor, acorde. - Peço com desespero, pois seu rosto está tão pálido.
Ele ainda continua imóvel, o que faz meu despesero crescer ainda mais e os gritos do guarda também não me ajudam.
- Amor, por favor! - Imploro mais uma vez, ao que eu ouço outras vozes ficando mais próximas.
Sinto meus olhos arderem e uma lágrima acaba se derramando de meus olhos, caindo diretamente no rosto de Elric, que está em minhas mãos. E como um milagre, seus olhos vão se abrindo lentamente, o que me faz respirar em alívio. Sorrio e minha vontade é beijoá-lo, mas me controlo, pois devemos estar longe daqui primeiro.
- Finalmente. - Falo aliviado.
- Eu... Eu estou sonhando? - Elric pergunta confuso e isso me faz rir.
- Claro que não. - Respondo.
- E o que...
- Vamos, temos que ir agora! - Interrompo sua fala e me levanto. - Aguenta andar? - Pergunto e vejo ele fazer uma careta ao se sentar.
- Sim, aguento. - Ele diz firme e isso me faz sorrir.
Ajudo Elric a se colocar de pé e então saímos da cela. Ainda vejo o guarda desesperado, lutando contra o fogo que não lhe queima de verdade. Vejo o olhar assustado de Elric sobre o homem e quase solto uma risada.
- Ele está bem, o fogo é mais uma ilusão... Não o está queimando de verdade. - Explico e ando apressado com ele.
Elric não me responde, parece absorto em seu próprio mundo e resolvo o deixar assim. Chegamos até à janela onde entrei e peço para ele ir primeiro, o que é um pouco difícil por ele ser maior que eu, mas consegue. E assim que nós dois já estamos do lado de fora, eu pego em sua mão e saímos correndo.
Vejo Blazh lutando com dois soldados humanos e grito pelo meu amigo. Ele acena e então um tremor começa a ser sentido e os homens que estavam lutando com ele vão ao chão. Blazh corre em nossa direção e nós também continuamos correndo até o lugar em que combinamos.
Ouço os gritos de alguns homens e sei que mais soldados estão chegando para nós impedir. Elric acaba caindo no meio do caminho, o que nos faz perder um pouco de tempo e os soldados quase nos alcança.
Sem pensar muito, lanço um feitiço de fogo sobre eles, o que os impede de continuar nos seguindo. Ajudo Elric a se levantar e logo chegamos onde blackjack está. Monto em meu Pégaso e ajudo Elric a fazer o mesmo, levantando vôo em seguida. Blazh faz o mesmo e logo nós estamos seguindo para longe, só deixando uma lembrança para trás.
* * *
Agradeço Blazh assim que chegamos em Bellario e ajudo Elric a subir comigo até meu quarto. Assim que entramos em meus aposentos, o ajudo a deitar em minha cama e ouço ele gemer de dor. Tiro a parte de cima de sua roupa e só agora eu consigo reparar com clareza seus machucados... E eles estão feios.
- Você foi lá apenas por mim? - Sua pergunta me faz parar e olhar em seus olhos.
Vejo confusão neles, assim como sentimentos também desconhecidos e sorrio pequeno.
- Eu sempre irei atrás de você, seja onde for. - Respondo sincero, pois essa é a verdade.
- Obrigado por me salvar. - Ele diz baixo.
Não o respondo, mas fico feliz em receber seu agradecimento, mesmo que não seja necessário. Elric é minha alma gêmea e eu sempre vou estar pronto para o salvar, seja em que situação for.
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Olá jujubas!! Mais um capítulo para vocês... O que acharam???
Ps: Estamos chegando ao fim da primeira parte, preparem os corações.
Bjus da Juh, até a próxima 😘😘
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