Capítulo Dois - Parte 1 ⚔

Elric Redthorn

— Essa não é a melhor ideia que meu pai teve. — digo quando Mack joga o gibão carmesim na minha direção.

Gibão esse que tem uns detalhes como se o caule da roseira com seus espinhos crescessem dourados por todo o tecido.

— É para distrair os lordes e ladies que chegaram. — responde Mack que já está vestido com a roupa para o Baile Pré-Guerra que meu pai e minha madrasta estão organizando após todos os senhores e senhoras do reino de Ayllan chegarem em Forte Redthorn.

— Eu sei... — respondo e caminho em direção a sacada e olho para a capital e para os postes que estão sendo acesos pelos fogareiros e antecede a noite. — E sei que enquanto estivermos dentro do castelo, os soldados na muralha estarão amolando os gumes das espadas e alimentando os cavalos.

Mack se levanta da minha cama e caminha até o meu lado na sacada, sinto sua mão no meu ombro enquanto nós dois olhos para as luzes que lembram vagalumes.

— Para de ser esse carinha chato, Elric. — diz ele. — Você estava mais legal antes da guerra, meu príncipe.

— Você deveria estar mais preocupado do que eu, Mack. — respondo. — Afinal você é um dos generais mor do Exército Real de Ayllan.

Mack meneia com a cabeça e vejo um sorrisinho nervoso em sua cara.

— E estou. — responde ele. — Mas essa noite estou atendendo a um pedido do Rei Guiscard que é representar a guarda nesse baile.

— Aham. — digo. — Enfim, se não temos opção, vamos festejar enquanto a guerra se aproxima as nossas muralhas.

* * *

— Bote um sorriso na cara, meu irmão. — diz Lyuben com um sorrisinho zombeteiro enquanto passa por mim.

Seu vestido roxo escuro balança por onde ela anda, os cabelos soltos em cascata e a pele do rosto com um pó que a deixa corada. Enquanto ela caminha pelo meio do salão até o trono, os olhares dos homens do reino recaem sobre ela antes deles fazerem a reverência a realeza.

Limpo minha garganta e aceito o seu conselho, colocando um sorriso na minha cara. Logo Mack chega ao meu lado, parece animado e decepcionado ao mesmo tempo.

— Droga, perdi a entrada da princesa. — diz ele.

— Mack... — murmuro, mas parece que o toque do alaúde dentro do salão é mais alto do que minha voz, mas Mack entende.

— Tudo bem, eu já sei, já sei. — responde ele enquanto nós dois avançamos pelo meio do salão. — Lyuben não é pra mim e tenho que me contentar com isso.

Algumas reverências e nós dois chegamos aos tronos, onde meu pai está sentado no mais alto, ele usa um gibão dourado com as golas em pele de lobo, a coroa dourada parece lustrada no topo dos seus cabelos grisalhos, o que dá um pouco de vida para o seu rosto anémico, ao seu lado em um trono menor está minha madrasta, Rainha Ljuban em seu vestido dourado, os cabelos presos em uma trança única caída para trás e a coroa brilhando em cima de sua cabeça. Lyuben está sentada ao lado de sua mãe. Me sento ao lado do meu pai em um trono do mesmo tamanho que o da minha madrasta e o da minha irmã.

— Você está atrasado. — sussurra meu pai, mas sinto que ele está brincando comigo.

Mesmo assim, apenas assinto com o que ele diz e observo Mack sorrindo na minha direção enquanto ele se encosta em um pilar no meio do público a nossa frente e já vejo uma moça lhe entregando uma cornija com cerveja. As vezes queria ter menos obrigações rígidas como as que estou tendo nesse momento.

— Vossa Majestade. — escuto um dos súditos do meu pai surgindo do público. — Em homenagem ao senhor, Safyra de Armstroll preparou uma balada para o senhor.

— Ora, ora... da terra dos cantores. — diz meu pai. — Chame-a.

Uma moça de pele negra, longos cabelos prateados, magra e com olhos de uma cor acinzentada surge de trás do súdito que a anunciou.

— O que tem para mim, Safyra? — pergunta meu pai.

— Uma balada sobre a sua viagem a Armstroll quando foi ao circo, Vossa Majestade. — responde Safyra, a voz já melódica.

— Pois não perca temp... — começa meu pai, mas as portas duplas se abrem com força e todos os rostos se viram e observam Ruvier ofegante parado. — Acho que vai ter que ficar para uma outra hora, Safyra. Quem sabe no baile de pós-guerra.

— Claro, Vossa Majestade. — responde ela fazendo uma reverência com um sorriso no rosto e voltando para o lugar que estava antes.

Ruvier vem caminhando com a cabeça erguida em direção ao trono onde meu pai está sentado. Parece que ele tenta disfarçar que estava correndo. O salão fica em silêncio quando o mensageiro real fica o mais próximo do trono.

— Qual mensagem me traz, Ruvier? — pergunta meu pai, a voz ecoando pelo salão de trono que tem as bandeiras do reino caindo pelos pilares, as risadas de antes estão substituídas pelo silêncio de agora.

Ruvier engole em seco antes de responder:

— Eles estão vindo. — sua voz parece dizer a verdade que ninguém presente gostaria de ouvir, dizendo o motivo por qual essa festa começou. — Os feéricos estão marchando em direção a Ayllan, Vossa Alteza.

— Quão próximos estão? — pergunta meu pai.

— Meus meninos avistaram cavalos feéricos rondando perto do Rio Carhen, logo após as Montanhas Elteror. — Ruvier ofega. — E havia um clarão depois das montanhas, o exército feérico é gigantesco, Vossa Alteza.

O silêncio permanece no salão. Meu pai se vira na direção da minha madrasta e cochicha algo, depois ele estala o dedo e a cadeira com rodas se aproxima dele. Rainha Ljuban fica em pé e sorri:

— Atenção a todos. — sua voz ecoa plena. — Nesse momento a festa chega ao fim, logo pela manhã as reuniões começam, avisem a todos os soldados para organizar as coisas, partimos no último toque do relógio da manhã de amanhã.

— Elric. — meu pai me olha quando já está em cima da cadeira de rodas. — Preciso que venha comigo.

— Sim. — respondo me levantando do trono.

Lyuben some com a minha madrasta e meu pai é empurrado pelo soldado em direção a porta lateral a do Salão do Trono, ele espera nós dois saímos do salão para começar a acontecer.

— Essa é sua primeira batalha. — diz meu pai quando estamos sozinhos em um corredor. — E sei que não vai me decepcionar, você sempre treinou para que um momento como esse chegasse você tivesse a solução ideal. Comandando os generais de Ayllan sei que essa guerra já é nossa.

— Pai...

— Não me contrarie. — diz ele. — Eu sinto isso nos meus ossos, são os deuses me mostrando o caminho que essa batalha vai levar.

Abro a boca para contestar mais uma vez, mas ele já está mais a frente.

— Descanse, Elric, amanhã começa um longo dia. Um dia cheio de trabalho a fazer, afinal, você é o futuro rei. Hora de colocar em prática todo o seu aprendizado. — diz ele uma última vez antes de virar um corredor.

Faço o caminho de volta e chego no salão do trono, o encontrando com um terço de súditos do que tinha antes. Mack me espera na entrada do salão. Nos despedimos enquanto ele vai para o seu aposento e eu vou para o meu. Quando chego no meu quarto, as portas da sacada estão abertas e um vento frio entra por elas. Provavelmente o dia amanhecerá chovendo... e isso é um bom ou mau sinal?

* * *

Olho para a lama no meu pé na manhã seguinte. A chuva começou a cair forte no meio da madrugada e os relâmpagos quase não me deixaram dormir direito. O barulho de metal batendo vem de vários lugares e vejo a tenda grande logo a minha frente, uma tenda toda carmesim com a bandeira do reino abaixado pelo peso da água.

Estou com Hasiri fora das grandes muralhas da capital, e faz tempo que não faço isso. O exército se amontoa ao nosso redor, alguns em barracas, outros passam veneno na ponta das flechas ou continuam amolando os gumes das espadas. Alguns ainda treinam e outros estão dando feno para os cavalos. Sinto o cheiro de pólvora no ar... isso é um bom sinal.

— Majestade... — isso ecoa bastante enquanto me aproximo com meu cavalo perto da tenda.

Desmonto e um pajem vem logo pegar as rédeas de Hasiri. Agradeço com um sinal de cabeça e adentro a tenda. Do lado de dentro o calor humano é um pouco desconfortável. Sinto já um pouco de saudade do frescor da chuva do lado de fora. Enquanto caminho até a grande mesa redonda no meio da tenda com o mapa, algumas reverências são feitas na minha direção.

— Alteza. — é Lady Hathalem quem me cumprimenta primeiro.

— Bom dia. — respondo depois que a maioria me salda. — Em umas três horas levantaremos acampamento e seguiremos em direção as Montanhas Elteror. Gostaria de ouvir o que vocês já têm planejado.

Lorde Belchiar Daedan. Senhor de Armstroll é quem começa a me explicar o plano sobre o primeiro batalhão e sua importância para a batalha. Lady Hathalem me explica o que os arqueiros vão fazer e aonde ficarão no campo de batalha. E depois sucede os soldados, os adoradores do Deus Velho e do Deus Negro...

E a apreensão que antecede a batalha cresce dentro de mim.

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Jehan Larkin

Paro em frente à caverna antiga, protegida fortemente pelos soldados mais fortes do reino e com um aceno, minha entrada é liberada. Respiro fundo e sigo meu caminho para mais fundo da caverna. Aos poucos sinto que a atmosfera vai ficando diferente e me sinto melhor.

Em poucos minutos eu chego ao meu destino final e então estou de frente para a grande nascente de águas cristalinas e de poderes inimagináveis. O lugar é dentro da caverna que fica ao sul das terras do palácio. Há um grande carvalho no fundo da gruta e suas raízes estão submersas nas águas... Dizem que a mágica na água vem dele, mas eu não sei realmente. Só tenho noção de que esse é nosso bem mais precioso.

Me ajoelho em frente ao lago de águas transparentes, que me dá a visão de seu fundo cheio de pedras preciosas e solto um suspiro. Deixo minhas mãos entrar em contato com as águas e imediatamente sinto como se algo fosse curado dentro de mim, mas não sei o que exatamente.

Me sinto atordoado com isso e me levanto rapidamente. Dou uma última olhada pelo lugar e só peço em pensamento que a mãe Natureza nos abençoe em nossa luta, que começará em breve.

Enquanto sigo de volta para o palácio, me sinto um pouco desperso em relação a tudo ao meu redor. Já faz uma semana desde que eu me tornei rei e quase duas que meu pai se foi. E eu me sinto em um turbilhão de sentimentos com tudo isso acontecendo. Ainda mais agora que estamos prestes a ir para a guerra.

Pisco meus olhos algumas vezes quando o reflexo dos cristais no palácio atingem meus olhos e apresso meus passos até estar lá dentro. Vejo vários empregados passando por mim e todos eles me cumprimentam com educação, o que me faz sorrir levemente.

Sei que tenho uma reunião com o Conselho em alguns minutos e isso me deixa cada vez mais ansioso, já que agora eu sou o poder máximo desse reino.

Me sinto aliviado ao ver Blazh vindo pelos corredores do palácio, tendo sua expressão séria. Sei que isso não faz parte do decoro, mas quase corro até meu amigo e me jogo em seus braços. Ele não me questiona e nem diz nada, apenas me abraça de volta, como um irmão mais velho faria.

- Estou com medo, Blazh... Eu não sou um soldado. - Falo ao meu melhor amigo, abafando minha voz em seu pescoço.

Ouço ele suspirar e em seguida se afasta um pouco, para olhar em meus olhos.

- Sabe que acho sua decisão precipitada, mas não há mais como voltar atrás. Então meu amigo, levante a cabeça e vamos lutar. Você não é um soldado, mas eu te ensinei muitas coisas e você tem sua magia, assim como todos nós. Você também tem força, músculos e isso conta muito em um embate corpo a corpo. Só siga seus instintos. - Ele fala olhando em meus olhos e concordo com um aceno.

- Tudo bem. - Falo, me recompondo. - Vem comigo para a reunião? Temos estratégias para discutir.

Blazh prontamente concorda e seguimos lado a lado até à sala de reuniões. A porta é aberta para nós, assim que chegamos à poucos passos da mesma. Há uma grande mesa redonda no cômodo, contendo dez assentos, para comportar apenas as pessoas mais importantes e de nome desse reino.

Vejo meu pai ao lado do lugar que é destinado a mim e ao seu redor estão os outros membros do Conselho, todos nobres, vindos das famílias mais respeitadas do reino. E infelizmente entre essas pessoas, se encontra meu tio Milosh Larkin.

Sinto todos os olhares em mim enquanto sigo até meu lugar e faço um gesto para que Blazh também se sente, já que ele é parte importante aqui.

- Vamos partir no começo da noite para as Montanhas Elteror. - Falo assim que me sento, passando meu olhar por cada uma das pessoas presentes.

- Perdoe Majestade, mas isso não é loucura? - Lady Saerin Hamarkin pergunta, me fazendo sorrir.

- Suponho que não, Lady Saerin, já que soube por fontes seguras que esta noite haverá um baile no Reino de Ayllan. É nossa oportunidade perfeita para avançar. - Respondo. - Tão tolos! Comemoram por irem à guerra. - Desdenho.

- Concordo com o rei, eles estão desprevenidos agora... É nossa chance. - Milosh diz, me deixando surpreso por ele estar de acordo.

Mas o que eu esperava? Sei que ele está ansioso por isso.

- Qual é o plano, Majestade? - Senhor Lorian Tarmerien questiona, me olhando com igualdade.

- Vamos contar com quatro grupos de dominadores, terra, fogo, ar e água. Eles serão nossa carta na manga e não vão atacar até que seja necessário. Minha ordem é que coloquem magia nos instrumentos que forem usar, espadas, punhais, machados e o que for, isso nos dará ainda mais vantagem sobre eles. - Explico e cruzo minhas mãos. - Aqueles que quiserem se render, nós vamos acolher... Afinal, o objetivo é vingar a morte do meu pai e isso só será feito com a morte de Elric Redthorn. - Falo, mantendo a raiva controlada em minha voz.

Ninguém questiona minha fala e isso me deixa feliz, então dou a palavra a Blazh, para que ele possa expor suas estratégias de batalha, já que em questão de luta, ele é melhor.

Fico um pouco disperso pelo resto da reunião, apenas pensando na grande guerra que vem pela frente. Admito que estou com medo de tudo, mas nada me fará desistir de tudo. E eu sinto que eu devo estar nessa guerra, pois é ela que mudará minha vida para sempre.

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Olá jujubas! Está mais uma parte da nossa história. Próximo capítulo terá um encontro muito esperado.

E , quais as expectativas de vocês?

Bjus da Juh, até a próxima 😘😘

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