Capítulo Cinco - Parte 1 ⚔
Elric Redthorn
Forte Redthorn surge a nossa frente, azulada no crepúsculo enquanto todo o exército retorna para casa.
Meu novo cavalo me leva em direção ao grande portão na entrada, onde Mack, em Mangda ao meu lado, já assoprou uma corneta avisando que os soldados estão em casa, novamente. Ele me olha enquanto passamos pelo arco de pedra e os moradores da capital do reino de Ayllan olham para nós.
— O que vai fazer agora? — pergunta Mack. — A guerra continua ou ela acabou?
Olho para ele.
— Parece que acabou. — respondo e lembro de Jehan contendo todo o exército feérico e levando todos os seus guerreiros para o outro lado das Montanhas Elteror.
— Essa é a coisa mais bizarra que aconteceu. — continua Mack. — Fomos intimados para essa guerra com o seu pai, o nosso rei, sendo intimado por ter matado o rei feérico e agora tem essa paz surreal no ar.
— Não sinto paz no ar, Mack. — digo. — Eu sinto como se o ar estivesse preso na minha garganta e eu não soubesse o que fazer em seguida. Nada foi como planejamos...
Lembro de quando estive dentro da tenda de Jehan, de quando ficamos perto um do outro, de como minha respiração ficou mais contida e em como o meu coração bateu mais rápido, como se fosse estourar minha caixa torácica.
— Elric?
Balanço a minha cabeça e olho para Mack, nem notei que ele estava falando comigo.
— Sim, sim. — concordo.
— Você concorda com o que eu disse? — pergunta Mack.
— Perdão, Mack, eu estava em outro lugar, minha cabeça está doendo, podemos conversar esse assunto um outro momento, tudo bem?
Ele assente e bato as rédeas, me fazendo cavalgar mais rápido em direção ao castelo.
Quando caminho pelas portas duplas do castelo vejo meu pai parado em sua cadeira com rodas perto de um pilar, enquanto Ljuban está ao lado dele conversando com o cozinheiro do palácio.
— Elric! — meu pai me vê primeiro, mas em instantes os três me olham, o cozinheiro faz uma reverência, pede licença e se afasta. Meu pai me olha. — Já me contaram o que houve na batalha, meu filho.
— Eu não pude prever o que aconteceria. — respondo.
— Você fez o que todo Redthorn faria. — continua ele. — Ir fundo na batalha. Os feéricos quem foram covardes e bateram em retirada. Você honrou o seu sangue, Elric, e estou com orgulho disso.
Ljuban solta uma tossida, nos fazendo olhar para ela.
— Me desculpem. — diz ela com um meio sorriso na face. — Não queria me intrometer, mas... você parece agoniado com a retirada do exército feérico, Elric.
— E estou. — respondo. — Não sabemos se é apenas uma distração, porque eles podem a qualquer momento voarem para dentro desse castelo em seus cavalos alados e matar todos nós enquanto dormimos. — bufo.
— Algo mais lhe incomoda? — pergunta Ljuban. — Pode nos dizer, Elric, afinal, estamos em família.
Flashes de Jehan vem a minha cabeça.
— Não. — digo rápido e brusco. — Não a nada a mais para dizer. Preciso de um banho e de um descanso. Mack e os outros generais irão reportar toda a batalha em detalhes para o senhor, meu pai.
Meu pai assente. Faço uma pequena reverência e caminho para longe deles, mas Ljuban não espera para eu estar longe demais para dizer:
— Seu filho acabou de mentir na sua frente.
Paro atrás de um pilar para ouvir a resposta de meu pai, que não demora muito.
— Deixe o menino, Ljuban. São os sentimentos que vem depois de qualquer batalha, ele só queria nos mostrar que está forte e que sabe lidar com situações extremas.
— Algo não me deixa segura em relação a isso, Guiscard.
E o resto da conversa não me interessa muito. Ando apressado em direção à escada que leva aos meus aposentos, mas encontro Lyuben agachada perto da escada passando a mão pelo tornozelo.
— Lyuben? — pergunto.
Ela sorri me olhando do chão.
— Olá, Elric... me ajude aqui. — diz ela. — Torci meu tornozelo e não consigo subir essa escada mais sozinha.
— Não? — pergunto.
Ela me fuzila com o olhar.
— Só preciso chegar nos meus aposentos, irmão. — diz ela e se levanta. — Vamos, me ajude.
Passo seu braço sobre o meu ombro e começamos a subir os degraus da escada lado a lado.
— Então... fiquei sabendo que você perdeu a guerra. — diz ela.
— Não perdi a guerra. — respondo. — O exército feérico bateu em retirada.
— Quem teve mais baixas foram o nosso exército aqui da capital. — responde Lyuben.
— Não sabemos se os feéricos tiveram uma perca maior. — respondo. — Eu lembro de ver muitos caídos no campo de batalha.
— Homens com hormônios aflorados causam muito barulho ao fazerem guerra. — diz ela.
Fico em silêncio e chegamos no corredor de nossos aposentos.
— Espero que não se acomode com esse jeito de “ganhar” a batalha. — responde Lyuben. — Eu sei que você foi criado para degolar uma pessoa em um piscar de olhos, mas... eu sou a diplomata aqui. Batalhas nunca terminam enquanto um dos líderes está morto, isso em espécies diferentes. Em nenhum momento na nossa história houve um acordo entre feéricos e humanos. Essa paz que “reina” durante tanto tempo desde a guerra da independência é fruto da vitória humana, eles não apertaram a mão e fecharam o acordo. Os humanos foram lá e mataram quase todos os líderes feéricos. É a história de Ayllan, Elric. E você vai ser assombrado durante todos os seus próximos dias se não for lá e cortar a garganta desse tal Rei Jehan.
— Há outras maneiras de ganhar a partir de agora. — respondo.
— Ache o melhor e seja o mais rápido. — diz ela e sorri enquanto paramos em frente a porta do seu quarto. — Eu sei que você vai conseguir, Elric.
— Eu sempre consigo. — dou um sorriso fraco, porque estou cansado.
Com a mão livre, Lyuben abre a porta de carvalho do seu quarto e olha para mim.
— Descanse, irmão. As maiores batalhas sempre vêm quando menos esperamos. — Lyuben sorri e fecha a porta entre nós dois.
Continuo caminhando pelo corredor e sinto um vento fresco pelo corredor. Talvez alguma das janelas do andar estejam abertas.
“Elric...”
Mas... o meu nome sussurrado não é coisa de janela aberta. Olho ao redor, um pouco atento. Talvez seja apenas o cansaço no fim das contas.
“Elric...”
Ok, talvez não seja o cansaço. Paro em frente à porta do meu quarto, coloco a mão na fechadura e ignoro o sussurro. Entre nos meus aposentos e de frente para mim vejo o espelho, mostrando meu reflexo sujo de lama e sangue da batalha.
Fecho a porta atrás de mim e começo a tirar as partes da minha armadura. É quando as janelas do meu quarto se abrem e o vento fresco adentra. Assim como... corvos brancos? O que eles estão fazendo tão ao norte?
Corvos brancos são aves da divisa de Ayllan com Bellario. Me aproximo da janela aonde os dois corvos brancos estão parados. As aves grasnam então alçam voo para o lado de fora.
“Elric.”
O sussurro é mais nítido dessa vez e eu reconheço a voz.
— Jehan?
Olho ao redor.
— Jehan? — chamo mais uma vez.
Como se eu não tivesse controle sobre os meus pés, começo a caminhar na direção de onde eu vim. Saio do meu quarto, deixando a porta aberta atrás de mim, desço à escada, passo pelo salão do trono, que dessa vez não tem a presença de Ljuban e nem meu pai. Empurro com as duas mãos as grandes portas da entrada do castelo e vejo o mesmo cavalo que me trouxe de volta, trotando sozinho para perto da entrada como se pressentisse que eu estivesse descendo.
“Elric.”
Que merda é essa... O que eu estou fazendo? Porque estou fazendo isso?
Monto em meu cavalo, que está com a sela e aperto as rédeas e começo a cavalgar. Escuto mais grasnidos e olho para cima e vejo os corvos brancos sobrevoando eu e meu cavalo. Não estou levando a nós para lugar nenhum, mas noto que — independente do que seja —, meu cavalo está indo na mesma direção que os corvos brancos.
E estamos cavalgando para o sul.
Para Bellario.
Para Jehan.
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Jehan Larkin
Passo pelas portas de vidro do Palácio e respiro fundo, encontrando papai bem ao centro da sala de entrada. Sinto uma angústia grande em meu peito, mas corro até ele, me afundando em seus braços. Sei que essa não é a postura de um rei, mas me sinto frágil nesse momento e não faço ideia de como meu pai vai reagir a toda essa situação.
- Ei, o que houve? Soube que a guerra foi encerrada, mas não me deram uma explicação. - Ele diz e sinto suas mãos em meus cabelos.
- Eu encontrei ele, papai. - Falo com a voz um pouco abafada e me afasto dele em seguida.
Olho para o rosto confuso do meu pai e tomo coragem para o dizer o que está acontecendo. Afinal, mais cedo ou mais tarde ele saberá tudo o que houve.
- Encontrou quem, filho? - Ele pergunta ainda confuso.
- Meu predestinado. - Respondo e vejo seus olhos surpresos, mas rapidamente um sorriso se abre em seu rosto.
- Isso é maravilhoso, meu amor. Encontrar nosso predestinado é a melhor coisa que existe. - Ele diz e sua voz falha um pouco, pois tenho certeza que ele se lembra do meu pai.
- Pode ter certeza, não é a melhor coisa. - Falo e me afasto um pouco mais, apertando minhas mãos.
Me sinto incomodado com minhas roupas sujas pela batalha recente e isso me deixa ainda mais sufocado. Minha cabeça também começa a doer, pois meus pensamentos não param um minuto sequer desde o encontro que tive com Elric na tenda.
- Por que diz isso? - Papai pergunta e isso me faz suspirar.
Encho meus pulmões de ar e volto a olhar para ele, tomando coragem.
- Meu predestinado é Elric Redthorn. - Falo e vejo o rosto do meu pai se tornar pálido.
- Como? - Ele pergunta sem muita reação e amaldiçoo o universo pelo meu destino.
- Eu não queria que fosse assim, pai. Infelizmente eu não mando no meu destino. - Falo angustiado.
Meu pai fica em silêncio por vários minutos a fio, o que me deixa ainda mais nervoso e irritado.
- Por isso a guerra acabou? Você quem recuou? - Ele pergunta sério e isso me faz recuar um passo para trás.
- Sim, senhor. - Respondo, tentando manter minha voz firme. - Eu não poderia matar meu companheiro de alma... O senhor sabe o quanto a dor é insuportável, mesmo que nós não tenhamos fortalecido o laço. - Falo e ele nega com a cabeça, me olhando com fúria.
- Guiscard matou seu pai! Você se esqueceu? Essa guerra era para isso! - Ele grita comigo e quase me encolho diante sua voz.
- Nós não sabemos! Tudo bem, eu também achei e ainda acho que foi ele, mas Elric não tem culpa. Ele e o pai não são a mesma pessoa. - Falo frustrado.
- Tudo bem, mesmo se não foi Guiscard que matou seu pai... Você acha que isso vai dar certo? Um humano e um feérico? Nossa rivalidade dura há anos, o ódio transborda em nossas veias assim que nascemos e isso não vai mudar por um amor idiota de almas gêmeas. - Ele diz olhando em meus olhos e suas palavras me atingem com força.
Sinto meus olhos arderem, mas não deixo uma lágrima cair por meu rosto, mesmo que meus olhos estejam repletos delas. Engulo o nó em minha garganta e ajeito minha postura, me portando como um verdadeiro rei deve ser.
- Eu sou o rei aqui, se eu quiser mudar as regras, eu mudo. - Falo firme e passo por meu pai.
Subo às escadas rapidamente e sigo imediatamente para meu quarto. Entro no mesmo e com um balançar das mãos, fecho todas as cortinas, deixando tudo escuro.
Deixo meu corpo escorregar até o chão e as lágrimas então caem por meu rosto.
Por que dói tanto saber que estou destinado a alguém que provavelmente me odeia? Por que o destino tinha que ser tão cruel desse jeito?
Infelizmente eu não posso mandar em tudo isso e em breve todos saberão sobre mim e Elric, já que todos no campo de batalhas ouviram o que eu disse. E por mais que eu odeie, meu pai está certo. Humanos e feéricos são inimigos há séculos e não será agora que isso vai mudar. Ainda mais porque Elric não me ama e nem eu a ele... O que temos é apenas um chamado.
Não sei quanto tempo fico sentado no chão do meu quarto, mas sei que tenho que agir. Me levanto e sigo até o banheiro amplo. Não tenho coragem de chamar nenhuma criada, então eu mesmo preparo meu banho e entro na banheira em seguida.
Fecho meus olhos e sinto minha cabeça latejar pelo choro recente. Eu deveria ser mais forte, mas infelizmente não sou e isso me deixa com ainda mais raiva de mim.
"Jehan..."
Uma voz parece sussurrar em minha cabeça e isso me faz abrir os olhos, alarmado. Pisco algumas vezes, achando que deve ser alguma alucinação, mas a voz volta a se repetir.
"Jehan!"
E então eu reconheço... Elric está me chamando.
Fico sem reação por alguns segundos, até que sinto meu corpo inteiro se arrepiar e é como se um imã me puxasse para algum lugar.
Saio apressado da banheira e pego a toalha macia, enxugando meu corpo em seguida. Não há tempo para que eu pense em roupas, então apenas pego meu robe de seda, o passando por meu corpo.
Ainda descalço, meus pés me guiam até à grande janela coberta do quarto e quando a cortina se abre ao meu comando, vejo Blackjack à minha espera. Fico confuso com isso, mas meu corpo não obedece a mim mesmo e minhas mãos abrem a janela com rapidez.
Em poucos segundos estou montado em meu Pégaso e seguimos um rumo conhecido por mim... Montanhas Elteror.
~~•~~
Assim que meu Pégaso toca seus cascos no chão cheio de folhas, meus olhos procuram em meio às árvores que ficam no topo da montanha. Ainda me sinto confuso com tudo, mas o aperto forte em meu peito me faz continuar. Desço de Blackjack e aperto ainda mais o robe de seda contra meu corpo, sentindo um súbito frio.
Ouço os cascos de cavalo contra o chão e poucos segundos depois vejo Elric Redthorn vindo em minha direção, o que me faz arregalar os olhos em surpresa.
Seus olhos rapidamente se cruzam com os meus e perco o fôlego por alguns segundos. Porque por mais que eu negue, a partir de agora ele sempre será a pessoa mais atrativa para mim e a que fará meu coração bater mais forte... Mesmo ainda não o amando.
- O que você fez comigo? - Sua voz soa quase que como um trovão quando ele desce de seu cavalo e vem até mim.
Minha fala fica presa por alguns segundos e pisco algumas vezes, reparando que ele ainda usa a mesma roupa que estava no campo de batalhas.
- Eu... Eu não fiz nada. - Falo com calma, pois não há mais forças em mim para o odiar.
- Eu ouvi sua voz. - Ele diz e olha profundamente em meus olhos.
- Eu também ouvi a sua. - Respondo, sentindo meu corpo querer ficar cada vez mais próximo dele.
- E os corvos brancos? - Ele pergunta, ainda tendo sua voz grave e séria.
- Eu não sei, Elric... Eu não sei. - Falo cansado, pois tudo isso está me desgastando.
Ele fica em silêncio e seus olhos me analisam por inteiro, o que faz um calor subir por meu corpo. Sinto a minha necessidade dele ficar ainda mais forte e sem pensar duas vezes, me lanço contra ele.
Minhas mãos vão até seu pescoço e no instante seguinte levo minha até à sua. No começo ele fica estático e penso que vai me empurrar para longe, mas então suas mãos agarram minha cintura com firmeza e ele toma o controle sobre o beijo. E nesse momento sinto que não há nada no mundo mais certo do que nós dois.
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Olá jujubas!! Temos uma evolução aqui, não??? Gostaram???
Ps: Gente, eu avisei que a atualização seria toda sexta, mas acontece que tanto eu quanto o Rafa fazemos faculdade. Então pode ser que não venha no dia certo, mas podem esperar que ela chega.
Bjus da Juh, até a próxima 😘😘
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