Ver Jimin dançando de novo era como aleluia.

Você diz aleluia sem a plena noção, você respira fundo, suspira, se sente aliviado, porque você vem esperando que as coisas corram bem por um tempo, você entende se sentir daquela forma faz um tempo, então aleluia.

Aleluia deixa de ser vista de uma forma religiosa e sim como um grito de guerra, porque você finalmente alcançou o que estava esperando.

E ver Jimin dançando era exatamente como isso.

Eu vinha esperando fazia um tempo, desde a primeira e última vez para ser preciso.

Tinha deixado o outro bilhete em casa, como prometera, ou seja, Yugyeom, então agora estava ali sozinho, observando tudo aquilo sentado entre as demais pessoas, mas isso não queria dizer que eu tivesse tomando a decisão certa em vir sozinho ali.

Estar sozinho significava não ter ninguém que me obrigasse a deixar de olhar Jimin, porque tudo o que eu precisava era de deixar de olhar Jimin, nem que fosse só por um segundo, porque estava se tornando demais, tudo estava pesando em mim e estava... doendo?

Então não tinha ninguém ali que me mantesse sobre o controle, ninguém em quem eu pudesse despejar a minha carga energética, que me consumia e me deixava mais do que sobrecarregado quando eu olhava Jimin naquele palco.

Não era nada de novo, porque ele estava repetindo tudo o que eu vira da primeira vez, com a mesma trilha sonora dolorosa, a diferença era ligeira, mas para mim era notável.

Ao invés de tutus brancos as garotas vestiam agora vestes pretas, isto porque precisavam contrastar com o dançarino principal, que era Jimin, que ao invés de todo de negro estava de branco, com uma blusa de decote em V, que nas mangas se abria do antebraço até ao pulso, como um sino, e pendiam uma fita da mesma cor em cada uma delas.

E então não era nada de novo, mas estava me matando mais do que antes, porque agora eu conhecia Jimin, eu realmente o conhecia, mesmo que não o entendesse muitas vezes, e agora eu sabia sobre ele, sabia sobre os problemas na sua vida, sabia o que significava para ele poder estar naquele palco.

E doía. Doía tanto quanto os machucados nos pés dele de tanto treino, doía tanto quanto o que ele devia sentir quando impedido de fazer o que ama de forma livre.

Eu estava sentindo tudo e não tinha ninguém que me amparasse disso, não tinha ninguém que me fizesse desviar o olhar da dor pintada e desenhada na minha frente, afinal tudo o que eu queria olhar estava ali, coberta por ela.

Quando tudo terminou, obrigado a recompor-me, eu passei as palmas das mãos por baixo dos meus olhos, limpando aquele suor frio, sem acreditar na forma como eu estava me sentindo por aquilo, e ficando de pé, engolindo em seco, depois de todos os aplausos serem feitos e agradecimentos.

No entanto, o meu corpo só me levou até ao corredor de saída, por onde as pessoas saíam com calma, quando eu percebi alguém subindo mais rápido entre as pessoas, pedindo licença e eu conhecia aqueles murmúrios.

"Jungguk." Ele disse quando me encontrou, e ainda estava nos trajes de antes, e descalço, mas com meias sobre os pés e um casaco com capuz, que ele usava para esconder os seus cabelos e provavelmente a sua identidade. "Vem." Ele chamou, entrelaçando os seus dedos nos meus e caminhando na minha frente, descendo as escadas.

E eu fui, atonico, ainda atingido pelos sentimentos e emoções anteriores, até que ele passou pela lateral do palco, um corredor pequeno, que nos levou às traseiras deste, onde haviam mais pessoas do que eu julgava.

"Hey, baby, estas são Da..."

Eu pisquei devagar, ciente de que ele estava agora me apresentando os cinco tutus pretos, que me olhavam com atenção, mas eu estava mais preso na forma como ele ainda segurava a mão daquela forma e acabara de se dirigir a mim daquele modo em frente às suas companheiras de dança.

"Este é Jungkook." Ele terminou, me olhando e sorrindo de canto e, mesmo sem ter ouvido o nome delas, eu sorri e levantei a minha mão livre, acenando-lhes e recebendo um sorriso em troca.

Então eu arranhei a garganta, envergonhado.

"Estiveram muito bem." Eu disse, tentando soar simpático, e Jimin acenou, concordando, soltando a minha mão e passando-a pelas minhas costas, quase num abraço, colando o seu corpo contra o meu, de lado, então o olhei nos olhos e sorri, mesmo que eu aparentasse estar triste naquele momento. "Você..." Eu murmurei, recebendo o olhar dele de volta, agora me abraçando de lado e com um bico nos lábios. "Foi o melhor." Conclui então e Jimin sorriu, quase orgulhoso daquilo.

E então uma dos tutus pretos tocou o ombro de Jimin, o apertando.

"Ele sempre é." Concordou, simpática, apertando-lhe o ombro mais uma vez. "Nos vemos depois."

E então todas elas seguiram aquela deixa, se despedindo do loiro para se irem trocar, e Jimin quis fazer o mesmo, se afastando do Jeon e puxando o casaco pelos braços, se virando para o espelho grande em cima de uma mesa, puxando um pedaço de algodão de cima da mesma para lhe meter creme e passar por cima dos olhos, retirando a maquilhagem neles.

"Filme e chinês?" Ele sugeriu então, me olhando através do espelho e eu acenei, concordando em silêncio e fingindo olhar em volta, percebendo aquele lugar cheio de figurinos pendurados e algumas pessoas dispersando assim que arrumavam as suas coisas e podiam ir embora. "Está com dificuldades de novo, Jungkook?" Jimin me perguntou, virando-se para mim e segurando a mesa atrás de si com a ponta dos dedos.

"Hum?" Eu murmurei, confuso, sem saber do que ele falava.

"Da última vez você ficou todo grogue e envergonhadinho porque não sabia como expressar sua opinião." Jimin disse, fazendo expressões bobas numa tentativa de me imitar e eu revirei o olhar, cruzando os braços na frente do peito.

"Não." Eu menti, porque era exatamente aquilo que estava acontecendo. "Simplesmente... Você esteve muito bem. É isso. Foi espetacular, excelente. Não sei o que te dizer, foi mais do que bom e-"

Então eu me calei, ouvindo-o rir, e eu bati a mão na testa, com a constatação de eu que eu não sabia realmente como colocar em palavras que eu amei aquilo sem Jimin fugir a sete pés de mim assim que eu o dissesse.

"Filme e chinês, você disse?" Eu mudei de assunto e Jimin me permitiu, acenando que sim e logo a seguir pegando a barra da blusa e a puxando para cima.

"Ei, o que está fazendo?" Eu sussurrei, me aproximando dele e o impedindo de se despir ali.

"Me trocando." Ele sussurrou também, com o olhar cerrado e ditando o óbvio, e eu olhei em volta, onde ainda haviam algumas pessoas.

"Aqui?" Eu murmurei, o encarando de volta. "Quer dizer, tem um monte de gente aqui."

"E eu iria assim para a rua, Jungkook?" Me perguntou, troçador, olhando por si mesmo abaixo e Jungkook fez o mesmo, passando a ponta da língua entre os lábios.

"Pode se trocar no banheiro." Sugeri, certo de que era uma melhor opção, mas descontente ao saber que todo o mundo ali podia ver Jimin quase tanto quanto eu o via.

"Se você prefere." Ele resmungou, revirando o olhar enquanto pegava as suas coisas em cima daquela mesma mesa e seguia para fora dali.

E com um último olhar ao local eu o segui até ao banheiro, que tinha três compartimentos privados, mais dois urinóis e três lavatórios em frente de um espelho.

Então Jimin adentrou o banheiro, pousando as suas coisas no balcão de mármore que segurava os lavatórios e logo puxando a camisola para fora de si, e eu fui obrigado a revirar o olhar, porque ele nem tinha visto se tinha gente ali e estava claramente se fingindo de chateado para comigo.

Eu me encostei na parede do lado da porta, o observando dali, procurando uma blusa entre as suas coisas, dentro do saco desportivo, para então a enfiar pela cabeça, depois os braços e a puxando pelo tronco.

"Para de me olhar, idiota." Ele mandou, a camisola comprida batendo quase em suas coxas, e depois puxou os collants para baixo, os expulsando do seu corpo com os pés, se abaixando para os pegar e os jogando ao lado do saco, logo buscando por um par de calças.

"Porque está bravo?" Eu perguntei, sorridente, e ele parou, me encarando.

"Porque as pessoas normais se trocam lá." Ele respondeu, desdobrando as calças e enfiando um pé nas mesmas.

"Mas..." Eu insinuei, me aproximando dele e ficando atrás de si, pousando o meu queixo no seu ombro e segurando a sua cintura. "Isso significaria que elas estariam vendo o que eu quero ver. Não acho justo."

"Justo?" Jimin resmungou entre uma gargalhada.

"Está oferecendo os meus privilégios a desconhecidos." Eu resmunguei da mesma forma, estreitando o olhar, e ele se virou para mim, deixando as calças no chão e apoiando as mãos no meu peito.

"Você sabe que eu vou à praia, não sabe, Jungkook?" Ele perguntou, sério, e eu ergui uma sobrancelha antes de entender. "Não são seus privilégios, porque seus privilégios são outros." Concluiu então, me empurrando para trás e voltando a se vestir, e enquanto puxava o zíper das calças e apertava o botão da calça olhou-me através do espelho, um sorriso sapeca e pervertido no rosto. "Te mostro em casa."

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Saudades cap 13 :')