47 ▪ No ▪
Acordar no dia seguinte, o dito cujo domingo tenebroso, foi doloroso. Foi um abalo físico, um abalo psicológico, mas, principalmente, um abalo solitário.
Eu sabia que era tarde, porque através das janelas entrava o sol mais brilhante de todos, atingindo o meu olhar e obrigando-me a gemer em desaprovação, virando as costas a esse lado do quarto.
E quando eu me percebi sozinho, vestido, em cima da cama feita, eu perguntei-me o porquê, e foi aí que eu percebi, aliás, fui bombardeado, com o que se tinha passado na noite anterior.
Com a pior ressaca da minha vida, porque eu não tinha apanhado muitas, eu forcei os punhos ao lado da minha cara espalmada contra o colchão, irritado comigo mesmo, porque eu não era assim! Eu não queria magoar Park Jimin!
Mesmo que descontente, eu fui obrigado a levantar-me, segurando a minha própria cabeça com uma mão, porque parecia que ela ia cair.
Sair do quarto não foi difícil, alcançar as escadas foi fácil, o que foi demais para mim foi chegar à sala. E não era pela claridade, não era pelo ar fresco que entrava pelas janelas abertas, não era pelo lixo da noite passada.
Você consegue adivinhar?
Era por Park Jimin.
Era por Park Jimin deitado, completamente encolhido no sofá, com apenas um cobertor amarelo sobre si, tentando cobrir-se por inteiro, mas sem muito sucesso.
E eu fiquei atordoado quando ele se mexeu, como se me atingisse, ainda no final das escadas, à entrada da sala exposta, com a culpa a consumir-me, porque ele estava ali porque não queria dormir comigo.
E talvez eu não me lembrasse de como tinha adormecido, se tinha desligado Yug da chamada, mas o que mais me assustava era não saber se eu lhe tinha dito algo mais. E se eu tivesse?!
Calmo, sem querer ser notado, olhando em volta, como se os meus passos pudessem descrever o perigo, eu andei na direção dele, vendo o seu rosto quieto, porque ele ainda estava dormindo. Mas eu não me pude conter, porque ele estava desconfortável, com frio, e eu não podia fazer nada.
A minha mão tocou a sua face, apenas com a ponta dos dedos, mas ele mexeu-a para o lado, fazendo-me recuar por um segundo, antes de perceber que era aquilo que eu queria, que ele acordasse. Eu fiquei de cócoras, acarinhando de vez a sua bochecha, puxando-a bastante levemente, vendo-o virar-se para mim, abrindo os olhos quase nada, apenas para os fechar de novo.
''Jimin.'' Eu murmurei, ficando mais perto dele. ''Jiminnie...'' Eu sorri de canto, encantado pela forma como ele piscava os olhos devagar, tentando desvendar a minha figura.
''Não.'' Ele resmungou, tirando o braço de debaixo do cobertor fino e empurrando o meu ombro, fazendo-me cair sentado no chão, com a sorte de a mesa de centro estar atrás de mim, suportando o meu peso.
Ele abriu os olhos de vez, sem nenhum arrependimento pendente, o semblante chateado. E eu não pude desviar, porque me queria desculpar, mas não sabia como, nunca saberia.
''Me perdoe.'' Eu disse, com a voz mal deixando a minha garganta, mas sabendo que era ouvido.
E ele ficou me encarando pelo que pareciam horas, com o sol atrás do sofá me cegando, impossível de aguentar, mas eu não podia deixar de o olhar.
Então os guinchos de Taehyung e Hoseok chegaram aos meus ouvidos, vindos do lado de fora da casa, fazendo o Park levar a mão à cabeça, provavelmente incomodado com o barulho.
''E aí, Jungkookie?'' Kim perguntou, bagunçando os meus cabelos com a mão, o outro braço sobre os ombros do amigo. ''Dormiu bem?''
Eu acenei uma vez, usando a mesa atrás de mim como apoio para me levantar, tendo em mente que seria preciso mais do que um pedido de desculpas para Jimin me perdoar.
Eu estava quase entrando na cozinha quando a voz de Hoseok chegou aos meus ouvidos.
''Vocês têm tudo pronto?''
Eu olhei-o por cima do ombro, vendo o loiro já sentado no sofá, ainda usando o cobertor para se tapar a partir dos ombros.
''Sim.'' Eu respondi, mesmo que não estivesse. ''Vamos a que horas?''
''Seokjin está ficando, acho que alguém vem ter com ele.'' Hoseok avisou, mais para o Park do que para mim. ''Estávamos esperando que acordassem.'' Revelou, por fim.
''As minhas coisas já estão no carro.'' Jimin sacudiu os ombros e eu olhei-o de esguelha, sem saber quando é que ele fizera aquilo ou porquê, porque até agora ele estava dormindo, não estava?
''Então só falta você, Biscoito.'' Taehyung sorriu na minha direção e eu devolvi, caminhando então para as escadas, rezando aos deuses para ter colocado aspirina na minha mochila.
Toda aquela ideia de estar durante horas com Jimin na viagem de volta se tornavam agora horas de miséria, porque estava mais que implícito que ele não me iria dirigir a palavra e o mais provável é que ele fosse dizer para eu ir com os outros.
Enquanto eu descia as escadas da casa, sem ouvir nenhuma voz, nenhum murmurinho, simplesmente nada, eu vi Jimin encostado no batente da porta de entrada aberta, e assim que ele me viu o que eu recebi foi um revirar de olhos, seguido de um virar de costas, vendo-o então seguir o caminho para fora.
Eu segui-o, entendendo que ele estava à minha espera, logo vendo Hoseok e Taehyung junto do jipe do mais velho, provavelmente nos esperando, enquanto Jimin ainda caminhava na direção da sua rover , sem me deixar perder o ritmo do passo acelerado, entrando na mesma e ligando-a de imediato.
''Não se preocupe, Kook!'' Hoseok gritou, uma risada pelo meio. ''Nós já vos apanhámos.''
Eu acenei uma vez, sem nada para dizer, entrando no carro do loiro, e mal a porta bateu, Jimin já estava girando o volante, querendo dar a volta e sair dali.
E nos minutos seguintes eu percebi o quão irritado ele estava, engatando as mudanças e em velocidades altas, mas não haviam problema porque o lugar era deserto.
Eu sabia que de tudo o que eu estava a fazer ficar calado era tudo menos o certo. Apenas por uma razão:
Se eu não dissesse nada... Park Jimin iria desaparecer da minha vida.
O único problema é que eu não tinha nada para dizer.
♤♡♤
Está subindooooo ♡ #383
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