4 ▪can u sit with me? ▪
Pela primeira vez desde junho eu tinha acordado mal disposto. Certamente o meu humor não estava bom hoje.
De manhã cedo decidi ir à aula prática na escola de condução, querendo me livrar daquilo rápido e finalmente ir a exame para ter a minha licença.
Durante a hora de almoço dedicara-me à cozinha, pois quando acordava desse jeito que até a mim me irritava gostava de me dedicar a cozinhar.
De tarde fora chamado para o restaurante, em um pedido de emergência.
O cilindro do piso de baixo havia quebrado então o meu pai precisava de correr para comprar um novo antes que houvessem clientes insatisfeitos.
Com o frio que se aproximava os clientes queriam algo mais quente e não ter água quente podia ser um problema.
Quando eu desci para substitui-lo a minha mãe ocupava o lugar na cozinha então eu teria que ficar ao balcão.
Durante a tarde o restaurante funcionava mais como um café então não era necessário muito pessoal como durante as horas das refeições. Infelizmente isso queria dizer que eu estava por minha conta ao balcão e a servir às mesas.
Ao ver que haviam dois clientes com menus, ainda indecisos sobre o que pedir, coloquei o meu avental e dirigi-me primeiro à mulher perto da entrada, que parecia visivelmente ter chegado à mais tempo. Ela apenas pediu uma das sobremesas no menu então aproveitei e me dirigi ao cliente na outra mesa.
Sobre os olhos ele segurava o menu, cantarolando baixinho algum ritmo. Eu não sei como não notei ou me apercebi de longe que aquele era o garoto mais bonito que alguma vez entrara no restaurante.
Eu podia sentir o sangue a subir às minhas bochechas, já envergonhado, em antecipação, do que eu iria dizer.
"Posso te ajudar?" Eu questionei, logo ganhando a atenção do olhar brilhante. Ele sorriu ao me notar ali, mesmo que eu estivesse parecendo um atendente na loja de vestuário. "Você já decidiu o que pedir?" Mudei rapidamente a minha questão.
Ele riu baixinho, pousando o cartão grosso sobre a mesa e pousando o dedo pequeno apontado em cima.
"Eu queria algo diferente."
Ele parece mais envergonhado do que eu, mas depois da confiança que tivera a falar comigo no outro dia eu acho que é impossível eu o ver desse jeito.
"Como o quê?" Eu perguntei, inconsciente.
"Você poderia me ajudar a escolher?"
Eu o olhei nos olhos por um segundo, quase perdendo o chão. Depois eu lembrei da cliente atrás de mim, que só queria desfrutar de um doce de limão em uma tarde ensolarada.
"Claro." Eu sorri pequeno, espreitando por cima do ombro. "Eu preciso só atender a clientela, tudo bem?"
Ele riu baixinho, o seu nariz se curvou em cima dos lábios e ele acenou, confirmando.
Ele era um cliente como os outros e eu percebi que ao dirigir-me e falar-lhe da clientela estava o excluindo dela.
Rapidamente eu peguei a sobremesa das arcas frigoríficas, já nervoso sobre voltar para o pé do garoto loiro e conversar com ele de novo. Com as duas mãos pousei a sobremesa sobre a mesa da senhora, que me presenteou com um sorriso.
E então eu tinha que voltar lá.
Porque ele estava aqui a uma quinta-feira? Ele sempre vinha à sexta. E porquê que não estava estudando, pela primeira vez?
Eu fiquei do lado dele, já que ele virara o menu levemente para eu conseguir ler.
"O que você me recomenda?" Ele perguntou, olhando por cima do ombro, já que eu estava levemente atrás dele.
"Tudo é bom." Declarei.
Eu não estava mentindo. Os meus pais eram donos da melhor comida que eu já provara na minha vida.
"Então... Qual o seu preferido?"
"O meu?"
Eu tinha noção que a minha voz saía meia quebrada, mas era apenas meu coração batendo absurdamente rápido.
"Isso depende do que está procurando." Eu respondi e ele voltou a rir.
Não era um riso de troça, mas sim daquele riso familiar que sabe que você está atrapalhado. Eu me baixei levemente, quase tocando o seu ombro e apontei um dos menus da casa.
"Esse é muito bom." Eu indiquei.
"Então pode me trazer um sem tomate?" Ele se encostou no banco almofadado e sorriu-me enquanto eu me endireitava. "E com Ketchup."
Eu acenei, mas na verdade eu só queria perguntar-lhe se ele sabia que Ketchup é feito de tomate.
Levantei o menu e fiz o pedido à minha mãe, que de algum jeito estava na janela entre a sala e a cozinha, sorrindo para mim. Relembrou-me que deveria levar o individual para a mesa e o talher, perguntar que bebida acompanharia a sua refeição.
Começava a dar-me nervos ter que falar com ele tantas vezes, isto porque sempre que o seu olhar se dirigia a mim eu queria congelar e não ser eu por uma vez na vida.
Com cautela cheguei junto dele, posicionando os objetos na sua frente.
"O que você gostaria de beber?"
"O que você tem?"
Ms irritou que ele estivesse zoando com a minha cara, pois eu sabia que ele ia ali faz tempo e certamente era capaz de saber que bebidas nós temos.
"Todo o tipo de refrigerante, sumos naturais e águas."
"Então eu quero uma limonada."
O meu feitio quase que me fez revirar os olhos, mas eu apenas sorri de lado e saí de lá, perguntando à minha mãe onde se encontrava a limonada.
Foi aí que eu deixei de perceber o que estava acontecendo.
"É para o menino?" Ela perguntou e eu acenei. "Eu já lhe disse ontem que a máquina avariou." Ela explicou-me. "Até lhe disse que até ao fim de semana não teríamos."
Isso me deixou um quanto puto, pois ele estava só me dando viagens de ida e volta para a cozinha.
Eu voltei lá, querendo não o odiar.
"Pedimos desculpa, mas a máquina da limonada está quebrada." Eu expliquei, ainda com o tom baixo e curto.
"Ah, é mesmo." Ele pareceu lembrar. "Então água está bom."
Eu voltei a girar, com rumo mais uma vez ao balcão. Quando voltei lá apenas lhe entreguei a água, sem nenhuma palavra deixando a minha boca e os meus olhos o vendo examinar a tela do celular.
Cinco minutos depois a refeição rápida estava pronta, sem tomate e com Ketchup. Ele me esperava enquanto eu caminhava com o prato bem equilibrado em minha mão e o pousava na sua frente.
"Obrigado." Ele murmurou.
"Precisa de mais alguma coisa?"
Ele olhou em volta, mas eu não entendi se ele estava esperando alguém ou apenas me ignorando.
"Você está muito ocupado?"
Claramente eu não estava, então neguei uma vez com a cabeça, mesmo que não entendesse o porquê de ele querer saber.
"Então você pode sentar um pouco?" O seu olhar se prendeu no meu enquanto ele pegava o talher e o desembrulhava do guardanapo de papel. Ele aclarou a garganta, sorrindo e olhando para baixo. Com as mãos atrás das costas eu olhei sobre o meu ombro, procurando a minha mãe. "Você quer?"
Ali estava. O garoto que eu observara por meses, me perguntando se eu queria sentar com ele.
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