12 ▪ Park Jimin ▪

Eu não sabia ao certo como era um coração gelado. Não sabia como lidar com um e, principalmente, não sabia que tipo de coração gelado era o de Jimin.

Ele parecia-me tudo menos um coração frio. Ele parecia-me aquele tipo de quentinho que você quer sentir apenas por conforto, aquele tipo de quente que te deixa mais animado.

Era impossível Jimin ser gelado, com a exceção daquele dia frio de inverno em que ele vestia o meu moletom.

"Devíamos-nos apressar." Jimin disse, segurando o meu pulso e me puxando para caminhar mais rápido.

"Está tarde?" Eu perguntei, confuso.

Eu queria tudo menos nos apressar. Queria ficar com ele mais tempo ao invés de ir viver a minha vida chata e azarenta.

"Não, Jungkook!" Ele exclamou, parando de olhar e me encarando. "Olha para esses lábios! Estão roxos de frio!" Ele dizia, quase aterrorizado. "Você ainda desmaia de hipotermia!"

Eu sei de uma maneira que você pode aquecer os meus lábios, Park Jimin.

Eu pisquei ao perceber que, inerte a qualquer outra coisa à minha volta que não fosse Park Jimin, eu pudesse ter dito aquilo em voz alta.

Ele sorriu, logo mexendo os seus braços até eu perceber que ele estava tirando o meu moletom do seu corpo.

"O que está fazendo?" Eu perguntei, mantendo os braços dele para baixo.

"Se é para passarmos frio, passamos os dois juntos."

Eu poderia ter sorrido se eu tivesse entendido o que ele queria dizer.

"Fique quieto." Eu murmurei, de qualquer das maneiras, passando as mãos pelos meus braços. "Onde fica a sua casa?" Eu perguntei, voltando a caminhar e esperando por ele para me seguir.

Depois de se acomodar com a ideia de que eu não iria aceitar que ele tirasse o moletom, ele caminhou do meu lado, abraçando os meus ombros de uma forma desajeitada, pois o seu corpo pequeno não me alcançava com muita facilidade.

"Eu depois vou sozinho." Ele respondeu, encostando metade do seu rosto no meu ombro.

Para facilitar um pouco do seu acesso decidi rodear a sua cintura, procurando em seu rosto descansado algum sinal de atrevimento da minha parte.

"Isso não é legal." Eu engoli em seco, sentindo realmente o frio atingir-me com potência.

Eu o puxei mais para mim, necessitado do seu calor e acho que ele o sabia.

"O quê?" Perguntou-me.

"Eu quero te deixar em casa." Eu respondi. "Está tarde."

"Vai me proteger dos mauzões, Jungkook?" Ele troçou, me olhando com um sorriso infantil no rosto.

Eu acabei rindo pelo quão idiota eu tinha parecido, mas fiquei mais descontraído ao vê-lo rir também.

"Desculpe." Acabei pedindo.

"Eu tenho um amigo que pode me pegar lá perto." Ele murmurou.

Qualquer coisa no meu estômago se revirou ao ouvir aquilo.

Ele iria pedir para outro amigo o pegar?

Eu acenei, sem muita mais coisa para dizer.

"Se calhar comer gelado não foi muito inteligente da nossa parte."

O meu cérebro era bom em evitar constrangimentos.

Bom, não era verdade, mas servia para o gasto.

Como se fosse uma pequena dica, Jimin acabou se abraçando mais em mim, tentando de algum jeito me aquecer.

"Você não comeu quase nada." Ele resmungou.

A verdade é que para mim parecia muito mais interessante ver as expressões do mais velho ao saborear sabores novos do que prová-los eu mesmo.

"Estamos quase chegando." Eu contornei o assunto, nem tendo muita certeza de onde estávamos.

"O restaurante já fechou?"

Aquela pergunta levou-me a verificar as horas, logo confirmando com a cabeça, pois passava da meia noite.

"Legal." Ele disse.

De alguma forma eu concordei, com certa esperança de que quando chegássemos à porta de minha casa ainda pudéssemos conversar um pouquinho mais.

Eu não sabia se era o jeitinho dele de falar que me deixava anestesiado ou se era o seu jeito em geral.

Sabia que o seu sorriso me aquecia tanto que eu quase esquecia o frio que ia dentro do meu coração. Eu poderia facilmente ficar horas e horas a fio encarando aquele rosto bonito.

Eu podia olhar para toda aquela naturalidade, todo aquele semblante e sentir-me a pessoa mais sortuda do mundo apenas por poder estar perto dele o suficiente para notar todos os seus detalhes imperfeitos, mas que de certo modo me encantavam.

Talvez eu pudesse estar apaixonado. Eu nao sabia ao certo.

"E então?" Ele perguntou-me, tocando o meu cotovelo gelado com o seu bem aconchegado.

Um bocadinho desnorteado, os meus olhos procuraram por qualquer indício do que ele pudesse estar a falar.

As ruas estavam escuras demais e eu não sabia se decidia inventar uma resposta que fosse dar para qualquer caso, ou se admitia que me tinha perdido na intensidade do seu olhar.

"Hum..." Eu acabei coçando os cabelos, indeciso. "Pode repetir? Eu não estava escutando." Fui honesto.

O garoto acabou sorrindo pequeno com o olhar, escondendo esse tipo de emoção logo em seguida.

"Ok, esqueça." Ele murmurou, sorrindo de novo e mexendo as mãos dentro dos bolsos.

"Não, me diz." Eu acabei puxando o seu braço, o fazendo parar e sorrindo torto ao notar o toque.

Ele suspirou, ficando na minha frente e encarando o chão.

"Eu estava falando sobre um espetáculo de dança... Que eu vou atuar."

Rapidamente o meu coração saltou uma batida. Não. Não era por imaginar o corpo bonito dele dançando, pelo menos não só.

O que eu estava parecendo naquele momento? Ele achava que eu não tinha ouvido porque perdi o interesse?

"E quando é?" Eu perguntei rápido, quase desesperado.

Ele riu e ajeitou os cabelos.

"Amanhã." Acabou maltratando o seu lábio inferior, me encarando em seguida.

Rapidamente subi o olhar para os seus olhos, tentando que ele não entendesse que eu encarava a sua boca demasiado bem esculpida.

"Está nervoso?"

"Sim." Ele deu de ombros. "E estava te convidando." Ele acrescentou. "É a minha primeira apresentação e tem dois bilhetes e tem só um amigo meu indo... Eu pensei que se você estivesse sem nada para fazer talvez quisesse passar lá."

Dessa vez quem acabou rindo fui eu. Ele parecia demasiado atrapalhado com algo como aquele assunto.

Um quanto ainda mais gelado eu acabei me aproximando um passo, ficando perto dele e parando o movimento da sua mão insistente contra o cordão do meu moletom.

"Eu adoraria ir." Eu tranquilizei.

Ele sorriu torto, usando a outra mão para mexer desajeitadamente no bolso da calça e tirar um pequeno papel dobrado em dois.

"Eu gostaria muito de ver você por lá." Ele disse, mais baixo agora pela proximidade recente. "Tchau." Delicadamente ele soltou a minha mão, depois de apertar levemente a mesma, sorriu-me e caminhou dois ou três passos para trás antes de se virar e correr pela calçada até ao fim da rua. Eu o vi entrar em um jipe preto, logo o mesmo desaparecendo.

Eu olhei em volta, dando finalmente conta de que havíamos chegado ao restaurante.

Mexendo nos meus cabelos com certa força e frustação de mim mesmo por ser tão distraído, eu sorri, abrindo o papel e avaliando o conteúdo do mesmo.

Eu também adoraria te ver amanhã, Park Jimin.

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