O Clã

O treinamento foi até quase de noite, paramos apenas para almoçar. Estou exausta, mas com a sensação de dever cumprido. Tobe havia relembrado muitos golpes e táticas defensivas, afinal defesa não era lá meu ponto forte. Após anos sem prática consegui manusear uma espada e até aprendi uns truques sobre como atirar estrelas ninjas. Os momentos foram muito bons, só que o sentimento crescente de que algo daria errado não parava de aumentar. Devia ser a preocupação diante do perigo iminente. Minha vida estava num momento tão bom agora que eu temia perder toda a estabilidade.

Eu podia sentir a mesma inquietação nos outros. Haviam chegado notícias de que os Mogwai se escondiam nas ruínas do antigo clã, o que havia sido destruído há tantos anos atrás. Aparentemente estavam reunindo forças e contratando mercenários de acordo com alguns dos ninjas, que possuíam contatos além de Sooga. Agora que estávamos todos reunidos em um círculo no meio do dojang, podíamos falar sobre essas aflições e com esperança, montar um plano.

— Poxa, eu sinto muito... — Ching se pronuncia.

— Eu não — Tobe reage em um tom sombrio — Pessoas queridas para mim morreram naquele lugar. Temos uma história de rivalidade com os Mogwai, não só pelas diferenças morais, mas também porque já tentaram nos atacar muitas vezes no passado. No final, quando meu clã estava definhando após o assassinato do meu pai, eles estavam infiltrados entre nós. Nos desestabilizaram, fizeram os mestres se voltarem uns contra os outros. Não tenho apreço pelo lugar, mas também não vou vê-lo nas mãos dos Mogwai.

— Não vamos deixá-los vencer — concordo segurando em sua mão.

Ele sorri após beijar minha mão. Não posso negar que amo essas demonstrações de carinho em público.

— Tá, mas pera aí — Abyo se pronuncia com um olhar desconfiado — Porque acham que eles vão atacar em breve? Quem está dando essas informações?

— Você era um deles, diga você — um dos ninjas rebate, ainda não sei o nome dele.

— Fique calmo, Jiho, tenho certeza de que Abyo tem um bom motivo para estar aqui — Tobe intervém — Ele já provou sua lealdade, e apesar de tudo...

O ninja hesita, e eu espero pelo pior. Uma acusação de que Abyo seria uma espião talvez, e que Tobe lideraia um linchamento. Mas não é isso que acontece.

— Apesar de tudo, ele se mostrou digno da nossa confiança — Tobe se levanta e vai até um dos armários, onde seus próprios ninjas haviam trazido equipamentos de suas casas e trazido para cá.

Ao voltar, ele segura alguns tecidos nas mãos, e eu noto o emblema do clã contrastando contra o tecido escuro. Tobe segura o uniforme na frente de Abyo, esperando que ele o pegue, mas este parecia em choque demais para reagir.

— Espera... Meu Deus... — ele diz em um tom emocionado — Eu sou um ninja agora?

Um silêncio recaiu sobre o ambiente, pois ninguém respondeu de imediato. Tobe apenas ergue as sobrancelhas, um tanto atônito por Abyo ter pensado isso só porque ele estava entregando um uniforme. Percebo que ele estava prestes a dizer alguma coisa, mas eu não queria que ele acabasse com a alegria de Abyo sem querer. Ser um ninja era um sonho dele desde sempre.

— Minha nossa, parabéns, Abyo! — Ching é a primeira a dizer algo.

Tobe olha para mim com uma expressão confusa ao ver os dois se abraçando.

— Parabéns, Abyo — confirmo batendo palmas — Você merece.

Abyo realmente achava que era um ninja, e para o meu alívio, Tobe não ousou dizer o contrário. Fico feliz não apenas por Abyo, mas também por Tobe ter deixado ele acreditar nisso. Os ninjas que presenciavam a cena também batem palmas. Tobe apenas joga o uniforme na direção do mais novo "ninja", cansado de esperar.

Todos aqueles rapazes haviam passado por treinamentos rigorosos no clã desde a infância para ganharem o título de ninjas, mas ainda assim não ligaram para o fato de Abyo se sentir um. Na verdade, acho até que Abyo disfarçou coçar a bochecha para limpar uma lágrima.

Tobe entrega o outro uniforme que segurava para Ching e ela agradece com um sorriso.

Subitamente, a porta de entrada faz um barulho e todos se levantam. Nosso momento é interrompido abruptamente pela pela porta começando a se abrir e os ninjas sacam as armas.

— Com licença, ho ho ho — um velhinho de barba branca e roupa vermelha adentra o dojang — É aqui que estão recrutando ninjas?

Respiro aliviada.

— Sim, Papai Noel, pode entrar — eu o recebo com um sorriso.

Tobe olha incrédulo na minha direção pela segunda vez, mas eu apenas dou de ombros.

— Que ótimo — ouço Papai Noel comentar — Vejo que já começamos a ganhar uniformes.

— Eu não acho que vamos ter o seu tamanho — Tobe rebate amargurado.

Mal posso conter o riso, o ninja ficava uma gracinha quando estava emburrado.

— Ora, não faz mal, eu tenho meu próprio uniforme! — Papai Noel responde com o típico bom humor.

Se ao menos o bom velhinho tivesse percebido o tom do ninja teria anotado o nome dele na lista dos meninos maus que com certeza não ganhariam presente no natal. Sua visita foi tão inesperada, mas tão gentil que prometi a mim mesma que passaria em sua loja de suvenires outro dia.

— Que ótimo, Papai Noel — Ching se pronuncia — Já terminamos por hoje mas o senhor pode voltar amanhã.

— Então está bem, feliz natal, crianças! — o bom velhinho fecha a porta ao sair.

Todos voltaram a se ocupar com outra coisa. Alguns ninjas pegaram em vassouras, outros começaram a recolher as estrelas ninjas espalhadas pelo chão e pela parede, e outros guardavam armas. Ching havia retornado para o balcão e eu vou ajudá-la a organizar as fichas dos novos membros do dojang. Sorrio ao ver que Tobe possuía uma condecoração de mestre na sua.

— Aqui — ela me entrega uma espécie de pergaminho — Acho que você devia entregar.

Desenrolo o papel e leio as informações, era o diploma de Tobe, e faltava de quatro anos atrás.

— Meu pai fez logo antes de... Bom, você sabe. — Ching hesita — Ele nunca veio buscar.

— Obrigada — sorrio para ela.

Minha amiga continuou a arrumar as gavetas enquanto eu entregava pastas fora do lugar. Eu tento me conter para não me intrometer no assunto que martelava minha mente, mas a curiosidade falou mais alto.

— Você e Abyo, hein... — dou uma cotovelada de leve em seu ombro — Quem diria.

— Ai... — ela finge estar zangada — Não comece, não aconteceu nada.

— Nada? Não era isso que o sorriso dele demonstrava... — provoco — E seu cabelo bagunçado quando voltou também dizia o contrário.

Ching começa a rir, desistindo de tentar parecer indignada. Só de ver o quanto ela está feliz já dizia tudo o que eu precisava saber.

— Ok, aconteceu... — ela admite — Ainda não sei como, mas aconteceu. Foi tão de repente, é que ele foi embora e nós nos afastamos tantas vezes... Eu não sei o que fazer, não quero me magoar de novo.

— Mas não precisa ser assim, vocês dois estão de volta na vila agora, e de modo permanente — respondo tentando animá-la — Vocês podem recomeçar a...

— Recomeçar o que? — Abyo surge na nossa frente, interrompendo o que eu ia dizer — Cara, essa roupa é show, mas será que dá para remover essas mangas? Não dá para ver meu tríceps nela e eu trabalhei muito nele.

Ching suspira e o abraça, e ele retira a máscara para beijar o topo de sua cabeça.

— Acho que ficou ótimo em você, Abyo — ela diz, visivelmente apaixonada — Aqui, deixa eu te ajudar.

Ching pega a espada e ele recua um passo, e ergue as mãos, como se pedisse para ela parar, mas não dá tempo dele dizer nada. Com dois movimentos rápidos e habilidosos ela consegue cortar as mangas do uniforme, deixando os braços de Abyo a mostra.

— Melhorou? — ela pergunta.

— Puxa, valeu — ele se admira no espelho da parede.

Ainda estou um pouco confusa pelo modo como ela me ignorou totalmente após ele ter chegado, mas não estou surpresa. Ching sempre tentou agradá-lo e pelo visto Abyo continuava exibido como sempre. Ao menos, ele parecia se importar com ela agora, e correspondia seus sentimentos, e isso era o mais importante.

— Obrigada por vir nos ajudar, Abyo — digo, e antes que eu perca outra oportunidade, pergunto — Você tem notícias de Garu?

Ele parece pensar por um momento.

— Na verdade não, a última vez que o vi foi no festival.

— Queria poder falar com ele, precisamos de ajuda e bom, seria ótimo ter mais informações sobre os Mogwai, aliás, eles tem armas de fogo não tem? — pergunto.

Um silêncio repentino paira no ar. Abyo fica mudo e não só pela pergunta, mas também porque Tobe veio para perto de nós.

— E então? — torno a perguntar.

— Ergh, isso foi meio que minha ideia... — ele passa as mãos pelo cabelo — Quer dizer, não são armas de verdade então eles meio que deixaram isso de lado, mas eu achei que passaria uma mensagem maneira do tipo ninjas perigosos e...

— Argh, eu não acredito — Ching se liberta do abraço de Abyo, como se todo o encanto por ele tivesse se dissipado.

— Olha, me desculpa, eu juro que foi no início e eu não sabia o que eles iam fazer. Depois que eles começaram a chantagear as pessoas eu e o Garu prometemos que só iríamos usá-los até a academia ficar pronta e depois nos livraríamos deles. A gente não podia enfrentá-los sozinhos, ao menos agora temos ajuda, né.

O ninja ao meu lado balança a cabeça em reprovação, como se não acreditasse no que estava ouvindo.

— Mas então seu plano era trair os seus aliados mercenários e bancar o herói quando acabasse com eles? — Ching cruza os braços.

— Isso é só um detalhe, por favor — ele tenta se aproximar.

— Não, você tem que contar a verdade, principalmente para o seu pai! — ela diz frustrada — Nossa, o delegado Bruce ficaria tão decepcionado.

— Olha, eu liguei para ele — Abyo insiste — Meu pai chega amanhã de manhã, contei a ele sobre os Mogwai e os policiais corruptos, e você tem razão eu omiti certas partes. Me desculpa, eu vou contar toda a verdade, e você pode estar lá quando eu contar.

Ching se mantém imóvel, apenas o encarando nos olhos numa tentativa de detectar a verdade. Ele parecia bem arrependido para mim, e até com medo de estragar o relacionamento recente que eles começaram há apenas algumas horas.

— Tudo bem, eu acredito em você — ela o perdoa.

Abyo sorri com alívio e finalmente pôde se aproximar para um abraço. De repente os dois são só amores de novo. Ignorando minha presença e a de Tobe completamente, os dois pombinhos começam a caminhar juntos. Abyo começa a falar sobre o quanto estava com fome e a conduz para longe, tagarelando sobre levá-la para jantar no restaurante. Apenas nesse momento olho para o relógio na parede e vejo que já era quase oito horas da noite. Os demais ninjas acenam em despedida enquanto saem do dojang. Fico impressionada com a disciplina, eles deixaram tudo arrumado antes de saírem.

Volto a olhar para trás. Tobe me olhava com um sorriso admirativo. Seus cotovelos estavam apoiados no balcão atrás dele. Algumas mechas de seu cabelo escuro caiam sobre o olho direito, deixando-o ainda mais bonito.

— Você se saiu muito bem hoje — ele me diz.

— Não o bastante para ganhar um uniforme de ninja pelo visto — alfineto, mas então me arrependo quando vejo sua expressão mudar totalmente. Ele provavelmente tinha um motivo para isso, e eu já sabia qual era.

Desvio o rosto para baixo, para não ter que encará-lo, mas ele segura meu queixo e o puxa com delicadeza, para que eu o olhasse nos olhos.

— Você tem que me prometer que não vai se colocar em perigo — Tobe pede com a voz baixa.

— Eu vou ficar bem, tive um ótimo mestre — digo sorrindo — E temos mais ninjas para combater os Mogwai agora.

O ninja mal contém uma risada nasalada.

— Sim, minha namorada recrutou um velho que pensa ser o Papai Noel e um amiguinho de infância que participou de um reality show. Ao menos Ching sabe usar uma katana.

— Ei, o Papai Noel é um ancião sábio e o Abyo... Bom, eu soube que ele foi um dos finalistas do programa... — respondo, até que minha mente processa o que ele havia acabado de dizer — Espera você me chamou de...

— Namorada — ele se aproxima — Não gostou?

Eu apenas sorrio diante da declaração, e claro, levo minhas mãos a sua nuca para puxá-lo para um beijo. A intensidade me faz suspirar, mas eu sabia que não podíamos demorar. Nos afastamos lentamente com selinhos e sorrisos, foi um tanto difícil.

— Bom... — tento me recompor sem demonstrar o quanto eu ficava sem jeito quando ele me beijava assim — Acho que Ching deixou as chaves no escritório. Eu vou pegar e depois nós podemos ir ao restaurante jantar também...

Enquanto caminho, sem querer esbarro no balcão. Tobe segura meu braço para me ajudar a equilibrar. Mal ele sabia que era o motivo pelo qual eu não prestei atenção onde estava indo.

— Já volto — aceno com a cabeça e ele me deixa ir.

Entro pela porta atrás do balcão e me dirijo para a última sala do corredor. Fazia muito tempo que eu não entrava aqui, então fico um pouco perdida, mas bastou uma olhada no gabinete ao lado do armário para achar as chaves. Volto apressada e tranco a porta ao sair, e antes de voltar para onde Tobe estava eu aproveito para trancar a porta dos fundos.

Estou prestes a virar o corredor que dava acesso ao balcão quando uma voz conhecida faz meu coração acelerar:

— Tobe, precisamos conversar.

Me escondo atrás do balcão, quase tremendo de susto ao achar que tinha sido vista. Não sei exatamente porque estou escondida, mas algo em seu tom me deixou preocupada e também receosa. Reconheço a voz de Garu no mesmo instante, e se ele queria falar com Tobe... Bem, só haviam duas possibilidades dessa conversar terminar, ou os dois finalmente se entendendo (a menos provável), ou os dois tentando se matar.

Quero me mostrar e deixar Garu saber que estou aqui. Nosso último encontro havia sido difícil, e por mais que eu quisesse esganá-lo eu também sabia que ele podia revelar mais se eu não estivesse por perto. Não sei o que esperava, mas de qualquer modo permaneço abaixada ouvindo, e pronta para intervir se necessário.

— O que você quer? — a voz de Tobe reverbera hostilidade.

— Eu sei que temos uma história complicada, mas a verdade é que temos um inimigo em comum agora — Garu volta a dizer — Precisamos nos unir para proteger a vila e a Pucca.

Inclino o corpo devagar, de modo que eu conseguisse ter um vislumbre do que acontecia. Felizmente nenhum dos dois notou que eu podia vê-los.

Tobe ri sem humor diante da última sentença.

— Unir forças? Com um traidor? Pensei que os Mogwai fossem seus amigos.

— Já que é assim então toma — Garu estende uma espada na direção dele e meu coração para por um segundo — Vamos resolver isso como ninjas e acabar logo com a rivalidade.

Tobe fica em silêncio por alguns momentos, como se considerasse a ideia. Para a minha infeliz surpresa, Tobe pega a espada e a gira entre a mão, a lâmina corta o ar com um ruído surdo. O ninja olha para a espada, como se encarasse seu próprio reflexo através dela, e com um movimento rápido e preciso, ele se aproxima de Garu perigosamente. O mais novo desembainha sua própria lâmina e a estende na direção de Tobe, pronto para o combate.

Prendo a respiração, temendo que um deles desferisse o primeiro golpe. Porém, no último minuto, meu ninja recua.

— Não — Tobe joga a espada no chão — Não vale a pena.

Garu grunhe frustrado e abaixa a própria espada.

— Nós dois sabemos que essa vila é pequena demais para nós dois.

— E o que quer dizer com isso? — Tobe pergunta — Quer me fazer lutar com você e o perdedor tem que ir embora? Eu lutei com você centenas de vezes, eu assisti centenas de vezes você bancar o herói e ser aclamado por essas pessoas quando o tempo todo esteve do lado dos Mogwai. Será que te tratariam diferente se soubessem que seu papai era um assassino e destruiu meu clã?

— Meu pai não era nada disso… — Garu sobe o tom.

— Eu estou a poucos segundos de matar você, mas eu fiz uma promessa — Tobe ameaça — Saia daqui antes que eu mude de ideia. Você não vai mentir pra mim, garoto. É isso o que você é, uma eterna criança que não sabe assumir as consequências do que faz.

Tobe vira de costas e começa a vir na direção do balcão. Volto a me esconder, e me sento no chão com ambas as mãos no coração descompassado. Penso que os dois vão finalmente parar essa tentativa perigosa e frágil de conversa quando Garu volta a dizer:

— Ele era o meu pai. Ele errou mas eu não sou como ele, eu só não o queria vê-lo morto porque ele era tudo o que eu tinha. Sei que o que aconteceu com você foi horrível e lamento muito. Eu passei anos da minha vida sem dizer uma palavra, anos tentando me livrar de uma culpa que você jogou para cima de mim. Quando éramos crianças eu tentei ser seu amigo, eu olhava para você e queria ser como você. Você está certo sobre mim, eu quis provar que meu pai não era um monstro assassino do próprio clã, mas não consegui. Ao invés disso eu treinei, me aprimorei e conquistei minha honra. E você decidiu continuar me perseguindo, você fez sua escolha, você começou isso, você tentou me matar!

— Então você finalmente admite — Tobe profere baixo, ignorando a última parte  — Admite que seu pai era um Mogwai cuja única missão era destruir o meu clã. Admite que ele matou o pai e isso fez minha mãe cortar os pulsos.

O silêncio denso e carregado de ódio e tristeza se instaura no ambiente, era uma calmaria tensa no meio de uma tempestade, como se um raio fosse cair a qualquer momento. Como se a qualquer momento um fosse matar o outro.

— Sim — Garu admite — Eu só descobri que ele era um dos Mogwai recentemente.

Me surpreendo ao sentir lágrimas grossas escorrendo pelo meu rosto. A tensão era tanta que eu nem sabia que estava prestes a chorar.

— E não, eu não estou do lado dos Mogwai, não mais. No começo eu precisava de aliados para começar minha própria academia, para restaurar os Gongdoo Oni. Eles ajudaram no começo, e eu não questionei de onde vinha o dinheiro para reformar tudo. Eu dizia a mim mesmo que era pelo bem maior, que quando eu tivesse ninjas suficientes eu poderia expulsá-los, mas quem eu quero enganar? Eu sei que você tem razões para não confiar em mim, mas você tem que acreditar quando eu digo que não é só por esta vila que quero propor uma trégua.

Não estou mais vendo a cena, estou uma pilha de nervos tão grande que se eu tentar espiar novamente vou acabar caindo e chamando a atenção deles. No entanto, consigo visualizar Tobe de olhos fechados, como na manhã em que acordei em sua casa. Consigo imaginá-lo meditando, encontrando sua paz no meio de tanta raiva e caos.

Tenho certeza de que levou uns bons anos até que Tobe pudesse finalmente desistir de seus planos de vingança, e conviver com a ideia de que o responsável pela sua ruína respirava e andava livremente. Não só isso, Garu também sempre fora visto como um herói por todos nessa vila, e principalmente por mim.

É então que percebo a pior parte. Se Garu não tivesse se mantido em silêncio por tantos anos, se tivesse relatado a verdade sobre o que aconteceu no clã Oni, tudo teria sido diferente. Posso entender seu lado até certo ponto, Garu era apenas uma criança que tentou proteger a honra do pai, e lutou por anos para ser um mestre ninja.

No entanto, ao fazer isso, ele também destruiu a reputação de Tobe e seus ninjas, deixou que todos acreditassem que ele era um assassino. A cicatriz no rosto de Tobe era uma marca ninja, um claro aviso de que ele não era confiável, e portanto ninguém acreditaria em nada do que ele dissesse. Se eu tivesse passado por tudo o que passou, não sei se aguentaria, e francamente, não sei se teria forças para sequer encarar Garu.

Após o silêncio ensurdecedor, Tobe toma uma decisão quanto ao pedido de trégua:

— Você não vai chegar perto dela de novo, e vai ficar fora do meu caminho.

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