𖦹 018

Eliot tremia, ele estava com frio demais para ser somente um laxante. Fui até ele e coloquei a mão na sua testa. Os olhos escuros dele abriram incomum fraqueza incomum. Aquele não era Eliot Ross. Não o que eu conhecia.

— Ele 'tá congelando, Adrian! — Disse meio aflita.

— Talvez seja uma reação ao laxante, não é minha culpa — Não vi seu rosto enquanto ele disse isso, mas podia afirmar que ele sorriu.

A reação de Adrian diante da situação de Eliot foi perturbadoramente calma, como se estivesse observando um experimento científico se desenrolar diante de seus olhos.

— Oh, querida Sarah, você parece bastante preocupada. Mas lembre-se, as consequências de suas escolhas não podem ser previstas com precisão, especialmente quando se trata de manipular certas substâncias. — Adrian respondeu, sua voz suave contrastando com a angústia que eu estava sentindo.

Eliot, agora claramente em um estado de desconforto e fraqueza, tentou falar, mas sua voz saiu fraca e trêmula.

— Sarah... eu... o que está acontecendo comigo? — Ele conseguiu articular, sua expressão refletindo a confusão e o sofrimento que ele estava experimentando.

Eu senti um misto de desespero e raiva diante da situação, mas também sabia que não podia permitir que Adrian visse minha fraqueza.

— Adrian, você precisa fazer algo! Eliot não está bem, isso não é apenas o laxante. — Eu implorei, minha voz soando desesperada enquanto eu buscava uma solução para o estado de Eliot.

Adrian apenas deu de ombros, sua expressão indiferente.

— Como eu disse, querida, nem sempre podemos prever todas as consequências. Mas não se preocupe, eu vou providenciar ajuda para ele. Enquanto isso, podemos continuar nossa conversa sobre os serial killers que tanto nos fascinam. — Ele sugeriu, como se o estado de Eliot fosse uma mera distração em sua mente.

— Você não se importa nem um pouco com o que está acontecendo com ele, não é? Você é um médico, deveria saber como lidar com essa situação! — Eu exclamei, minha frustração transbordando diante da aparente indiferença de Adrian.

Adrian deu uma risadinha, como se minha reação fosse uma comédia para ele.

— Oh, minha querida Sarah, você está subestimando o poder da indiferença. Às vezes, é mais divertido simplesmente observar os eventos se desenrolarem sem intervenção direta. Além disso, a vida de Eliot não é tão importante quanto você imagina neste momento. Temos assuntos mais interessantes para discutir. — Ele respondeu, seu sorriso sutil revelando uma satisfação perturbadora.

Eu senti uma onda de raiva e impotência diante da atitude de Adrian, mas também sabia que não podia permitir que ele visse minha fraqueza. Eu me virei para Eliot, colocando uma mão em seu ombro em um gesto de conforto, mesmo que minhas próprias mãos estivessem trêmulas.

— Eliot, aguente firme. Vamos sair dessa situação, eu prometo. — Eu disse, minha voz tentando transmitir confiança, apesar da incerteza que eu também sentia.

Adrian, por sua vez, permaneceu em sua cadeira, observando a cena com um olhar de quem estava assistindo a um espetáculo.

— Vou deixar vocês dois a sós por um momento. Não se preocupem, eu voltarei em breve para continuar nossa conversa. — Ele disse, levantando-se e deixando o quarto sem olhar para trás — Vou fazer um chá para o nosso querido amigo.

Fiquei ali, ao lado de Eliot, sentindo-me impotente diante da situação em que estávamos. A indiferença de Adrian e sua manipulação dos eventos ao nosso redor eram assustadoramente eficazes.

Eliot, embora ainda fraco, tentou sorrir para mim.

— Você vai... conseguir descobrir... o que ele quer... e como sair... dessa situação. Você sempre... terá minha... confiança. — Ele disse, sua voz fraca, mas cheia de confiança em mim.

Eu segurei a mão dele com firmeza, prometendo a mim mesma que encontraria uma maneira de sairmos dessa situação, mesmo que tudo parecesse desesperador.

— Vamos descobrir juntos, Eliot. Não vamos deixar que Adrian nos vença. — Eu respondi, tentando manter a esperança viva em meio ao caos ao nosso redor.

Enquanto esperávamos por Adrian ou por qualquer sinal de ajuda, eu repassei mentalmente todas as informações que tinha sobre ele, sobre seus métodos e suas motivações. Eu sabia que encontrar uma brecha em seu jogo seria a chave para nossa sobrevivência.

— Eliot, você lembra do motivo de estarmos aqui? — Perguntei, buscando qualquer detalhe que pudesse ser útil em nossa situação desesperadora.

Eliot fechou os olhos por um momento, como se estivesse concentrando-se em lembrar de algo.

— Eu não... lembro — Eliot respondeu, sua voz fraca me dava agonia — Eu 'tô com... muito frio.

Eliot, tentando se aquecer, virou-se para mim com um olhar de súplica nos olhos.

— Sarah, por favor, me ajude... está tão frio aqui. — Ele murmurou, sua voz fraca refletindo o desconforto que ele estava enfrentando.

Sem hesitar, eu me deitei ao lado dele, compartilhando meu calor corporal para tentar aliviar um pouco do frio que o consumia. Eu o abracei com cuidado, sentindo sua pele gelada contra a minha, mas determinada a oferecer qualquer conforto que pudesse.

— Estou aqui, Eliot. Vamos nos manter juntos e enfrentar isso — Eu sussurrei, mantendo-me próxima a ele enquanto buscava maneiras de ajudá-lo a recuperar sua força.

Enquanto isso, a ausência de Adrian começava a pesar, mas eu sabia que precisava focar em Eliot naquele momento. A incerteza pairava sobre nós, mas eu não deixaria que isso nos derrotasse. Juntos, encontraríamos uma saída, um meio de resistir aos jogos de Adrian e sair dessa situação angustiante.

Eu passava a mão no cabelo dele e as vezes descia para o pescoço, ele estava congelando. Eliot depositou a cabeça dele no meu peitoral como uma criança no colo de sua mãe. O cheiro dele era como um café suave de manhã. Eu gostaria de estar nessa mesma situação em um outro contexto.

Enquanto eu permanecia ao lado de Eliot, tentando confortá-lo da melhor maneira possível, a porta se abriu novamente, revelando a figura de Adrian. Seu rosto, normalmente calmo e indiferente, agora exibia uma expressão de ciúmes extremos ao nos ver juntos. Ele tinha uma xícara de chá nas mãos, estava quente e a fumaça pairava pelo ar.

Ele depositou a xícara na mesa e olhou diretamente para nós, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e possessividade.

— O que é isso? — Adrian rosnou, sua voz carregada de hostilidade ao ver a proximidade entre Eliot e eu.

Eliot, ainda enfraquecido, olhou confuso para Adrian, sem entender a mudança repentina em seu comportamento.

— Adrian, eu... — Eliot tentou explicar, mas Adrian não estava interessado em ouvir.

— Você não tem o direito de se aproximar dele desse jeito! — Adrian disparou, avançando em direção a nós com uma expressão furiosa.

Eu me levantei rapidamente, protegendo Eliot do avanço de Adrian, minha própria frustração misturando-se com a confusão diante da reação de Adrian.

— Adrian, o que deu em você? Estamos lidando com uma situação séria aqui, não é hora para ciúmes infantis! — Eu retruquei, minha voz mostrando minha própria irritação diante da atitude dele — Você tentou matar ele!

Adrian recuou um pouco, mas sua expressão ainda era de pura raiva.

— Você sempre tem que ser a heroína, não é? Sempre precisa salvar todos ao seu redor, especialmente ele. Você não percebe que você é minha? — Adrian falou, suas palavras carregadas de ressentimento.

Adrian parecia estar perdendo o controle, suas emoções transparecendo em sua voz e em sua postura agressiva. Eliot, ainda debilitado, olhava entre nós dois, confuso e preocupado com a tensão que se formava.

— Adrian, nós não somos propriedade de ninguém. Eliot é meu amigo, e eu vou protegê-lo, assim como faria por qualquer pessoa que eu me importe. Você precisa se acalmar e entender que o que importa agora é ajudar Eliot a se recuperar. — Eu argumentei, mantendo-me firme entre ele e Eliot.

Eliot tentou se sentar, lutando contra a fraqueza que o dominava.

— Sarah, eu... não quero ser um problema... — Ele murmurou, sua voz fraca mostrando sua preocupação em ser uma carga para nós.

Eu me ajoelhei ao lado dele, segurando sua mão com suavidade.

— Você não é um problema, Eliot. Você é meu parceiro. — Eu assegurei, transmitindo o máximo de apoio e confiança que eu podia.

Adrian observava a cena com uma expressão tumultuada, como se estivesse lutando internamente contra suas próprias emoções conflitantes.

— Eu só queria queria que você entedesse, porra!— Adrian murmurou, sua voz tinha agressividade.

— Como eu vou entender? Você é a merda de um serial killer!

A afirmação direta e incisiva sobre a verdadeira natureza de Adrian pareceu atingi-lo em cheio. Ele recuou, seus olhos se estreitando em uma mistura de surpresa e irritação diante da minha franqueza.

— Você não tem direito de falar assim comigo! — Adrian exclamou, sua voz carregada de indignação, mas também de um toque de temor diante da revelação de seu segredo.

Eliot, ainda fraco, olhou entre nós dois, sua expressão refletindo confusão e uma ponta de compreensão.

— Adrian... você é um... — Eliot tentou articular, mas sua voz falhou, sua respiração acelerando com a agitação da situação.

Eu mantive-me firme diante de Adrian, enfrentando-o com determinação.

— Você acha que pode manipular todos ao seu redor e sair impune? Você acha que pode brincar com a vida das pessoas como se fosse um jogo? — Eu questionei, minha voz tremendo um pouco devido à intensidade do momento.

Adrian, ainda se recuperando do choque inicial de ter sido confrontado dessa forma, procurou manter sua compostura habitual.

— Não é da sua conta. Você não entende o que está em jogo aqui. — Adrian respondeu, sua voz agora mais controlada, mas ainda carregada de tensão.

Eu ignorei sua tentativa de desviar o assunto e mantive meu foco.

— Eliot está sofrendo por sua causa. Você tem noção do que fez com ele? — Eu continuei, olhando-o nos olhos, buscando alguma resposta que pudesse explicar sua crueldade.

Adrian parecia dividido entre o desejo de se defender e a necessidade de manter sua máscara de controle.

— Você sabia que Eliot sofreria alguma coisa se viesse aqui, e você permitiu que ele viesse. Queria ver o que aconteceria? — Adrian murmurou, suas palavras revelando um vislumbre de remorso misturado com justificativas fracas — Você pode me chamar de serial killer, eu não tenho vergonha. Mas você, uma defensora dos mais fracos, também já matou antes e você sente prazer em matar.

Adrian respirou fundo, como se estivesse reunindo sua última gota de paciência diante da minha persistência.

— Sarah, você não tem ideia do que está falando. Você não sabe de nada sobre mim, sobre minhas motivações. E quanto a Eliot, ele veio aqui por vontade própria, eu não o forcei a nada. Você precisa entender que nem todos os que estão ao seu redor são dignos de sua confiança cega. — Adrian retrucou, seus olhos brilhando com uma intensidade que revelava sua determinação em não ser subestimado.

Eu mantive minha postura, firme em minha convicção.

— Eu sei o suficiente para entender que suas ações são cruéis e egoístas. Você pode tentar se justificar de todas as maneiras, mas não vai apagar o que fez com Eliot e com tantas outras pessoas. — Eu respondi, minha voz carregada de indignação e tristeza pela situação em que nos encontrávamos.

Adrian, sem mais palavras, pegou a xícara de chá que estava na mesa ao lado e, com um movimento rápido, jogou o líquido quente em minha mão, causando uma dor aguda e instantânea.

Eu gritei de dor, sentindo o calor ardente da queimadura se espalhar pela minha pele. Eliot, ainda fraco, olhou horrorizado para a cena, sua expressão refletindo a preocupação e a impotência diante do ato de Adrian.

— Seu filho da puta! — Eu exclamei, segurando minha mão ferida enquanto tentava conter as lágrimas de dor e frustração.

Adrian permaneceu impassível diante da minha reação, como se a dor que ele causou fosse apenas mais um elemento em seu jogo de manipulação.

— Eu disse que você não tinha o direito de se aproximar dele desse jeito. Agora você vai entender as consequências de desafiar minhas ordens — Adrian declarou, sua voz fria e calculista, contrastando com a violência do ato que acabara de cometer.

Eliot, mesmo debilitado, tentou se levantar, sua expressão uma mistura de choque e determinação.

— Adrian, isso é demais... — Eliot falou com dificuldade, sua voz fraca, mas cheia de determinação em enfrentar Adrian.

— Mais uma palavra e eu atiro na sua testa — Adrian respondeu com seu tom autoritário.

Eu olhei para Eliot, sentindo uma mistura de gratidão por sua coragem e preocupação com sua fragilidade diante da ameaça de Adrian.

— Eliot, não se esforce... — Eu disse, tentando acalmar tanto a ele quanto a mim mesma diante da crescente tensão.

A fervura flamejante me causava uma dor intensa, era como se eu fosse queimada viva.

Adrian, por sua vez, parecia satisfeito com sua demonstração de poder, sua expressão revelando um certo prazer na dominação da situação.

— Eu não esperava menos de você, Sarah. Você sempre foi uma pessoa digna. Mas agora você vai aprender que não pode desafiar quem está no controle. — Adrian afirmou, sua voz ecoando com uma autoridade ameaçadora.

Eu olhei para ele com determinação, mesmo que minha mão queimasse de dor.

— Você pode ter o controle agora, Adrian, mas isso não vai durar para sempre — Eu declarei, minha voz tremendo um pouco, mas firme em minha determinação de resistir a ele.

— Queria ter uma conversa com você, algo particular — Adrian pressionou a mão dele contra a minha fazendo arder cada vez mais.

Ele somente me arrastou pelo braço até a parte de fora do quarto me pressionando na escada, eu sentia a respiração dele na minha testa.

Adrian pressionou suavemente meu rosto, me fazendo estremecer não pela dor, mas pela tensão que sua presença criava. Ele a olhou nos olhos com uma expressão que mesclava obsessão e determinação.

— Sarah, você entende o que está em jogo aqui, não é? Somos dois indivíduos excepcionais, cada um com seus talentos únicos. Juntos, poderíamos ser imparáveis. — Adrian começou, sua voz suave contrastando com a intensidade de suas palavras.

Respirei fundo, tentando manter minha calma diante da proposta de Adrian.

— Adrian, eu entendo que você tem seus objetivos e sua visão do mundo, mas isso não significa que eu precise me juntar a você. — Eu respondi, mantendo uma postura firme.

Adrian sorriu de forma sutil, como se estivesse se divertindo com a resistência que eu tinha.

— Você sempre foi teimosa, Sarah. Mas imagine o que poderíamos conquistar juntos. Você já teve um vislumbre das minhas habilidades, do meu conhecimento. Seria uma parceria poderosa. — Adrian continuou, sua voz persuasiva.

Eu ponderei por um momento, refletindo sobre as palavras de Adrian. Eu sabia que ele era manipulador e perigoso, mas também reconhecia que suas habilidades poderiam ser valiosas se estivessem direcionadas para causas justas.

— Adrian, eu não posso simplesmente concordar em me unir a você sem saber exatamente quais seriam os termos dessa parceria. O que você espera de mim?  —Questionou, com minha curiosidade misturada com cautela.

Adrian inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse considerando suas palavras com cuidado.

— Eu quero que você seja minha informante. Você tem acesso a informações e pessoas que seriam úteis para os meus objetivos. E, em troca, eu posso garantir sua proteção e recursos para suas próprias atividades. Uma aliança de benefício mútuo. — Adrian explicou, sua voz mantendo-se calma e persuasiva.

Eu sabia que poderia ser arriscado se envolver mais profundamente com ele, mas também reconhecia a utilidade de ter um aliado influente.

— Se você aceitar, eu cuido da sua queimadura, faço Eliot esquecer tudo isso e deixo ele em casa como se ele nunca tivesse pisado aqui — Adrian disse me olhando como se estivesse me comendo viva.

Eu hesitei por um momento, sentindo o peso das palavras de Adrian e as possíveis ramificações de aceitar sua proposta. Uma parte de mim reconhecia a utilidade de ter um aliado poderoso como ele, especialmente para proteger Eliot e garantir nossa segurança.

No entanto, eu também sabia que isso significaria comprometer meus próprios princípios e me envolver ainda mais no mundo sombrio em que Adrian operava.

Respirei fundo, olhando diretamente nos olhos de Adrian, buscando alguma pista de suas verdadeiras intenções por trás daquela máscara de calma e controle.

— Está bem, Adrian. Eu aceito sua proposta. Vamos trabalhar juntos — disse finalmente, tomando a decisão com uma mistura de determinação e apreensão.

Adrian sorriu, satisfeito com minha resposta, mas também percebi uma centelha de algo mais obscuro em seu olhar. Segui seus passos de volta ao quarto onde Eliot estava, tentando manter minha mente focada apesar da turbulência de emoções que eu sentia.

Ao entrar no quarto, observei atentamente enquanto Adrian cuidava de Eliot. A maneira como ele manipulava as coisas com tanta habilidade e frieza me deixava inquieta, mas ao mesmo tempo, eu sentia um certo alívio ao ver Eliot recebendo cuidados.

Quando Adrian deu a Eliot o líquido para ajudá-lo a se recuperar e esquecer os eventos traumáticos, senti um aperto no peito, uma mistura de gratidão por Eliot estar recebendo ajuda e preocupação sobre as consequências desse método.

— E quanto à minha queimadura? — perguntei, lembrando-me da dor aguda em minha mão.

Adrian sorriu de forma tranquilizadora, mas havia algo em seu sorriso que me deixava inquieta.

— Vou cuidar disso agora mesmo. Você está sob minha proteção agora, Sarah — ele afirmou, pegando o kit de primeiros socorros.

Enquanto ele tratava minha queimadura, não pude deixar de questionar minhas próprias escolhas e o que isso significava para o futuro. Eu estava me aliando a alguém que claramente tinha seus próprios interesses e métodos questionáveis. Mas, por enquanto, eu estava disposta a fazer o que fosse necessário para proteger Eliot e garantir nossa segurança.

Estar perto de Adrian era sempre uma reta númerica e eu andava no lado esquerdo.

— Vou chamar um amigo que me deve um favor para levar Eliot para casa, mas você fica — Ele afirmou me controlando, mesmo se eu tentasse negar, sabia que ele estava tentado me testar.

( Dedicado a Laura que me pagou dois reais )

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