𖦹 013

A sensação de estar presa em uma teia de intriga e perigo era avassaladora. Enquanto o carro avançava pela estrada escura, eu me sentia mais perdida do que nunca. A revelação de que Adrian era o Carniceiro, o serial killer que assombrava a cidade, enviou um arrepio de pavor pela minha espinha.

Adrian apenas assentiu, um sorriso enigmático brincando em seus lábios.

— Eu preferiria ser chamado de cirurgião, mas o mundo decidiu me rotular de outra forma. Mas você sabe, Sarah, que minhas habilidades vão muito além do que os outros entendem.

O choque dessa revelação fez meu estômago se revirar. Como ele podia ser o Carniceiro e, ao mesmo tempo, ter sido meu cirurgião quando eu era adolescente? As peças começaram a se encaixar de uma forma que me deixava ainda mais confusa.

— Você me pegou porque... porque está apaixonado por mim? — minha mente tentava compreender o que estava acontecendo.

Adrian assentiu mais uma vez, seus olhos fixos em mim com uma intensidade que me deixava desconfortável.

— Você sempre foi especial para mim, Sarah. Desde o momento em que pus meus olhos em você, soube que havia algo único em sua essência. Eu queria protegê-la, mesmo que isso significasse cruzar linhas que outros não ousariam.

Eu me lembrei da cirurgia que ele realizara em mim quando eu tinha 16 anos, removendo o tumor que ameaçava minha vida. Na época, eu o via como um salvador, mas agora, diante de suas revelações sombrias, a sensação de confiança desmoronava.

— Você matou tantas pessoas... mutilou tantas vidas. Como posso acreditar que você tem boas intenções?

Adrian suspirou, como se estivesse tentando me fazer entender seu ponto de vista.

— Eu não vejo isso como maldade, Sarah. É apenas uma forma de arte, uma expressão do que é verdadeiramente belo. Você, acima de todos, deveria entender a complexidade da mente humana.

Suas palavras ecoaram dentro de mim, uma mistura de fascínio e repulsa. Eu era uma detetive, treinada para ver o mundo em preto e branco, certo e errado. Mas diante de Adrian, as linhas se tornavam borradas.

Enquanto o carro seguia seu caminho pela estrada deserta, minha mente estava em turbilhão. Eu sabia que precisava agir com cuidado, jogar o jogo dele até encontrar uma oportunidade de escapar ou de obter informações cruciais para encerrar a caçada pelo Carniceiro de uma vez por todas.

— O que você quer de mim, Adrian? Por que me trouxe para cá?

Ele olhou para mim com um brilho calculista nos olhos, como se estivesse avaliando suas próximas jogadas.

— Eu preciso de você, Sarah. Preciso de alguém que entenda o que faço, alguém que possa apreciar a arte por trás da carnificina. Juntos, podemos criar algo verdadeiramente grandioso.

Meu estômago revirou novamente, o horror se misturando à compreensão gradual do que ele estava propondo. Adrian queria que eu me juntasse a ele, que eu compartilhasse sua visão distorcida do mundo.

— Eu nunca me juntaria a você, Adrian. Nunca compactuaria com suas atrocidades.

Minha voz era firme, mesmo que por dentro eu tremesse de medo e repulsa. Enquanto ele ponderava minhas palavras, percebi que precisava encontrar uma maneira de sair dessa situação antes que fosse tarde demais.

Adrian inclinou a cabeça, como se estivesse considerando minhas palavras cuidadosamente. Seus olhos, porém, ainda exibiam uma determinação fria e calculada.

— Entendo sua hesitação, Sarah. Mas antes de tomar uma decisão tão definitiva, permita-me mostrar-lhe algo.

O carro diminuiu a velocidade e virou em uma estrada secundária escura, afastando-se ainda mais da civilização. Minha inquietação crescia à medida que nos afastávamos do que eu conhecia como segurança.

— Onde estamos indo? — minha voz soava tensa, me esforçando para manter a calma.

Adrian sorriu, um sorriso que não alcançava seus olhos.

— Um lugar que poucas pessoas têm o privilégio de conhecer. Um lugar que revelará a verdade por trás das minhas ações.

O restante da viagem transcorreu em silêncio tenso. Meu coração batia forte no peito, cada segundo aumentando minha urgência de encontrar uma saída dessa situação terrível.

Finalmente, o carro parou em frente a um prédio abandonado no meio da floresta. As janelas quebradas e as paredes cobertas de musgo só aumentavam a aura sombria do lugar.

— O que é isso? — minha voz saiu em um sussurro, uma mistura de curiosidade e medo.

Adrian saiu do carro e abriu a porta para mim, oferecendo a mão como se estivesse convidando-me para um baile.

— Venha, Sarah. Aqui está a resposta que você busca.

Relutante, mas determinada a descobrir a verdade, saí do carro e segui Adrian em direção ao prédio decrépito. Cada passo ecoava no silêncio da noite, criando uma sensação de irrealidade ao meu redor.

O lugar estava abandonado, tinha três andares e parecia ser um antigo lugar residencial. Vidros quebrados e portas de metal enferrujadas.

Era um ótimo lugar para ele me matar.

Dentro do prédio, a escuridão era quase palpável. Adrian acendeu uma lanterna e guiou-me por corredores empoeirados e salas vazias. Cada sombra parecia esconder segredos antigos e perigos iminentes.

Finalmente, chegamos a uma sala iluminada por uma luz fraca que vinha de uma pequena clarabóia. No centro da sala, sobre uma mesa, havia uma série de fotografias e documentos meticulosamente organizados.

— O que é tudo isso? — perguntei, examinando as imagens que retratavam cenas de crimes, incluindo alguns dos assassinatos atribuídos ao Carniceiro.

Adrian permaneceu em silêncio por um momento, deixando-me absorver a magnitude do que estava diante dos meus olhos.

— Isso é o que você precisa entender, Sarah. Cada uma dessas vítimas tinha uma história, uma vida, uma razão para estar aqui. Eu não sou apenas um assassino sádico, sou um artista que revela a verdade oculta por trás das máscaras que usamos.

Sua voz ecoava na sala vazia, carregada de uma paixão estranha e distorcida. Eu me vi obrigada a olhar para além da superfície e contemplar as implicações mais profundas do que Adrian estava tentando me mostrar.

Todos aqueles que Adrian matava tinham passado pelo Saint Pierre, todos eles tinham passagem pela polícia. Todos menos a Rita Connor e a Peterson.

— Você acha que está fazendo justiça? — minha voz saiu baixa, cheia de conflito interno.

Adrian se aproximou, os olhos fixos nos meus.

— Justiça é relativa, Sarah. O que importa é a verdade, a revelação do que realmente somos. Eu não sou o monstro que todos pensam que sou. Eu sou o espelho que mostra a verdadeira face da humanidade.

As palavras dele reverberaram dentro de mim, desafiando minhas convicções e crenças fundamentais sobre o que era certo e errado. Eu me vi em um precipício, lutando para encontrar um terreno firme em meio ao abismo moral que se abria diante de mim.

— E o que você espera de mim, Adrian? — minha voz era um sussurro frágil, refletindo minha confusão e angústia.

Ele colocou a mão em meu ombro, seus olhos buscando os meus com intensidade.

— Eu quero que você veja além das aparências, que compreenda a complexidade do que faço. E então, quero que você decida por si mesma o que é verdade e o que é justiça.

O peso das palavras de Adrian caía sobre mim, uma responsabilidade esmagadora misturada com uma urgência crescente de encontrar um caminho para fora dessa situação surreal.

— Você os mata, porquê eles mataram — murmurei, tentando ganhar espaço para respirar, para processar tudo o que havia sido revelado — Mas você virá um deles, quando mata.

— Não. Eles matam por matar, eu mato para honrar.

— Você honrou a Rita e a Peterson?

Ele riu, eu odiava a risada dele.

— Eu matei a Rita Connor admito, mas a Peterson? Você sabe que foi Charlie Estev. Por que insistir em me culpar, coração?

Senti um nó se formando em minha garganta, uma mistura de choque e indignação diante das palavras de Adrian. Minha mente girava tentando processar todas as informações que ele estava jogando sobre mim.

— E o que você quer que eu faça? — minha voz soava fraca, refletindo a incerteza que me dominava.

Adrian se aproximou mais uma vez, seus olhos buscando os meus como se estivesse tentando ler meus pensamentos.

— Eu quero que você se una a mim, Sarah. Não como uma cúmplice, mas como uma aliada. Juntos, podemos desvendar os segredos mais profundos desta cidade e revelar a verdade que muitos tentam esconder.

Um conflito interno feroz tomou conta de mim. Por um lado, eu via Adrian como um monstro, um assassino cruel que destruía vidas. Por outro lado, suas palavras ecoavam verdades desconfortáveis sobre a natureza humana e as injustiças que permeavam nossa sociedade.

— Eu não posso simplesmente virar as costas para tudo o que acredito e me juntar a você, Adrian. Não é assim tão fácil.

Ele suspirou, parecendo resignado com minha resposta.

— Eu entendo, Sarah. Mas saiba que a porta está sempre aberta para você. A verdade não pode ser escondida para sempre, e eu estarei aqui quando você estiver pronta para enxergá-la — Ele veio por trás de mim e colocou a cabeça no meio pescoço — Sabe jamais mataria você, não sabe?

O ar pareceu fugir dos meus pulmões quando Adrian tocou no assunto do estrangulamento. Um calafrio percorreu minha espinha ao relembrar aquele momento de terror e vulnerabilidade.

— Você acha que pode me convencer de que não é uma ameaça, mesmo depois de ter tentado me matar? — minha voz tremia, misturando indignação e medo.

Adrian recuou um passo, uma expressão quase magoada cruzando seu rosto.

— Sarah, você entende que eu nunca faria mal a você de verdade. Foi um erro, um momento de fraqueza, mas eu nunca quis verdadeiramente te machucar.

Suas palavras eram convincentes, mas eu não podia baixar minha guarda diante de alguém tão habilidoso em manipulação.

— Você espera que eu confie em você depois de tudo o que aconteceu? Depois de descobrir quem você realmente é? — questionei, lutando para controlar as emoções que tumultuavam dentro de mim.

Adrian suspirou, parecendo resignado com a minha desconfiança.

— Eu sei que é difícil, Sarah. Mas tudo o que eu fiz foi por um propósito maior. Você pode não entender agora, mas com o tempo, espero que veja a verdade.

Sua insistência só aumentava minha sensação de estar presa em uma armadilha elaborada, onde cada movimento que eu fazia era monitorado e manipulado por Adrian.

— O que você quer que eu faça agora? — perguntei, buscando algum tipo de orientação em meio ao caos que era minha mente.

— Meu amor — Ele sussurrou, sua voz carregada de uma intensidade que enviou arrepios pela minha espinha. — Eu quero que você entenda que o que faço é mais do que simplesmente matar. Há um propósito, uma razão para cada ação que tomo.

Senti um misto de confusão e fascínio diante da maneira como Adrian se expressava. Era como se ele estivesse tentando me envolver em seu mundo distorcido de uma forma quase hipnótica.

— Eu... eu não sei se posso aceitar isso, Adrian. Não sei se posso aceitar você.

Minhas palavras saíram hesitantes, refletindo a batalha interna que travava entre o horror do que ele representava e a curiosidade em entender suas motivações mais profundas.

Adrian segurou meu rosto entre suas mãos, seus olhos procurando os meus com uma intensidade avassaladora.

— Você é a chave, Sarah. A chave para entender o que realmente somos, o que a humanidade esconde por trás de suas máscaras. Juntos, podemos transcender as noções tradicionais de certo e errado, de bem e mal.

Uma parte de mim queria resistir, queria manter minhas convicções intactas e não ceder às tentativas manipuladoras de Adrian. Mas outra parte, uma parte que eu mal reconhecia, sentia-se atraída pela promessa de desvendar mistérios profundos e desafiar as noções preestabelecidas.

— Eu preciso de tempo, Adrian. Tempo para pensar, para processar tudo isso — murmurei, buscando um fio de clareza em meio ao turbilhão de emoções.

Ele assentiu lentamente, como se aceitasse minha necessidade de espaço e reflexão.

— Tempo é algo que posso dar a você, meu amor. Mas saiba que estarei sempre por perto, esperando o momento em que você abrirá os olhos para a verdade que eu represento.

A sensação de estar em uma encruzilhada, de ter que tomar uma decisão que poderia mudar o curso da minha vida para sempre, era esmagadora. Mas eu sabia que não podia permitir que Adrian me manipulasse completamente, mesmo que houvesse uma parte de mim que sentisse uma estranha conexão com ele.

— O que acontece agora? — perguntei, buscando entender o que viria a seguir.

Adrian sorriu, um sorriso que parecia carregar todo o peso do conhecimento que ele tinha sobre mim.

— Agora, você volta para casa. Volta para sua vida cotidiana, mas com uma nova perspectiva. E quando estiver pronta, estarei aqui para guiar você pelo labirinto da verdade — Ele sorriu — Voltarei para Vancouver em dois dias, ficarei feliz se pudermos jantar juntos já que nosso jantar na sua casa foi interrompido.

— Quem atirou na gente? — Perguntei diretamente.

— Paguei um assassino de aluguel, mas garanti que ele não te matasse.

— Como tinha certeza que ele não ia me matar?

— Porque eu vou operar a irmã dele na próxima quinta — Ele disse me olhando com um ar tão estranho.

O carro voltou a se mover, afastando-nos do prédio abandonado e retornando à civilização. Enquanto observava as luzes da cidade se aproximando, senti um misto de alívio por estar escapando daquele ambiente opressivo e de apreensão pelo que o futuro reservava.

Ficamos em silêncio durante o caminho. Era estranho não sentir medo dele.

Quando chegamos ao Saint Pierre, a tensão era palpável no ar. Eu olhava pela janela, perdida em pensamentos sobre as revelações surpreendentes que acabara de descobrir sobre Adrian.

O carro parou em frente ao hospital, e Adrian virou-se para mim, seus olhos cheios de uma intensidade que me deixou sem palavras. Sem hesitar, ele se inclinou em minha direção, e nossos lábios se encontraram em um beijo cheio de significados ocultos.

Foi um momento carregado de tensão, uma mistura de emoções complexas em meio ao caos. Enquanto nossos lábios se moviam juntos, senti uma enxurrada de sentimentos contraditórios: atração e repulsa, fascínio e medo.

O beijo durou apenas um instante, mas para mim pareceu uma eternidade. Quando nos separamos, olhei nos olhos de Adrian em busca de respostas para as perguntas que ainda ecoavam em minha mente.

— Por que você fez isso? Por que me beijou? — Minha voz saiu em um sussurro, carregada de confusão e curiosidade.

Adrian sorriu de forma enigmática, revelando pouco sobre suas verdadeiras intenções.

— Porque você me intriga, Sarah. Há algo em você que desperta meu interesse de uma forma única. Talvez um dia você entenda.

Sabia que não podia confiar totalmente nele, mas também não podia ignorar a atração intensa que existia.

Enquanto nos despedíamos, vi Adrian se afastar, deixando-me com mais perguntas do que respostas.

— Quero que se afaste de Eliot Ross. Senão irei comê-lo, e não será da mesma forma que eu quero comer você — Ele suspirou — Tenha uma boa noite, coração.

Enquanto observava Adrian se afastar, meu coração ainda pulsava com a intensidade daquele beijo inesperado. Era uma mistura estranha de atração e medo que permeava meus pensamentos, me deixando confusa e incerta do que viria a seguir.

Ele tinha uma presença que era ao mesmo tempo magnética e ameaçadora. Seus olhos, cheios de mistérios ocultos, me intrigavam de uma maneira que eu não conseguia explicar completamente. Por mais que eu soubesse que não podia confiar plenamente nele, havia algo que me atraía para mais perto, como uma mariposa sendo atraída pela chama.

Mas a advertência sombria que ele deixou pairando no ar ecoava em minha mente, um lembrete constante de que ele não era alguém com quem se brincava. Havia perigos desconhecidos ao seu redor, e eu precisava manter minha guarda alta, mesmo que uma parte de mim ansiava por mais daquele encontro tenso e intrigante.

Enquanto eu me afastava do carro e entrava no hospital, a figura de Eliot sendo levada para os cuidados médicos ficou gravada em minha mente. Eu tinha prometido a mim mesma que salvaria a mim mesma, mas agora me encontrava em um mundo ainda mais complicado e perigoso do que antes.

Adrian Ambrose era uma incógnita, um enigma que me deixava curiosa e apreensiva ao mesmo tempo. Enquanto eu refletia sobre nossos breves momentos juntos, uma parte de mim se perguntava se algum dia entenderia suas verdadeiras intenções ou se ele sempre permaneceria como uma figura enigmática em minha vida.

No fundo, sabia que a atração que sentia por ele estava entrelaçada com um medo profundo do desconhecido. Ele representava um mundo de sombras e segredos, e eu não podia ignorar o fato de que estar perto dele era como dançar na beira de um precipício.

A noite avançava, e eu me encontrava em um turbilhão de pensamentos e emoções. Enquanto observava os médicos cuidarem de Eliot, minha mente voltava repetidamente para Adrian, para aquela mistura intrigante de perigo e fascínio que ele representava.

𝐸ste capítulo foi dedicado a Ma4ry_
(ela me pagou 5 reais p eu postar hj)

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