𖦹 009
Eliot estava sentado ao meu lado na cafeteira, ele estava tenso.
— Acho que isso vai destruir a gente — Ele resmungou.
— "Isso"?
Ele só balançou a cabeça.
— Já vi muitos policiais que enlouqueceram.
— Enlouqueceram por causa do trabalho? — Perguntei, buscando entender melhor a preocupação de Eliot.
Ele suspirou, parecendo carregar um peso enorme nos ombros.
— Não apenas pelo trabalho. É o que o trabalho revela, as coisas que descobrimos, as atrocidades que testemunhamos. É como se cada caso, cada crime, deixasse uma marca em nós, até que chega um ponto em que não podemos mais suportar.
A seriedade em sua voz me fez perceber que essa era uma preocupação real para ele, não apenas uma conversa casual sobre o estresse do trabalho policial.
— Todos nós lidamos com o peso do que vemos e investigamos. É importante não nos deixarmos consumir pela escuridão do que enfrentamos todos os dias — Tentei oferecer algum conforto, sabendo que as palavras nem sempre são suficientes diante da realidade brutal da profissão.
Ele olhou para mim, seus olhos expressando uma mistura de gratidão e tristeza.
— Eu estava no açougue porque recebi mais um presentinho do Carniceiro. Uma carta.
A revelação de Eliot sobre o presente do Carniceiro me deixou ainda mais preocupada. Saber que esse assassino em série estava tão próximo, enviando mensagens diretas para ele, aumentava a sensação de perigo iminente que pairava sobre nós.
— O que dizia a carta? — Perguntei, tentando manter a calma enquanto me preparava para ouvir mais detalhes sobre a situação.
Eliot tirou a carta do bolso e a desdobrou lentamente. Seus olhos passaram pelas palavras escritas, e pude ver uma sombra de preocupação se aprofundando em sua expressão.
Ele não me deixou ver a carta.
— Ele disse para eu não ir ao açougue dos Estev's. Disse que minha presença poderia atrapalhar o plano dele — Eliot revelou, sua voz carregada de tensão.
O fato de o Carniceiro estar ciente das investigações policiais e de estar se comunicando diretamente com Eliot indicava um nível de controle e manipulação que era assustador.
Eu queria não pensar no Adrian. Não pensar que ele era o suspeito mais viável. Não queria pensar que ele tinha me mandado para o açougue.
— Ele está tentando nos manipular, nos dividir e nos intimidar. Não podemos ceder a isso. Precisamos ser ainda mais vigilantes e determinados a capturá-lo antes que ele faça mais vítimas — Afirmei, sentindo a urgência da situação.
Não podia contar a Eliot, ele não ajudaria em nada agora.
Adrian não estava na cidade, entretanto, a única coisa que comprovava isso era a palavra dele. Que não parecia muito confiável agora.
Eliot olhou para mim com um misto de ansiedade e desconfiança.
— Você viu o Adrian ultimamente? — Ele perguntou, sua voz carregada de preocupação.
Eu hesitei por um momento, avaliando se deveria ser totalmente honesta sobre meus encontros recentes com Adrian.
— Não, não o vi recentemente. Ele disse que estava viajando a trabalho e não tinha previsão de retorno.
Era mentira, eu mal sabia onde ele tinha ido.
Eliot parecia aliviar um pouco, mas ainda mantinha um olhar atento.
— Espero que seja verdade. Precisamos ter certeza de onde ele está enquanto lidamos com essa situação. Ele ainda está na minha lista de suspeitos.
Ele me deu uma olhadinha novamente.
— Andou saindo com Adrian Ambrose?
Dei uma risadinha anasalada.
— Isso ajuda na investigação?
Eliot levantou uma sobrancelha, um sorriso leve brincando em seus lábios tensos.
— Você está me acusando de misturar o profissional com o pessoal? — Ele perguntou, dando um toque de diversão à conversa.
— Talvez eu esteja apenas tentando descobrir se você está tão tenso por causa do trabalho ou se tem alguma outra razão escondida — Respondi com um sorriso brincalhão — Ainda temos uma missão a cumprir.
Eliot inclinou-se para mais perto, seu olhar agora cheio de curiosidade.
— Bem, se isso é uma missão extraoficial, acho que posso fazer uma exceção às regras normais.
— Ah, então existe uma lista de regras?
— Claro que sim. Regra número um: nunca se apaixonar pelo parceiro de trabalho.
— E você está seguindo essa regra? — Brinquei, sabendo que o jogo de flertes era uma boa distração momentânea.
— Nunca fui bom com regras.
— Eu sou.
Eliot soltou uma risadinha e então sua expressão ficou mais séria, seus olhos fixos nos meus.
— Então, o que acontece quando uma regra é feita para ser quebrada?
Eu sorri de volta, entrando na brincadeira.
— Acho que precisamos ser muito cautelosos ao decidir qual regra vale a pena quebrar.
Ele assentiu lentamente, um brilho de diversão nos olhos.
— Concordo. Algumas regras são sagradas, outras... bem, outras podem ser flexíveis.
Nossos olhares permaneceram conectados por um momento, uma tensão sutil e divertida pairando entre nós.
— E quanto à regra número dois? — Ele perguntou, claramente querendo prolongar nossa conversa descontraída.
— Qual é a regra número dois?
— Sem segredos e traições entre parceiros de trabalho.
— Ah, essa é uma regra importante — Eu já havia quebrado essa regra — Então, qual seria a número três?
— A regra número três é: Confiar no instinto do parceiro.
Eliot respondeu prontamente, como se já tivesse pensado nisso antes.
— E você confia no meu instinto? — Perguntei, curiosa para saber sua opinião.
Ele hesitou por um momento antes de responder.
— Eu confiaria mais se soubesse que você não está escondendo nada sobre Adrian. Você já mencionou que ele saiu da cidade, mas como você soube disso?
Meus olhos abriram um pouco.
— Ryo me disse. Fui lá conversar com Adrian e ele não estava.
— Queria confiar em você.
— Se não confiar vai quebrar uma regra...
— Já quebrei uma mesmo, qual diferença faz em quebrar outra?
— Algumas regras podem ser mais flexíveis — Resmuguei.
Apolo passou no corredor com uma xícara de café.
— Preciso de você, Sarah.
Apolo passou no corredor com uma xícara de café.
— Preciso de você, Sarah. — Sua voz soou urgente e determinada.
Olhei para Eliot por um momento, transmitindo uma breve troca de olhares carregada de significado. Ele assentiu levemente, entendendo que o trabalho chamava mais uma vez.
— Estarei lá em um minuto, Apolo.
Levantei-me da mesa, sentindo o peso das preocupações ainda sobre meus ombros. Eliot permaneceu na cafeteira por mais alguns instantes, sua expressão séria indicando que a conversa tinha deixado uma marca em ambos.
Enquanto caminhava pelo corredor em direção a Apolo, pensei nas palavras de Eliot sobre confiança, instintos e regras quebradas. A situação com Adrian era cada vez mais complicada, e eu precisava encontrar respostas para as perguntas que estavam se acumulando.
Ao me juntar a Apolo, ele me olhou de modo cruel.
— Você recebeu uma carta. Tinha uma carta dentro da caixa de correio da delegacia.
Ele me entregou. Tinha meu nome.
— Eliot ganhou uma também.
— Está com medo de abrir? Deveria estar feliz que ele não achou sua casa.
— Eu tenho certeza que ele achou.
Apolo soltou um barulho de horror. Ele leu a carta.
— O que diz? — Perguntei.
— "Querida Sarah Bloom, não quero machucá-la, mas ontem você estava tão perto que tive que me conter para não atirar na sua cabeça.
Matei Charlie Estev por você e pela Peterson. Liam era um bebê lindo, não era?" — Ele me olhou com desgosto— Quem caralhos é Liam?
— O filho da Peterson. O corpo dela foi encontrado onde ela jogou as cinzas do bebê, talvez ele queira que eu volte lá.
— Posso continuar?
— Tem mais coisa? — Indaguei realmente confusa.
— "Temo que vá encontrar Adrian Ambrose daqui a dois dias mas espero que eu consiga fazer uma visita na sua casa antes disso. Estou ansioso para vê-la hoje a noite" Ele vai matar você.
Era meio mórbido, mas eu estava muito ansiosa para ir para casa.
O ambiente na delegacia ficou ainda mais tenso com a revelação da carta sinistra. Eu troquei um olhar rápido com Eliot, que agora estava ao meu lado, sua expressão tensa refletindo a gravidade da situação.
— Precisamos aumentar a segurança ao redor de você e da sua casa imediatamente — Apolo declarou, sua voz agora séria e determinada.
— Não sabemos se ele está falando a verdade sobre me encontrar hoje à noite. Talvez seja apenas uma tática para nos assustar ainda mais — comentei, tentando manter a calma apesar da ansiedade que crescia dentro de mim. Parte dela também era euforia.
— Não podemos arriscar. Vou colocar mais policiais de plantão na sua rua e garantir que haja vigilância constante — Apolo afirmou, já organizando as medidas de segurança necessárias.
Eliot colocou uma mão no meu ombro, transmitindo apoio silencioso.
— Estaremos cuidando de você. Não vamos deixar que nada aconteça — ele disse, sua voz firme.
Eu sabia que podia confiar na equipe, mas a sensação de vulnerabilidade ainda persistia. Eu queria que ele viesse até mim
— Vou coordenar uma equipe de busca e reforçar as investigações. Não vamos dar descanso a esse lunático até que ele esteja atrás das grades — Apolo concluiu.
Ao sair do escritório, vi que Eliot estava escutando atrás da porta e olhei para ele com descrença. Ele caminhou ao meu lado, seu olhar preocupado ainda evidente.
— Vou pedir para você ficar na minha casa esta noite. Não quero correr o risco de você estar sozinha se ele decidir aparecer de verdade — Eliot propôs, sua preocupação com a minha segurança sendo clara em suas palavras.
Eu hesitei por um momento, mas sabia que aceitar sua oferta era a decisão mais sensata diante da realidade.
Mas eu não sou sensata.
— Eu preciso ir para minha casa. Preciso saber quem ele é.
— Sarah, isso é loucura. Não podemos arriscar sua segurança dessa maneira. — Eliot protestou, sua voz carregada de preocupação.
Eu olhei para ele, sentindo o peso da decisão que estava prestes a tomar. No entanto, a necessidade de descobrir a verdade sobre o Carniceiro e proteger as pessoas que eu amava era mais forte.
— Eu preciso fazer isso. Preciso saber quem é esse cara antes que ele machuque mais alguém, antes que ele chegue perto de mim. — Minha voz estava firme, determinada — Confie em mim. Não quebre a regra número dois.
Eliot parecia em conflito, mas ao mesmo tempo, havia uma expressão de admiração em seus olhos.
— Não posso te impedir, mas prometa que vai tomar cuidado. Prometa que vai me ligar se algo der errado. — Ele segurou meu braço, transmitindo sua preocupação.
— Eu prometo. Vou tomar todas as precauções possíveis. E vou te manter informado a cada passo do caminho. — Garanti, reconhecendo a importância de ter alguém confiável como Eliot ao meu lado nesse momento.
Ele soltou um suspiro resignado, sabendo que não conseguiria me dissuadir.
— Certo. Vou te ajudar da melhor forma que puder. Mas por favor, seja cautelosa.
Com um aceno de cabeça, agradeci a compreensão de Eliot e me preparei para enfrentar o desafio que estava pela frente.
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