𖦹 008

No dia da promoção especial, minha preparação envolveu não apenas escolher uma roupa discreta, mas também mentalizar cada movimento e cada palavra, consciente de que adentraria um ambiente carregado de segredos e tensões. Ao cruzar a porta do açougue, fui envolvida por uma atmosfera que imediatamente ativou todos os meus sentidos.

A penumbra no interior do estabelecimento contrastava com os ganchos pendurados no teto, exibindo uma variedade de carnes com aspecto estranho e perturbador. Cada peça parecia ter uma história oculta, uma história que eu estava determinada a descobrir.

Enquanto percorria os corredores, observava atentamente os clientes e os funcionários. A maioria dos clientes usavam um casaco preto. Todos pareciam estar em constante estado de alerta, seus olhares furtivos e evitando qualquer contato direto. Havia uma tensão palpável no ar, como se algo importante estivesse prestes a acontecer, e todos estivessem se preparando para isso.

Ao me aproximar do balcão para fazer meu pedido, notei que até mesmo os clientes ao meu redor pareciam suspeitos. Suas expressões eram tensas, seus olhares rápidos e inquietos. Era como se cada um estivesse carregando um segredo que não queria revelar, mas que estava prestes a ser descoberto.

- Boa tarde. Gostaria de uma carne para viagem, por favor - Pedi, mantendo meu tom de voz firme, mas ao mesmo tempo tentando não chamar muita atenção para mim.

O funcionário atrás do balcão me olhou com uma expressão que não consegui decifrar imediatamente. Havia algo em seus olhos que denotava desconfiança, como se ele estivesse avaliando minhas intenções e decidindo se poderia confiar em mim ou não.

- Claro, qual tipo de carne você gostaria? Temos uma variedade de opções disponíveis hoje - Ele respondeu, sua voz um pouco rouca e sua postura rígida, como se estivesse preparado para qualquer situação.

Enquanto ele preparava a carne, aproveitei para observar o ambiente ao meu redor com mais detalhes. Os clientes continuavam a agir de forma estranha, sussurrando entre si e lançando olhares nervosos em minha direção. Parecia que minha presença ali estava perturbando algo que preferiam manter oculto.

Quando o funcionário voltou com a carne embalada, notei que ele estava prestes a dizer algo, mas hesitou por um momento antes de finalmente falar.

- Tome cuidado ao atravessar, estamos com bastante movimento na rua - Ele murmurou, sua voz carregada de advertência e mistério.

Agradeci e peguei a carne embalada, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Havia algo definitivamente errado naquele lugar, algo que ia além das carnes estranhas e da atmosfera tensa. Decidi que era hora de sair dali antes que minha presença levantasse ainda mais suspeitas.

Enquanto eu me preparava para sair do açougue, pronta para deixar para trás aquele ambiente carregado de mistério e tensão, uma figura conhecida entrou pela porta. Era Eliot, o mesmo Eliot que havia recebido aquele presente misterioso dias atrás, o mesmo Eliot com quem eu evitara falar sobre o beijo que compartilhamos.

Nossos olhares se encontraram brevemente, e pude perceber uma mistura de surpresa e curiosidade em seus olhos ao me ver ali. Decidida a não deixar que o desconforto do passado interferisse no presente, aproximei-me dele.

- Eliot, que surpresa encontrá-lo aqui. O que o traz ao açougue hoje? - Perguntei, tentando manter meu tom de voz casual, apesar da tensão que ainda existia entre nós.

Ele me olhou por um momento, como se estivesse avaliando se deveria compartilhar seus motivos comigo. Finalmente, ele suspirou e respondeu.

- Recebi um certo "bilhete" - Sua voz era tensa, mas havia um toque de curiosidade em suas palavras. Ele provavelmente falava do Carniceiro - O nosso velho amigo me falou desse lugar. E você, o que faz aqui? Está aqui como Sarah Bloom ou como detetive?

Decidi não mencionar a carta do Dr. Ambrose ou o motivo específico da minha visita ao açougue. Em vez disso, mantive a conversa leve e genérica.

- Apenas passando para pegar uma carne. Parece que há uma promoção especial. Mas a atmosfera aqui é um pouco... estranha, não acha? - Comentei, observando seu olhar atento enquanto nos movíamos em direção à saída.

Eliot assentiu, concordando com minha observação.

- Sim, de fato. Este lugar tem uma aura peculiar. - Ele disse, sua expressão séria, como se estivesse alertando sobre perigos desconhecidos.

- Concordo. Parece que há mais do que apenas carne sendo vendida aqui - Comentei, mantendo meu tom de voz baixo para não chamar a atenção dos outros clientes ou funcionários do açougue.

Enquanto nos aproximávamos da saída, percebi que Eliot estava tão intrigado quanto eu com o ambiente suspeito do açougue e com a atmosfera tensa que pairava no ar.

- Tenho minhas suspeitas sobre a qualidade da carne desses bichos.

- Tenho minhas suspeitas se essas carnes são de bichos - Eliot comentou, sua voz carregada de desconfiança e cautela.

- Talvez seja prudente fazer uma investigação mais aprofundada sobre a procedência dessas carnes. Não é comum encontrar um ambiente tão... peculiar como este - Sugeri, pensando nas informações que o Dr. Ambrose havia mencionado sobre o açougue pertencer à família de Charlie Estev.

Antes que Eliot pudesse responder, ouvimos vozes agitadas vindo de uma das salas nos fundos do açougue. Parecia que algo estava acontecendo e que não estávamos sozinhos na nossa desconfiança em relação àquele lugar.

Decidimos nos aproximar discretamente e observar o que estava acontecendo. Com cuidado para não chamar a atenção, nos posicionamos em um ponto estratégico onde poderíamos ouvir melhor as conversas.

- Você ouviu isso? - Sussurrei para Eliot, mantendo os olhos fixos na porta da sala de onde vinham as vozes.

Ele assentiu, sua expressão séria indicando que também estava atento ao que estava acontecendo.

Um disparo. Dois disparos. Isso vinha do fundo do açougue. A multidão da fila começou a correr. Os suspeitos provavelmente usavam casacos pretos como o resto da multidão.

Os disparos e a agitação que se seguiram instantaneamente nos colocaram em alerta máximo. Como policiais, nossa formação nos levou a agir rapidamente e com cautela. Eu e Eliot nos movemos em direção à origem dos tiros, preparados para lidar com qualquer situação de emergência que encontrássemos.

- Polícia de Vancouver! - Exclamei e deram-me lugar para passar.

Peguei a arma que estava na minha bolsa branca já que a preta estava com um certo médico.

Ao chegarmos à sala de onde os sons vinham, fomos confrontados com uma cena chocante. Charlie Estev estava caído no chão, coberto de sangue, evidenciando que ele era a fonte dos disparos que ouvimos momentos atrás. Sua expressão estava congelada em uma mistura de surpresa e agonia, sua vida abruptamente interrompida em meio ao caos. Para nossa surpresa, ele estava sem olhos.

O Carniceiro estava com a gente no açougue.

Nesse momento de choque e surpresa ao ver Charlie Estev caído, sem olhos, no chão do açougue, nossa mente começou a trabalhar em alta velocidade para entender o que estava acontecendo. A presença do Carniceiro, a figura misteriosa que deixara Eliot intrigado e que parecia ter algum tipo de ligação com o ocorrido ali, adicionava uma camada de mistério e perigo à situação.

Enquanto nos aproximávamos do corpo de Charlie, percebemos que havia outras pessoas na sala, alguns funcionários do açougue e clientes que estavam presentes durante o incidente. Todos estavam em estado de choque, incapazes de articular palavras coerentes diante da cena horripilante que se desenrolava diante de nós.

- Eliot, precisamos garantir a segurança das testemunhas e chamar reforços imediatamente - Comentei, mantendo minha voz calma e controlada apesar da gravidade da situação.

Eliot assentiu, sua expressão determinada enquanto ele se aproximava das testemunhas mais próximas para garantir que estivessem bem e para orientá-las a permanecerem no local até a chegada da polícia.

Enquanto isso, peguei meu celular para chamar reforços e informar a central sobre o que encontramos no açougue. O caos e a agitação do momento exigiam uma resposta rápida e coordenada, e como policiais experientes, sabíamos como lidar com essas situações de emergência.

Enquanto esperávamos pela chegada dos reforços, examinei cuidadosamente o local em busca de pistas que pudessem nos dar alguma pista sobre o que aconteceu ali. A ausência dos olhos de Charlie Estev era perturbadora e sugeria um tipo específico de violência e crueldade por parte de seu agressor.

Foi então que notei algo peculiar perto do corpo de Charlie. Uma carta, dobrada cuidadosamente e deixada ao lado dele. Minha curiosidade foi imediatamente despertada, e com luvas de proteção, peguei a carta para examiná-la mais de perto.

A carta continha palavras escritas com uma caligrafia elegante e fluida, mas o conteúdo era ainda mais perturbador. Era uma mensagem direcionada a Charlie Estev, assinada pelo Carniceiro. Na carta, o assassino confessava seus crimes, incluindo o assassinato de Charlie e a remoção de seus olhos como parte de um ritual macabro.

- Eliot, olhe isso. É uma carta do Carniceiro confessando o assassinato de Charlie Estev - Compartilhei minha descoberta com ele, mantendo a carta segura em minhas mãos.

Sinto muito pelo transtorno, mas eu não sou a favor do plágio e nem do feminicidio. Matei Charlie Estev, ele tirou a vida de uma mulher usando as minhas técnicas.

Não sei porquê eu inspiro tantos assassinatos. Eu não mato por matar.

A morte é uma dádiva. A morte é um milagre. A morte é meu poder supremo. Eu sou aquele que a morte àqueles que merecem-a.

Ass: Carniceirø.

Eliot se aproximou, examinando a carta com interesse e preocupação.

- Isso é extremamente perturbador. Esse maluco está mais próximo do que imaginávamos. Precisamos agir rapidamente antes que ele faça mais vítimas - Ele comentou, sua expressão séria enquanto processava a gravidade da situação.

Enquanto aguardávamos a chegada dos reforços policiais, concentrei-me em garantir a segurança das testemunhas e em preservar o local do crime para a investigação subsequente. Foi então que Elena, minha colega e amiga próxima, chegou ao açougue para nos ajudar com a situação.

- Sarah, o que aconteceu aqui? Recebi sua ligação, mas ainda não tenho todos os detalhes - Elena perguntou, sua expressão séria refletindo a seriedade da situação.

- Elena, é uma cena horrível. Encontramos Charlie Estev morto, sem os olhos, e uma carta do Carniceiro confessando o assassinato. Precisamos chamar a perícia e começar a investigação imediatamente - Respondi, entregando a carta a ela para que ela pudesse examiná-la também.

Enquanto Elena analisava a carta, os reforços policiais chegaram ao local e começaram a assumir o controle da situação. Eu os informei sobre o que encontramos e entreguei a carta do Carniceiro como evidência crucial para a investigação em andamento.

- Vamos precisar de uma equipe forense aqui o mais rápido possível. Também precisamos identificar as testemunhas e reunir todas as informações possíveis sobre o que aconteceu aqui hoje - Ordenei aos policiais, garantindo que todas as medidas necessárias fossem tomadas para resolver o caso.

Enquanto a equipe forense trabalhava no local, decidi investigar mais a fundo a questão das carnes estranhas que estavam sendo vendidas no açougue. Chamei Celine para me acompanhar, já que sua experiência como investigadora forense seria valiosa nesse aspecto.

- Celine, vamos examinar a carne que está sendo vendida aqui. Tenho a sensação de que há mais do que apenas carne de animal envolvida nessa história - Sugeri, guiando-a em direção ao balcão do açougue onde as carnes estavam expostas.

Ela assentiu, pronta para colaborar na investigação.

- Com certeza, Sarah. Vamos ver o que conseguimos descobrir sobre a procedência dessas carnes e se há alguma ligação com o caso do Carniceiro - Ela concordou, preparada para analisar as amostras de carne de forma meticulosa.

A textura, a cor e o cheiro não pareciam condizer com carnes normais de animais. Decidimos coletar amostras para análise laboratorial e também para confrontar os funcionários do açougue com nossas descobertas.

Enquanto esperávamos os resultados das análises laboratoriais das amostras de carne, mantivemos um olhar atento nos funcionários do açougue, especialmente naqueles que pareciam estar mais nervosos ou evasivos. Nossa suspeita de que algo muito mais sinistro estava acontecendo ali só aumentava a cada minuto.

Finalmente, os resultados das análises ficaram prontos, e o que descobrimos era aterrorizante e repugnante ao mesmo tempo: a carne vendida no açougue era carne humana.

O DNA correspondia a várias pessoas desaparecidas na região, confirmando nossas piores suspeitas. Todas eram vítimas do Carniceiro ou de seus plagiadores.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top