Capítulo Um
Ângelo Lima
Já faz exatamente uma semana desde que meu pai se foi e para mim, até agora, não me acostumei com a sua ausência. Não parece real, nada mais parece real para mim, apenas a dor que sinto é real. Saber que não vou mais ver meu pai, deixa meu coração esmagado. A dor da perda é excruciante. Não faço a mínima ideia de como será minha vida daqui para frente. Simplesmente não sei mais o que fazer. Não tenho trabalho, existem várias dívidas que meu pai acumulou durante os anos e nossa casa está na hipoteca. O que significa, que sem dinheiro e sem nada, eu posso ficar na rua a qualquer momento.
Enxugo mais uma vez as lágrimas que descem por meu rosto e me deito novamente em minha cama, não encontrando forças para levantar. Escuto meu celular tocando em algum lugar, mas não me movo para sair à procura dele. Fecho meus olhos, escutando ele ainda tocar, até que para de uma vez e eu agradeço por isso. Não estou com cabeça para falar com ninguém. Quero apenas ficar sozinho em meu canto, vivendo a minha dor. É como diz naquele livro "a dor precisa ser sentida".
Sinto o sono vir aos poucos sobre mim e vou me rendendo a ele, já que é somente nessas horas que fico em paz comigo mesmo.
* * *
Acordo horas mais tarde, sentindo minha cabeça doer devido ao meu choro constante. Mesmo sem muita vontade, tomo um banho rápido e desço para à cozinha. Preparo uma coisa rápida para comer, pois já faz horas desde a minha última refeição e estou com bastante fome. Vou em direção à sala e me sento em frente à TV, a ligando em seguida. Começo a assistir um programa qualquer, enquanto como meu sanduíche. Meus olhos estão focados na TV, mas eu não estou assistindo de fato. Sinto como se no momento, um branco tomasse conta da minha mente e não consigo pensar em nada direito.
Escuto a campanhia tocar e levo um pequeno susto por estar distraído. Solto um suspiro, pois não queria receber ninguém, mas também não seria um sem educação. Desligo a TV e deixo o resto do meu sanduíche no prato. Me levanto do sofá e ajeito parcialmente minha roupa, que não está das melhores no momento.
Abro a porta de casa e fico surpreso ao ver a senhora Miller parada à minha frente. Junto a ela, está também um senhor de meia idade, que usa um terno preto, bem alinhado em seu corpo.
- Dona Emília, o que faz aqui? - Pergunto surpreso e ela abre um sorriso doce para mim.
- Precisamos conversar, querido, será que posso entrar? - Ela pergunta e eu prontamente concordo, dando espaço para ela passar.
Vejo ela passar por mim, tendo o senhor a seguindo. Não consigo imaginar o que ela tenha para falar comigo, mas na certa deve ser sobre a morte do meu pai. Ele era bem próximo da família Miller, mas eu nunca conheci todos daquela família, apenas o senhor e a senhora Miller, e foram em bem poucas ocasiões que nos vimos.
- Sentem-se por favor. Me desculpem a bagunça, mas esses dias foram difíceis. - Falo um pouco constrangido.
- Imagina querido, eu sei como está se sentindo. Também estou muito triste pela perda de Giovani, Otávio o tinha como um filho. - Ela diz com um pequeno sorriso, se referindo ao falecido marido.
- Eu me lembro um pouco dele, não convivemos muito, mas o senhor Otávio era como um avô para mim. - Sorrio para ela.
- Sei que sim, meu anjo. Mas hoje eu vim aqui por um assunto mais sério, que tem ligação ao seu pai. - Ela diz com um pouco mais de seriedade, mas não deixa a expressão leve sair de seu rosto.
Fico um pouco apreensivo para saber do que se trata e me sento em uma poltrona perto dela.
- E que assunto é esse? - Pergunto, olhando para ela atentamente.
- Bem, você ainda é menor de idade e precisa de alguém responsável por você. - Ela diz, mas ainda não sei onde ela quer chegar.
- Sim, eu sei disso, mas em menos de um ano faço 18 e posso cuidar de mim mesmo. - Respondo.
- Sim, mas até lá você precisa estar seguro com alguém e antes de morrer, seu pai pensou nisso. - Ela diz e sinto um aperto no peito, ao que ela se refere ao meu pai morto.
- Meu pai deixou a minha guarda para alguém? Mas eu não tenho mais nenhum parente vivo, só tinha a ele. - Falo, entendendo mais ou menos o que ela quer dizer.
- Você sabe como seu pai e Otávio eram unidos. Seu pai te amava muito e tinha medo de te deixar desamparado de alguma forma. Ele então pediu a Otávio, que se algo acontecesse com ele, Otávio cuidaria de você. - Ela diz e sinto minha cabeça girar pela informação.
- Mas, o senhor Otávio também está morto. - Falo atordoado.
- Sim, mas a responsabilidade da sua guarda passou para o meu neto, que é quem cuida de tudo que era do avô. Otávio nunca te deixaria desamparado também, então cuidou para que, caso ele não pudesse cumprir a promessa para seu pai, nosso neto Enzo cumpriria. - Ela me explica e minha cabeça dá um nó.
- A senhora quer dizer que, nesse momento, a minha guarda pertence ao seu neto? - Pergunto e ela assente com a cabeça. - E cadê ele? - Pergunto por fim.
- Ele não pôde estar presente hoje, mas logo você irá o conhecer. Eu quero que saiba que pode confiar em nós, Ângelo. Sei que está em um momento difícil, mas estamos aqui para te ajudar e não queremos ver você desamparado de alguma forma. Vai ser difícil se acostumar com a falta que seu pai irá te fazer, mas queremos te ajudar em tudo o que precisar. - Ela diz de uma forma amorosa e pega em minhas mãos, em um gesto de conforto.
Fico em silêncio por alguns minutos, processando tudo o que está acontecendo na minha vida. São tantas coisas ao mesmo tempo, que me sinto tonto por todas essas informações. Mas eu não posso negar ajuda nesse momento. Ainda mais se foi meu pai quem me deixou essa ajuda.
- Tudo bem! Hum... Eu vou morar com seu neto a partir de agora? - Pergunto, me sentindo estranhamente nervoso e inseguro. Até porque, eu nunca vi seu neto na minha vida.
- Sim querido, mas não se preocupe. Nós moramos todos na mesma casa, então eu estarei sempre com você, para o que precisar. - Ela diz prestativa.
- Obrigado, dona Emília. - Agradeço a ela, que balança a cabeça em um gesto negativo.
- Imagina meu anjo, não precisa agradecer. Você é da família agora. - Ela sorri para mim, e lhe dou um sorriso pequeno.
- Eu falei demais e Cláudio também precisa te dizer algumas coisas. - Dona Emília diz e aponta para o senhor ao seu lado.
- Bem, eu sou o advogado da família Miller e desde que foi feito, estou ciente do acordo de seu pai com o senhor Miller. Além de seu pai deixar a sua guarda para o senhor Miller, ele te deixou também uma quantia em dinheiro. - Ele diz, me deixando um pouco confuso, pois meu pai estava passando por dificuldades financeiras.
- Mas, meu pai não tinha nenhum dinheiro guardado. - Respondo.
- Na verdade tinha sim, só que essa conta está em seu nome e ele deixou uma boa quantia de dinheiro para você lá. Mas você só poderá tomar posse desse patrimônio quando já tiver alcançado a maioridade. - Ele explica e começa a mexer em sua maleta, logo tirando de lá um envelope. - Ele deixou essa carta junto aos outros documentos. Foi escrita há alguns anos, para caso esse momento chegasse. - Ele diz e me entrega o papel, que se encontra um pouquinho amarelado.
Pego a carta em minhas mãos trêmulas, sentindo uma súbita vontade de chorar. Aperto a carta contra meu peito e fecho meus olhos, inspirando profundamente.
- Ângelo? - Escuto a voz calma de dona Emília me chamar e abro meus olhos novamente, para prestar atenção nela.
- Sim?
- Eu voltarei amanhã para te buscar, arrume suas coisas e fique pronto. Tudo bem? - Ela diz e solto um suspiro.
- Tudo bem, estarei esperando pela senhora. - Respondo.
- Nós já vamos então, fique bem meu amor. - Ela diz e vem até mim, me puxando para um abraço. Seu abraço é reconfortante e me sinto um pouco melhor.
Acompanho os dois até a porta e assim que vejo o carro deles partir, entro novamente em casa. Me sento no sofá, Ainda segurando a carta do meu pai e soltando um longo suspiro, abro o envelope, pegando o papel que há lá dentro.
"Filho, se está lendo esta carta, significa que não estou mais ao seu lado. Acredite quando digo que não queria nunca te deixar, mas uma hora é necessário e nunca sabemos que hora será essa. Por isso, eu tomei as minhas providências, pensando em seu futuro. Nesse momento, você já deve saber que sua guarda está agora na responsabilidade da família Miller. Sei que você pode demorar a se acostumar com isso, mas não existe ninguém melhor nesse mundo que possa cuidar de você, além daquela família, que também me acolheu quando precisei. Também pensando em seu futuro, deixei algumas economias que tinha para você. Não é muito, mas foi o que me sobrou depois de tudo e deixo isso para você, pois é seu dinheiro por direito.
Peço desculpas por não ter sido o pai que você realmente merecia. Você merecia uma vida melhor e me sinto muito culpado por não ter te dado. Mas nunca se esqueça, que mesmo em todas as dificuldades, eu te amei acima de tudo. Ângelo, você é o meu bem mais precioso e por isso dói muito estar me despedindo de você. Eu não poderia ter tido um filho melhor que você, que sempre me amou acima dos meus defeitos. Espero que consiga realizar todos os seus sonhos, filho e saiba que em todos os momentos, estarei com você. Mesmo não estando mais fisicamente ao seu lado, sempre estarei guardando você. Eu te amo meu precioso anjo, nunca se esqueça disso.
Ass: Seu pai, que te ama mais que tudo."
Deixo minhas lágrimas caírem livremente, molhando um pouco a folha que está em minhas mãos. Como meu pai pôde achar que não era o suficiente? Ele sempre foi o melhor pai do mundo para mim. Aquele que fez muito bem o seu papel de pai e também o de mãe para mim. Não poderia ser mais grato a Deus por ter tido Giovani Lima como meu pai.
- Eu também te amo papai, obrigado por ter cuidado de mim, por todos esses anos. Você nunca, jamais será esquecido por mim... Meu herói. - Sussurro, apertando a carta contra meu peito.
Sinto uma brisa tocar meu rosto e fecho meus olhos, quase podendo sentir a presença de meu pai aqui comigo.
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Aí gente, quase fiquei desidratada escrevendo esse final 😢😢❤... O que acharam???
Bjs da Juh 😘😘
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