Capítulo Sete

Enzo Miller

Continuo sentado com Ângelo ainda ao meu lado, mas não falamos nada e apenas apreciamos o silêncio a nossa volta. O que é algo raro se tratatando de Ângelo, já que percebi o quanto ele adora falar. O conheço há dois dias e já sei coisas sobre ele, o quão louco isso pode ser?

Ele desperta algo em mim, que senti apenas uma única vez e que jurei nunca mais sentir esse sentimento por outra pessoa. Já confiei demais em pessoas que não mereciam e paguei caro por isso. Por pouco não foi com a minha própria vida.

Balanço minha cabeça, tentando afastar esses pensamentos para bem longe de mim.

- Você está viajando na maionese? - Escuto a voz de Ângelo e a sombra de um sorriso aparece em meu rosto ao ouvir sua fala. "Tão Ângelo!"

- Como irei viajar na maionese? - Pergunto para provocar ele, que me olha com cara de indignação.

- Você é um chato, sabia? Parece um velho de cem anos. Não... Os velhinhos estão mais na ativa que você. Tem que relaxar mais, senhor Miller, isso ajuda a não envelhecer cedo demais. Dar um sorriso de vez em quando também  ajuda, essa cara amarrada o tempo todo chega a ser irritante. - Ele dispara a falar e prendo o riso.

- Você me acha irritante, então? Nossa, fiquei até ofendido agora. - Respondo olhando para ele.

- Você é bem irritante, senhor Miller! - Ele diz e cruza os braços em cima do peito.

- Já disse que não precisa me chamar de senhor Miller. - Falo para ele, que dá de ombros como uma criança birrenta.

- Já disse que poderia sorrir mais. - Ele diz e me olha com os olhos brilhantes.

- Acho que não sei mais sorrir, não de verdade. - Respondo e fixo meus olhos no horizonte a nossa frente.

- Isso não é possível! Sorrir é igual a andar de bicicleta, a gente nunca esquece como é. Não diga que não pode fazer algo sem ao menos tentar. - Ele diz e viro meu rosto em sua direção, para o ver melhor.

- Quem sabe um dia. - Falo depois de um tempo.

- Tudo bem, já vi que com você as coisas serão mais difíceis. Por enquanto, quero te pedir uma coisa. - Ele se vira, ficando totalmente de frente para mim.

- O quê? - Pergunto curioso.

- Vamos ser amigos? - Ele pergunta sorridente, com um grande entusiasmo na voz. E olhar para ele assim, feliz, diferente de alguns minutos atrás, faz uma coisa boa crescer em meu peito. Mas ao mesmo tempo que é bom sentir isso, eu também tenho medo de cometer o mesmo erro de antes. Não posso deixar Ângelo entrar tanto em minha vida, ele já conseguiu tanta coisa de mim em dois dias, imagina se ele puder quebrar as minhas barreiras? Não posso correr esse risco.

- Sinto muito, mas não posso ser seu amigo. - Respondo e vejo sua expressão cair um pouco. Antes que ele possa dizer alguma coisa, me levanto com um pouco de dificuldade e começo a me afastar dele.

Me doeu fazer isso, mas eu não posso confiar novamente em outra pessoa. E algo me diz que Ângelo pode causar um estrago muito maior em mim, do que qualquer outra pessoa já me fez, ou possa fazer.

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Ângelo Lima

Vejo Enzo se afastar devagar de onde estou e me sinto triste, não por ele ter me negado sua amizade, mas eu percebi que ele ainda está muito machucado e com medo. Isso me deixa triste e com raiva ao mesmo tempo, triste por tudo que aconteceu com ele e com raiva da pessoa, ou das pessoas que fizeram isso com ele. É nítido que Enzo já foi um homem cheio de vida antes, só que tudo se apagou como a chama de uma vela. Mesmo o conhecendo há pouco tempo, tenho o desejo de o ver feliz, pois ele merece isso. Enzo é um homem muito bom, mesmo não demonstrando muito esse lado, já que vive como uma sombra em sua própria casa.

Mas por hora, deixo Enzo de lado e resolvo ligar para meu melhor amigo, pois já estou morrendo de saudades dele.

Pego meu celular em meu bolso e procuro pelo número de Castiel em minha agenda. Assim que encontro seu número, início uma chamada de voz.

- Até que enfim se lembrou de mim. - Ele diz, assim que me atende e consigo abrir um sorriso ao ouvir meu amigo.

- Nunca esqueci de você, só estava um pouco ocupado conhecendo a todos. - Falo para ele e me levanto do chão. Começo a andar em meio às árvores, me levando para a pequena floresta que há ali.

- Alguém que possa me substituir? - Ele pergunta com a voz um pouco séria e reviro meus olhos, mesmo sabendo que ele não está me vendo.

- Ninguém nunca vai tomar seu lugar como meu maninho, bobo. - Falo rindo.

- Acho muito bom mesmo, Ângelo Lima. Pois se alguém se atrever vai se ver comigo. - Ele diz e não contenho uma risada.

- Hey, tenho que te contar uma coisa. - Falo, enquanto continuo caminhando em meio às árvores, vendo a beleza que há escondida nesse lugar.

- O que você aprontou, Angie? - Cas pergunta e mais uma vez reviro os olhos para ele.

- Nossa... Você pensa tão bem de mim, Cas. - Falo debochado.

- Não enrola, fala logo. - Ele diz e sei que está morrendo de curiosidade para saber o que é.

Tomo um fôlego profundo e paro de andar, olhando ao meu redor.

- Conheci meu tutor, o neto da dona Emília. Cas, ele é lindo! - Falo sorrindo.

- Angie, eu já te falei para não ficar fantasiando histórias de amor que podem não acontecer. Sei muito bem como você é. - Ele diz, agora em um tom bem sério.

- Eu não estou fantasiando nada, Castiel, nem poderia. - Falo irritado.

- Desculpa ser o chato, só não quero te ver sofrendo. Sabe muito bem o que aconteceu no nosso último ano de escola. - Ele diz e mesmo achando chato ele ser protetor comigo, entendo seu ponto de vista.

- Tudo bem, podemos mudar de assunto? - Pergunto e ele logo confirma.

Fico mais um tempo conversando com Castiel pelo telefone, enquanto exploro ainda mais a pequena floresta.

Me despeço de Castiel e encerro nossa ligação, guardando meu celular, que apita pedindo por bateria.

Olho ao meu redor e vejo que me afastei bastante da casa principal e só vejo árvores a minha volta. Solto um suspiro pela minha desatenção e começo a andar quando sinto um pingo de chuva cair sobre mim. Nem tinha percebido que o tempo havia se fechado e nuvens pesadas e escuras esconderam o sol brilhante que antes estava no céu.

Sinto o vento frio passar por mim e passo os braços ao meu redor. Caminho meio apressado, querendo chegar em casa logo. Estou tão distraído, que não vejo um buraco parcialmente aberto em minha frente... Apenas sinto meu corpo cair e ser levado para baixo, junto com algumas folhas secas e galhos que arranham minha pele. Assim que meu corpo se choca contra o fundo do buraco, sinto uma dor lancinante em minha cabeça, assim como em meu tornozelo.

Minha visão começar a ficar turva e quando passo minha mão pela cabeça, sinto algo pegajoso. A dor na cabeça aumenta e a próxima coisa que vejo é  a escuridão.

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Enzo Miller

Vejo as primeiras gotas de chuva caírem contra o vidro da janela e continuo olhando por ela, esperando para ver quando Ângelo entrará em casa. No mesmo momento em que o deixei para trás, eu quis voltar, mas não podia fazer isso.

Apesar de querer seguir em frente, parece que tem algo que me impede de o fazer, só ainda não sei o que é. Eu não queria ser o prisioneiro que sou hoje, mas não podemos escolher nosso próprio destino. Bem, pelo menos eu não pude escolher o meu.

A chuva aumenta lá fora, assim como também escurece e cada minuto que se passa, me sinto mais inquieto. Parece que alguma coisa aconteceu, o que me deixa em alerta.

Escuto a porta se abrir, mas não me viro para ver quem é.

- Enzo, você viu o Ângelo? - Escuto a voz suave perguntar e me viro, encontrando Maria Júlia.

- Não, sabe que eu fico apenas aqui durante o dia. - Respondo e vejo ela fazer uma careta.

- Eu vi vocês dois sentados lá fora algumas horas atrás e depois disso ele não apareceu mais. - Ela diz de forma preocupada e essa preocupação também me atinge, mas não demonstro.

- Já procurou pela casa? - Pergunto e me viro novamente para a janela, tendo a visão do pátio.

- Já, ele simplesmente sumiu! - Ela diz e logo em seguida um trovão ressoa, junto com um relâmpago que clareia tudo a nossa volta.

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Olá jujubas!! E agora??? O que acontece com nosso Ângelo?? Será que o Enzo vai atrás dele?? 🤔

Bjs da Juh 😘😘

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