Capítulo Oito

Enzo Miller

Agora eu realmente me sinto preocupado com Ângelo. Ele só está aqui há dois dias e não conhece nada por aqui.

- Tentou o celular? Ele tem um, não tem? - Pergunto e me viro para olhar minha irmã.

- Sim, mas ele não atende, vai para a caixa postal. - Ela diz nervosa.

Escuto os barulhos de trovões ficarem cada vez mais altos e trato de pensar em uma solução rápida. Quando eu o vi pela última vez, ele estava perto da floresta. Talvez tenha entrado nela e se perdido, pois mesmo não sendo muito grande, é um lugar que pode te confundir facilmente.

- Reúna todos os funcionários, quero todos procurando por ele. Acho que ele deve ter ido para a floresta. - Falo e começo a caminhar junto com ela para fora do meu escritório.

- Você também vai procurar? - Ela me olha surpresa.

- Ângelo é minha responsabilidade, claro que eu vou. - Respondo um pouco rude. - Reúna a todos e os mandem para a sala de estar. - Falo e deixo ela para trás.

Subo às escadas o mais rápido que consigo com minha perna machucada e chego em meu quarto. Coloco uma roupa mais leve e prática e acho uma capa de chuva jogada em um canto do closet. Pego uma lanterna e deixo minha bengala em meu quarto, já que ela mais vai me atrapalhar do que ajudar agora.

Desço às escadas um pouco apressado e assim que chego à sala, vejo todos os empregados da casa e minha família esperando.

- Ângelo está sumido e preciso da ajuda de vocês para encontrá-lo. Creio que ele deve estar na floresta que tem aqui na propriedade. Peguem lanternas e capas de chuva, vamos sair em dois grupos. Se em uma hora não o encontrarmos, voltamos para casa. Entendido? - Falo alto e escuto um coro em concordância.

Sinto o olhar de todos sobre mim, mas não me importo com eles agora. Nesse momento o que me importa é encontrar Ângelo bem.

- Vó, se ele aparecer aqui antes de nós voltarmos, me ligue. - Aviso a minha vó e começo a andar até à porta.

- Claro, tenha cuidado Enzo. Sabe que nessa época do ano, aquela floresta se torna um labirinto de armadilhas. - Minha vó diz e assinto com a cabeça.

Assim que chego no pátio de casa, separo os dois grupos e seguimos em direção ao emaranhado de árvores.

A visibilidade não está muito boa por causa da chuva e meu olho quase cego também não me ajuda em nada, mas continuo andando, mesmo que mais devagar.

- Tenham cuidado com os buracos, há muitos por aqui escondidos. - Grito para as pessoas que estão comigo.

Mantenho minha atenção no chão, tomando cuidado para não dar um passo em falso. Olho atento para qualquer sinal que possa me indicar que Ângelo está por aqui.

Começo a chamar pelo nome dele, assim como as outras pessoas que estão junto comigo.

Depois de alguns minutos procurando por ele, acabo me afastando das outras pessoas, mas não ligo com isso, já que conheço esse lugar melhor que ninguém.

- Ângelo! - Grito o mais alto que posso, no mesmo momento em que quase levo um tombo por causa das folhas molhadas.

Paro de andar, assim que escuto um barulho baixo, como um chamado. Olho com mais atenção ao meu redor e ando mais devagar, iluminando a todos os lugares possíveis.

Vejo um buraco no chão e ele me chama até ele, sinto meu coração acelerar e ilumino melhor o caminho a minha frente. Assim que chego a borda do buraco e a luz me mostra o que há lá dentro, sinto o ar faltar para mim.

Ângelo está caído lá dentro e em sua cabeça tem um rastro de sangue. Percebo que ele está meio acordado, mas não consegue abrir direito seus olhos. Vejo que ele está parcialmente coberto por água suja, consequência da chuva.

Me ajoelho na borda do buraco e ilumino ele lá embaixo.

- Ângelo, sou eu o Enzo. - Falo alto, para tentar chamar sua atenção. Sinto um alívio quando percebo que ele me escuta e mesmo ainda desnorteado, ele olha em minha direção.

- Enzo, me tira desse lugar. - Ele diz com a voz trêmula e vejo que seu corpo está tremendo, com certeza por causa do frio.

- Eu vou te tirar anjo, mas você tem que me ajudar. - Falo e analiso a profundidade do lugar.

O buraco não é muito fundo, então será bem mais fácil tirar ele de lá.

- Tudo bem, eu vou estender minhas mãos para você e vou te puxar. Você tem que me ajudar a te tirar daí, ok? - Falo e coloco a lanterna ao meu lado.

- Ok! - Ele diz e geme de dor.

A minha visão fica mais precária do que antes, mas tento me concentrar para poder ajudar Ângelo.

Me debruço sobre o buraco e estico meus braços em sua direção.

- Tenta pegar em minhas mãos. - Falo e espero ele fazer o que peço.

Demora alguns segundos, até eu poder sentir o toque das suas mãos. Aperto forte suas mãos com as minhas e começo a puxar ele para fora. Uso toda a minha força e Ângelo também me ajuda, impulsionando seu corpo para cima. E depois de bastante esforço, consigo tirar ele de dentro do buraco.

Deixo meu corpo cair deitado no chão e sinto o corpo de Ângelo em cima do meu. Sem muito pensar, passo meus braços pelo seu corpo, em um abraço e logo escuto seus soluços. Aperto ele em meus braços, passando minhas mãos por suas costas em um gesto para acalma-lo.

- Ei, já passou... Você está comigo agora. - Sussurro para ele.

- Eu pensei que ia ficar lá. - Ele responde ainda chorando.

- Claro que não, jamais te deixaria lá. - Falo sincero.

- Agora vamos para casa, todos estão preocupados com você. Vou chamar o médico da família para dar uma olhada em você. - Falo e começo a me levantar aos poucos.

Ajudo Ângelo a ficar em pé e ele solta um gemido, assim que apoia o pé direito no chão. Infelizmente eu não conseguiria o carregar no colo até em casa e me sinto um inútil por isso. Tem horas que me odeio pelas minhas limitações.

- Se apoia em mim, andamos devagar. - Falo e apoio seu corpo ao meu.

A chuva que antes estava bem forte,  deu uma trégua e agora é apenas uma garoa fina que cai sobre nós. No caminho encontramos os outros e todos ficaram aliviados ao ver Ângelo. Antes mesmo de chegar em casa, liguei para o doutor Mário, que é o médico de confiança da família e pedi para ele vim em casa.

Quando já estava chegando na casa, senti o corpo de Ângelo perder a firmeza e ele desmaiou. Fui rápido em segurar seu corpo inerte e mesmo tendo dificuldades, peguei ele em meus braços, caminhando em passos bem mais lentos até que entrei em casa.

Minha avó foi a primeira a vim preocupada em nossa direção.

- O que aconteceu? - Ela pergunta, olhando fixamente para Ângelo desmaiado em meus braços.

- Depois eu te explico vó, vou colocar ele no quarto, o médico já está vindo. - Aviso e sigo em direção a um dos quartos de hóspedes que fica no andar de baixo. Não conseguiria subir às escadas com ele em meus braços.

Entro no quarto e deixo Ângelo sobre à cama. Me sento na cama ao seu lado e meus olhos se fixam nele. Me sinto um pouco culpado pelo que aconteceu com ele. Ângelo está sob minha responsabilidade e meu dever é protegê-lo, mas parece que não estou fazendo isso do modo certo.

Escuto um barulho na porta e quando me viro, vejo o doutor Mário. Deixo ele com Ângelo e saio do quarto, já que minha avó também estava junto.

- Filho? - Escuto a voz da minha mãe me chamar, mas não estou muito a fim de falar com ela, ainda mais agora.

- Agora não mãe! - Falo e subo às escadas.

Não é que eu não goste da minha mãe, na verdade eu amo muito ela, mas ela já me magoou bastante durante os anos e não consigo mais ter confiança nela. Muito menos a relação de mãe e filho que tínhamos antes.

Entro em meu quarto e fecho a porta atrás de mim. Vou em direção ao banheiro e começo a tirar minhas roupas sujas de lama e folha seca. Abro o registro do chuveiro e deixo a água quente cair sobre meu corpo. Fecho meus olhos e tento relaxar meus músculos tensos. Começo a lavar meu corpo e posso sentir nitidamente as cicatrizes espalhadas pelo meu corpo, que não me deixam esquecer por nenhum minuto o que aconteceu comigo. Elas sempre vão estar comigo, como um lembrete dos piores momentos da minha vida.

Termino meu banho e saio do banheiro, seguindo em direção ao closet. Pego uma calça de moletom e uma camiseta branca, logo vestindo as peças. Assim que já estou pronto, pego minha bengala e saio do quarto.

Não demora muito e chego ao quarto onde Ângelo está. Entro no cômodo e vejo doutor Mário guardando suas coisas.

- E então? - Pergunto e me sento em uma cadeira que há no canto do quarto.

- Ele está bem, não teve nada de grave. Ele bateu a cabeça, por isso o corte, mas é apenas algo superficial. Também torceu o tornozelo direito, então ele vai passar alguns dias sem colocar o pé no chão. Vou deixar uma receita com alguns medicamentos e logo ele estará bem. - Ele explica e estende um papel para mim.

- Por que ele desmaiou? - Pergunto, olhando para Ângelo, que ainda não está acordado.

- Cansaço, como eu disse, não há nada de grave. Ele apenas precisa de repouso. - Ele diz e pega sua maleta, indicando que já vai embora.

- Tudo bem, obrigado por ter vindo doutor. Amanhã mesmo receberá pelos seus serviços. - Falo e com um aceno de cabeça ele deixa o quarto.

Me aproximo de Ângelo e percebo que ele está limpo e sem as roupas de antes. Certamente minha avó deve ter o limpado com a ajuda do doutor Mário. Sento na cama ao seu lado e deixo meus dedos serem guiados até tocar a sua face. Sinto sua pele macia em contato com a minha e um arrepio percorre o meu corpo.

Não sei quanto tempo fico olhando para ele, mas acordo do meu pequeno transe quando vejo Ângelo começar a despertar. Ele solta alguns resmungos e logo seus olhos se abrem, vindo de encontro a mim. Nossos olhares ficam conectados por alguns segundos, até eu desviar.

- Se sente melhor? - Pergunto, não olhando diretamente para ele.

- Sim, obrigado por ter me salvado. - Ele diz suavemente.

- Não precisa agradecer, isso foi o mínimo que deveria fazer. Afinal de contas, você é minha responsabilidade agora, devo cuidar de você. - Falo de modo sério.

- Mesmo assim, obrigado. - Ele insiste.

- O que aconteceu? - Pergunto, após alguns minutos de silêncio e volto a olhar para ele.

Ele solta um suspiro e começa a falar.

- Eu estava conversando com Castiel e acabei entrando na floresta. Eu não tinha a intenção de causar tudo isso, mas quando percebi estava perdido. Comecei a andar, tentando achar a saída, mas por um descuido eu não vi o buraco e acabei caindo. Com a queda bati minha cabeça e acabei desmaiando por um tempo e quando despertei fiquei desesperado. A chuva estava caindo forte e eu juro, achei que ninguém iria me achar ali, mas você me encontrou. Quando eu ouvi sua voz me chamando, foi como se eu pudesse respirar novamente. - Ele diz me olhando e me sinto sem fôlego pelas suas palavras.

- Eu... Vou te deixar descansar. - Falo e ameaço levantar, mas sinto sua mão em meu braço.

- Não, por favor... Fique aqui comigo. - Ele pede e quando fixo meus olhos nos seus, vendo seu pedido sincero, é impossível recusar.

- Tudo bem. - Falo em tom baixo e me sento novamente.

Ficamos em silêncio e percebo que Ângelo está quase pegando no sono. Sinto um toque suave em minha mão e quando olho para a mesma, vejo a mão de Ângelo se encaixar na minha. Sua mão é bem menor, mas quando ele entrelaça seus dedos aos meus, vejo que elas formam um encaixe perfeito. Fico imóvel em meu lugar, com os olhos fixos em nossas mãos unidas e logo escuto a respiração suave de Ângelo chegar em meus ouvidos.

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Olá jujubas... E então, o que acharam do Cap??? Ângelo e Enzo tão fofos 😍❤

Bjus da Juh 😘😘

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