Capítulo Doze
Enzo Miller
Levo minha mão ao meu rosto e toco o lugar onde ele me beijou, que foi quase perto da minha boca. Solto um suspiro ao constatar o quanto esse garoto mexe comigo. É impressionante a capacidade que ele tem de me fazer sentir como antes, quando eu ainda era eu mesmo, sem as sombras ao meu redor.
Ângelo está mudando a minha vida em uma proporção tão grande, que eu tenho medo do que possa acontecer. Medo do que possa acontecer, caso as coisas dêem errado novamente na minha vida. Eu sei que estou me deixando envolver demais com ele, mas é algo inevitável para mim... Simplesmente não consigo mais me manter longe dele. Não consigo mais ficar sem ouvir ele fazer um monólogo para responder apenas uma pergunta. Não consigo mais ficar sem ver o seu sorriso, sem sentir o seu cheiro, de ouvir a sua risada. Em pouco tempo eu não consigo mais ficar sem Ângelo, mas eu também não posso me render ao que estou começando a sentir por ele.
Ele também nem deve sentir o mesmo que eu, afinal ele é um garoto de quase 18 anos que tem muito ainda para viver. Apesar de não sentir repulsa a mim, isso não quer dizer que ele me queira. Na verdade, acho que ninguém nunca vai me querer como estou hoje e isso pouco me importa para ser sincero. Bem, importa um pouco por causa de apenas uma pessoa. E é nessas horas que eu queria ser o Enzo de antes. Queria que Ângelo tivesse conhecido o Enzo de oito anos atrás, o Enzo que vivia de verdade, o Enzo que sonhava com um futuro para si e que acreditava nas pessoas.
Volto a me sentar em minha cadeira e tento me concentrar novamente no trabalho, mas meus pensamentos persistem em seguir na direção de Ângelo. Penso no quanto ele vai ficar feliz se conseguir ser aprovado, o que eu tenho certeza que será. Ele demonstra um amor tão grande quando está falando o quanto deseja ser um médico. E eu já posso imagina-lo no futuro, sendo um dos melhores médicos que a medicina já viu.
Pensar em sonhos, me faz lembrar de um antigo sonho que eu tinha, mas que se perdeu assim como tudo em minha vida.
Solto um suspiro e balanço minha cabeça para afastar todos esses pensamentos de mim. Volto a olhar para os papéis a minha frente e passo a trabalhar novamente, me perdendo em meio a vários contratos.
* * *
Escuto o barulho de carro estacionando e olho pela grande janela, vendo Ângelo e minha irmã saírem do carro. Os dois estão com sorrisos imensos nos rostos, sinal de que eu estava certo em meu palpite de que deu tudo certo.
Abro um sorriso vendo os dois tão alegres, mas meu sorriso se fecha quando vejo Lucio abraçar Ângelo e começar a girar ele. Sinto um incômodo crescer dentro de mim e me sinto um idiota por estar assim. Ângelo não é nada meu e se ele tem uma amizade com Lucio ou até algo a mais, eu não tenho nada a ver com isso.
Lucio é um cara bonito e qualquer pessoa, seja homem ou mulher se apaixonaria fácil por ele... Talvez com Ângelo não seja diferente. Ele também é um rapaz lindo e conquista a todos com seu olhar doce.
Desvio meu olhar da janela e aperto o papel que está em minha mão. Por que eu sou assim? Por que eu tive que ficar desse modo? Um homem que não pode mais amar, muito menos ser amado.
Na realidade, eu não sirvo para o amor, já constatei isso. Eu nasci para ser sozinho, sem poder ter ninguém para compartilhar uma vida real... Um amor que seja real.
Não sei quanto tempo fico imerso em mim mesmo e só acordo quando escuto alguém entrar em meu escritório. Levanto meu olhar e vejo Ângelo em minha frente, me olhando com um sorriso, exatamente como estava mais cedo. Só que infelizmente agora, eu não consigo me sentir feliz vendo ele em minha frente, pelo contrário, eu tenho raiva. Mas não raiva dele, e sim raiva por tudo o que perdi.
- Você está bem? - Ele pergunta, acho que por ver a minha cara que não deve estar com uma expressão muito boa.
- Você acha que eu estou bem? - Pergunto um pouco ríspido.
Vejo sua expressão ficar um pouco assustada e eu quero me bater por ter sido grosso com ele, mas nesse momento eu não consigo ser diferente.
- Eu não sei, me desculpe por entrar assim... Eu já vou sair. - Ele diz baixo e sai, fechando a porta atrás de si.
- Droga! - Grito com raiva e soco a mesa abaixo de mim.
Eu não devia ter o tratado dessa forma, Ângelo não tem culpa de tudo o que aconteceu comigo... Apenas ele tem.
- Eu te odeio Vicente, eu te odeio! - Grito com raiva e começo a derrubar tudo que está em cima da mesa, em um acesso de raiva.
Acabo caindo no chão e simplesmente permaneço nele, me sentindo um lixo. Sinto lágrimas quentes escorrer pelo meu rosto e só então percebo que estou chorando, como há anos não chorava.
Encosto minha cabeça em meu joelho e me pergunto o porquê dele ter feito tudo o que fez comigo, mas na realidade eu sei a resposta... Sempre soube. E muitas vezes eu desejo que o seu plano tivesse dado certo, pois se tivesse, hoje em dia eu não estaria como estou. Acho que ter morrido teria sido bem melhor do que vivo hoje, eu pelo menos teria paz.
Sinto alguém me abraçar e ao sentir o cheiro da minha avó, eu me agarro a ela, deixando o choro sair com mais intensidade. Eu odeio me sentir fraco do jeito que estou, mas não tem como impedir isso.
- Eu odeio ele vó, ele não podia ter feito isso comigo... Não podia! - Falo em meio ao choro e sinto ela me apertar ainda mais em seus braços.
- Eu sei meu amor, mas não pense nisso agora. - Ela diz baixo e deixa um beijo em meus cabelos.
- Não tem como não pensar vó... Ele sempre vai me atormentar, mesmo que não esteja por perto. - Falo e me afasto dela. Limpo meu rosto e me levanto com um pouco de dificuldade.
Começo a tirar minha camisa e volto olhar para minha vó, que ainda está abaixada no chão.
- Está vendo isso? Está vendo todas essas cicatrizes, elas nunca vão me deixar esquecer o que ele me fez, então não me peça para não pensar nisso porque é algo impossível. - Falo com amargura e vejo ela derramar suas lágrimas, que até a pouco estava segurando.
- Eu sinto muito meu amor, não queria que seu pai tivesse te causado tudo isso. - Ela diz e eu sinto raiva quando ela se refere aquele homem como meu pai.
- Ele não é meu pai, nunca foi e nunca será! - Falo com raiva.
- Enzo? - Escuto a voz dele me chamar de forma baixa e sinto meu corpo gelar.
Me viro e vejo Ângelo parado na porta, me olhando com surpresa enquanto olha as cicatrizes espalhadas em meu corpo. Sinto minha garganta secar, ao perceber que ele está me vendo do jeito que realmente sou, ou melhor... Ele está olhando o que sobrou de mim
Não aguento ter seu olhar sobre mim e acabo saindo a passos lentos do meu escritório, deixando ele e minha avó para trás. Subo às escadas lentamente e só então eu percebo que deixei minha bengala para trás, mas ela não me faz falta no momento.
Assim que chego em meu quarto, eu me jogo em minha cama e novamente às lágrimas começam a rolar por meu rosto. Lágrimas de dor, lágrimas de ódio e lágrimas de medo.
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2/4
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