Capítulo Dezessete

Enzo Miller

Encosto minhas costas no tronco da grande árvore, que causa uma sombra sobre nós e observo Ângelo um pouco distraído. Ele é tão diferente de tudo e todos que já vi, que chega a ser algo irreal para mim. Apesar de não querer, eu me vejo completamente apaixonado, há sentimentos que só senti uma vez na minha vida, mas parece que dessa vez é algo mais forte. Só que mesmo sabendo que ele não é igual a Camilo, eu ainda sinto um grande medo dentro de mim. Há oito anos atrás, eu prometi a mim mesmo que não amaria mais ninguém. Prometi a mim mesmo que não deixaria ninguém chegar perto de alcançar meu coração, mas parece que eu não pude cumprir essa promessa por muito tempo. Pois foi apenas Ângelo entrar em minha vida, para que todas as minhas barreiras fossem abaladas. Mas eu não confio mais cegamente em ninguém e não sei se vou conseguir isso novamente. Mesmo Ângelo tendo sim ganhado um pouco do meu respeito e também da confiança, ainda não é algo pleno, mas eu quero que seja.

Há um mês atrás, eu não me importava em viver em meio as sombras, não importava mais com o vazio que sempre existiu dentro de mim. Mas depois de Ângelo, parece que minha vida deu uma sacudida. Eu não me vejo mais tão vazio quanto antes e para ser sincero, eu me cansei de sempre estar sozinho. De sempre estar apenas existindo ao invés de viver.

Sinto um toque suave em minha boca e me assusto no primeiro momento. Foco meus olhos novamente ao meu redor e logo eles são guiados a Ângelo, que está a centímetros de mim, sorrindo.

- Você estava distante. - Ele diz simples e continua me olhando.

Não sei o que dá em mim, mas eu tomo a iniciativa e puxo ele até mim, encostando meus lábios no dele. Coloco minhas mãos em sua cintura em uma aperto suave e logo as suas mãos estão em meu rosto. Nosso beijo se torna algo mais profundo e consigo sentir o gosto de chocolate em sua boca, resultado do bolo que ele comeu há minutos atrás. Enquanto eu o beijo, parece que aos poucos a vida vai voltando novamente a mim e isso me tira fora do chão. Quando o ar se faz necessário em meus pulmões, me afasto aos poucos dele, abrindo meus olhos e encontrando a imensidão azul dos seus.

- Isso foi bom! - Ele diz sorrindo e encosta sua testa na minha.

- Foi sim. - Respondo com a voz um pouco rouca.

Após alguns segundos, ele se afasta de mim e se senta ao meu lado, deitando sua cabeça em meu ombro.

- O que nós somos? - Ele pergunta de repente e eu prendo um pouco a respiração. Eu sinceramente não tenho uma resposta para a sua pergunta.

- Eu não sei, tudo isso é novo para mim também... De certa forma. - Respondo, depois de pensar um pouco.

- Tudo bem, isso não importa realmente. Mas me prometa que não vai me afastar de você? Eu não quero me fazer de vítima nem nada, mas você se tornou tão especial para mim depois que meu pai se foi. Castiel, você e sua família são muito importantes e não quero um dia estar sem ter vocês por perto. - Ele diz e eu posso ver claramente a sinceridade por trás de suas palavras.

- Eu prometo! - Respondo e deixo um beijo em seus cabelos enrolados.

- Em seis meses você terá dezoito anos, já sabe o que vai fazer quando se tornar um adulto? - Pergunto, mudando o rumo da nossa conversa.

- Na verdade não, mas se você ainda deixar, quero ficar aqui com vocês. - Ele diz e suas palavras causam um alívio estranho em mim.

- Essa casa também é sua, a partir do momento que veio para cá. - Falo sincero.

- Sabia que sua avó me chamou de neto? Foi algo tão surreal para mim. Eu nunca tive avós, então ouvir dela que ela me considera um neto, me emocionou bastante. - Ele diz de forma alegre e isso trás um sorriso ao meu rosto.

- Fico feliz por isso, eu já percebi o quanto minha avó te adora. - Respondo e ele se põe a minha frente, me olhando com um sorriso sacana.

- E você não sente ciúmes? - Ele pergunta com uma sobrancelha arqueada, ostentando um sorriso brincalhão.

- Não, nem um pouco. - Falo rindo e acabo me surpreendendo com meu ato.

Antes era algo quase impossível eu estar rindo e agora sai de uma forma natural... Mais uma das mudanças que  ele trouxe para minha vida.

* * *

Olho para o por do sol e sinto como se estivesse dentro de uma pintura. Mas logo meus olhos tomam um outro rumo, se encontrando com a lápide onde meu avô descansa. Estou nesse momento de frente para o túmulo do meu avô, que fica localizado aos fundos da propriedade. Minha avó fez questão de manter meu avô perto dela de certa forma. Mantendo ele no lugar onde sempre foi o seu lar.

- Oi vô, faz alguns dias que não venho e peço desculpas, mas algumas coisas aconteceram nesse meio tempo. O senhor deveria ter me dito sobre Ângelo, sabia? Levei um susto quando soube sobre ele. Senti muito medo quando descobri que era responsável por outra pessoa, mesmo sendo por poucos meses. Agora estou mais acostumado com essa ideia, até porque Ângelo já é alguém independente. Sabe vô, eu achei que nunca mais sentiria algo por mais alguém, mas estou vendo que estava errado quanto a isso. Ele desperta coisas adormecidas em mim, assim como sentimentos novos também, mas o medo e a insegurança ainda falam mais alto em mim. É difícil confiar depois de tudo que já sofri, o senhor sabe, esteve comigo naqueles momentos ruins. Eu fui um idiota ao achar que Camilo estava comigo por amor, fui um tolo ao acreditar que ele me amava, mesmo eu estando praticamente todo deformado, mas ele me fez acreditar nas suas palavras, me fez acreditar no seu falso amor. Ainda dói muito lembrar da traição, da humilhação que sofri. - Dou uma pausa em minha fala e limpo uma lágrima solitária que escorre por meu rosto.

- Eu sinto sua falta, você era a única pessoa que me entendia no meio disso tudo. O senhor sempre me entendeu da melhor forma possível, sempre soube como eu me sentia e sempre esteve comigo, mas você não está mais aqui e eu odeio esse fato. Só quero que saiba, que a partir de agora, eu vou honrar a confiança que o senhor sempre me deu. Não vou deixar ninguém acabar com tudo o que você construiu. Prometo que vou ser o homem que deveria ter sido antes. Não vou mais deixar ninguém me rebaixar e achar que sou inferior e isso será por você! - Termino minha fala e dou as costas para à lápide atrás de mim.

A partir de agora o antigo Enzo Miller está de volta, só que de uma maneira diferente.

* * *

Paro alguns minutos enfrente ao espelho e observo o terno preto em meu corpo. Faz algum tempo desde que usei uma roupa como essa, mas sei que agora será algo constante.

Hoje é o dia da minha volta à empresa  e eu me sinto de certa forma confiante. Depois da visita que fiz ao meu avô, eu me senti de certa forma renovado. Não tem o porque eu temer algo. Aquela empresa é minha e não vou deixar ninguém acabar com o legado que meu avô me deixou.

Ajeito mais uma vez minha gravata e saio em busca da minha bengala, estando pronto para ir. E assim que abro a porta do meu quarto, a porta do primeiro quarto no corredor também é aberta, revelando um Ângelo com cara de sono.

- Bom dia! - Falo chamando sua atenção e ele me olha.

- Que bom que ainda não foi, queria te desejar boa sorte. - Ele se aproxima de mim coçando os olhos.

- Acordou cedo só por isso? - Pergunto, sentindo uma estranha alegria tomar conta de mim.

- Sim, quero que você arrase no meio daquelas pessoas e mostre quem manda. Aliás, você fica bonita de terno. - Ele diz com um sorriso e balanço a cabeça em negação.

- Não concordo muito com sua opinião, mas tudo bem. - Falo e ele revira os olhos diante minha fala.

- Você é chato, eu vou voltar a dormir. Boa sorte Enzo! - Ele diz e deixa um selinho em minha boca, antes de voltar para seu quarto e fechar a porta.

Fico alguns segundos olhando para a porta fechada, mas volto a mim e começo a descer às escadas.

Passo na cozinha e tomo apenas uma xícara de café, em seguida encontrando Lucio com o carro já pronto. Ele logo começa a dirigir e vamos o caminho todo em silêncio. Me perco um pouco em meus pensamentos e quando me dou conta, já estamos estacionados na garagem subterrânea da empresa.

Deixo um aceno para Lucio e me encaminho em direção ao elevador. Em poucos minutos ele se abre no andar da presidência e assim que saio do mesmo, vejo várias cabeças se virando em minha direção. Não deixo os olhares me incomodar e sigo até à sala de reunião, onde eu sei que todos os acionistas me esperam.

- Bom dia! - Falo assim que entro na sala, chamando a atenção das cinco pessoas que estão sentadas em volta da mesa.

- Bom dia, senhor Miller! - Escuto um coro de vozes responder e me sento na ponta da mesa.

- Estamos felizes que esteja de volta novamente. - Diz senhor Mendes, um dos sócios antigos.

- Eu também es... - Minha fala é interrompida pela forma brusca a qual a porta é aberta.

- Me desculpem a demora, acabei pegando um trânsito horrível. - Ele diz de forma cínica, enquanto me olha com um sorriso.

- O que está fazendo aqui? - Pergunto cerrando meus punhos em raiva.

- Eu também sou acionista dessa empresa, irmão. - Ele diz de forma debochada e me olha em desafio.

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Olha a bomba!! 💣💥 E ??? Acho que ninguém esperava por essa. Mais uma parte do nosso mistério está . Sei que estão curiosos pelo passado e logo vocês saberão.

Bjs da Juh 😘😘

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