Capítulo Dezesseis

Enzo Miller

Continuo olhando para Cláudio à minha frente e tento processar tudo o que ele me disse. Alguém está desviando dinheiro da empresa e o Conselho exige a minha volta para a presidência. Ótimo! Não poderia receber notícia melhor que esta. A última vez que fui lá foi depois da morte do meu avô, para a leitura do seu testamento. Mas eu não posso simplesmente fechar os olhos para essa situação. Aquela empresa foi a vida do meu avô por muitos anos e ele a deixou para mim, deixou tudo sob a minha responsabilidade, para que eu seguisse o seu legado.

Solto um suspiro e encaro fixamente minhas mãos.

- Tudo bem, amanhã eu voltarei às indústrias Miller. - Falo depois de um tempo e vejo um sorriso pequeno surgir no rosto de Cláudio.

- Tenho certeza que seu avô está feliz com sua decisão. - Ele diz e eu concordo em silêncio.

- Já houve alguma auditoria? - Pergunto e olho para ele com mais atenção.

- Já marquei uma, irá começar amanhã. Nós vamos descobrir quem está por trás desses desvios e essa pessoa vai pagar por isso. - Ele diz, agora em um tom mais sério.

- Quem teria motivos para isso? - Pergunto a mim mesmo.

- Eu não sei, mas... - Cláudio para de falar quando somos interrompidos.

- Oi Enzo, eu estava... - Ângelo entra em meu escritório e para de falar, assim que vê Cláudio sentado na cadeira em minha frente.

- Oh, me desculpe eu não sabia que tinha visitas. - Ele diz e suas bochechas ganham um tom forte de vermelho.

- Oi Ângelo, que bom rever você. Espero que esteja se adaptando a tudo. - Cláudio diz simpático para ele.

- Estou sim, a família Miller me acolheu de uma forma que eu nem posso agradecer. Ainda estou superando a morte do meu pai, mas já estou bem melhor. - Ângelo responde de forma doce e sorri. - Bem, eu vou deixar vocês conversarem. - Ele diz por fim e dá um passo para trás.

- Não precisa, eu já estou de saída. Fique à vontade. - Cláudio diz e se levanta. - Te espero na empresa amanhã então. - Ele diz e estende a mão em minha direção.

- Sim, nos vemos amanhã. - Falo por fim e ele se despede mais uma vez, logo deixando meu escritório.

Meus olhos automaticamente vão em direção a Ângelo, que me lança um sorriso e se senta na cadeira que Cláudio ocupava antes.

- Oi! - Ele diz com um grande sorriso e é impossível não sorrir junto.

- Oi Ângelo! - Falo de volta.

- O que tem amanhã na sua empresa? Desculpe perguntar, mas fiquei curioso, sabe como é né? Dizem que a curiosidade matou o gato, mas eu acho esse ditado mentira... Você não acha? - Ele divaga e me olha esperando por uma resposta.

Acho incrível a capacidade de Ângelo de criar um pequeno monólogo para tudo. Ele não tem travas, mas esse jeito dele o faz se tornar único.

Eu disse a mim mesmo que jamais me apaixonaria novamente, mas parece que a gente não controla o coração. Parece que ele gosta de pregar peças na gente e mostrar que não estamos no controle da situação.

- Ei, eu estou falando com você. Dá para parar de viajar na manteiga aí? - Ele estrala seus dedos na minha frente e eu acabo rindo do que ele disse.

- Não era maionese? - Pergunto olhando para ele, que faz um gesto de desdém com a mão.

- Queria dar uma mudada, mas então? O que tem amanhã? - Ele pergunta novamente e coloca seu rosto em suas mãos, apoiando os cotovelos na mesa.

- Eu preciso voltar à presidência da empresa da família. - Respondo e ele me olha em confusão.

- Mas você é o dono, não? Pensei que já trabalhasse na presidência. - Ele diz.

- Na verdade eu só trabalhava na administração e de uma forma superficial. Há alguns anos é Cláudio que toma conta de tudo, já que passei uma procuração para ele, dando plenos poderes. - Respondo de forma simples.

- Por que não trabalha lá como todos? - Pergunta ele e desvio meu olhar do dele.

- Eu até trabalhei lá por um tempo quando meu avô ainda era vivo. Mas eu não aguentei os olhares por muito tempo. Não aguentava as pessoas falando de mim como se eu não estivesse por perto. E nem era tanto por minha aparência, eram outras coisas também. - Respondo e solto um suspiro, me lembrando da humilhação que passei há alguns anos atrás.

Já aconteceu tantas coisas comigo, que eu ainda me pergunto qual foi o meu grande pecado. Será que foi amar demais? Confiar demais? Esperar amor de quem nunca sentiu isso por mim? Ou tudo junto?

- Entendi. - Ele diz e fica em silêncio por alguns minutos, até voltar a falar novamente. - Eu vim aqui te chamar para passar um tempo comigo. O que acha de um piquenique? - Ele pergunta e um sorriso se abre em seu rosto.

- Acho que eu nunca participei de um. - Falo pensativo.

- Isso é ótimo, pois o seu primeiro piquenique vai ser comigo. - Ele diz de forma alegre e convencida.

Penso por alguns segundos e acho sua ideia boa. Estou mesmo precisando me distrair, esquecer os problemas que sempre me rondam, procurando à hora certa de bater na minha porta.

- Tudo bem então, vamos fazer um piquenique. - Falo por fim e ele se levanta da cadeira batendo palmas contente.

- Você não vai se arrepender. - Ele diz e acho que por impulso, deixa um selinho em meus lábios. Ele sorri um pouco corado e se afasta.

Apesar de Ângelo e eu termos nos beijado, nós ainda não temos nada e eu nem sei se vamos ter. As coisas ainda são bem incertas para mim.

* * *

Coloco uma roupa mais confortável e encontro com Ângelo na porta dos fundos. Nós caminhamos em passos lentos em direção a grande árvore em que nos sentamos outro dia, enquanto ele leva uma pequena cesta em suas mãos.

Assim que chegamos em baixo da copa da árvore, ele estende um pano xadrez que trouxe consigo e deixa a cesta em um canto. Ele se senta e eu imito seu ato, tendo um pouco de dificuldade por causa da minha perna.

- O que quer comer? Pedi um pouco de tudo a Ana. Ela é tão boazinha, parece uma mãezona cuidando de todo mundo. - Ele diz e começa a tirar as coisas da cesta. Tem alguns sanduíches, bolo de cenoura com cobertura de chocolate, algumas frutas, suco e chá. "Quem gosta de chá?". - Acho que a única pessoa que não gosta de mim aqui é Luci. - Ele continua a falar e esse fato me chama a atenção.

- Como assim ela não gosta de você? Ela te tratou mal alguma vez? - Pergunto olhando para ele.

- Tratar mal ela nunca me tratou, mas sempre me olha com desdém, como se eu fosse alguém inferior a ela. - Ele diz e aperto meus lábios em uma linha fina.

- E você tem alguma ideia do porquê ela te olhar assim? - Pergunto e pego uma maçã.

- Na verdade tenho meus palpites, mas não quero acusar ninguém injustamente. - Ele diz e pega um pedaço de bolo, logo comendo.

- Mas deixa esse assunto de lado, não vamos estragar nosso piquenique com esses assuntos. - Ele fala depois de engolir a comida e enche um copo descartável com chá.

- Você gosta de chá? - Pergunto olhando para ele, que bebe o líquido quente com satisfação.

- Eu amo chá! Camomila, mate, erva-doce, hortelã e alguns outros mais. - Ele diz sorrindo e eu me perco por alguns segundos em sua boca.

- Eu nem sabia que existia tantos tipos. Eu não gosto muito de chá, prefiro café e sem açúcar. - Falo e termino de comer minha maçã.

- Também não bebo chá com açúcar, acho que açúcar demais tira o gosto das coisas. E... Eu odeio café! - Ele diz e eu olho para ele horrorizado.

- Como assim você odeia café? Isso não pode ser possível! - Falo de forma exagerada e ele acaba soltando uma gargalhada.

- Sim, isso é possível, assim como você não gostar de chá. Eu acabei pegando raiva de café, meu pai era completamente viciado e eu sempre encontrava a maior bagunça feita com café na cozinha. Além de café ser amargo... Não existe uma lógica em tomar coisa amarga. Ergr! - Ele fala e sua cara se cortorce em uma careta. Acabo rindo da sua explicação.

- Como fazemos, então? - Pergunto e ele me olha confuso. - Você não gosta de café, eu não gosto de chá... Como fazemos? - Pergunto novamente com um sorriso.

- O mais importante já temos. - Ele diz de forma simples.

- E o que é? - Pergunto atento.

- Nós gostamos um do outro e nada mais importa. - Ele responde e o sorriso que havia em meu rosto aumenta.

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Nossa! Não aguento tanta fofura com esse casal 😍😍😍❤

O que acharam do Cap, jujubas???

Bjs da Juh 😘😘

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