Capítulo Cinquenta e Quatro
Enzo Miller
Vejo um movimento próximo ao corredor que leva à cozinha e fico surpreso ao ver Eduardo com uma arma na mão. Ele pega meu olhar e diz somente com os lábios "a polícia vai entrar". Faço um sinal leve de concordância e me levanto do chão com um pouco de dificuldade, sentindo minha perna latejar de dor.
- Eu vou te dar o dinheiro Vicente, mas solte Ângelo por favor. - Volto a olhar para ele e me sinto desesperado ao ver meu marido com uma arma na cabeça, sendo que não só sua vida está em risco, mas também a vida dos nossos filhos.
- Sabia que você iria ceder mais cedo ou mais... Continua sendo o mesmo medroso de sempre. - Ele diz me olhando com um sorriso de escárnio.
- Para com isso, Vicente. Pra que machucar sua família? - Minha avó pergunta e vejo que ela está pálida.
- Vocês não são minha família! Nunca me deram uma chance... Você é a culpada de tudo isso. - Ele diz com raiva e minha vontade é rir dele.
- Quer culpar os outros pelo seu erro, Vicente? Não é homem o suficiente para os assumir? - Pergunto com ironia.
- Cuidado com as palavras, menino... Você não é ninguém perto de mim. - Ele diz raiva.
- Não mesmo, mas você também não é muita coisa. - Falo olhando para ele.
As coisas acontecem rápido a partir daí. Logo vários policiais invadem a casa e tiros são rapidamente ouvidos. Minha atenção vai rapidamente para Ângelo e vejo Vicente o pegar com força, o levando para longe. Sem pensar muito, pego a arma caída ao lado de Apolo e vou atrás de Vicente, que caminha para os fundos da casa.
Ouvir o choro de Ângelo me deixa com ainda mais raiva. E não tenho muita consciência quando aperto o gatilho e atiro em Vicente pelas costas. Mais um tiro é disparado e vejo ele cair no chão, deixando Ângelo livre, que olha para ele assustado.
Continuo parado no mesmo lugar e sinto minhas mãos trêmulas. Meu coração está acelerado e deixo a arma cair no chão. Volto a olhar para Vicente caído no chão, mas não vejo qualquer reação do seu corpo. Não faço ideia de onde atirei nele, mas acho que o matei e isso me deixa apavorado.
- Enzo! - Ângelo grita meu nome e só então consigo olhar para ele, que se aproxima de mim chorando.
- Eu matei ele, anjo... Eu matei meu pai! - Falo com a voz baixa e volto a olhar para o corpo inerte de Vicente.
- Sim, mas se não tivesse feito isso poderia ter sido qualquer um de nós ali. - Ele diz sério, mas lágrimas escorrem por seu rosto.
- Eu... - Não consigo falar nada, pois as palavras ficam presas em minha garganta.
Ângelo me abraça forte e isso me ajuda a voltar um pouco para a realidade. Fecho meus olhos e o aperto em meus braços, inalando seu cheiro. E eu só queria saber como uma noite que começou feliz acabou em uma tragédia?
Escuto passos perto e quando viro minha cabeça, vejo alguns policiais vindo em minha direção.
- Aí! - Um grito de dor tira a minha atenção deles e quando olho para Ângelo novamente, vejo ele com a mão na barriga.
- O que foi? - Pergunto preocupado e seguro ele para não cair.
- Minha barriga está dando pontadas. - Ele diz com a voz de choro. - Oh meu Deus! Eu estou sangrando, Enzo! - Ângelo diz apavavorado e quando olho para sua calça, vejo que está mesmo manchada de sangue. - Eu não quero perder nossos filhos, de novo não. - Ele chora e eu pego ele em meus braços.
- Você não vai perder eles. - Falo com firmeza.
- Eu preciso de uma ambulância, ele está grávido! - Falo olhando para um dos policiais.
- Nós levamos vocês. - Um deles diz e os outros vão até o corpo caído de Vicente.
Passo pela sala com Ângelo no colo e vejo várias coisas quebradas. Os homens que veio com Vicente estão algemados e não vejo mais Apolo.
Infelizmente não tenho tempo para pensar em tudo isso, e sigo o policial até uma viatura. Entramos e coloco Ângelo no banco de trás, me sentando ao seu lado. Ele chora ao meu lado e tudo isso me faz entrar em desespero. Só espero que meus filhos não levem a culpa por tudo isso.
Não demora muito para chegarmos ao hospital mais próximo e assim que chegamos, Ângelo é rapidamente atendido. Sou impedido de entrar com ele e isso me deixa mais aflito ainda.
- O que aconteceu com o homem que estava baleado na sala? - Pergunto para o policial, já que não poderia fazer muita coisa agora.
- Ele foi levado para o hospital, junto a senhora que estava passando mal. - Ele responde e fico preocupado com minha vó também.
- Eu sei que o momento é difícil pra você e sua família, mas vamos precisar do depoimento de todos. Principalmente o seu, já que teve uma morte por sua parte. - O policial diz me olhando e concordo com um aceno.
- Eu posso ser condenado? Eu só fiz aquilo para defender meu marido, até porque nós estávamos sendo reféns em nossa própria casa. - Falo preocupado.
- Provavelmente não, há muitas provas de que foi em legítima defesa, mas sempre tem uma burocracia e preciso que você faça a denúncia. - Ele diz e eu assinto de leve.
Me sento em uma das cadeiras na sala de espera e sinto um peso enorme em meus ombros, mas também sinto um leve alívio... Pelo menos Vicente não é mais um problema em nossas vidas.
Não sei quanto tempo se passa até quando vejo um médico aparecer, mas sinto alívio tomar conta de mim quando ele me informa que está tudo bem com Ângelo e nossos filhos.
Pelo menos uma coisa boa, agora me resta saber como ficou todo o resto.
* * *
Entro no quarto em que Ângelo está e não consigo segurar as lágrimas ao o ver bem. Ele assim que me vê, abre os braços para mim em convite e não demoro muito para estar o abraçando.
Passo minhas mãos por sua barriga e sinto paz por saber que nossos filhos estão protegidos ali dentro, sem dano algum.
- Acabou amor, finalmente acabou. - Ele diz em meu ouvido e eu o abraço ainda mais.
- Estou tão aliviado com tudo, mesmo que ainda sinta um peso sobre meus ombros. - Falo e deixo um beijo em sua testa. - Também estou feliz por nossos filhos estarem bem, levei um susto com tudo. - Abraço ele mais uma vez.
- Eu também, senti medo em todos os momentos, mas agora sei que eles estão bem e não correm riscos. - Ele diz e se afasta um pouco de mim. - Mas estou preocupado com seu irmão e sua mãe. Maísa deve estar arrasada e seu irmão estava praticamente morto em nossa frente. - Angie diz preocupado e sinto meu peito também se apertar por esse fato.
- Tenho que ir atrás de notícias, mas não quis te deixar aqui sozinho. - Falo a ele.
- Agora eu estou bem. Sei que quer ir atrás do seu irmão, então vá. - Ele diz e me sinto grato por ele me compreender.
- Prometo que volto logo. - Falo e beijo sua boca suavemente.
- Sei que vai. - Ele sussurra e beija minha bochecha.
Deixo um beijo em sua barriga redonda e saio do quarto em seguida.
Assim chego à saída do hospital, agradeço por ver Cláudio encostado em um carro.
- Preciso saber sobre Apolo e minha avó. - Falo e ele acena para o carro.
- Ângelo está bem? - Ele pergunta e eu concordo.
- Agora sim, e fico mais aliviado por ter um policial ali. - Respondo e passo minhas mãos em meu rosto.
Aconteceu tantas coisas nas últimas horas, que me sinto totalmente esgotado.
- Lá em casa? Está tudo bem? - Pergunto em meio ao silêncio do carro.
- Sim, foi bem surreal tudo o que aconteceu. Sua mãe e sua irmã estão em choque, sua avó passou mal e foi levada junto com Apolo. - Ele faz uma pausa. - Você desconfiava da história deles, sua mãe e Apolo? - Ele pergunta curioso e eu nego com a cabeça.
- Não! A única coisa que sabia é que minha mãe teve um filho mais velho, mas ele tinha morrido. E ela também me contou sobre o namorado que foi obrigada a se separar para casar com Vicente. - Explico e solto um suspiro. - Achei que Vicente tinha acabado só com a minha vida, mas foi um efeito dominó... Todos saíram feridos de alguma forma.
O silêncio reina em seguida no carro e fico imerso em pensamentos, até chegarmos no hospital em que Apolo e minha vó estão.
Desço apressado do carro, mas sinto minha perna latejar de dor e isso me faz andar um pouco devagar.
Cláudio, vendo minha situação, me apoia e entramos no hospital.
Passamos pela recepção, mas só recebemos a informação de que minha avó está bem e dorme em um quarto.
Acho Lucio na sala de espera e vejo seu rosto inchado pelo choro.
- Alguma notícia? - Pergunto a ele, e me sento em uma das cadeiras.
- Ainda não, eles não dizem nada. - Ele diz e volta a chorar. - Apolo estava quase morto, Enzo. - Ele diz aflito.
- Vai ficar tudo bem. - Falo mais para mim do que para ele mesmo.
Por anos eu guardei mágoa de Apolo, mas também nunca deixei de sentir afeto por ele. Afinal de contas ele é meu irmão. Só espero ter mais tempo com ele, já que o que tivemos no passado foi limitado por Vicente.
Às horas se passam e acabo indo visitar minha avó nesse meio tempo, assim como tomo um remédio para amenizar a dor em minha perna.
Quando volto para à sala de espera, é no mesmo momento em que um médico aparece.
- Ele está vivo? - Lucio pergunta com medo.
- Sim, o paciente está vivo, mas ainda está em estado grave. Ele levou dois tiros, um no peito e o outro no abdômen. Uma das balas passou perto do coração por um centímetro e a outra infelizmente está alojada na coluna vertebral dele, e não conseguimos tirá-la. Ele sofreu uma parada cardíaca na cirurgia, mas conseguimos o reanimar. Apolo perdeu muito sangue também e precisou receber doação. Nesse momento ele está na UTI e o quadro dele ainda é bem grave, então não darei falsas esperanças. - O médico explica e eu fico tonto com tudo.
- Essa bala alojada pode trazer algum risco a mais? - Pergunto olhando para ele.
- O paciente corre risco de ficar paraplégico, mas só vamos saber com certeza quando ele acordar. A bala ficou alojada em um lugar muito delicado e nós não a removemos, pois isso pode trazer um dano bem maior a ele. - Ele diz e isso me deixa sem fôlego.
- Podemos ver ele? - Lucio pergunta.
- Infelizmente não, somente quando ele estiver mais estável.
- Ok. - Ele responde e se afasta de nós.
Me sinto desnorteado com tudo isso, tentando entender como foi que chegamos a isso tudo.
Estela está morta, Vicente está morto... E Apolo também corre o risco de morte.
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E acabou o tormento chamado Vicente.
O que será que vai acontecer ao nosso badboy Apolo???
Ps: Sobre o pai de Apolo, eu citei ele em uma conversa entre Enzo e Maísa.
Ps2: FALTAM 6 CAPÍTULOS PARA O FIM 💔💔💔
Bjus da Juh 😘😘
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