Capítulo Cinquenta e Cinco

Enzo Miller

Fico um bom tempo parado e sem saber o que fazer realmente. Fecho meus olhos com força e respiro fundo, buscando forças dentro de mim.

- Você pode ficar aqui com a minha vó, Cláudio? Preciso fazer algumas coisas e ver como Ângelo está. - Pergunto ao homem a minha frente e ele assente.

- Claro, pode ir tranquilo. - Ele diz e fico grato por isso.

- Eu vou ficar responsável pelo paciente Apolo Miller, por favor façam de tudo para o salvar... Eu pago qualquer coisa. - Falo olhando para o médico, me sentindo desesperado.

- Vamos avisar qualquer coisa, mas tudo o que podíamos fazer já fizemos. - Ele diz com pesar e eu assinto com a cabeça.

- Eduardo está vindo te buscar. - Cláudio diz antes que eu saia e faço um aceno com a cabeça.

Ando devagar pelos corredores até chegar à saída e quando saio do hospital, vejo Lucio sentado em um dos bancos que há na frente do hospital. Sei que ele deve estar sofrendo nesse momento, apesar de tudo o que houve, o passado não se apaga.

- Ele vai ficar bem. - Falo quando me aproximo dele.

- Não estou muito confiante com isso, sei que a situação é grave, Enzo. - Ele diz sério e seca as lágrimas que escorrem por seu rosto.

- Eu sei, mas Apolo é forte... Não será isso que vai o derrubar. - Falo sincero.

- Eu espero que sim. - Ele diz e solta um suspiro.

Ficamos em silêncio e logo vejo o carro com Eduardo se aproximar.

- Vem comigo? - Pergunto a ele, que nega com a cabeça.

- Vou ficar mais um pouco. - Ele responde e sem ter muito o que fazer, eu apenas concordo.

- Tudo bem. - Falo e começo a caminhar até o carro.

Entro no banco do carona e fecho a porta, me encostando melhor no banco.

- Vamos pra casa. - Falo e ele coloca o carro em movimento.

- Senhor, eu quero pedir desculpas pela minha falha, deveria ter ficado mais atento a tudo. - Eduardo fala após alguns momentos.

- Como ele conseguiu dopar vocês? - Pergunto curioso.

- Um dos homens dele se infiltrou na casa como um dos nossos seguranças. Ele mexeu em todas as refeições, mas por sorte eu não comi. Quando vi o que estava acontecendo, me escondi. Teve uma senhora que estava junto com eles que me viu, mas ao invés dela me delatar, ela me pediu para chamar a polícia. - Ele conta.

- Estela, ela morreu por isso. - Falo e automaticamente penso em Ângelo. Sei que apesar de ter mágoa da mãe, não foi nada bom ele ver ela sendo assassinada em sua frente.

- A polícia já saiu da minha casa? - Pergunto.

- Não todos, mas eles já levaram os homens que estavam lá presos e os corpos de Estela e Vicente também. - Ele responde e isso me deixa mais aliviado.

- Os outros seguranças já estão bem? - Pergunto e olho pela janela. Olho pro meu relógio de pulso e vejo que já são 2hr da manhã.

- Alguns sim. - Ele diz e para em um semáforo.

- Manda dois deles para o hospital onde Ângelo está. Sei que o pior já passou, mas não quero arriscar mais nada. - Falo sério.

- Sim senhor! Mais alguma coisa? - Ele pergunta.

- Cadê seu celular? Preciso fazer uma ligação. - Falo olhando para ele, que logo me estende o aparelho. - Obrigado! - Agradeço e disco o número de casa.

Demora um pouco, mas logo uma voz feminina atente e reconheço ser minha mãe.

- Mãe, sou eu, Enzo. Está tudo bem por aí? - Pergunto preocupado.

- Agora sim, mas filho eu preciso ver seu irmão. Ninguém me diz nada. - Ela fala e começa a chorar.

- Fica calma, eu já estou chegando. Apolo vai ficar bem. - Falo isso e depois dela dizer mais algumas palavras, eu encerro a ligação.

Devolvo o celular de Eduardo e me afundo em pensamentos. Até agora é surreal pensar que Apolo também é filho da minha mãe, e não filho daquele monstro do Vicente. Não sei como uma pessoa é capaz de tanta maldade contra as outras pessoas.

Isso me faz lembrar que eu fui o responsável por sua morte, mas ao invés de sentir arrependimento, eu só sinto alívio. Vicente era um fantasma em minha vida, que só existia para fazer o mal... E não só a mim.

Fico aliviado de não ter mais ele em nossas vidas. Fico tranquilo ao saber que meus filhos não vão nascer no meio de todo o caos causado por ele... Isso me deixa em paz. Nunca pensei que fosse eu a por um fim em toda a história, mas me sinto até satisfeito com isso. Não é uma coisa que me orgulho de ter feito, mas uma coisa que foi necessária.

Saio desses meus pensamentos quando chego em casa, e posso ver algumas viaturas da Polícia ainda em minha casa. Solto um suspiro e entro em casa, vendo ainda um pouco da bagunça deixada para trás.

Minha mãe logo me vê e vem praticamente correndo até mim.

- Como está ele? Eu quero ver meu filho! - Ela diz desesperada e eu apenas abraço minha mãe, sentindo suas lágrimas molhar minha camisa.

- Apolo está na UTI, mãe e infelizmente não pode receber visitas. Se a senhora quiser ir ficar com a vó, ela está no mesmo hospital que ele. - Falo e ela se afasta um pouco de mim.

- Ele vai morrer? - Ela pergunta ainda chorando.

- Nós não sabemos, mãe, mas eu acredito que não. Nós vamos poder recuperar todo o tempo perdido com ele ainda. - Falo sincero e abraço ela novamente.

- Eu não vou aguentar perder ele novamente... Já doeu tanto da primeira vez. - Ela chora em meu ombro e sinto meu peito se apertar.

- Isso não vai acontecer, mãe, não vai! - Falo para a consolar, sabendo que estou fazendo isso por mim também.

Fico mais um tempo abraçado a minha mãe e logo procuro por minha irmã, a encontrando em seu quarto. Maju não diz nada, mas quando me vê, apenas me abraça e chora em meu ombro.

A noite começou feliz e eu esperava que continuasse, mas ao invés disso, tivemos uma noite marcada por coisas que vão nos acompanhar para o resto de nossas vidas.

* * *

Saio do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e ao invés de ir me trocar, sento em minha cama por alguns minutos, refletindo sobre tudo. Olho no relógio em cima do criado-mudo e vejo que já são quase cinco da manhã.

Solto um suspiro e vou trocar de roupa. Coloco uma calça jeans e camiseta simples, junto com um tênis. Não costumo me vestir muito assim, mas não vejo porque me vestir de outra forma. Termino de me arrumar e pego minha bengala, saindo do quarto em seguida.

Minha mãe e Maria Julia foram para o hospital onde minha vó e Apolo estão, então não há ninguém em casa. Os policiais também já foram todos embora, e apenas os seguranças e empregados da casa estão aqui.

Encontro Eduardo em frente de casa, me esperando e logo estamos saindo da propriedade. Seguimos primeiro para à delegacia, onde eu faço uma denúncia contra o ataque, mesmo que Vicente não vá preso já que está morto, e presto meu depoimento.

Saio da delegacia alguns minutos depois e sigo até o hospital em que Ângelo está.

Logo chegamos e eu vou direto para o quarto, onde sei que ele está. Assim que abro à porta, vejo ele ainda dormindo e fecho a porta com cuidado atrás de mim.

Caminho lentamente até ele e me sento na cama ao seu lado, colocando minha mão em sua barriga em seguida. Fecho meus olhos e agradeço a Deus por meus filhos estarem bem, acho que se acontecesse algo com ele, Ângelo e eu estaríamos totalmente sem saída.

Sinto um toque em minha mão e quando abro meus olhos, vejo Angie me olhando.

- Bom dia! - Falo baixo e deixo um beijo em sua testa.

- Bom dia, amor! Você não dormiu. - Ele diz e não é uma pergunta.

- Não tive tempo e nem conseguiria, anjo. - Falo e entrelaço minha mão na sua.

- Entendo, eu também não teria se não fosse o remédio que eles me deram. Como está seu irmão? - Ele pergunta e se ajeita melhor na cama.

- Nada bem, eu quero acreditar que ele vai ficar bem. - Falo e beijo sua mão.

- E ele vai! - Ele diz confiante.

Olho em seu rosto e percebo que ele está um pouco abatido.

- E você? Está bem? Sei que apesar de tudo ela era sua mãe. - Eu falo e ele suspira.

- Não posso dizer que morro de amores por ela, mas me sinto triste... Querendo ou não, ela nos ajudou e isso eu vou ser eternamente grato a ela. O pior foi ver ela morrendo em minha frente, não desejaria isso para ninguém. - Ele fala e me olha. - Por isso quero fazer um velório digno a ela, apesar de tudo. - Ele diz e eu, sinceramente, não esperava outra atitude dele.

- Então ela terá, meu anjo. - Falo e o abraço.

Alguns minutos depois ajudo Ângelo a tomar um banho e se arrumar, já que havia trazido uma bolsa de roupa para ele. E assim que ele está pronto, o médico responsável por ele aparece.

- Bom dia! Sua alta já está aqui. - Ele diz e olha para Ângelo em seguida.

- Está tudo bem com eles, mesmo? - Pergunto olhando para o médico.

- Agora sim, mas recomendo repouso e nada de estresse e emoções forte. Ângelo sofreu um aumento da pressão arterial e isso não é bom para ele, levando em conta uma gravidez de gêmeos. Você pode desenvolver uma pré-eclâmpsia, o que é prejudicial tanto a você quanto aos bebês. Mas com todos os cuidados certos, você terá uma gravidez tranquila e saudável. - Ele fala e sinto Ângelo apertar minha mão com força.

- Nós vamos tomar todos os cuidados necessários. - Falo convicto.

- Fico feliz, agora Ângelo está liberado, é só passar na recepção e assinar. - Ele diz e entrega o papel da alta em minha mão.

Olho para Ângelo e vejo medo em seus olhos. Me aproximo do meu marido e o abraço com força.

- Eles vão ficar bem, os três vão. Não fique preocupado com o que possa acontecer, tudo bem? - Falo baixo em seu ouvido.

- Ok! Não vou pensar, só irei me cuidar mais. - Ele responde.

Ajudo ele a descer da cama e pego sua bolsa, saindo com ele do quarto em seguida.

Passamos na recepção e Ângelo assina sua alta, saímos do hospital de mãos dadas e entramos no carro à nossa espera.

- Vamos para casa. - Falo para Eduardo, que assente.

- Não, eu quero ver vó Emília. - Angie fala e me olha sério.

- Você precisa de repouso. - Falo olhando para ele.

- Por favor, amor, vou ficar mais tranquilo despois que ver ela. Também preciso ver Lucio e sei que ele está no hospital. - Ele diz convicto e solto um suspiro.

- Tudo bem, mas vamos para casa depois. - Falo e ele assente com a cabeça.

Angie se encosta em mim e deita sua cabeça em meu ombro.

* * *

Abro à porta do quarto em que minha avó está e deixo Angie passar primeiro.  Não demora muito e ele já está abraçando minha avó. Vejo minha mãe e Maju sentadas em um sofá, e elas sorriem quando me vê.

- Espero que não tenha acontecido nada demais com meus bisnetos. - Minha vó fala e coloca a mão na barriga de Ângelo.

- Está tudo bem, vó, só preciso me cuidar mais de agora em diante. - Ele fala sorrindo e beija sua bochecha.

- Indo para casa descansar seria uma boa. - Jogo a indireta para ele, que revira os olhos pra mim.

- E Apolo? Alguma nova notícia? - Pergunto olhando para todos.

- Ainda nada de novo, mas depois de muito insistir, eles nos deixaram o ver pelo vidro. - Minha mãe diz e solto um suspiro. - Lucio está lá com ele agora. - Ela fala.

- Eu não entendi porque Lucio ficou tão abalado. Sei que é uma situação difícil, mas não sabia que eles eram tão próximos. - Ângelo diz confuso e se senta em uma cadeira ao lado da cama.

- É um assunto delicado, que só ele pode te contar. - Falo a ele.

Ângelo está prestes a abrir a boca, quando a porta do quarto se abre e Lucio entra com desespero.

- Está acontecendo alguma coisa com ele! - Ele diz chorando e me aproximo dele.

- Calma! O que houve? - Pergunto preocupado.

- Ele estava bem e de repente os aparelhos começaram a apitar, os enfermeiros e médicos chegaram e me tiraram de lá. - Ele diz com a voz falha pelo choro constante.

- Isso não! - Minha mãe diz e sai correndo do quarto.

- Vamos manter a calma, não adianta se desesperar agora. - Falo e olho para minha vó. - A senhora fica aqui com Ângelo e por favor mantenha a calma. - Peço.

- Já basta uma pessoa para a gente se preocupar. E eu já estou bem. - Ela responde e isso me deixa mais aliviado.

- Fica com eles também, Maju. - Falo e minha irmã assente. - Venha Lucio, vamos ver o que está acontecendo realmente. - Falo e saio com ele do quarto.

Caminhamos em silêncio pelo corredor e quando chegamos perto da UTI, onde Apolo está, nós somos barrados.

- É meu filho, eu quero saber o que está acontecendo! - Minha mãe fala chorando.

- Por favor, senhora, nós pedimos que esperem na sala de espera. Assim que puder o médico irá dar informações a vocês. - A enfermeira diz com calma e isso me irrita.

- Mãe, vamos. Não vai adiantar ficar aqui. - Falo e passo meus braços por seu corpo, a trazendo para perto de mim.

Lucio permanece em silêncio e nós seguimos para à sala de espera. Faço minha mãe se sentar e pego um copo de água para ela.

Entendo que para ela não está sendo nenhum pouco fácil tudo isso, e tenho mais raiva de Vicente por tudo.

Não sei quanto tempo se passa e minha aflição aumenta a cada minuto. Meus olhos vão parar em Lucio e fico com pena de seu estado.

Vejo o mesmo médico que está cuidando de Apolo surgir pelo corredor e isso me deixa com o coração na mão. Minha mãe logo se levanta também e fica ao meu lado, assim como Lucio.

- O que está acontecendo com meu filho? - Minha mãe pergunta com desespero na voz.

- O paciente sofreu uma parada cardíaca e morreu por dois minutos, mas conseguimos o trazer de volta mais uma vez. Só que com a falta de oxigenação no cérebro, o paciente acabou entrando em coma... Sinto muito. - Ele diz e vejo minha mãe desabar ao meu lado, mas sou mais rápido e pego seu corpo antes que caia no chão.

Escuto passos rápidos e quando olho para o corredor, vejo Lucio correndo para longe.

Mais um item a lista de coisas que temos que superar.

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Tenso!!! O que acharam, jujubas???

Ps: O livro de Lucio e Apolo está  disponível em meu perfil. Então add... Ele se chama "Coração de Aço". Gostaram?? 🤗

Bjus da Juh 😘😘

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