Capítulo Cinco
Ângelo Lima
Passei quase toda a noite acordado, me lembrando da minha conversa com Enzo. Ele é totalmente diferente do que imaginei, mas o que me chamou a atenção foi o seu jeito. Ele me olhava a todo momento, como se esperasse uma reação negativa de mim. E eu entendi o porquê, no momento em que olhei para ele. Enzo é um dos homens mais lindos que já vi na minha vida e nem as cicatrizes em seu rosto pode dizer o contrário. Mas parece que por causa delas, ele não se sente mais à vontade. Reparei bem em seu rosto na noite passada e fiquei impressionado com o que vi. Ele possui uma cicatriz enorme, que pega quase todo o seu rosto, no lado direito e outra menor, quase chegando perto do ouvido. Também percebi que ele não enxerga muito bem com o olho direito. E vê-lo, me deixou curioso para saber como ele conseguiu aquelas cicatrizes e porquê tem dificuldades para andar.
Mas eu não faria questionamentos a ele, já que percebi o quanto ele é um homem retraído. Me parece que ele se esconde das pessoas por medo... Medo do que vão dizer por vê-lo. E eu entendo ele perfeitamente, já que hoje em dia, na sociedade em que vivemos, a beleza é elevada as alturas. Existem tantos preconceitos hoje em dia, que é até difícil você se encaixar em um grupo. Seja por você ser gordo, magro, negro, homossexual, pobre, alto, baixo, não ter o padrão de beleza esperado e vários outros tipos de preconceitos.
Eu mesmo já sofri tanto preconceito por ser negro. Quando era pequeno e as pessoas viam meus olhos azuis, diziam que aquilo era errado, pois um negro não podia ter o olho claro. Também teve vezes em que eu mostrava meu pai as outras crianças e elas diziam que ele não podia ser meu pai, afinal ele era branco e eu não. E em todas essas vezes, doía muito ouvir isso. E não foi só quando eu era pequeno, quando cresci o preconceito também me acompanhou e acompanha até hoje. É difícil se livrar de algo, que está enraizado nas pessoas. Então eu entendo pelo que Enzo passou ou está passando. Acho que para ele, é mais fácil se esconder do que enfrentar o mundo preconceituoso que há lá fora.
Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos e resolvo me levantar. Sigo em direção ao banheiro e levo um pequeno susto ao ver as olheiras enormes abaixo dos meus olhos. Mas deixo isso para lá por um instante e vou tomar um banho. Entro embaixo da água morna e fecho meus olhos e no mesmo momento, a imagem de Enzo vem em minha cabeça. O que não me surpreende, já que desde ontem não paro de pensar nele nem por um segundo. Termino meu banho e já depois de vestido, passo uma base e corretivo para esconder a cara de quem não dormiu à noite.
Saio do quarto e desço às escadas, com a intenção de encontrar alguém, mas ainda é muito cedo. Entro na cozinha e me surpreendo ao encontrar o dono dos meus pensamentos, sentado na pequena mesa que há ali. Ele está concentrado na xícara de café que há na sua frente e acho que não nota minha presença. Não tem mais ninguém na cozinha além de nós dois e isso não me deixa nenhum pouco surpreso.
Me sento na cadeira à sua frente e mesmo com o barulho, ele não levanta a cabeça para me ver e continua com os olhos focados na xícara.
- Bom dia! - Falo, tentando chamar sua atenção, mas não causa muito efeito já que ele não me responde.
Me sirvo de uma xícara de chá e pego uma fatia do bolo de cenoura, que está sobre à mesa.
- Ok, não quer me responder não posso fazer nada, mas vai ficar me ouvindo. E já adianto, eu gosto bastante de falar. Meu pai dizia que eu tinha engolido um gravador quando pequeno, pelo fato de eu gostar muito de conversar. Mas sabe, acho que sou assim porque eu não tinha muitas pessoas com quem conversar, além de Castiel e meu pai, então muitas vezes eu falava sozinho. O que eu não me import...
- Como consegue falar tanto de manhã? - Ele pergunta, me interrompendo, mas continua de cabeça abaixada.
- Ué, é um horário como outro qualquer e saiba que conversar faz muito bem, senhor Miller. - Respondo e coloco uma colher de bolo na boca.
- Não sou muito de conversar. - Ele diz e abro um sorriso.
- Isso eu já percebi, nem precisava falar. Será que pode me olhar? - Pergunto, olhando fixamente para ele.
- Acho que olhar para mim por muito tempo não é algo legal. - Ele diz e faço um som de negação com a boca.
- Acho que quem decidi isso sou eu, não vejo problemas em olhar para você Enzo. Por que teria? - Deixo a pergunta no ar, esperando por uma resposta dele.
- Depois que ganhei um rosto desfigurado, muitas pessoas me olham com nojo, outras às vezes até evitam me olhar. Vivo assim por oito anos da minha vida. - Ele diz em um tom amargurado, que me causa um aperto no peito.
- Eu não sou assim Enzo, vejo muito mais que cicatrizes em seu rosto. E olha, te conheço há um dia apenas, mas isso para mim já é o suficiente. Eu aprendi a nunca julgar ninguém, a não ser por seu caráter. Sua aparência não diz nada sobre você, do que adianta ser o homem mais bonito do mundo, se não tiver uma boa índole? Para mim, não importa o seu rosto, me importa o que você é além dele. - Falo e só então ele levanta o rosto para mim, me olhando de uma forma intensa.
- Você é diferente. - Ele diz, depois de um tempo em silêncio. Seu olhar parece me avaliar, mas eu não me incomodo com ele.
- Não sou diferente, apenas tenho meu jeito de pensar. - Falo e faço um gesto de desdém.
- Eu já sofri preconceito e sei como é, mas não podemos nos abater por ele. Se você faz isso, acaba se tornando refém dele e infelizmente é isso o que você é. - Falo e ele desvia os olhos de mim, se levantando da cadeira em seguida.
- Existem coisas que vai além da nossa capacidade de superar. - Ele diz por fim e se vira, dando as costas para mim, seguindo pelo corredor.
Continuo olhando para frente, vendo ele sumir do meu campo de visão. Ele é bem mais difícil do que pensei, mas isso torna tudo muito mais interessante.
Não irei te deixar em paz, senhor Miller. Não até descobrir o porquê ficou assim e não até conhecer o Enzo de antes. Gosto de ver as pessoas felizes e meu novo objetivo será ver ele feliz.
* * *
Assim que termino meu café, resolvo dar uma olhada nos arredores da casa. A mansão da família Miller foi construída em uma fazenda, então tudo o que se vê ao redor é verde. Mas mesmo com esse ambiente, o lugar é simplesmente lindo. Sigo em direção ao estábulo e fico maravilhado com os cavalos que há por aqui. É um mais lindo que o outro.
- Quer cavalgar em algum? - Escuto uma voz atrás de mim e levo um pequeno susto. Me viro e encontro Maria Júlia, vestida em uma roupa de montaria, sorrindo para mim.
- Você me assustou! E respondendo a sua pergunta... Eu não sei montar, tenho um pouco de medo por isso nunca aprendi. - Falo para ela.
- Uma pena isso, mas se um dia quiser aprender eu te ensino. - Ela diz com um sorriso e me animo com sua ideia.
- Sério? Então eu quero! - Respondo com entusiasmo.
- Se quiser pode ser agora, não tenho nada para fazer.
- Mas não estou vestido para isso. - Falo e olho para minha roupa. Estou de calça jeans, blusa de algodão simples e tênis.
- Só precisa colocar uma bota de montaria, o resto está ótimo. - Ela diz e me puxa até uma salinha dentro do estábulo, onde há alguns acessórios de montaria. Ela pega um par de botas de montaria para mim e as coloco.
Depois disso, ela me faz escolher um cavalo e acabei seguindo o conselho do cuidador, pegando o mais dócil. Até porque é minha primeira vez e não estou a fim de me estabacar todo no chão.
Durante o tempo que passei com Maju, com ela me ensinando a montar, soube que Enzo também montava e adorava competir com os equinos. Mas ele também abandonou isso depois de tudo, mas me parece que foi por um motivo diferente. E isso me deixou ainda mais curioso para descobrir quais são os motivos que levaram Enzo a ser o que é hoje. Algo me diz que não é apenas o rosto desfigurado e uma perna manca.
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Olá jujubas! O que acharam do Cap de hoje??? Espero que tenham gostado.
Alguém além do Ângelo, está curioso para saber o que aconteceu com Enzo??? Quem já tem uma teoria??
Bjs da Juh 😘😘
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