Capítulo 8, a morte tem asas parte III.

Muito obrigado por estarem acompanhando e votando.

Nem mesmo imaginei, que alguém chegaria a ler essa pequena história.

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Seus olhos vermelhos faíscavam, duros e frios. Tenho um forte arrepio porém o ignoro, não era hora de fraquejar.

Contudo já estava fraquejando, por que estava ali mesmo? Nem sequer me lembro disso, eu não quero morrer, conheço tão pouco. Quero ver a espuma do mar batendo contra as rochas, como li uma vez.

Então ainda encarando a fera, vi a sombra de um olhar familiar e me pergunto sobre o porquê dele não atacar logo. Seus olhos vermelhos se tornam repentinamente de um castanho madeira.

Lembro-me então de um rosto que avia visto na foto do abrigo, um homem a margem que vestia um uniforme de faxineiro. Alto com cabelos avermelhados, diferente de minha mãe que tinha cabelos escuros como a própria noite.

Sinto uma mão envolver a minha, e fecho os olhos espantada. Quando torno a abri-los tenho a impressão de que o tempo parou, não como quando Selene mandou sua lua vermelha. O vento não soprou mais meus cabelos, a sombra do sol que ainda corria por trás das nuvens parou também.

Ao meu lado, segurando a minha mão estava o espectro de minha mãe. Ela não a segurava de fato, mas a envolvia, e eu conseguia sentir o seu calor.

- Como... - Exclamo em um misto de terror e felicidade, minha voz rouca como se a muito tempo não visse água.

- Agradeço a Selene.- Diz sorrindo ternamente.

Quantas vezes imaginei esse momento, ouvir sua voz novamente. Sinto lágrimas deixarem meus olhos e um soluço deixar meus lábios.

- Por que me deixou? Fiquei tão sozinha.- Pergunto me ajoelhando ao sentir as forças que reuni para chegar ali me deixarem.

Marion, minha mãe se abaixa
pousando um joelho no chão.

- Acredite Luna, tudo o que eu queria era passar esses anos com você. Mas o destino me reservou outras coisas.- Diz olhando para a fera que continuava parada a minha frente.

- Já deve ter percebido, quem é o homem por trás da maldição.- Completa se levantando, ela tenta acariciar o focinho do dragão mas sua mão passa através dele.

Meu pai, não consigo me lembrar do seu nome embora já o tenham mencionado para mim. Noto que minha mãe está nua, mas não acho que no mundo dos espíritos roupas sejam necessárias.

Fixo minhas orbes na fera, como poderia associar essa besta com uma imagem paterna, ela que feriu Dante e que provavelmente matou o restante dos meus amigos, além da irmã de Benjamin.

- O que quer que eu faça?- Pergunto, tendo um estranho pressentimento de que ela queria algo.

- Não ha jeito fácil de dizer isso.- Diz voltando para perto de mim, com seu dedo faz um desenho circular em minha testa.- Ele não está bem vivendo assim querida, aprisionado em um corpo que só busca morte.

Nos olhos dele, consigo não só ver mas também sentir a súplica naquele olhar. Minha mãe vai então embora, e ele também, me deixando com sua forma amaldiçoada. Que ruge me desafiando.

Ergo minhas íris para o céu é com uma espécie de instinto consigo, mesmo sem ver, localizar a lua. Resolvo então fazer algo que apenas um monge ou sábio teria a audácia de fazer, eu orei a Selene.

Você que me abençoou,
Você que mesmo longe me amou.

Mandou minha mãe por uma razão,
Eu lhe agradeço de todo coração.

Deixe-me usar a benção que me deu,
E eu prometo, que meu coração será todo seu.

Pontos brancos me envolvem e ao tocar minha pele emitem um suave brilho, como pequenos vagalumes. Isso não me assusta, é como se ao fazer aquela oração já soubesse o que ia acontecer. Sinto meus olhos arderem e dou um grito que ressoa pela escola, a única coisa que parece manter o dragão longe é essa luz que de alguma maneira queima seus olhos sempre que tenta se aproximar.

Quando a dor cessa meus olhos ficam mais aguçados, e meus ouvidos mais apurados. Consigo ouvir os passos das pessoas se aproximando das janelas, acho que a curiosidade superou o medo.

Uma enorme asa branca sai das minhas costas e me sinto crescer. Quando dou por mim estou encarando a fera de igual para igual. Não preciso nem me olhar para saber o que me tornei, um dragão branco.

O sol começa a tentar sumir no horizonte, e a besta a minha frente me faz irradiar raiva ao fugir em direção a ele. Nós não terminamos.

Vôo furiosamente atrás dele é abocanho seu rabo, o jogando de volta no terraço da escola. Ele ruge, e parece não querer mais fugir ao vir na minha direção. Não sei muito bem o que fazer, contudo meus instintos me fazem mirar em seu pescoço.

Ele me para com sua garra arranhando minha face. A mordo então arrancando sua unha que estava fincada em mim, a vejo cair no pátio. Ele tenta morder o meu pescoço mas o empurro com minhas patas traseiras, arranhando sua barriga. Ele urra de dor e aproveito o momento para investir novamente em sua garganta, desta vez consigo, e ele arranha minhas costas enquanto finco meus dentes ali.

Lembro-me então do ruivo na foto e me pergunto, se estou fazendo realmente um favor a ele, como estava fazendo para as pessoas lá embaixo. Sinto seu corpo desfalecer e o jogo no chão, longe da escola. Quando pouso perto de seu corpo sou novamente eu, estou nua entretanto não me preocupo com isso.

O cadáver que encontro não é o de um dragão, e sim o do homem da foto, muito mais envelhecido. Toco seu rosto frio e noto em seus lábios um leve sorriso. Não consigo chorar, não por pai que nunca conheci. Mas me odeio por ter sido eu a fazer isso. Será que Selene me transformou em um monstro? Assim como Hades fez com meu pai, ou depois de ver tantos corpos não conseguia ficar sentida por mais um?

Pego seu corpo no colo e o sangue que jorra de seu pescoço me cobre. Não me preocupo com o que vão pensar ao ver uma garota nua e coberta de sangue carregando o corpo de um homem.

Quando me aproximo do portão não preciso chamar, ele é aberto para mim. Estão todos recolhendo os corpos e ao me verem alguns me olham com respeito, outros com medo. Coloco o corpo de meu pai sobre uma mesa, e o cubro com um lençol que me é estendido.

- Querida, você está bem?- Demoro a reconhecer a diretora que quase não víamos. Diferente do restante da escola ela estava intacta em seu vestido preto de seda, onde diabos essa infeliz se escondeu? Senti uma imensa vontade de arrancar a cabeça dela.

- Venha comigo vou lhe arranjar roupas e algo para comer.- Completa estendendo a mão para mim.

Observo seu rosto, nos lábios vermelhos ela trás o mais falso sorriso, e nos olhos pretos tenta demonstrar algo parecido com afeição. Mas até esse momento ela nunca avia se dirigido a mim.

- Obrigada, mas vou ajudar os professores.- Digo passando por ela.

Paro petrificada, atrás dela estavam Magno e Sophia que correm para me abraçar.

- Quando ouvi o grito soube que era você.- Conta Sofia.

Magno me estende seu precioso casaco e o visto agradecendo. Metade do rosto de Sofia está completamente carbonizado, tudo o que cobre o ferimento é a manga da sua própria blusa, e o Magno tem a mão direita queimada também.

Ao ve-los nessa situação percebo que continuo sendo humana, meu peito dói ao perceber que poderia ter evitado isso. Contudo, o pior ainda estava por vir.

- Gente ajuda!- Dante grita vindo em nossa direção com uma garota de cabelos negros cobrindo a face nos braços.- A encontrei no corredor, acho que não está respirando.

Afasto seus cabelos e olho em choque para o rosto pálido de Siena. Magno chuta um balde próximo dele é leva as mãos a cabeça, Sofia começa a chorar.

- Ela está morta Dante.- Informei com a voz embargada.

- Não, não... Eu juro que senti ela se mecher... Ela...- E então cai no chão abraçando o corpo.

- Você tem certeza!?- Grita Sofia abraçando os dois no chão.- Você tem que ter certeza...

- Sinto muito.- Choramingo sentindo as lágrimas rolarem pelo meu rosto.

Magno me abraça e Sussurra:

- Todos sentimos.

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Obrigadão por ler até aqui, amo críticas construtivas então por favor não exite em criticar.


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