Prólogo
CHILE – 13/12/2019 - CORTE SUL, ou...CORTE DOS PESADELOS?
- Eu deveria te matar, sabia? - Dacian sibilou a pergunta enquanto passava o indicador na bochecha dela, descendo lentamente até o pescoço.
A unha asquerosa dele cravou-se na pele de Rosie. Ela podia sentir o corte fundo se abrindo lentamente, com o sangue rubro descendo em filetes pela nuca, logo depois se fechando gradativamente graças à cura.
- Mas não vai. – Rosie respondeu, engolindo em seco e mantendo o cheiro do medo coberto pela ousadia.
- Não, claro que não. – Ele confirmou, levando o indicador ensanguentando aos lábios desenhados. Dacian lambeu o sangue da meia vampira, fechando os olhos por um segundo para saboreá-lo. – Matá-la seria uma misericórdia. Condená-la a uma vida de fuga é melhor...prefiro vê-la lutando para sobreviver.
- Oh, alteza! Me sinto honrada por seu interesse na minha morte, devo realmente ser uma criatura importante – Rosie cantarolou com uma voz fina.
Os olhos do vampiro dispararam para ela, surpresos. Um sorriso presunçoso se formando no rosto pálido.
- Você não faz ideia de como.... Gosto de você, Rosie! – Dacian exclamou, sentando-se na cadeira em frente como um verdadeiro membro da realeza vampírica. – É divertida, corajosa, bonita... Consigo ver o que meu irmão viu.
A respiração dela soou trôpega, exalando o medo que tentava esconder. É óbvio que Dacian era perigoso e amedrontador. Mas Damien... faltava adjetivos para caracterizá-lo.
Juntos, os gêmeos Ivanov eram maus, e representavam a pior corte vampírica que ela já conhecera, apelidada carinhosamente de corte dos pesadelos. Dacian Ivanov era sádico, e por mais que os olhos zuis gelo transparecessem sinceridade e indiferença, Rosie tinha certeza que estava maquinando a pior forma de vê-la dilacerada.
Ele ajeitou o topete loiro com os olhos pousados nela. A verdade era que, somente por ser uma meio sangue, sua morte era desejada por todas as cortes vampíricas. E isso, aliado ao fato de que matara a bela irmã dele no verão passado... Qual é! Ela não tivera escolha, era um trabalho bom, fácil e bem pago. Não fora pessoal.
Rosie sabia que naquela altura do campeonato misericórdia era algo intangível de ser suplicado. Então, não restava mais nada a não ser esperar a morte, e torcer para que fosse rápida. E rezar à grande mãe para que não viesse das mãos do outro irmão.
Damien Ivanov era sadomasoquista, e diferente de Dacian, não se escondia atrás de ternos, gravatas e alta costura. Não, ele deixava sua natureza perigosa exposta. Seja através das roupas de couro rasgada, das armas que lhe surgiam das mangas e das cicatrizes que lhe cortavam o rosto.
Um calafrio perpassou a espinha dela. Dacian pendeu a cabeça, inspirando fundo o cheiro de seu pânico.
- Ah, querida Rosie. Damien gosta de você... – Dacian murmurou, se levantando e andando em volta da cadeira de ferro onde ela estava presa. – Quando você matou Mirian e arrancou o resto de humanidade que eu tinha, sabe o que meu querido irmão disse? Mirian já vai tarde.
A revelação dele fez os olhos de Rosie se arregalarem brevemente. A mão fria de Dacian pousou em cima do seu ombro.
- Você sabe... não posso matá-la sem o consentimento de Damien, já que governamos juntos. – ele parou em pé de frente a ela, segurando seu queixo para fazê-la olhá-lo. Os olhos de Dacian brilharam obstinação, junto com o cheiro de ódio que exalou dele. – E para seu alívio, saiba também que não vou dá-la a ele. Você seria como um presente, uma carcaça submetida às suas tramas sexuais.
Rosie fechou os olhos, sentindo puro alívio. Uma risada genuína irrompeu de Dacian.
- Oh, não fique aliviada ainda, querida impura. – Ele sibilou, chegando mais perto. – Tenho planos melhores pra você.
Rosie endireitou a coluna, sentindo a confiança retornar vagarosamente. Uma vontade insana de cuspir na cara de porcelana de Dacian subia-lhe pelas veias. Mas não era uma boa ideia, contando que ele tinha a sua vida em mãos.
- Você vai fazer uma trabalho pra mim. – Dacian declarou, roubando outro filete de sangue da bochecha direita dela e sentando novamente na cadeira. Rosie suspirou, ignorando a dor sutil.
Ser o cachorrinho mercenário de outro rei vampiro não estava em seus planos. E com centenas de anos ainda para viver, seria um preço alto demais a se pagar com a vida.
- E se eu não fizer?
- Bom... – Dacian se arqueou, descansando os cotovelos nos joelhos. – Eu acho que meu irmão terá algumas ideias sobre o que fazer com você... – murmurou, colocando uma mão em cima da coxa dela. Rosie tentou fugir de seu toque.– Mas acredito que ele não vai se opor em dividi-la comigo.
Um sorriso aberto foi estampado no rosto do vampiro. Rosie engoliu em seco, mantendo o sangue ingerido há cerca de 48h no estômago.
- Então, o que prefere, querida impura? – Ele entrelaçou os dedos, paciente por sua resposta.
- Estou ouvindo sua proposta. – murmurou entredentes.
- Ah, sim...onde estávamos? Claro, claro. – ele balançou a cabeleira loira sutilmente. – Você tem seis meses para matar Malakai Arsov.
Rosie franziu o cenho para o nome desconhecido. Mas, de certo, era um sobrenome búlgaro. Porém ela achava ainda mais estranho o fato de Dacian estar disposto a colocá-la numa caçada inútil, já que, sendo a Bulgária dominada por outra corte, jamais entraria sem ser convidada. A sua meia natureza vampírica ainda carregava traços de territorialidade.
- Não posso entrar na Bulgária. – respondeu o óbvio. Um brilho faiscou nos olhos de Dacian.
- Não vai precisar, minha cara. Malakai está aqui. – ele se referiu a corte sul-americana, onde estavam. Rosie pendeu a cabeça, e se não estivesse com as mãos presas na cadeira, certamente as cruzaria na frente do corpo.
- Um invasor? – perguntou, mas sem pretensão de ser respondida.
- Mais do que isso... Um invasor lupino. - Dacian soltou um grunhido, exalando a natureza animalesca de macho vampírico. Rosie ergueu uma sobrancelha, não sabendo se teria escutado direito. Lobisomens...ali, em território vampiro? Dacian recompôs a postura, e continuou. – Você pode matá-lo, já que com a morte de Julian não pertence a ninguém...
- O que eu ganho com isso? – Rosie o interrompeu.
- Bem, eu e meu irmão a deixaremos livres. – Dacian gesticulou para o ar, como se ela não passasse de uma brisa. – E se não conseguir... há duas opções: Malakai a mata, ou... eu e Damien nos juntaremos à sua caçada, condenando-a a uma maravilhosa temporada ao nosso lado, até o fim de sua breve vida.
As entranhas dela se revoltaram só de pensar, e Rosie precisou soltar um riso de escárnio para não arquejar no ambiente pútrido da masmorra dos Ivanov.
- Como me garante que ao sair daqui Damien não virá à minha caça?
Rosie sabia como o gêmeo sadomasoquista poderia ser difícil de dobrar. Ela precisou se submeter ao reinado de Julian como uma lacaia mercenária para fugir de Damien.
- Eu.
- Você? – apertou os lábios, segurando um riso.
Dacian a observou sem abalos.
- Acredito que não deva saber da minha conexão com meu irmão... De fato, é compreensível. Os estudos não são acessíveis aos meios vampiros. – ele falou, fazendo questão de pisar em sua natureza miscigenada. – Mas, por sermos gêmeos descendente diretos dos Originais, herdamos de nossa família o que chamamos de... Power mind¹ – os dedos do macho gesticularam ao lado da cabeça. – E como sou o irmão mais velho, tenho predominância.
- Hum... – murmurou desinteressada. – Então é só você dar uma espécie de alô mental para seu gêmeo que ele se mantém longe?
- Não, minha cara. Claro que não. Infelizmente a conexão não é forte o suficiente para segurar os impulsos de Damien – Respondeu num sibilo baixo, trazendo o próprio pulso até os caninos longos. – Porém junto desse poder, haverá algo mais forte que qualquer vontade, algo que não pode ser quebrado...
- Uma promessa de sangue. - completou.
Ele mordeu o próprio pulso, manchando os lábios de sangue. Depois levantou, e se inclinou sobre ela, levando o líquido rubro até sua boca. Dacian tinha gosto de veneno, e desceu queimando por pela garganta, igual a vodka barata que bebera horas atrás, quando fora raptada bêbada.
Enquanto a meia vampira bebia do sangue real, o elo da promessa se formava em seu âmago, como um peso sobre o coração. Quando Dacian retirou o pulso, ela sorriu, e os caninos brilharam à meia luz .
- O que acontecerá agora? – Perguntou, lambendo o gosto metálico. – Serei solta, saindo daqui como uma fêmea livre?
- Sim. – Ele murmurou, tirando do interior do bolso do blazer as chaves dos três cadeados que a prendiam. – Mas não uma fêmea livre... Não até que me traga a cabeça e as garras de Malakai.- a lembrou, com os olhos azuis gélidos em desafio.
A cada segundo que pensava sobre o lobisomem, ficava mais óbvio que algo estava errado, muito errado. Pelo jeito não seria nada fácil. Rosie tinha muitas perguntas na mente, e pela primeira vez, o tiquetaquear do relógio batia mais rápido contra ela.
E de fato nunca ouvira falar do alvo, mas se abater um lobo seria o preço por sua liberdade... Malakai Arsov poderia se considerar morto.
¹ Powermind: poder mental e raro. Persuasão; tortura mental; ilusões. Um dos poderes mais temidos, com extensão desconhecidas.
Olá xuxus! Mais um projeto novíssimo: minha primeira história sobrenatural!
Coração de Sangue trará referências sobre o mundo sobrenatural exibido nas telonas, mas claro, com muito mais novidades.
Este é um mundo de vampiros e lobisomens, que se passa nada mais nada menos que no...Brasil!
Espero de coração que vocês tenham gostado desse prólogo, e que estejam ansiosos para os conflitos de Rosie e Kai, um casal que eu estou amando contar a história. Acompanhem!
Criticas construtivas são muito bem vindas, assim como comentários e as estrelinhas! Não se esqueçam de prestigiar estes dois, viu?
Amo vocês! <3
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