Capítulo 34 | Péssimas Ideias

Corte Norte, Virginia - USA | 23/03/2020

Raviel Montgomery


Raviel olhava para o amigo durante longos minutos. Harley estava fardado, e posicionado ao lado de uma grande pintura do Rei Julian, antecessor do Rei Aidan. Porém sua visão atual não era o que permeava sua mente, mas sim o que o amigo dissera.

As probabilidades do que fora proferido eram tantas, que se encontrava visivelmente confuso. Incrédulo. E possivelmente estarrecido. Fosse lá o que aquilo significasse, tinha certeza que não era bom.

Nem para Rosalie. Nem para a Corte Norte. Nem para ninguém.

Para seu alívio, Markus foi o primeiro a se pronunciar depois de um assovio que reverberou pelo escritório que era do Rei Aidan:

- Eu devo ser muito burro, porque fracamente... Não entendi porra nenhuma.

- E você acha que eu entendi? - Harley apontou para si mesmo.

- Antes você do que eu, lógico. Não é você o mensageiro?

- Markus... – Harley ia começando o que certamente seria um insulto, quando Raviel se levantou da cadeira acolchoada atrás da mesa recheada de papéis.

- Será que vocês dois podem parar de brigar por um segundo para se concentrar na tradução da mensagem?! – bufou. – Assim não irão pensar que são minha Corte, mas sim meus filhos!

Harley expirou e ergueu os braços.

- Ok, ok... - Markus estalou a língua. – Vamos lá: Quer dizer que o grande alfa se entregou a... pele de lobo. Isso é o quê exatamente? Ele ficou lelé da cuca de vez, ou é uma condição temporária?

- Não acho que ele tenha ficado maluco. – Harley revirou os olhos. – Acho que...

Click.

O barulho veio do quadro de Julian. Os três se entreolharam, desconfiados. Mas antes que Raviel pudesse ir averiguar, a moldura abriu como uma porta. Primeiro, um scarpin vermelho apareceu, e somente pelo pé de porcelana ele soube que era July. 

A sua rainha tinha um sorriso astuto no rosto, enquanto Markus e Harley estavam de boca aberta. Certo, talvez ele tambem estivesse.

July passou a palma no vestido florido vermelho e caminhou com seus saltos até a poltrona perto da lareira, se sentando com delicadeza e veemência.

- Se entregar a pele de lobo significa que o alfa talvez nunca mais faça a transformação de volta. Significa que, muito provavelmente, os lobisomens não tem mais um alfa dos alfas. – ela revelou com calma.

Ravi abriu e fechou a boca. Depois apontou para a moldura, e voltou a abrir os lábios. 

- O que você...

- Bem, percebi que precisavam de ajuda. – ela mostrou os dentes brilhantes. – De nada.

Raviel não pôde fazer nada, a não ser piscar em resposta. Aquela fêmea tinha o poder de o deixar impotente.

- E como você sabe sobre isso?! – Markus prontamente a inquiriu.

- Como é que vocês não sabem? – July rebateu perplexa, e antes que algum deles pudessem responder, ela expirou e gesticulou. – Enfim... de qualque forma, isso é um problema dos grandes. Se antes os lobisomens já estavam em polvorosa, agora iremos ver uma verdadeira guerra.

- Contra... – a voz de Harley pareceu ter ficado entalada na garganta. – Nós?

- Acho que está mais para uma guerra generalizada... - July deu de ombros. - Quem pode saber?

- Sona! – Markus respondeu o que foi uma pergunta retórica. – Ravi, acho que se nós...

Raviel meneou a cabeça e respirou fundo.

- Tudo o que Sona quer é a morte de Rosalie. – ele explicou, se recordando do encontro rápido com a irmã desaparecida (a quem ele tinha cada vez menos certeza se reconhecia como qualquer membro da famíia.) – Esses problemas que vem acontecendo, na visão dela, são benéficos.

A irmã dissera que, quanto mais rápido Rosalie fosse aniquilada, mais rápido teriam em sucesso em proteger a todos. E até concluiu com um ''sinto muito'' nada sentimental.

Ninguém jamais iria entender que Rosie era uma filha. E ver sua irmã de sangue falar assim de quem esteve com ele nas horas boas e ruins, o levava a crer que a proteção de Rosalie era mais importante do que qualquer coisa neste momento.

E o discurso de que muitos iam sobreviver enquanto ela deveria morrer o deixava louco.

Nunca. Nunca, iria abrir mão de Rosie. E seu novo status como Rei do Norte iria ter de ajudar em algo, nem que fosse para morrer junto dela.

- Não podemos permitir que aconteça qualquer coisa a Rosalie. – a voz feminina o surpreendeu com aquela frase, e uma faísca estranha se ascendeu no peito dele. – Não sei o quanto você confia na sua irmã, meu Rei... porque eu, não confio nada.

- Seu irmão confiava. - As sobrancelhas de Raviel se franziram.

- Eu sei que Aidan confiava. Mas Sona é porta voz da parte extremista da Rebelião. E ainda que eu entenda os motivos de Constantini, não concordo com tudo o que ele prega.

- Constantini? – os três disseram em uníssono.

- Por Deus! – a paciência de July se devaneceu. – Vocês militares não sabem de nada dos assuntos burocráticos, não é? – a mão gesticulou efusivamente. – Quando o período escravocrata meio sangue começou, alguns puros da alta sociedade não concordaram. Um deles, foi Constantini. Ele era um grande cientista conhecido por suas pesquisas vampíricas sobre a vida eterna e sua procriação, e sua oposição desertou parte dos puros em concordância. 

Ela deu uma pausa para respirar, e continuou:

- Então quando a Ferrovia de Curitiba começou a ser construída por meios sangues, Constantini aliou forças à Althea, uma meio sangue militar, e liderou os vampiros mestiços rumo à Rebelião. No início, deu certo. Dizem que fizeram da rebelião um submundo de tunéis, e que abriga grandes cidades e tesouros escondidos, como um antigo Portal para Élyunn. – ela deu de ombros, meio incerta sobre os rumores. – Mas depois, a ambição dividiu os lideres da Rebelião, e até hoje, o que era uma grande egregóra, é agora um mundo dividido em ideais e valores.

Harley estava boquiaberto, mas os olhos brilhavam como duas bolas de gudes. July caminhou até a estante de livros que compunha o grande acervo daquela sala, e passou a ponta dos dedos pelas lombadas de couro até parar em um, puxando-o para suas mãos.

- Esse livro foi escrito por Constantini. – a capa dizia no antigo idioma ''Da possibilidade de transformar humanos em vampiros''. Raviel sentiu os olhos se arregalarem. – O potencial que ele via nas mesclagem de sangue assustou toda a sociedade Vampírica global, e os exemplares destes livros foram cassados.

- Puta que pariu... – Markus ralhou para si mesmo, atordoado pelas informações.

Já Harley tomou o livro nas mãos, e perguntou:

- E Althea, o quê sabem sobre ela?

- Além de que tentou controlar o ímpeto cientista de Constantini? Nada. – July suspirou.

Raviel abriu os braços, quando na realidade queria era abrir a boca e falar algo, mas estava sem palavras. Aquele maldito cargo de Rei ia extirpar sua sanidade. E como já havia se convencido de que não poderia agir como tal, foi em consonância sobre o quê era, um militar:

- Harley. Markus. Vocês irão para a Rebelião. Preciso que juntos, vocês observem, aprendam, e memorizem tudo que puderem sobre esse território desconhecido. De forma silenciosa e invisivel.

- Se há dois lados... Por que não nos separar? – Harley perguntou.

- Porque Sona nos conhece, seu imbecil! Ela saberia que estamos espionando – Markus respondeu seco, levando um soco leve de Harley. July revirou os olhos.

- Entendi, entendi, chefe... Mas como saberemos sobre o outro lado?

- Boa pergunta. – July apontou. - Acho que saber o que está acontecendo do lado de Constantini é o mais importante. 

- Eu tenho uma ideia. – A mente de Raviel brilhou.

- Hum. Não gosto dessa cara. – Markus deixou escapar. – Tenho certeza que será uma péssima ideia.

- Talvez a pior de todas as ideias. - Raviel sorriu. Porém, no próximo segundo a alegria escapou. - De você, minha Rainha. - se dirigiu a July. - Quero o mapa do Castelo. 

July assentiu num sorriso fugaz. 

- O mapa real, que me mostre das saídas de esgoto até as rachaduras da parede. 

- É impossível, meu Rei. - o divertimento era claro. 

- Você entendeu o que eu quis dizer. 



Ooooi gente! <3 

Prox cap ainda nessa semana, viu. Não esqueçam da estrelinha 


Não está revisado

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