Capítulo 29 | Rainha
Chegando a algum lugar no subterrâneo | Corte Sul | Horário XXX - 26/03/2020
Rosalie Armstrong
Ela mal soubera como saíram do lugar onde estavam, para chegarem naquele túnel que nunca havia visto. Úmido e iluminado por tochas. E não foi porque não havia prestado atenção, mas porque sua cabeça estava em outro lugar.
Seus olhos correram para Kai, caminhando ao seu lado. O corpo do macho estava tenso, como se cada passo pudesse revelar alguma armadilha. Parte disso se devia pelo fato dele, um lobisomem, estar ao meio de um bando de vampiros. Mas outra parte, sabia, se devia ao juramento feito a ela instantes antes.
As palavras mais lindas que já pudera ter escutado de alguém.
Então sim, se estivessem caminhando direto para o inferno ainda estaria com a cabeça em Kai e nem notaria os rumos dos próprios passos.
E como se chamado, os olhos cinzentos se detiveram nela. Depois ele franziu o cenho, como quem pergunta se está tudo bem. Rosie engoliu em seco e assentiu diversas vezes, talvez uma forma muito exagerada de resposta, pois o olhar do alfa mudou da água para o vinho, e ela soltou uma risadinha cheia de vergonha.
- Isso é bem fofo. – Dom disse num sibilo. – Estou feliz por você.
Todo o sentimento se esvaiu, e Rosie fechou a cara.
- Claro que está. – ironizou.
Dom a olhou de esguelha e deu de ombros.
- Não importa o que eu diga, você sempre vai acreditar no que quiser.
- Vindo de você... está absolutamente certo.
- Um dia você voltará a confiar em mim, vampirinha. – ele chutou uma pedrinha do caminho. – E para começar na recuperação, estou te mostrando todo o caminho para nosso esconderijo. – a cabeça dele pendeu na direção dela. Um risinho no rosto. – Mesmo que você não esteja prestando atenção.
Ela revirou os olhos, e continuou caminhando. Kai chegou mais perto, tão perto que os braços resvalaram. E assim, juntos, seguiram Dom e seu bando por longos minutos e vários túneis.
Até que Dom voltou a falar.
- Sabe, Rosie. Tenho tanta coisa para contar a você que mal sei como começar.
Ela semicerrou os olhos, desconfiada. Dom a chamando pelo apelido era raro. Devia ser mesmo importante.
Ele nem esperou por uma resposta sua, continuando:
- Isso começou bem antes de mim e você. - deu uma pausa. - Talvez nem eu mesma saiba como começou...
- Então me diga como você ficou...
- Velho? – ele deu uma risada triste. - O poder da verdade tem um preço.
Rosie ficou boquiaberta. Até o alfa franziu o cenho.
- Todo tipo poder tem seu preço? – Foi Kai quem finalmente se pronunciou em voz alta. O bando de Dom, que antes caminhava como fantasmas, ergueram os olhos.
- Sim e não. – Dom respondeu. E quando recebeu um olhar duro do alfa, levantou as mãos em rendição. – Calma, calma. Posso explicar... É que, a maioria dos detentores de poderes dizem que sim, mas acredito que alguns saibam de uma forma que não precisem pagar nada em troca.
Rosie uniu as sobrancelhas.
- Como assim?
O olhar de dom estava longe. Uma das poucas expressões que ela vira que realmente pareciam genuínas.
- A criação possui leis absolutas, mas que apesar de tudo, paira sob um equilíbrio. Por exemplo: até mesmo a lei da dualidade, como o certo e errado, tem um equilíbrio na dúvida, na relatividade.
Ela suspirou.
Não era mais fácil reduzir aquela lição à palavras simples e que fizessem sentido?
Dom abriu os braços.
- Quero dizer que até mesmo nossos poderes devem obediência ao equilíbrio da vida. E por isso, todos escolhem um preço a pagar pelo uso. Portanto, se realmente houver um jeito encontrado para fugir da lei, não é certo.
- E daí, o que tem isso? - Rosie perguntou.
Afinal, quebra de regras era um fato que conhecia bem. Na verdade, estava mais para uma lei aplicada à qualquer coisa por ela, já que até mesmo sua existência era um produto disso.
- Você escolheu a vitalidade. – foi Kai quem respondeu, tirando-a dos devaneios.
Dom ergueu o indicador na direção do alfa.
- Exatamente. Mas não é um fardo tão pesado em troca da verdade e da transparência.
- Hum...não sei se essa fala combina com você. – Rosie deixou escapar.
- O Dom que você conhecia antes mudou, mas...não muito. Ainda conservo minha verdadeira essência.
- De covarde ambicioso? – Rosie perguntou com aspereza.
No mesmo instante, o bando se voltou para ela com caninos à mostra. Em resposta, Kai rugiu como um lobo. De uma forma tão grave que eriçou todos os pelos de sua pele.
Dom riu. Na verdade, gargalhou.
- Sim. Você me conhece, vampirinha. – a mão dele fez menção em apertar seu ombro, mas um grunhido de Kai o fez desistir. – Continuando a história... – ele pigarreou, ajeitando a compostura. – O poder da verdade é a virtude da minha linhagem. Mas por muitos anos eu tentei me desviar desse caminho.
- E?. - Rosie estava ficando cansada daquele papo.
- O destino. - O vampiro deu de ombros.
- Sério, Dom?
- Não acredita em destino, Rosie?
Lógico que não.
Acreditar que estaria destinada, seria o mesmo que confiar que a vida que tivera - recheada de morte, humilhação e abandono - era o que merecia. E por mais que não fosse a melhor meia vampira desse mundo, ainda conservava algo bom dentro de si.
E na realidade, ela não desejaria o que passou nem para seu pior inimigo. Que dizer, talvez desejasse sim.
- Deveria acreditar. - Foi Dom quem a tirou dos pensamentos. – Porque apesar de tudo, você está com o alfa dos alfas, e tem com ele um vínculo de alma. Algo que somente acontece quando é destinado.
Antes que pudesse mencionar qualquer coisa, Kai tocou com gentileza em seu antebraço. Ainda assim, ela deixou escapar:
- Não acredito em você.
- Eu sei, Rosie.
- Tenho a impressão de que diria qualquer coisa para que pudéssemos confiar em você. Mas não... – ela balançou a cabeça repetida vezes. – Não vou cair nesse erro novamente.
O ex olhou de forma penetrante em seus olhos, assentindo.
- Você vai ter a prova de que pode confiar em mim quando chegar a hora. Por enquanto, só preciso que saiba que é valiosa, e que há aqueles que a querem morta e também aqueles que a querem viva. – Dom piscou. – Você tem sorte de que estou no segundo grupo.
Rosie sorriu, mas a felicidade não chegou aos olhos.
- Sorte no azar, então?
- Sempre engraçadinha.
Dessa vez, viraram em um túnel mais largo e mais iluminado do que os outros que já haviam visto. Só que nesse, um cheiro estranho pairava no ar. E pelo olhar de Kai, ele não foi o único a não conseguir discernir o que era.
- É aqui. – Dom murmurou, parando um passo a frente de todos. – Venham. Só seguir em frente.
Rosie ia da o primeiro passo quando Kai segurou sua mão. E juntos continuaram no túnel, até que um passo a mais mudou tudo. O corpo deles passou pelo o que parecia uma membrana invisível e gelatinosa, revelando o que havia do outro lado.
Tendas de comércio, com carnes, frutas, relicários e livros. Músicas alegres e errante, vozes e risos solto. E o mais incrível: vampiros, meio vampiros e lobisomens juntos, desde crianças até adultos.
Ela piscou repetidas vezes, tentando se convencer que deveria ser uma miragem.
Dom se virou para eles e abriu os braços, dizendo:
- Bem vindos à Promessa.
Rosie só percebeu que estava completamente chocada e de olhos arregalados, quando estes começaram a arder. E pior, todos os olhares se viraram para eles, se fincando especificamente nela e Kai.
Era fácil distinguir que tinham curiosidade. Mas outros olhares brilhavam em...admiração.
- Por que estão olhando para nós dois? – Kai perguntou num sussurro.
- Você é o alfa dos alfas, Malakai. – Dom murmurou. – E mesmo que tenha fugido desta responsabilidade, é o seu destino governar.
- Mas, por que olham para mim? – Rosie se atreveu a perguntar, quando observou que chegavam mais perto deles dois.
Kai deu um passo a sua frente, como se pudesse a proteger de qualquer coisa que viesse a acontecer. E dessa vez, Rosie não se opôs. Até porque, Dom e seu bando se afastavam pouco a pouco.
Ela amaldiçoou o ex em mente. Como pudera pensar que seria diferente?! É claro que ele se evadiria ao primeiro sinal de problema. Mas levar ela e Kai para que aquele povo pudesse matá-los? Certamente a covardia de Dom se elevara a um grau absurdo.
- Não acho que ele nos traiu. – a voz de Kai vibrou pelo laço.
Pouco a pouco, as poucas pessoas curiosas viraram uma pequena multidão. Até a música e os risos haviam cessado para dar lugar ao silêncio.
A direita deles, um macho com cheiro de cachorro molhado se ajoelhou. Depois dele, mais um lobisomem, e mais um, e depois outro. Até que haviam muitos ajoelhados, os punhos sobre o lado esquerdo do peito.
Os vampiros presentes continuaram de pé, mas assentiram em respeito. E aqueles que não eram lobisomens, mas que tinham corações vibrantes como o dela, ergueram o punho direito acima da cabeça. Tinha sorrisos genuínos nos rostos, e transpareciam... reconhecimento.
O que diabos estava acontecendo?
Kai olhou para ela sobre o ombros. Mas Rosie só viu culpa na expressão.
- Eu me vinculei a você. – ele disse pelo laço.
- O que isso significa?! – indagou, ainda que soubesse no íntimo, e estivesse claro o bastante para perceber.
- Rosie, você é minha parceira. Isso significa que é a fêmea do alfa. A rainha dos lobisomens.
Genteeee, eu não abandonei a história!! Vou continuar postando, tá? Se você acompanha, por favor, deixe uma estrelinha/comentário. É bom saber que ninguém abandonou coração de sangue <3
Muuuito obrigada e até o próximo capítulo!
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