Capítulo 28 | Laços Eternos
Em algum lugar da rebelião | Corte Sul | Horário XXX - 25/03/2020
Rosalie Armstrong
Rosie acordou com uma mão desconhecida cobrindo sua boca. O pânico implodiu no mesmo instante que ergueu o braço, prestes a cotovelar o inimigo atrás dela. Porém, o cheiro familiar de Kai a fez hesitar:
- Shh...- o alfa sussurrou libertando sua boca. Ela rolou para o lado, ficando de frente para ele. A adrenalina se assentando para dar lugar a...bem, a vergonha.
Ainda estavam deitados no chão. Ainda estavam sem roupas.
Ela sentiu as bochechas queimarem. Porém o brilho nos olhos dele indicavam perigo, mesmo que exalasse uma calma fora do comum.
- Vampiros. – ele continuou, o olhar profundo. – Vista-se. Estão vindo para cá.
Rosie se vestiu em instantes graças a velocidade sobrenatural. E quando terminou, Kai já estava na porta da casa onde estavam, parado como se estivesse a esperando há horas.
- Você não está sentindo? – O alfa perguntou baixo.
Como se o olfato fosse acionado por ele, uma enxurrada de odores brigaram para serem sentidas. E ignorando o cheiro predominante de Kai, ela farejou os invasores. Algo estranhamente familiar entre eles.
- O que acha que eles querem?
Kai a mirou sobre o ombro. E quando o peso do olhar cinzento caiu sobre ela, despertando o desejo ardente outrora sentido, e todas as palavras que deviam – ou não – serem ditas, ela suspirou.
- Não sei. – ele voltou a atenção para o exterior. – Mas depois que soubermos...
- Tudo bem. – se adiantou. – Conversaremos.
- Fique atrás de mim.
- Não. – a voz dela saiu firme. – Nem preciso lembrar o que aconteceu a última vez que você disse que podia dar conta de tudo.
- Foi diferente. – ele disse num rosnado. – Estávamos contra lobisomens. Contra o meu clã. Agora é contra os vampiros.
- Meu povo. – lembrou.
O alfa meneou a cabeça em negativa, mas não retrucou.
– Você ficará atrás de mim... – ela abriu a boca para rebater, e como se soubesse que o cortaria, Kai se virou de supetão, colocando um indicador sobre os lábios dela. Rosie engoliu em seco – Porque se algo acontecer, sou seu escudo.
Ela afastou a mão dele.
- Isso é realmente muito cavalheirismo da sua parte, alfa. Mas eu...
- Rosalie. Eu não morro. Nada do que você diga vai mudar o fato de que estará atrás de mim.
- Não preciso da sua proteção.
- Mas é esse o significado de você ter escolhido estar comigo. – Ele murmurou sem olhá-la. Rosie ergueu uma das sobrancelhas, sem saber ao certo o que ele queria dizer. O alfa revelou: - Meu corpo é seu para protegê-la por todo o sempre...
Ele parecia recitar algo, mas quando a olhou - fazendo seu coração sair em disparada - parou. E quando o complemento não veio, Rosie balbuciou algo perto da decepção:
- Ah.
Então deixou o silêncio preencher o espaço entre eles. Mas não foi por muito tempo.
O som de farfalhar da água ecoava por todo ambiente, indicando que não estavam sozinhos. O cheiro de vampiros se intensificou quando o ruído da água parou.
Em questão de segundos, cinco vampiros surgiram na frente deles. Quer dizer, de Kai, que mais parecia uma fortaleza enquanto se esforçava para olhar sobre o ombro dele.
Eram quatro machos e uma fêmea, e os encaravam de forma... neutra. Pelo menos não era o olhar assassino que por anos recebeu dos vampiros puros.
Dois dos machos aparentavam ter em torno de vinte e poucos anos mortais. Malhados, revestidos em couro e coturnos. Um de cabelos negros com um trança longa, rosto anguloso, e piercings em cada extremidade do rosto. O outro de olhos extremamente azuis e topete alto, como um astro de Hollywood.
O outro macho era um vampiro adolescente, parecendo ter em torno de dezoito anos mortais. A cara de pestinha com sorrisinho endiabrado agradou Rosalie, que logo simpatizou com a criança.
A fêmea, por sua vez, tinha cabelos rosas repicados até os ombros. O corpo esguio e musculoso, olhos com delineados perfeitos e boca carnuda. Dessa, ela certamente não se agradou nem um pouco.
Mas o macho no meio deles é que tinha sua total atenção. Ele estranhamente se assemelhava à um humano na casa dos cinquentas anos. Não que fosse velho ou feio, pelo contrário. Tinha alguns fios grisalhos entre os negros, nos cabelos penteados para trás.
Mas vampiros naquele idade não eram comuns, pois apesar do relógio cardíaco parar em momentos diferentes para cada criatura, era mais frequente que fosse na casa dos 18 a 30 anos.
Porém, havia outra coisa. Um dos olhos eram cobertos por um tapa olho, o que a fazia desconfiar que ele era um power eye.
Se Kai também desconfiava, ela não percebeu. Mas aquele era um poder do qual eles estavam muito vulneráveis de expor a alguém do qual não confiavam. E somente uma mirada do power eye, a conexão entre o alfa dos alfas e um reles meia vampira seria revelada.
Aí sim tinha certeza que, nas mãos erradas, essa informação os fariam ser cortados em pedacinhos.
Entretanto, o olho normal do coroa estava especificamente a mirando com familiaridade, atrás de Kai. Ela ignorou o calafrio e franziu o cenho, tentando se lembrar se já o tinha visto.
Só esperava que não tivesse assassinado ninguém relacionado a ele. Ou ainda, o roubado, mesmo que fosse um delito mais leve entre os vampiros.
O coroa vampiro deu um passo a frente, e disse:
- Olá, vampirinha.
Kai mostrou os caninos, e Rosalie percebeu que as garras também estavam expostas. O desconhecido prosseguiu:
– Por favor, segure seu cachorro. Viemos em paz, queremos apenas conversar.
Aquele apelido naquela voz... Os olhos dela arregalaram.
- Dom, é você?!
Uma risada ecoou.
- Não achei que fosse me reconhecer... – Dom gesticulou para o próprio corpo – Assim.
- Eu também não. – revelou, analisando o ex namorado que a tinha abandonado anos atrás.
Mas, naquela época, Dom tinha cabelos negros e nenhum fio grisalho.
- O que houve?! – se viu cedendo a curiosidade e tentando passar por Kai, que ainda assim não permitiu.
- Você pergunta de mim ou de tudo o que está acontecendo lá em cima? Ou da corte Norte e europeia... ou do seu amigo Ravi ou ainda... dos lobisomens e os gêmeos Ivanov? Ah, vampirinha... – mais uma risada, dessa vez fria – Se soubesse tudo o que vem acontecendo por causa de vocês.
Ravi? Preocupada de maneira seletiva, Rosalie finalmente passou na frente de Kai, que agora se colocou ao lado dela. Mas antes que pudesse perguntar do amigo, o alfa se adiantou:
- O que você quer?
Dom abriu os braços.
- Não é vocês que querem algo de mim? Achei que Rosalie tinha entrado na rebelião para me procurar.
- Mas você nos encontrou antes. Por quê? – a voz de Kai era autoritária. E Rosie o olhou de esguelha, observando-o como se fosse a primeira vez.
Um político. Um lobisomem alfa. Um...amante?
- Você me pegou, alfa. – Dom levou uma mão ao peitoral. – Estou aqui porque não podia ficar esperando vocês acasalarem e vagar como perus tonto por essa terra sem lei que é o submundo.
- Nós não estávamos acasalando. – Rosie se apressou a dizer, de repente constrangida.
Dom gesticulou.
- Tudo bem, vampirinha. Eu contava exatamente com esse sexo ardente que vocês fizeram. Era necessário para chegar ao estágio final.
- Estágio final? – Kai tinha as sobrancelhas unidas.
Porém era o único indício de que considerava o diálogo com Dom, pois o corpo continuava impassível e tenso. Nem as garras nem presas haviam sumido.
- Por Cristo! – Dom exclamou, massageando as têmporas. – Isso é ainda pior do que pensei. Vocês pelo jeito não fazem ideia alguma do que estão fazendo!
Rosie e Kai não responderam. Mas pelo laço trocaram um olhar de concordância.
Dom coçou o queixo revestido por uma barba grisalha, e disse depois de suspirar, como se buscasse manter a calma:
- Vocês devem vir conosco. – O ex começou a andar para o lado, os capangas o seguindo como moscas. - Eu explicarei tudo o que...
- O que você quer, Dom?! – Rosie exigiu a verdade, mesmo sabem que talvez aquela palavra não existisse no vocabulário do ex.
Sabia muito bem que ele não ajudaria por consideração. Aliás, isso ou qualquer tipo de bom sentimento que pudesse ter por ela não seriam reais.
Para Dom, só haviam barganhas, o interesse por ele mesmo e a própria riqueza. E no primeiro sinal de que as coisas saíssem dos trilhos, ele seria o primeiro a dar no pé.
Foi assim que ficou abandonada em uma propriedade que tinham acabado de invadir e roubar. Sozinha, e sem dinheiro. Porque Dom também fizera a proeza de não deixar um centavo para ela.
- Ora... – O ex a arrancou dos pensamentos. - Vocês precisam de mim. – um sorriso cruel surgiu nos lábios dele. – E eu de vocês.
- Para o quê?
- Poder, é claro. – Dom disse. – Vocês dois estão sendo procurados por todas as criaturas sobrenaturais e até uma parte dos humanos que são caçadores. Mas imagino que não devam saber, já que nem sabem o que vocês se tornaram, e...
- Não temos dinheiro. – Rosie o interpelou. – E não confiamos em você, ou nesses vampiros que o segue.
- E não confiamos em vocês, lógico. Afinal, o seu cachorro poderia matar todos nós em um piscar de olhos. – o olho normal foi para Kai, que rugiu em resposta. A velha rivalidade que ela nunca havia entendido entre lobisomens e vampiros, pairava no ar – E acredito que ele queira exatamente isso.- O ex levantou as mãos em rendição. – Mas quanto a parte do dinheiro, não se preocupe, sua cabeça já foi paga antes mesmo de você nascer, vampirinha.
- Do que está falando, Dom? – Rosie estava cansada dos joguinhos. Outra coisa que o ex adorava.
Joguinhos e Charadas.
- Eu vou dizer tudo o que precisam saber, e não peço que acreditem em minha palavra. Eu proponho uma troca de favores, e para que trabalhemos juntos e em paz, estou disposto a uma promessa de sangue.
Kai e ela piscaram, atônitos.
Isso estava ficando pior do que o previsto. Ele nunca colocaria seus serviços por tão pouco. Ok, Kai era um alfa dos alfas. Mas ela era uma meia vampira, com a cabeça à prêmio ainda por cima.
- Rosie, você é uma Alabron. – Dom interpelou seus pensamentos, provavelmente depois de ver que ela e Kai estavam mais confusos que antes. – Sei que talvez não faça ideia do que significa. Mas, em resumo, você é uma parte de uma profecia. E seu cachorro também. – os olhos foram para Kai novamente. – E juntos, vocês tem o poder de mudar o destino de todos os seres sobrenaturais.
Primeiro, Rosalie deu um tempo para que Dom retirasse o que disse, ou que revelasse ''é brincadeira'' depois de sorrir daquele jeito torto que sempre fazia. Mas quando não aconteceu, ela... pressionou os lábios, e quando não conseguiu segurar o riso, gargalhou.
- Parece ridículo, vampirinha. E talvez seja mesmo... mas é a verdade – Dom sorriu. - Como uma Alabron, você carrega o power natural, que a permite manipular algumas forças da natureza.
Ela finalmente recuperou fôlego, dizendo:
- Esse poder não existe, Dom. E mesmo se existisse, eu não seria a portadora.
- É mesmo? – O ex ergueu uma das sobrancelhas em desafio. – Acho que seu cachorro não lhe contou tudo, afinal.
Uma sensação estranha pesou no peito dela quando se virou para Kai, encontrando os olhos cinzentos. Mas foi pelo laço que ele começou:
- Rosalie...
- E eu pensei que podia começar a confiar em você... – ela meneou a cabeça. Uma decepção se alastrando com um gosto amargo pela língua.
- Você pode confiar em mim. – Kai argumentou. – Não contei antes porque quando caímos eu pensei que... tinha perdido você. Então as coisas estranhas que aconteceram se tornaram sem importância.
Um vislumbre da expressão destroçada do alfa lampejou na mente dela. Ainda assim, ter aquela notícia por parte do ex que a enganara e abandonara, era algo difícil de engolir.
- Tem algo mais que eu precise saber? – deu a chance dele explicar, mesmo que pelo laço.
O alfa deu um sorriso triste.
- Muitas coisas. Sobre meu passado, presente e futuro. E também há coisas que jamais me imaginei compartilhando com alguém.
Rosalie franziu o cenho.
- Não estou falando disso.
- Eu sei, Rosie. Mas você vai saber – ele disse pelo laco, os olhos tão profundos e cinzentos como nunca. – Porque agora você é sangue do meu sangue. E meu corpo é seu para protegê-la por todo o sempre, e minha alma está entrelaçada a sua até o dia em que a lua e o sol se invertam de lugar, e a terra seja queimada.
O coração dela descompassou ante o juramento. E com os olhos marejados e a boca seca, balbuciou:
- A última parte... – sua voz sumiu quando os olhos se perderam nos de Kai, que concluiu por ela:
- A última parte é uma metáfora para dizer que, se algum dia o mundo acabar, o laço que estamos construindo estará gravado em nossa alma. Jamais desaparecerá.
Oii gentee <3 Atrasei mas apareci rs O que acharam desse cap?? Não se esqueçam da estrelinha!
Na segunda volto com o próximo capitulo. Até logo!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top