Capítulo 14 | Aliança
Cidade de Morretes/PR, 21/03/2020, 10:49 - Corte Sul
Rosalie Armstrong
Ela piscou os olhos nublados, ajustando-os à claridade do espaço. Em algum lugar da laje, o alfa murmurava, cochichando com alguém.
- Está falando novamente com as vozes da sua cabeça? – Rosie fez uma pergunta retórica, alongando a nuca. - O que seu sangue fez comigo, hein... - gemeu, massageando as têmporas.
- É forte para você. Precisa se acostumar.
Ela sentiu o peso do olhar dele.
- O que foi?!
- Deveria ter te matado.
- Na minha pouca experiência de vida, sempre dizem isso quando não vão fazê-lo. Então... –parou o alongamento e o fitou. – Quero saber por que você mudou de ideia.
- Talvez não tenha mudado.
- Eu sinto seu cheiro, e agora não está sanguinário como antes.
- Rosalie...
- Vamos lá, Malakai! Seja sincero e me diga. Quem sabe poderei aceitar a sua proposta. – deu de ombros, ainda estirada no chão.
- Proposta? – as sobrancelhas dele se arquearam - Você vê o estado em que está? – Ele indicou as pesadas correntes que revestiam seus braços e pernas.
- Sim, e isso seria bem excitante se fosse outra ocasião. – sorriu para as correntes, agora solta das paredes. – Mas se está querendo dizer que não estou em posição de negociar...
Malakai menou a cabeça e mudou a postura.
- Quero saber quem é a vampira bronzeada de cabelos cacheados que você matou.
Os olhos dela se arregalaram brevemente. Uma surpresa que não passou despercebida por ele.
- Por quê? – Rosie entortou o nariz.
- Porque quero saber.
- Isso não é resposta.
- Responda logo, Rosalie.
- Com uma condição: Vamos fazer uma Promessa de Sangue.
O alfa se levantou, esfregando o nariz e indo até o parapeito da lage em que estavam. A cabeça dele se inclinou na direção do céu, inspirando o cheiro de mato e maresia da cidade. Depois, se virou, com as mãos na cintura.
- Você acha inteligente fazer uma promessa de sangue comigo?
Ela balançou a cabeça em um "mais ou menos".
- Olha... Eu já fiz burradas maiores na minha vida. E pelo o que estive vendo, a promessa contemplará mais você do que a mim.
Malakai sorriu torto, a ironia impregnada na expressão.
- Sabe que sei que está mentindo, não é? Você é só uma meia vampira...
- E é exatamente por todos me subestimarem que sou uma das melhores, Malakai. Por que acha que servi de mercenária à uma Rei... ou ainda, por que o Rei da Corte Sul preferiu me fazer ir atrás de você do que me matar?
Ela o desafio a responder, balançando as sobrancelhas. A verdade - que tinha sido usada - bem guardada em um limbo qualquer da mente.
Ele continuou a observando e avaliando.
- Então, alfa? Vai ficar me olhando ou faremos um acordo? – Rosie murmurou, estampando nos lábios um sorriso fugaz.
Ele suspirou fundo, e respondeu:
- Depende. O que você quer?
- Me liberte da promessa de Sangue que eu tenho com Dacian Ivanov, e eu te ajudo no que precisar.
Malakai piscou.
- Você quer que eu te liberte em troca da sua mera colaboração?
- Eu não subjugaria a minha ajuda. Pelo menos, não quando fui eu quem cobri seus vestígios para que seus colegas barras pesadas não o encontrassem. Além disso, me parece que tenho conhecimentos que podem e muito, interessá-lo.
Os braços dele se cruzaram na frente do peitoral nu.
- E sua ajuda compensará a minha, que serei cúmplice no assassinato de dois reis Vampiros?
- Dois?! - uniu as sobrancelhas.
-Se matarmos Dacian, Damien morre. A ligação que eles possuem é a mesma que a nossa.
A expressão de Rosie se clareou.
- Isso está saindo melhor que a encomenda... - assentiu para si mesma.
- E quanto a mim. Em que compensa? - Ele repetiu.
A mestiça pigarreou, libertando o ápice de felicidade para respondê-lo:
- Bom, se você tiver pretensões de continuar como um alfa solitário, caçado pela própria raça, sim haverá compensação. Eu o ajudarei a descobrir sua origem e continuar no seu... purgatório particular. Agora, se quiser voltar ao posto de alfa dos alfas, então não. Isso desencadearia uma guerra mundial entre as espécies, e eu já tô por aqui de confusões. - gesticulou um pouco acima da cabeça.
Disso não tinha dúvidas. Se uma anarquia ocorresse na Corte Sul, não somente uma corrida pelo poder aconteceria. Mas também e principalmente, uma busca pelo culpado. E se descobrissem que era de uma espécie arqui-inimiga...
Kai sentou-se novamente, dobrando uma das pernas em cima do joelho.
- Isso não é trocar seis por meia dúzia, Rosalie?
Ela franziu o cenho, se sentando.
- Da minha parte?
- Das duas. - Ele mudou de posição, agora se arqueando e descansando os cotovelos no joelho. - Pra mim, não faz muita diferença. A não ser pelo fato de que teria companhia no meu purgatório. Mas a sua parte na proposta não incluiu um prazo... Ficaria ao meu lado pela eternidade?! Em que isso diferencia a promessa que você tem com Dacian?
- A eternidade é um período longo demais pra mim, alfa. Acho mais provável sermos assassinados antes disso. Além de que... - deu de ombros, afastando um dos fios avermelhados do rosto. - Não tenho muita escolha se contarmos que já estou atrelada mentalmente a você.
Na verdade, pra Rosie era muito bom.
Se conseguissem matar os reis gêmeos, ela enfim teria sossego, uma vez que não iria mais ser assombrada por Damien, e os pesadelos em que este a estuprava. Bem como acabariam as perseguições por parte de Dacian.
Além disso, teria a proteção do alfa. E outra, não seria mais uma lacaia mercenária.
- Eu aceito. Mas sua ajuda deve perdurar pelo tempo necessário e no que for preciso. – Kai fez a contraproposta.
- Desde que não me torne uma escrava sexual...
Rosalie tinha ciência do que acontecia com os meios vampiros ao redor do mundo. E jamais ia se sucumbir a algo assim.
O alfa a encarou, o olhar descendo sobre seu corpo como o corte de uma adaga.
- Fica tranquila. Se tivermos algo, vai ser com o consentimento dos dois.
Rosie pressionou os lábios, segurando uma risada. Ele lhe devolveu seriedade. Seu divertimento passou, e ela ficou sem graça, pigarreando.
Porém, o momento a se lembrou de algo deveras importante.
- Tenho mais uma condição. - murmurou precisa. Kai fez um gesto para que continuasse. - Quero que você também beba do meu sangue.
- Não seria diferente. – Kai se levantou, caminhando até ela novamente. – Nossa promessa será uma vida de mão dupla.
- Isso.
- Então, temos cerca de cinco meses para nos livrarmos da Corte Sul. Em troca, você e eu mataremos todos que estiverem atrás da minha cabeça, bem como descobriremos minhas origens. De acordo?
- Feito.
Kai segurou um dos grilhões e o partiu, fazendo o mesmo com o outro, e assim sucessivamente até que ela estivesse livre das correntes. Rosie levantou o olhar, endireitando a postura altiva.
O alfa ergueu o pulso direito, mordendo-o com as presas de lobo que surgiram no lugar dos dentes. Rosie fez o mesmo, fincando os caninos alongados no próprio pulso.
Por um segundo, se encararam, cientes de que a linha a ser ultrapassada se tornaria irreversível. Mas, de alguma forma, o limite já não parecia tão grande. A conexão imposta por Kai anteriormente tinha mudado algo no ar e na energia entre eles, tornando-os uma espécie de faces diferentes de uma mesma moeda.
Então, quando o sangue de Rosie tocou na língua dele, e o dele se derramara na língua dela, soube.
Estava feito.
Porém, ao invés da promessa se aconchegar aos corações, algo diferente aconteceu. Uma corrente elétrica os abraçou, selando-os ainda mais.
A meia vampira abriu os olhos verdes, despertando da conexão sanguínea. Um sorriso gélido e sensual se formou lentamente nos lábios ensanguentados dela.
Kai levantou um polegar, limpando uma gota do próprio sangue que escorria no queixo dela, e levando aos lábios.
Rosie ficou boquiaberta por aquele ato sensual. Mas antes que pudesse fechar a boca, revelou:
- Acho que posso começar te ajudando com uma informação essencial sobre seu passado. –sustentou o peso do olhar de expectativa dele. – Eu tenho quase certeza de que a vampira que eu matei a mando de Julian, era na realidade sua irmã.
Mais um cap minha gente!! Segunda (no mais tardar, terça) teremos outro.
Obrigada por acompanhar essa história <3
Não está revisado :(
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