Capítulo 13 | Ren e a Caixa de Pândora

Cidade de Morretes/PR, 21/03/2020, 10:29 - Corte Sul 

Malakai Arsov

Kai deu um passo na direção dela. Rosie se debateu, tentando se soltar das correntes. Ameaçada, ela expôs os caninos enquanto mudava a posição dos pés para... A corrente que segurava o braço direito da mestiça se arrebentou.

Impossível.

O alfa rolou para o lado quando Rosie tentou chicoteá-lo com a corrente. Por pouco sua lombar não foi flagelada. Porém, quando tentou se reerguer para chegar perto, ela fez outro movimento.

Putz.

Ficara tão preocupado com o corpo que não percebera que de algum modo ela conseguira capturá-lo pelos pés. Ele foi arrastado, pensando em algo pra fazer que não fosse puxá-la de volta, pois se o fizesse, provavelmente libertaria Rosalie.

Esperta.

Mas ele ia correr o risco. Kai puxou as correntes, libertando a mestiça com um estampido. O corpo de Rosie foi lançado para os seus braços.

Tão logo envolveu o pescoço da fêmea com as mãos, prendeu também as pernas, enlaçando-a numa espécie de chave de perna adaptada. Rosie engoliu em seco esbaforida, colocando as duas mãos livres no braço direito dele.

A força sobrenatural dela retirou um dos seus braços do próprio pescoço, o dobrando. O alfa observou a envergadura da carne e do osso até o crack

Kai urrou,  a dor lancinante da ruptura na altura do cotovelo o queimando. Embora ainda estivesse sendo enforcada, Rosie deu um sorriso vitorioso. 

Ele rugiu, tentando manter a adrenalina equilibrada para não se transformar. Se liberasse o lobo, estilhaçaria a garganta da mestiça. E por mais que quisesse matá-la, tinha esperanças de que não sofresse tanto. 

Com a outra mão livre, fez força contra o pescoço dela. Ia quebrá-lo. Rosie segurou seu braço sadio, tentando amortecer a força com que ele a pressionava. 

Os olhos deles se cruzaram, algo aconteceu. 

Quando Kai buscou o ar novamente, nada encontrou. O peitoral dele se inflou, desesperado pelo oxigênio. Os olhos de Rosie começaram a avermelhar enquanto a pele do rosto ficava rubra.

- K-kai... – ela balbuciou, piscando de maneira lenta e desfocada. – Pa-pare...

Não ia cair nisso. 

Fez mais força, sentindo algumas garras surgirem nas pontas dos dedos e cortarem a pele aveludada dela. Subitamente, as pernas da meia vampira amoleceram na posição que a prendia.

Tinha algo errado. 

Kai a soltou de supetão. Os olhos da meia vampira o encontraram quando começou uma crise de tosse seca.

- Eu...não estou me sentindo muito bem. – ela revelou, a cabeça bambeando. 

- Rosalie! - Kai chamou, segurando o rosto dela. 

A meia vampira abriu a boca, mas quando iria dizer algo, apagou. No mesmo instante, Kai segurou a própria cabeça, atingido por uma onda de tontura. 

- Mas o que...

- Seu sangue é forte demais, e isso aliado à fraqueza em que ela estava por cerca de dois dias... – Ren avaliou, surgindo agachado ao lado de Rosie. – A mestiça precisa de algum tempo para o corpo acostumar.

O alfa franziu o cenho, porém logo depois o suavizou, atingido por uma súbita ideia. 

Ótimo

Se a matasse assim, ela não sentiria nada.

- Nem pense em fazer isso! – Ren o avisou, colocando as mãos espectrais de maneira protetora sobre Rosie.

- Vou matá-la, Ren.

- Você não deveria...

- É claro que eu deveria, Warren. – Se virou para onde o espectro do irmão estava. – Você me conhece desde sempre. Já me viu assim?!

Filetes de suor desciam pelo corpo musculoso dele, que tinha a respiração alterada devido ao coração que retumbava no peito. Todas as veias do corpo de Kai estavam dilatadas, inclusive a do membro, que estava duro feito uma rocha pedindo para fugir do jeans.

- Aguenta um pouco mais.

- Não consigo, Ren! – Exclamou com os braços abertos. – Estão me caçando antes do previsto. Não posso ficar ao lado dela lutando contra vontade de tocá-la enquanto tento me defender para continuar no meu próprio purgatório. – Kai colocou as mãos no próprio peitoral, admitindo: - Tem alguma coisa errada comigo... Estou fazendo mais esforço para resistir à ela do que fiz pra matar você.

- Ai, Lobinho! Essa doeu. – Ren levou à mão ao coração. – Mas você está assim porque Rosie está entrando no cio. E quanto à nossa luta...ela não foi justa.

- Porque você havia desistido.

Warren se levantou, revelando:

- Não, Kai. Nossa luta não foi justa porque eu estava resignado ao fato de que deveria morrer. 

- O quê?! 

- Não houve nenhum alfa que subisse ao trono sem matar os anteriores... Você precisaria matar um de nós para conquistar o respeito e o medo de nossa alcateia. Esse era o único jeito para que ninguém o desrespeitasse como governante ou o desafiasse por ser bastardo.

Ren deu a volta pelo corpo de Rosie. Ainda que a observasse, o pensamento estava longe. O irmão continuou: 

– Eu sabia que seria mais difícil, já que precisaria matar o próprio pai ou o irmão. Mas tinha de ser feito. E como nosso pai era um alfa covarde demais, eu fiquei incumbido disso...Agora fica lógico que todo meu esforço não valeu de nada, porque a primeira coisa que você fez foi dar as costas para o seu trono.

- Você desistiu de viver por isso?! Por causa da merda de um trono?! – Kai gritou, sentindo os olhos marejarem. – Matar você me destruiu, Warren! É esse o motivo pelo qual não consigo viver dentro de mim mesmo. Ver a sua vida se esvaindo em minhas mãos me revelou o monstro que seria como governante. 

 O alfa olhou para as próprias mãos trêmulas. A lembrança das tripas de Ren escorregando de suas garras o fez cerrar os olhos com força. 

- Você sempre foi a única pessoa daquela maldita alcateia que eu prezava depois que nosso pai me virou as costas...E tudo por quê? Por causa de uma merda de tradição?! Era só você ter se rendido! Eu nunca liguei para a dúvida que tinham sobre mim. O que eu não gostava é que ficassem me chamando de bastardo!

Ele nem gostava de se lembrar. Todos os malditos quatrocentos e cinquenta anos de vida que passara por aquela perturbação nas alcateias o tinham quase enlouquecido. Um dos motivos que o fizera ir pra bem longe de casa.

- Eu jamais me renderia, não sou indigno a esse ponto. E você deveria sim ligar. – Ren alegou. – Porque é um bastardo. E antes que queira esganar meu pobre espectro e arrancar o coração de sangue da querida Rosie... É esse o exato motivo de não poder matá-la.

- Como assim? – Kai ainda se segurava.

- Quando você fez a burrada de selar a ligação de vocês, as memórias da mestiça foram ligadas à sua. Em nenhum momento passou pela sua cabeça que a vampira que implorava pela vida nas lembranças de Rosalie, tinha a mesma pele bronzeada e olhos cinzentos que você?!

- Warren, eu creio que devo encontrar centenas de seres assim no planeta.

- E seria coincidência ela ter as mesmas tatuagens que você tem? - Ren se referiu a manaia, um desenho maori estampado em suas costas. 

Entres os lobisomens, as tatuagens eram artes que representavam clãs. Os Arsov tinham um círculo com linhas embaixo da nuca, retratando a força, uma vez que eram o clã com mais domínio histórico. 

Kai era o único Arsov que não tinha a tatuagem do clã. E embora seu pai parecesse saber o porquê, sempre se desvencilhava de suas perguntas. 

- Que... Como é que você sabe disso?

- Não importa, Kai. Só faça o que é certo, ok? Não é inteligente matar ela pra querer morrer. Não sabemos se dará certo. E se somente a Rosalie morrer enquanto está ligada a você...

- O que aconteceria?

- Eu não sei. Acho que não teve nenhum caso que um dos lados era um lobisomem imortal enquanto o outro é meio vampiro. Mas imagino que isso causaria danos permanentes no seu cérebro.

Kai levou uma mão à cabeça, completamente desnorteado. Ele arrastou o corpo tenso até um banco de madeira a direita e se sentou.

- Tem muita coisa que ainda precisa ser descoberta. Principalmente quanto a sua origem. - Ren murmurou. 

- Eu...

- É um bastardo. 

– Não me provoque, Ren.  

- Não, Kai. É sério, pense: Você era um garoto moreno de cabelos castanhos e olhos cinzentos no meio de uma alcateia branca feito cera e cabelos negros. Você nunca foi um de nós fisicamente, tanto que sua forma lupina é diferente. Enquanto na linhagem Arzov os lobos são negros, você é um lobo branco.... Kai, tudo em você sempre foi distinto! E se aquela vampira tem algum parentesco contigo, muita coisa poderia ser explicada. Desde sua força descomunal, até o fato de você se sentir atraído por Rosie e ter vindo se exilar nesse país decrépito.

- Gosto do Brasil. 

- Eu sei. Mas já se perguntou o porquê?

- De quê? Você pensa demais, Warren! – Ele gesticulou, não vendo a menor importância no que o irmão dizia. Ren o olhou de esguelha, ignorando-o.

- Na minha teoria... – Kai ergueu os olhos. Quando Ren começava com as teorias, nada terminava bem. – Você nasceu aqui no Brasil quando o papai, por ser polonês, veio junto com os poloneses colonizar Curitiba e roubar esse território dos vampiros russos...

- E o quê? Acasalou com uma vampira?! - Kai riu, perplexo. 

Ren assentiu orgulhoso.

- Mais ou menos isso.

O alfa dobrou os braços na frente do peito e encarou o irmão.

- Só tem dois problemas nessa sua teoria: 1º nosso pai não é polonês, 2º não há reprodução entre as espécies.

- Na verdade, não. Nosso pai é sim polonês, e a história sobrenatural cita que nos primórdios...

- Quer saber, Warren?! Já chega, não vou ficar dando ouvidos à um fantasma. 

- Tolo! – O irmão gritou. – Não estou morto!

Kai encarou o espectro de Ren, ondulando no ar.

- Não estou morto, falou o morto.

- Malakai. – Ren tentou uma abordagem mais serena. – Eu não estou morto porque vivo em você.

Kai piscou.

- Você... o quê?! – O alfa pousou as mãos nas têmporas, provavelmente avaliando se aquilo também fazia parte da tontura incutida nele por Rosalie. Talvez também fosse uma alucinação. 

- Kai, quando me matou, não era minha vida se esvaindo em suas mãos. Eu estava me fundindo enquanto você me absorvia. 

Era a alucinação, certeza. 

Malakai chacoalhou a cabeça. Porém, no fundo sabia que o irmão não poderia inventar uma coisa daquelas. E as pupilas dele estavam intactas quando da revelação. Ren continuou:

- Isso geralmente acontece entre criaturas com afinidades fortes. É um poder raro, jamais visto desde Outroso. Se chama PowerGhost.

- Eu nunca ouvi falar desse poder, Ren. – gesticulou.

- Só é revelado para o alfa e a alcateia de alfas. Do contrário, se todos soubessem, seria possível que os lobisomens se matassem para se absorver. Mas também é um tiro no escuro, porque não dá para ter certeza que vai funcionar até acontecer.

- Pera aí, seguindo a sua hipótese, deixa eu ver se entendi bem: Você sacrificou a sua vida apostando em uma possibilidade remota?!

Warren assentiu freneticamente, como se precisasse ser aplaudido pela ideia. Kai sentiu vontade de gritar.

- Eu estudei você, irmão. Você é o lobisomem mais forte dos últimos tempos, e...

- Merda, Warren! Você é... insano. Nunca vi estratégia mais idiota, puta que pariu! – xingou, coisa que mal fazia. Mas o irmão sempre tinha aquele efeito sobre ele. – Tudo isso pra quê? Para que eu pudesse ser um alfa dos alfas?!

- Você ainda não entendeu nada, Malakai?! - Ren meneou a cabeça. - Nosso pai tinha muitos problemas, mas os principal dele era ter muitos segredos. Antes que me pergunte, como mão do alfa que fui durante um bom tempo, não descobri nada. Mas uma coisa é certa, você não é um lobisomem comum. Você nasceu pra ser um alfa. E Aleksey soube disso quando a sua força evoluía a cada lua... Pensando bem, talvez seja por isso ele não goste mais de você.

- Por isso, o quê?

- Pela primeira vez em quinhentos anos alguém é mais forte que ele.

Kai riu histericamente, maluco pelas informações. 

O irmão era conhecido por ser uma caixa de surpresas. Porém, com a gravidade das coisas que revelara, estava mais para Caixa de Pandora, jogando em cima dele todos os males do mundo, menos a esperança.

- E agora?! – perguntou irônicamente – Tem mais alguma bomba pra jogar em mim?!

Para seu desespero, Ren sorriu amarelo.

- Bom, já que perguntou...

Kai cerrou o maxilar.

- Diga logo, Warren. 

- Os lobisomens começaram a caçar você antes do esperado...Bem. Acredito que isso aconteceu porque nosso pai se deu conta de que algo precioso foi roubado dele.

- E daí?

- Nada. – Ren deu de ombros com uma risadinha constrangida. – Só o fato de que talvez eu tenha feito ele pensar que foi você.



Mais uma atualização, pessoinhas <3 ( Eu sei, tinha que ter saído ontem...)

OBS: Vou começar a colocar título nos capítulos (como esse). Não vou alterar os anteriores porque nossa obra está concorrendo em alguns concursos. 

E essa revelação sobre Ren? Alguém pescou a referência da absorção à Malachai Parker e a fundição entre irmãos do clã Gemini, de The Vampire Diarie? Eu brinquei um pouco com a ideia, transformando em algo mais palpável... Nos próximos capítulos teremos mais revelações sobre ela. 

Me diz, alguém possui teorias sobre Kai? O que vocês acham que Ren roubou? Já foi exposto em um dos capítulos anteriores... ehehe 

Obrigada por acompanhar <3 

Não está revisado :(

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