Capítulo 11 | Ligados
Cidade de Morretes/PR - 21/03/2020, 9:47 - Corte Sul
Malakai Arsov
Kai se agachou em frente ao corpo inconsciente de Rosie, e segurou sua nuca antes de começar a despertá-la com tapinhas nas bochechas. A meia vampira se sobressaltou, arregalando os olhos verde-mar.
O cheiro hormonal dela o invadiu, se espalhando em seu corpo como estilhaços de uma bomba. Kai precisou segurar a vontade de imprensá-la contra a parede.
Ele se levantou e esperou que ela terminasse de se ajeitar entre correntes que a prendiam no outro esconderijo em que estavam, na laje de um sobrado em construção no centro da cidade de Morretes.
- Sou sua prisioneira novamente? – Ela perguntou meio grogue. A claridade solar a fez franzir o cenho quando ergueu os olhos, os percorrendo ligeiramente pelo local. - Já vi que você escolhe os piores lugares como esconderijos.
Kai inspirou fundo, dando de ombros para o sobrado que provavelmente daria uma casa muito bonita senão tivesse sido abandonado.
- Preciso descobrir o que sabe e porque mentiu pra mim, Rosie. - tentou soar amigável.
- Não menti pra você, Malakai. – A cabeça de Rosalie caiu pra um lado. Kai apertou os olhos analisando o rosto dela. A pele estava seca e lascada, se esfolando pouco a pouco.
- Há quanto tempo não se alimenta de verdade? - ignorou a gota de sangue que ela havia roubado dele.
- Por que quer saber? Você não matou o meu café da manhã?
- Responda.
- Um pouco mais de quarenta e oito horas.
Kai praguejou. Mais algumas horas e ele veria os ossos dela se quebrarem antes que entrasse em combustão e carbonizasse.
Ele dobrou os braços na frente do peito nu, resolvendo usar a fraqueza como uma oportunidade para obter a verdade.
- Por que fugiu?
- Não está óbvio? Ainda não sei como matar você e preciso me recompor. Se aqueles lobos me atacassem, seria a primeira a morrer...
A íris se manteve inerte. Verdade. Agora, a grande pergunta:
- Estamos ligados?
Rosalie fez força para erguer o olhar na direção dele.
- Me diz você. Estamos? - a íris estremeceu levemente, embora não tivesse mudado de tamanho. Enquanto o coração acelerou. Meia verdade.
- Qual é o tipo de ligação? - tentou novamente.
- Quem sabe? - ela respondeu baixando a cabeça com um dar de ombros. Sem contato com o olhar, duvidou. Verdade ou mentira?
Haviam muitos tipos de ligação. Como a predestinada - ligação precária, feita quando os pais elegiam pares antes do nascimento - , vinculação - união vinda do coração -, mental - advinda com powermind ou a igualdade de objetivos -, e a completa e mais forte: Sangrille, parceiros escolhidos pelo sangue, uma conexão que unia mente e coração.
Kai passou a mão pelos cabelos, irritado pela capacidade dela de resistir ainda que estivesse fraca. Teria que seguir pelo caminho mais difícil, o que demandaria uma isca irresistível.
Sem pensar duas vezes, o alfa mordeu o próprio pulso. Seu sangue irrompeu da ferida aberta.
- Beba. – murmurou, estendendo o pulso na direção dela.
Rosalie ficou boquiaberta, sedenta pelo alimento. Porém no último instante virou o rosto.
- Não.
- Rosalie, não me parece que você está na posição de escolher sua comida.
- Você não entende, não é?
Malakai grunhiu. É claro que ele entendia. Os lobisomens sempre souberam que o ato de alimentação dos vampiros era íntimo, já que a mordida proporcionava sensações trazidas pelo compartilhamento de sentimentos.
Além disso, o sangue era um poderoso condutor entre as raças, seja selando promessas, seja destinando parceiros de sangue - sangrilles - , ou ainda, servindo como alimento - para os vampiros -.
De toda forma, sua próxima ação o faria um depósito das memórias e das sensações recentes da meia vampira, mas ainda assim, lhe daria uma ótima oportunidade para aterrar suas garras e arrancar toda a verdade quando os muros mentais estivessem enfraquecidos. Com sorte, Rosalie já estaria forte para sobreviver.
- Eu sei sobre a mordida dos vampiros. Tenho ciência de todas as sensações, mas também sei que senão se alimentar, não vai tardar a morrer. Então... – estendeu novamente o pulso a um palmo da boca dela, seu sangue já pingando no chão de cimento. – O que vai ser?
Assentiu contrariada. Kai aproximou o pulso dos caninos já alongados, encostando seu sangue na língua sedosa de Rosie, que parecia se esforçar para conter a fome.
Ela fechou ligeiramente os olhos, o apreciando. E logo os abriu, encarando-o no mesmo momento em que fincou os dentes em sua pele.
Todas as terminações nervosas do corpo de Kai se agitaram. Ele precisou ficar de joelhos para aguentar a avalanche de sensações que lhe adentravam, eriçando cada maldito pelo. O alfa foi tomado por dor, cansaço, fome e abandono, misturado ao sentimento de desespero e fascinação.
Era a sua chance.
Kai ncessitou de toda concentração para fazer as garras surgirem na mão livre. E antes que Rosie se desse conta do oportunismo dele, ergueu a mão na altura da nuca dela, e enfiou as garras.
Uma das unhas arranhou o portão mental, testando-o. O alfa pensara que encontraria uma mente altamente reforçada, porém na frente dele nada havia.
Rosie era um mundo aberto.
Os olhos dele se cruzaram com os dela, num aviso silencioso e arbitrário de sua iminente entrada. A meia vampira franziu o cenho, mas nada fez, presa na necessidade de alimentação.
Kai se preparou pra entrar, ao mesmo tempo que a sucção de Rosie se aprofundava mais.
Então fechou os olhos, e quando os abriu, estava em outro lugar. A sua frente havia um grande portão de ferro entreaberto ladeado por rosários, que se emaranhavam em um muro de obsidiana.
- NÃO FAÇA ISSO!! – O grito de Ren ressoou ao lado. – SE FIZER, A LIGAÇÃ...
Era tarde demais pra conselhos.
O alfa já tinha passado pelo portão, mergulhando na mestiça. Os olhos de ambos se reviraram, jogados num universo paralelo.
Algumas memórias dela choveram como meteoros: a promessa de sangue feita com Dacian Ivanov para matá-lo, o assassinato de uma vampira que implorara pela vida, a dura existência que tivera como mestiça, a habilidade como mercenária, e Raviel, alguém por quem tinha muito apreço.
Tudo mais importante de Rosie fora lhe mostrado, sendo absorvido quase como osmose. E Kai chegara a conclusão de que aquela criatura que bebia dele era simplesmente fantástica.
Rosalie Armstrong era uma fortaleza de força e determinação, lutando a todo custo pela liberdade.
Exatamente como ele.
Contudo, algo mudou. A sua projeção mental começou a se integrar a ela, como a adição de uma nova parede em uma construção. Ele lutou, se debatendo contra a conexão em andamento.
Mas nada.
Estavam sendo selados num só, como duas extremidades opostas de uma ponte. Ele como lobo, conectado através das guerras. Ela como vampira, interligada por meio do sangue.
O corpos físicos começaram a convulsionar, alterados por algum tipo de reação mental.
- Droga! – uma voz masculina blasfemou ao lado dele. Era Ren – Kai, pare a ligação!
Kai estava imerso nos encantos de Rosie, inebriado pelo cheiro dela, fascinado pelas habilidades, interessado em todas as histórias.
- MALAKAI! – a voz de Ren reverberou dentro da mente dele. Kai e Rose se sobressaltaram pelo aviso. – PAREEEEEE
Ele foi arremessado para o outro lado da laje, e Rosie só não foi parar longe porque estava acorrentada. O alfa engoliu em seco, soltando um suspiro ao tentar se por de pé.
- O que... – Era Rosie, fitando-o pasma. Os lábios dela tinham o rastro de seu sangue, que lhe desciam pelo queixo. – O que foi que aconteceu?
Ele levou a mão à cabeça, sentindo o fio quase palpável entre eles. De alguma maneira, a ligação antes duvidosa era um fato, e havia se selado.
É, eu sei. Era pra ter saído ontem esse cap, massss saiu hj kk
Novas informações, e uma coisa mui da importante aconteceu aqui. Já identificaram o tipo de ligação deles? hehe
Os próximos guardam outras revelações, inclusive, revelando quem é Ren e qual o papel dele.Também teremos um cap com Damien Ivanov, expondo seus objetivos e limitações... Tá imperdível, minha gente!!
Aguardemmm <3
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