I

I:

A tribo de gelo do sul era uma das mais importantes dos reinos de Mykinesfjørður, seu território localizado na ilha Vágar rodeado por dezoito ilhas ao norte do Oceano Atlântico em Sørvágsvatn, era marcado pelo tempo nebuloso e frio, constantemente presente, mas ainda assim não limitava a beleza de suas paisagens e lagos existentes daquele lugar.
As tribos eram formadas por quatro famílias tendo diversidade em suas habitações e raças, em festividades, tais quais, os quatro familiares tinham obrigação de celebrar os casamentos, a entrada das filhas a mocidade, as épocas gloriosas de suas colheitas dentre outras, eram celebradas a base das danças praticadas desde a mocidade.

Muitos anos se passaram e Demétrio era o novo chefe da aldeia do sul, sua força e bravura eram contadas aos montes e só serviam para lhe estufar o peito e fazê-lo andar de cabeça erguida entre os seus, sua esposa por outro lado era uma dama dotada de magia, cuja a beleza invejava muitas das damas que a acaso lhes tiveram de aceitar.

Suas filhas eram Annia, Nora e a mais nova Anlisel. A pequena herdara os dotes de beleza da mãe e bravura do pai, seus cabelos tinham o tom loiro que muitos chegariam a pensar ser branco como a neve que os rodeava, os olhos azuis brilhantes encantavam a qualquer um, já que as íris emanavam sua pureza, a pele alba e os lábios cheios vermelhos, lhe davam a fama de mais bela dentre as garotas de sua idade, mas isto não lhe agradava, ela tinha o espirito livre, a mais corajosa, curiosa e teimosa dentre as irmãs.

Anlisel usava os trajes de sua primeira cerimônia, o vestido de um vermelho cuja aberturas iam de sua cintura ao chão facilitando sua locomoção, além de estar descalça e conter um anel de cipos trançados sobre os tornozelos. Aquela era uma das mais importantes cerimônias para as garotas de sua idade, suas irmãs lhes contava como era belo e harmônico ter todos os olhares para si, contou-lhes também a necessidade que era ter aprendido todos os passos da dança que praticou durante uma temporada inteira.As mãos suavam quando olhou-se no espelho, os cabelos loiros quase albos caiam em cascatas onduladas e bem arrumadas, que antes lhe dera uma grande dor de cabeça, antes seus cabelos eram bagunçados e soltos, o trabalho que dera para deixá-los daquela forma fora uma tarefa trabalhosa, mas havia valido a pena, constatou com um sorriso.

Demétrio apareceu acompanhado de sua esposa e está trazia em sua mão uma caixa de madeira entalhada a forma de uma coruja com asas erguidas, além de trazer-lhe também o véu que deveria usar para ocultar sua face, apesar da mais nova achar um pouco estranho, afinal não havia um único morador de sua aldeia que já não tinha visto seu rosto.

Assim que a mãe da menina aproximou-se com seu longo vestido de cores em contrastes ao verde musgo e preto cujo modelo era idêntico ao de suas filhas, Anlisel abaixou a cabeça saudando-a como manda as leis de sua tribo, seu rosto fora acariciado e o olhar fixou-se as íris de sua mãe e senhora, os olhos da mãe espelhavam o seu. Brilhantes e meigos, os cabelos tão albos quanto sua pele e os lábios cheios e vermelhos como sangue.

__Minha menina__Saudou sua mãe dando-lhe um beijo no topo das madeixas loiras.

__Minha senhora__Cumprimentou a menina dando-lhe um sorriso tímido.

__Trago a ti tua tiara minha menina.

Anlisel olhava curiosa diante da caixa posta a sua frente e assim que foi aberta sons de surpresa ecoaram ao meio das três irmãs, ambas sorriam, a tiara tinha pedrinha azul turquesa ao invés de pedras brancas e opacas como era de costume, a família Vladivostok era a única que continha tais pedra e assim que colocaram sobre a cabeça da caçula o véu encobriu-as para surpresa de todos, ela sorria feliz pois assim como as irmãs ganhará sua própria tiara no seu dia especial.

As fileiras de garotas foram arrumadas e organizadas, como de costume a caçula Vladivostok ficará por último. Os olhares se voltaram para a fileira que agora se movia com suavidade, a dança já havia começado, Anlisel nervosa rogou as deuses de sua crença que a ajudassem a acertar os passos, afinal o inicio da dança também significava o solo de sua família, cada uma das garotas já se arrumavam as posições ajoelhadas e com a testa posicionadas ao chão, Anlisel ficou de pé levando as mãos aos céus fechando os olhos.

Todos olhavam em silêncio quando o primeiro som da melodia criada por flautas de sopro e tambores se iniciou. Anlisel timidamente moveu os quadris e movimentos as mãos de maneira circular então dois batuques por vezes se iniciou e os braços se abriram e os ombros se moviam ao girar, fitas foram erguidas pelas demais moças e eram balançadas quando o soar de palmas se iniciou, os garotos cuja as roupas tinham o negro da noite e máscaras lupinas se moviam por entre as garotas cada um escolhendo seu par quando a melodia se voltou novamente e desta vez de maneira constante.

Anlisel se virou e o garoto cuja a máscara de lobo a olhava com o par de olhos negros tão profundo quanto a noite que os cercavam, erguendo a mão para ela que aceitou, ele a girou e logo a soltou contornando a dama, ambos os olhando nos olhos enquanto batiam palmas em conjunto. A dança prosseguiu com palmas e ambos os pares se rodeando. Anlisel tinha os olhos fixo aos do parceiro de dança quando este parou, ela girou em volta dele como as outras e assim que o garoto fez o mesmo consigo, ele tomou o véu que ocultava sua face, murmúrios se fizeram presentes quando o garoto amarrou o Véu entre voltas em seu pulso, novamente as damas os rodeavam e assim que estes se ajoelhavam as damas pararam a sua frente e o toque de suas mãos foram rápidos, Anlisel sentia-se constrangida ao ter de se afastar sendo seguida pelo olhar do lobo que tomará seu véu.

As damas se reuniram a roda e agora sua coreografia era mais complexa, enquanto rodavam com suas saiam os garotos batiam palmas juntando-se em um outro círculo, os passos se tornaram mais encantadores movendo-se com graça entre saltos e bater de palmas, era algo sincronizado e quando finalmente acabou as damas rodavam suas saiam movendo os pés entre gingas sendo acompanhadas pelos rapazes que enfim as enlaçavam pela cintura, os olhos eram fixos enquanto giravam e dançavam com sincronia estupenda, os adultos então entravam no meio dos adolescentes e a festa começava com cantoria e danças livres, Anlisel ria ao continuar a dança no meio das mulheres, suas irmãs ao seu encalço divertiam-na naquela noite, sob o olhar do lobo que lhe espreitava as sombras, admirando os gestos mais simplórios e tolos da menina.

***
A cerimônia de apresentação de sua filha foi algo perfeito, constatou Demétrio, todos de sua tribo não falavam de outra coisa ao fim da festividade, mas o fato de que a aliança entre a quarta tribo de Mykinesfjørður, era algo que perturbou seu sono e o fez girar várias vezes sobre as cobertas, aquele era um segredo somente dele, mas não poderia negar que sua filha Anlisel, causou encantos ao primogênito de Melliacam, o atual chefe da tribo do Leste, pois este lhe olhava fixamente a todo momento até a hora em que ela se retirou com as irmãs. Arwena se viu a fingir que dormia diante da inquietação do marido, conhecia-o muito bem para dizer que este escondia algo.

Anlisel acordou com um sorriso contagiante no rosto, observou a caixa entalhada em folhas e deu um suspiro satisfeito, provavelmente seria alvo de muitos olhares agora que foi apresentada.

Assim que voltou ao leito com os cabelos úmidos e a pele gélida pela água que acalentou seu calor com o banho, olhou para as vestimentas, o vestido azul era longo e possuia aberturas que iam da cintura ao chão facilitando sua movimentação, assim que o vestiu e traçou seu cinto sobre a cintura, penteava as madeixas do cabelo que tinham suas leves ondulações, para que pudesse lembrar-lhe de sua noite. Quando trançou parte dos cabelos e os uniu para trás uma dupla risonha adentrou sua tenda e lhe saudaram com um abraço.

__Irmã, acordas-te bem?__Nora disse.

__Sim, ouso dizer que dormi muito melhor__Anlisel responde com um sorriso.

__Mamãe deseja falar-lhe algo__Disse Nora__Vistes o visitante da tribo?

__Visitante?__Pergunta Anlisel.

__Nora deixa disto. Anlisel dançou com ele, ouso dizer que pareciam enamorados__Annia disse sorrindo

Annia sorria juntamente a irmã do meio pela vermelhidão que coloria as faces da irmã mais nova, Anlisel balanço a cabeça assim que notou suas intenções e saiu as pressas para fora da tenda, o sol lhe recebeu com um abraço morno e a brisa gélida tocou-lhes a face de maneira gentil, ela se permitiu fechar os olhos desfrutando da sensação bem-vinda, os cabelos balançavam harmonicamente com o vestido e por este motivo perdeu a vista do espectador que lhe admirava ao longe, os olhos negros fixavam-se a figura que achava etérrea para si, não pode evitar de vislumbrar sua figura enquanto corria novamente seguindo-a com o olhar, ela fazia seu peito aquecer de uma maneira estranha, inspirou ao brincar com o véu que antes pertencia a garota que lhe tirou o sono.

Virgínia inquieta pela demora de sua filha andava de um lado para o outro, as notícias do marido a fizeram sentir-se estranha, os deuses de sua crença estavam de prova quanto a sua inquietação. Os braços maternos de Virgínia a receberam com um abraço longo assim que Anlisel atravessou a entrada da tenda, os cabelos foram acariciados e a menina sentiu-se contente, não estranhou a dosagem de carinho exagerado, de certa forma não poderia, sua mãe sempre a mimou com seus carinhos. Quando fora direcionada a sentar-se em frente ao espelho a menina observou sua mãe pelo reflexo enquanto desatava sua trança com cautela.

__Minha senhora__Disse Anlisel__Minhas irmãs disseram a mim que queres falar-me algo

__Quero dizer que teu pai deseja que aprenda a montaria além de querer que treine os afazeres de uma senhora__Ela responde

Anlisel piscou várias vezes quando as madeixas eram penteadas novamente.

__Meu pai deseja casar-me?__Pergunta Anlisel em um sussurro.

__Creio que sim minha menina__Responde.

Os olhos de sua mãe eram baixos enquanto começou a trança os cabelos da filha.

As duas ficaram em silêncio, assim que Anlisel saiu da tenda de sua mãe, seguiu correndo até o arsenal de armas, pegou seu arco e aljava(Coldre) de flechas e partiu para pegar sua montaria, a adrenalina em seu corpo eram transpançada pelo nervosismo e pavor, ela não queria se comprometer e assim que subiu em sua montaria com a delicadeza de uma dama fixou o olhar a figura do garoto a sua frente. Os olhos negros a fitava com a mesma intensidade que ela de alguma forma o conhecia, os cabelos pálidos de Anlisel balançavam quando sua égua se ergueu sobre as patas traseiras fazendo o garoto erguer as mãos para fazer o animal aquietar-se, porém, Anlisel domou o animal virando as rédeas para fazer sua montaria passar ao lado esquerdo do garoto, os cabelos esvoaçavam com o vento e por um momento olhou para trás, o garoto parecia inquieto ao tomar uma montaria para si, Anlisel por outro lado se viu irritada atiçando sua égua a galopar mais rápido por entre a trilha que levava ao estande de tiro ao alvo perto de uma clareira esquecida, o rosto eram acariciado pelo vento que gritava sua liberdade encima de sua montaria, somente sua mãe sabia suas habilidades encima do corcel Andaluz.

Anlisel desceu de sua égua acariciando seu focinho antes de direciona-la para perto da clareira, seu olhar vasculhava o lugar ao se armar com o arco, seus olhos azuis miravam ao alvo a dez metros de distância. Sua respiração era controlada enquanto puxava a corda do arco até seu pulso tremer levemente com isto, estava pronta. Segurou a respiração antes de soltá-la junto a flecha que cortou o ar e golpeou o centro do alvo, dentre suas irmãs ela era melhor com o arco e flecha mas não era de todo ruim com uma espada, o trotar de um cavalo se aproximando a fez se esconder atrás de uma árvore e com agilidade escalou está armando seu arco ao chegar em uma altura segura.

Cabelos negros despenteados, ombros largos e olhar afiado. Da altura que estava foi tudo que identificou do perseguidor, o véu de sua apresentação noturna estava amarrada ao pulso esquerdo dele e sua mira vacilou, era o lobo constatou com uma careta, ela não sabia o por quê aquele garoto lhe procurava com os olhos enquanto girava com o corcel marrom no mesmo lugar, ela pode ver sua expressão se tornar atormentada e quando estava pronto para seguir seu caminho notou a égua próxima a clareira, ele então soube que a dama que lhe tirou o sono estava por perto, desceu de sua montaria com uma facilidade nata de cavaleiro e se pois a observar o lugar, Anlisel se encolhia ao notar com certo receio que aquele garoto parecia um caçador e por ventura sua caça era ela.

Demorou quase meia hora para que um suspiro fosse ouvido do alto, rapidamente o dono do par de olhos negros buscou por entre as árvores a dona de som tão singelo.

__Por que seguiu a mim?__Anlisel perguntou por fim.

__Preocupo-me com teu bem-estar__Respondeu com um tom sincero.

__Não te preocupes com tão pouco, sei defender-me só__disse Anlisel com orgulho.

__Uma dama não deveria sair sozinha. A muita maldade no exterior__Alertou o garoto.

__Refere-se a ti lobo?__Disse-lhe arqueando a sobrancelha.

__Reconheceu-me enfim?__Sorriu de lado__Não sou um perigo a ti. Quero teu bem.

__Isso é algo que diz, porém, não estou a confiar__Disse-lhe ao mirar sua flecha no alvo e atirou acertando-o com destreza, o garoto então ergueu as mãos quando o alvo da moça tornou-se ele__Toma tua montaria e volta a aldeia, gosto de treinar sozinha e tu estás me atrapalhando.

__Acalmá-te menina, não farei mau, se permitir guardarei a ti e não notará minha presença se assim desejar__A mira de Anlisel era precisa quando soltou sua flecha e está cortou o ar acertando o chão próximo ao garoto que a olhava com surpresa afinal ainda não acreditava na audácia da filha da tribo do sul.

__Sai ou da próxima acertarei a ti__Alertou ao arma seu arco com outra flecha.

__Apenas quero garantir tua segurança__Respondeu-lhe um tanto incomodado por ter virado um alvo, sentia-se irritado pois a garota lhe tratava como um inimigo mas admitia que ela tinha coragem e seus traços de determinação e teimosia lhe deixava mais bela, o garoto mordeu a parte interna da bochecha como repreensão, o que estava pensando? Suspirou ao manter o olhar fixo as íris azuis brilhantes.

__Queres testar como sei defender-me__rapidamente os passos do garoto foram recuados sendo acompanhado pela mira da garota.

__És teimosa__Disse-lhe ao montar em sua montaria e seguir o trajeto de volta.

Anlisel esperou até que o trotar do cavalo se fazer distante, suspirou e desarmou o arco colocando a flecha sobre sua aljava(Coldre) e desceu com cuidado de seu esconderijo olhando para a égua com um sorriso nos lábios.

__Tu entregaste a mim__Disse com um tom brincalhão ao monta-lá e enfim trotar com calma de volta para sua tribo.

Nora ergueu sua mão assim que viu a irmã, Anlisel ergueu a mão acenando ao trotar um pouco mais rápido para alcançar a irmã e assim que o fez desceu de sua égua e a abraçou.

__Por onde andaste? Papai te preocurou para que se arrume__Anlisel fraziu o nariz em confusão.

__Me arrumar para quê? Minhas vestes não são boas?__Ela girou para sua irmã ver o vestido e logo que está fez uma careta se viu um tanto nervosa__Por que devo me vestir de outra forma?

__Papai quer que suas filhas fiquem apresentáveis pois a tribo do leste vira para a ceia de hoje a noite __Falou-lhe com animação mas Anlisel fez uma careta.

__Gosto de minhas roupas__Resmungou a menina ao suspirar e montar em sua égua__Papai não vai mudar meus gostos nem minhas vestimentas por conta de um jantar.

__Você ficará surpresa __Sua irmã disse entre risos e isto a fez ficar um tanto irritada, seus traços eram teimosos quando galopou com rapidez tirando murmúrios surpresos dos seus.

A montaria foi levada por um dos guerreiros de seu pai, ele pode ver o nariz da menina franzido e os olhos emanavam sua irritação, o guerreiro saiu com um sorriso, conhecia muito bem aquele olhar e assim que a menina entrou na tenda ouviu um barulho de surpresa não precisava ser vidente para saber que depois disto viria as intrigas.

__O que significa isto?__ Anlisel olhava para os muitos vestidos de babados e de vários tons, nenhum facilitava sua locomoção e tinha até medo de olhar as vestes íntimas, algumas das mulheres que arrumavam as roupas novas tinham as velhas em mãos e a menina seguiu até elas retirando as trouxas de roupas uma por uma de suas mãos levando as roupas a cama__O que queres fazer com minhas roupas papai?

__Anlisel, minha filha. Suas roupas parecem de uma dama comum e todos sabem sua importância em nossa tribo, suas irmãs ajudaram a mim com a escolha de suas novas vestes__Anlisel bufou irritadiça, como suas irmãs puderam traí-la de tal forma? Olhou para o pai o fulminando com o olhar e este lhe olhava com seriedade, aquela pequena lembrava muito sua esposa e ele próprio. Sempre foi de se orgulha do gênio de sua menina mas, agora tinha de ter sua confiança.

__Por que devo me vestir como uma dama de regalias quando tenho simplicidade e gosto disto. Por que implicas com minhas vestes agora, quando antes dizia sentir orgulho de mim? __os olhos da menina o fitavam com intensidade, a intensidade que somente os deuses de sua crença poderiam servi-lhe de testemunha do esforço que faria para manter a expressão séria e sua determinação intacta para fazer o que tinha de fazer.

__Anlisel, sabes que és minha filha e tens liberdade para dizer o que deseja mais como chefe de nossa tribo é com pesar que digo a ti que vais me obedecer e vesti-se como faz suas irmãs. Hoje irei tratar dos assuntos de teu futuro...__Anlisel negou ao empinar o nariz a afrontar o pai.

__Não digas que és sobre meu futuro quando vais fazer isso pelo bem de nossa tribo, eu sei que a cerimônia de minha apresentação não foi somente para apresentar-me como moça. Fizeste isto com intuito de arrumar-me um pretendente, digas que estou errada papai ou agora devo trata-lo como o chefe da tribo?__Os olhos de Anlisel brilhavam com intensidade, a raiva e dor que estava emanando de suas íris azuis quase foram o suficiente para seu pai lhe confortar, dizer-lhe que era só por aquela noite mas se manteve firme ao passar por sua pequena sem direcionar-lhe um olhar que fosse pois temia voltar atrás em sua decisão.

__Ajudem-na a se vestir__direcionou sua ordem as mulheres e estás abaixaram sua cabeça em concordância.

Anlisel tentou segui-lo mas fora impedida e não se permitiu cair aos prantos, de forma alguma faria isto, ficou emburrada e faria as mulheres que a ajudavam se tornar entristecidas, o brilho da jovem estava em seus sorrisos e traços suaves que continham seu rosto que porém naquele momento seus traços encontravam-se duros.

Não falou-lhes uma única palavra em todo processo, o vestido azul marinho longo tinha babados e o decote quadrado, os cabelos foram presos em um coque alto e apertado. Quando olhou-se no espelhou não reconheceu-se e se sentiu uma estranha, seu rosto ganhará mais cor porém foi leve, os olhos foram sombreados realçando os olhos azuis, pequenos beliscões em seu rosto davam um tom levemente avermelhados e os lábios mantinham seu tom natural. A tiara de pedras turquesa fora colocada sobre a cabeça e assim que mostraram-lhes os saltos que tinha de usar fez uma careta ao analisá-los.

__Tenho de usar isto também? __Falava ao olhar o calçado como se fosse o pior dos instrumento de tortura.

__Sim seu pai incluiu isto a suas vestes assim como tuas jóias__Anlisel resmungou ao fitar os sapatos.

__Eu posso colocá-los sozinha. Podem deixar-me um pouco só? __A mulher lhe olhava com certo receio mas as íris suplicantes a fez suspirar e ceder ao seu pedido.

__Sabes usar muito bem teus encantos menina, tenho pena de teu pai__a mulher balançou a cabeça com um sorriso ao se retirar com as outras mas antes lhe pediu__Não esqueças de usar suas jóias!

Anlisel olhava para os sapatos ao colocá-los nos pés andando entre tropeços decidindo não usá-los, tirou-lhes e os jogou para debaixo da cama, ninguém os veria ali disso tinha certeza. Colocou o colar de fios finos de prata entrelaçados sobre o pescoço e em seu pingente continha uma única pedra turquesa solitária.

Suas irmãs a saudaram com um abraço que foi recebido com olhares afiados, apesar de saber que seu pai não ter real culpa sobre os acontecimentos assim como as irmãs se viu um tanto desamparada afinal a única que disse-lhe algo fora sua mãe. Saiu de sua tenda com a expressão emburrada, as irmãs mais atrás suspiravam vez ou outra, pelo caminho puderam notar os olhares curiosos e semblantes confusos diante da aparência de Anlisel, a menina que adotará e criará as próprias vestimentas para caça e treinos, aquela que corria livremente por onde queria e tinha sorrisos gentis não estava mais ali, no meio de tantos babados e ornamentos de valor, sentiam-se tristes pela menina que aprenderam a ver com os cabelos soltos e bagunçados de expressão alegre, tão emburrada.

Assim que Anlisel adentrou a tenda que se localizava no centro de sua tribo, sendo está uma das maiores e onde geralmente continham reuniões e ceias, os homens dentro da tenda se levantaram.

Melliacam era um homem alto de ombros largos e musculoso, a cor da pele era bronzeada como cobre, os cabelos era longos sendo por descuidado ou não ela não pode identificar, mas os fios negros eram trançados para trás. Ele a olhava de cima a baixo e vice versa alguns instantes antes de tomar sua mão e beijar-lhe o dorso desta, ele pode constatar que a pele da dama era suave, macia e firme. Um sorriso se formou aos lábios do chefe da tribo do leste e Anlisel recolheu sua mão direcionando um olhar afiado ao homem que lhe sorria de uma maneira libertina.

Demétrio clareou a garganta diante do olhar tão pouco reservado que Melliacam direcionava a sua filha, sentia-se irritado pela liberdade de sorrisos e olhares que avaliavam sua menina e sentiu-se estúpido por não ter cedido aos pedidos de sua filha, sua esposa acariciava seu ombro para acalmar-lhe, afinal assim ele quis.

Anlisel ainda confrontava o chefe do leste com o olhar quando sua atenção fora desviada para garoto que se pois a sua frente, tirando sua figura do campo de visão do pai tomando a mão da dama beijou-lhe o dorso da mão e logo se virou segurando o ombro de seu pai e lhe alertando com o olhar de suas ações.

O jantar prosseguiu com conversa entre os homens já que as mulheres tão pouco tinham voz, os olhares de pai e filho vez ou outra iam de encontro a Anlisel que mau correspondia tamanha atenção, fazia questão de olhá-los friamente arrancando sorrisos zombeteiros de ambos, esses tinham ciência do gênio da filha da tribo do sul.

Anlisel tinha seus pensamentos longínquos daquele jantar, provavelmente, sabia que os filhos da tribo do leste competiriam com os filhos do sul. Só de saber disto seu sangue vibrava, adorava as competições, participava delas com grande força de vontade. Sua força, agilidade, suavidade e destreza nas atividades escolhidas eram uma das mais invejadas e principalmente repudiadas, alguns dos seus ainda não aceitavam que uma garota pudessem competir no meio dos homens e isto tornava as vitórias da menina ainda mais doce porém a visita tão acanhada dos filhos do leste tornava seus planos quase impossíveis mas eram quase, seu pai já havia mudado suas vestes, porém, não mudaria do que era feita.

A inquietação da menina fizeram sua mãe então tomar partido da conversa animada sobre os possíveis campeões dos jogos do dia seguinte.

__Perdão senhores. Por que os mais jovens não tira as damas para dançarem, está um tanto incomodo ouvir-lhes__Comentou com um sorriso envergonhado no rosto.

__Oras por que não? Vá meu filho, tome a dama Anlisel para dançar__Melliacam dava-lhes tapas encorojadores sobre o ombro do filho que sorriu diante da expressão surpresa da filha do sul.

__Anlisel...__Experimentou dizer-lhe seu nome assim que levantou-se para tomar a mão de dama tão tempestuosa, apesar dos olhares afiados aceitou sua mão a contra gosto.

Os casais se formaram aos pares com expressões alegre até mesmo Anlisel teve de sorrir como deveria e isso divertia seu parceiro que tinha um sorriso convencido. A tenda fora aberta na direção que levava a visualizar os pares que pacientemente esperavam o começo da música para dançarem.

Demétrio apertava a mão da esposa tentado a seguir suas filhas mas se conteve dando-lhe um sorriso e promessas silenciosas.

O som foi melodioso, nada lembrava o toque de suas cerimônias, os pares se aproximava e começavam a dançar com movimentos suaves e sincronizados ao girar e bailarem com as estrelas por testemunhas, as labaredas das fogueiras sombreavam a pele e vestimentas dos jovem e tornavam tal momento um espetáculo aos espectadores. Anlisel girou mais assim que o corpo fora colado ao do parceiro ousou lhe pisar o pé arrancando resmungos envoltos de risos, Noah tinha de admitir que a filha do sul sabia como deixá-lo louco e ao mesmo tempo encantado, os olhos azuis faiscando a cada vez que tinham de fixar os olhos, ele também poderia notar que ela seguia suas leis a risca mais não poderia deixar de alfineta-la um pouco com sorrisos.

__Falta-lhes os saltos pequena__Sussurrou para ela quando teve de erguê-lhe no ar e seu rosto ganhou um tom rubro ao voltar a encostá-se a ele.

__Estou a usá-los. Ousa chamar-me de baixa?__Seu tom zangado e as faces rosadas fariam Noah ri com gosto__Estás a me provocar!

__Me rejeitas__Ele disse e a girou enquanto tomava-a nos braços novamente e suas iris negras emanava divertimento diante das turquesas tão irritadiças.

__Não procurastes outra coisa a não ser isto__Disse-lhe entre sussurros, não deveriam falar em meio a dança mas de alguma forma estranha aquilo a divertia__Na próxima não irei errar o alvo.

__Procurei protegê-la e tu tentou acertá-me com uma flecha__Arqueou a sobrancelha diante de suas palavras, perguntando-se o que teria feito para ter sido tratado de tal forma, não havia lógica__Ainda aqui, ameaçá-me.

Anlisel ria, fazendo seus traços suavizarem diante das palavras de Noah, era a primeira vez que ele ouvia seu riso e isto o fez sorrir também mantendo os passos da dança a risca.

O final da dança fora praticamente solo, os pares separavam-se e fariam um círculo misto prosseguindo com o divertimento, a tribo do sul era uma das qual mais tinha apreço as festividades, seus filhos eram treinados para isso desde muito novos e suas celebrações memoráveis. Naquela noite todos os filhos do leste e sul se uniram para celebrar a presença de ambas as tribos e davam graças além de agradecimentos para com todos, as danças e farturas a mesa não permitiam que um único filho presente ficassem de lado, Anlisel deixou de lado a irritação e sorria abertamente voltando a ser a menina doce que os filhos do sul eram acostumados a verem, os cabelos foram soltos e está corria a presença daqueles que tentavam ficar de lado, convidavam a celebrar consigo para terem boa sorte nos jogos e quando se dera conta sua tribo estava ali. Dançavam, cantavam e aplaudiam com o fervor que tinham em seus corpos, naquele momento dançavam para celebrar as visitas e davam as boas-vindas como somente eles sabiam fazer.

Os cabelos de Anlisel grudavam as têmporas e ao pescoço enquanto embalava as mãos ao ar e movimentava-se com suavidade sendo em passos sincronizados aos dos seus ou saltos que fariam-na sentir-se alegre. Ela girava, flutuava e cantava com convicção e mesmo a presença de Noah não lhe encomodou, estava concentrada a dança e se divertindo a sua maneira com seu povo, disso tinha certeza e mesmo quando ensinava os pequenos de passos atrapalhados não pode evitar de sorrir iluminando seu rosto enquanto brincava com toda sua inocência e pureza naquele instante.

Melliacam batia palmas de seu lugar, sua atenção de todo era a filha do sul, Anlisel, seus sorrisos eram belos e a forma que dançava o atraia. Faria com que aquela garota lhes fosse dada, era um ótimo acordo, a aliança seria formada e todos sairiam ganhando mas a forma que a menina lhe olhava era um problema, parecia repudiá-lo, sabia disso e até mesmo invejava seu filho pois ela lhe direcionava sorrisos, sorrisos estes que queria para si e isto o fez manter seus olhos aos dois com as íris escurecidas.

Virgínia sorria com os olhares do marido e as danças que praticavam juntos em seu próprio mundo, estava alegre e quando suas filhas lhe rodeavam de mãos dadas com risos ficou vermelha fazendo com que o marido gargalha-se satisfeito, agradecendo as filhas com abraços e principalmente palavras que descreviam o quão orgulhoso estava de suas filhas tomando Anlisel para dançar. Virgínia sorria diante dos seus amores, suas filhas lhes eram seu maior tesouro e agradeceu aos deuses de sua crença pelo gênio de sua caçula não ser rancoroso, ela avaliava ao redor retribuindo certos comprimentos que recebia dos seus e dos filhos do leste quando visualizou o olhar escurecido de Melliacam, ele olhava para sua menina e ela tinha certo receio disso pois era um homem adulto e sua filha apenas uma menina doce que aspirava inocência.

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